Capítulo Onze
Michael Gutierrez:
Três semanas depois....
Dizem que estar apaixonado de corpo e alma é como viver uma segunda vida, uma existência onde tudo ganha novas cores e significados. No entanto, agora percebo que não é tão simples quanto as palavras fazem parecer. O amor carrega consigo não só o brilho de uma nova vida, mas também o peso das escolhas, das responsabilidades e das incertezas que, por vezes, nos deixam sem fôlego.
Enquanto revisava a documentação de algumas adoções, meu coração se apertava ao pensar nas crianças que estão prestes a encontrar um lar. Elas, que já passaram por tanto, merecem mais do que apenas um teto sobre suas cabeças; merecem a felicidade verdadeira, aquela que faz os olhos brilharem e os sorrisos se tornarem constantes. Me pego torcendo silenciosamente para que cada uma delas finalmente encontre o amor que tanto procuram e que tanto merecem.
Mas, por mais que eu queira focar nessas histórias de esperança, minha mente ainda está presa ao que aconteceu ontem. Parece surreal que, após tanto tempo resistindo, eu finalmente me mudei para a casa do Alan. Foi uma decisão difícil, algo que adiei repetidas vezes por medo de me abrir, de entregar uma parte de mim que sempre guardei com tanto cuidado. E agora, aqui estou eu, em um novo começo, tentando me adaptar a uma rotina que mistura conforto e estranheza.
A transição não foi simples. Cada canto da nova casa parece sussurrar promessas de uma vida a dois, enquanto eu luto contra a sensação de estar abandonando pedaços de quem eu costumava ser. Mas, no fundo, há também uma esperança tímida, uma faísca que me faz acreditar que talvez, só talvez, essa nova vida traga mais do que desafios; traga também um amor que vale cada renúncia, cada passo dado com hesitação e cada vez que decidi me permitir ser vulnerável.
Na noite anterior, Alan mostrou um lado cuidadoso que eu não esperava. Ele foi gentil o suficiente para tomar a iniciativa de preparar um quarto só para mim, onde eu pudesse descansar em paz, enquanto ele ficava no outro. Essa delicadeza me pegou de surpresa, porque, mesmo com a proximidade que estamos desenvolvendo, eu nunca imaginei que ele se esforçaria tanto para me deixar confortável. Mas o que realmente mexeu comigo foi quando ele insistiu, com uma serenidade quase desconcertante, para que eu usasse o cartão de crédito dele. Senti uma mistura de surpresa e hesitação diante da confiança que ele depositou em mim.
Depois de muita reflexão, acabei conversando com a diretora do orfanato sobre como poderíamos aproveitar essa generosidade. Decidimos usar os recursos para comprar brinquedos, livros, remédios e roupas para as crianças. A ideia de ver o brilho nos olhos delas ao receberem esses presentes me deu um calor reconfortante no peito, como se, de alguma forma, esse gesto estivesse me ajudando a enxergar um propósito maior nessa nova fase da minha vida.
Mesmo assim, não consigo deixar de me questionar. Ainda não o compreendo completamente — Alan é um enigma para mim. Ele parece ter uma confiança inabalável, uma certeza tranquila ao entregar tanto de si, sem reservas, para alguém como eu, que ainda carrega dúvidas e inseguranças. Como ele pode estar tão seguro? Como ele consegue acreditar em mim com tamanha convicção, quando nem eu sei ao certo se estou pronto para carregar essa responsabilidade?
Esses pensamentos me mantêm acordado à noite. Talvez, no fundo, eu tenha medo de desapontá-lo, de não corresponder à confiança que ele deposita em mim com tanta naturalidade. Mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim quer provar que ele está certo, que sou capaz de corresponder a essa fé inabalável. Talvez seja isso que o amor faça — ele nos empurra para sermos mais do que acreditamos ser.
Ouvi uma leve batida na porta e logo em seguida a diretora colocou a cabeça para dentro do meu escritório, com uma expressão entre a preocupação e a determinação.
— Michael, os repórteres da grande mídia já estão lá fora. Estão aguardando para a entrevista, tanto comigo quanto com você. Eles devem chegar a qualquer momento. — Disse ela, com um olhar atento para os papéis sobre minha mesa. — E já está revisando as fichas de adoção... Acho que nunca vi tantas crianças sendo adotadas de uma vez só.
— Eu também mal consigo acreditar nisso. — Respondi, sorrindo para a papelada diante de mim, antes de dar uma olhada no relógio da parede. — Desculpe, Kylie, vou prestar mais atenção no horário.
Ela me encarou com um olhar severo, como se estivesse medindo o peso das palavras antes de falar:
— Michael, apesar de você ser funcionário do Departamento de Operações, o seu gerente te designou aqui para ajudar nosso orfanato a expandir mais rapidamente. Você precisa ter cuidado para não se distrair demais com outras questões. Não podemos perder o foco. — Disse ela, franzindo os lábios em uma mistura de preocupação e profissionalismo.
Assenti, reconhecendo a crítica justa.
— Kylie, você tem razão. Fiquei distraído por um momento, mas isso não vai se repetir. Preciso me apressar para me arrumar antes da entrevista. — Respondi, já me levantando para sair da sala junto com ela.
Antes de virar o corredor, ela lançou um último olhar na minha direção, como se estivesse certificando-se de que eu realmente estava focado. Depois, bateu palmas para chamar a equipe responsável por receber os convidados.
— Pessoal, mantenham o ânimo! Hoje teremos uma coletiva de imprensa importante, e não podemos cometer nenhum erro. — Ela falava com firmeza, olhando cada um dos membros da equipe nos olhos. — Vamos dar o nosso melhor pelos nossos anjinhos. Eles merecem que tudo saia perfeito.
Todos nós concordamos com acenos determinados, e nos dispersamos para preparar o ambiente. Havia um clima de expectativa no ar, como se todos sentissem a importância daquele momento. Cada detalhe importava, desde os sorrisos que daríamos ao receber os jornalistas até a preparação das informações sobre o trabalho do orfanato.
Enquanto me dirigia para me preparar, não pude deixar de pensar no impacto que aquelas adoções poderiam ter na vida das crianças. O evento de hoje não era só sobre o orfanato ou sobre nossa equipe; era sobre cada uma daquelas pequenas vidas que, em breve, teriam uma nova chance de ser parte de uma família. E, no fundo, apesar da correria e do nervosismo, eu sabia que tudo isso valia a pena.
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Depois que organizamos tudo com o maior cuidado, o ambiente foi tomado por um silêncio tenso. Cada um estava em seu lugar, atento e concentrado. A cada instante, eu pegava a diretora respirando fundo, tentando se recompor, buscando a calma necessária para o momento. Não era para menos — a situação tinha se desenrolado de forma tão inesperada que qualquer um sentiria o peso.
— Tio Michael, pode me ajudar com a lição da escola? — perguntou Fernando, se aproximando com os cadernos nos braços, os olhos cheios de esperança.
— Claro, meu querido — respondi com um sorriso, segurando sua pequena mão. — Sobre o que é a lição?
— Tenho que desenhar a pessoa que mais admiro — ele murmurou, baixando os olhos por um instante, antes de voltar a me encarar com um brilho de sinceridade. — Escolhi desenhar você e o tio Alan.
Fiquei tocado com suas palavras. Não era a primeira vez que as crianças me diziam que me veem como um herói ou que querem ser como eu quando crescerem, mas, toda vez, meu coração se derrete do mesmo jeito. Sou mesmo um sentimental, incapaz de segurar a emoção diante de tanta pureza.
— E o que você imagina ser quando crescer, Fernando? — perguntei, curioso. Ele fez uma expressão pensativa, franzindo a testa de leve.
— Quero ser alguém que ajude as pessoas que precisam — respondeu com convicção. — Como você, a tia Kylie, o tio Alan, a tia Lisa e o tio Dionísio.
— Lembre-se, você pode ser o que quiser — disse, e ele assentiu com um sorriso determinado.
Enquanto o ajudava com a tarefa, que envolvia escrever um pouco sobre seu herói e desenhá-lo, minha atenção se desviava para a entrada. Eu não conseguia evitar esticar o pescoço de tempos em tempos, querendo saber se os jornalistas já haviam chegado para a entrevista.
Quando terminamos, pedi para Fernando guardar suas coisas, e foi exatamente nesse momento que uma voz surgiu no walkie-talkie:
— Eles chegaram! Eles chegaram! Todos os grandes jornais da cidade estão aqui! E os casais também chegaram, estão parecendo meio confusos com tudo isso! — A voz animada de uma das funcionárias ecoou, e eu soube que todos no prédio também ouviram.
Meus colegas de trabalho imediatamente se endireitaram, ajeitando as roupas e assumindo posturas formais. A diretora, com um gesto decidido, me puxou para ficar ao lado dela, enquanto uma multidão de jornalistas invadia o local, quase empurrando um dos casais que havia acabado de chegar.
Rapidamente, ajudei o casal a se recompor. Eles estavam com olhares confusos, mas seus rostos suavizaram ao verem o filho olhando curioso para toda aquela movimentação, como as outras crianças.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou a mulher ruiva, ajeitando o vestido.
— Estamos recebendo a imprensa para uma entrevista sobre as reformas que fizemos no orfanato, além de celebrarmos o segundo ano da nossa atual diretora — expliquei com calma. — E, por coincidência, acabou sendo no mesmo dia em que você e seu marido vieram buscar o seu filho para levá-lo para casa.
Com um sorriso tímido, ela assentiu, e eu pedi que os outros funcionários chamassem as crianças. Quando cada criança encontrou seu novo lar nos braços dos pais adotivos, o ambiente se encheu de sorrisos e abraços calorosos. Era uma cena de pura felicidade — uma nova etapa na vida dessas famílias começava ali, e eu não conseguia deixar de me emocionar ao ver isso acontecer.
A diretora, então, me chamou para dar início à entrevista. Fui a contragosto, ainda preferindo estar ao lado das crianças e das famílias, mas sabia que era necessário.
— Bem... eu realmente não sei por onde começar — disse, soltando um suspiro, tentando organizar meus pensamentos. — Estou imensamente feliz em ver o quanto nossa instituição cresceu e se desenvolveu para o bem das crianças. Sei que, para algumas delas, a jornada não será fácil; haverá desafios, e talvez algumas queiram desistir em algum momento. Mas, se encontrarem alguém em quem confiar, podem contar com todos nós aqui, sejam os funcionários ou os novos pais adotivos. A infância é o momento em que os primeiros sonhos nascem, em que começamos a imaginar o que queremos ser no futuro. É quando os incentivos e o apoio se tornam essenciais. Por isso, eu peço: incentivem e apoiem as crianças ao seu redor, ajudem a fazer a diferença na vida delas.
Quando terminei, fui recebido com uma salva de palmas, mas antes que pudesse relaxar, uma multidão de repórteres me cercou, lançando uma enxurrada de perguntas. Eu sabia que aquele momento era importante para a imagem do orfanato, mas, no fundo, tudo o que eu queria era voltar para junto das crianças e ver a felicidade estampada nos rostos delas, sabendo que estavam a caminho de uma vida melhor.
Ouvi um leve som de aplausos ao longe e, curioso, virei para ver quem era. Quando identifiquei a figura sorridente que se aproximava, mal pude acreditar nos meus olhos.
— Preciso dizer que você foi fantástico lá na frente — disse Lian Green, com aquele sorriso que eu conhecia tão bem.
Não hesitei. Caminhei em sua direção e o puxei para um abraço apertado. Lian era o meu melhor amigo, aquele que conheci no orfanato anos atrás. Ele foi adotado dois anos depois de mim, mas nossa amizade nunca enfraqueceu, mesmo com a distância.
— É tão bom te ver pessoalmente de novo! — falei, me afastando para observá-lo melhor. Foi então que notei o garotinho ao lado dele. — Esse é o seu filho? Nossa, ele está muito maior! É tão diferente vê-lo fora das telas durante nossas chamadas de vídeo.
O pequeno Hector sorriu para mim, os olhos brilhando de alegria.
— Oi, tio Michael! — Ele exclamou antes de correr e me abraçar pela cintura. Aquele abraço pequeno e caloroso me fez sorrir de imediato. Hector era a cara da doçura e, diferente de Lian, ele tinha uma aura mais delicada, quase angelical.
— Você é um fofinho, Hector! — brinquei, acariciando seus cabelos. — Acho que não puxou em nada o jeitão do seu pai, hein?
Lian riu, cruzando os braços com fingida indignação.
— Ei, ele tem o meu charme, só que em versão aprimorada — brincou, dando uma piscadela.
Hector olhou para o pai e depois para mim, como se estivesse tentando entender a brincadeira, mas logo voltou a me abraçar com ainda mais força.
— Senti saudades de você, tio Michael. O papai sempre fala de você, mas é muito melhor estar aqui, de verdade.
Meu coração se aqueceu ao ouvir aquelas palavras. Ver Lian e seu filho ali, no meio de um dia tão importante para o orfanato, foi como um lembrete do quanto a vida pode nos surpreender com reencontros e momentos preciosos.
— Também senti saudades, meu querido. E fico muito feliz que vocês dois puderam vir. Vamos aproveitar esse tempo juntos.
O sorriso de Lian e o abraço apertado de Hector eram tudo de que eu precisava para me sentir em casa, mesmo no meio de tanta correria. Ali, com meu melhor amigo e seu filho, eu percebi que, apesar das responsabilidades e desafios, sempre haverá espaço para essas conexões que aquecem a alma e dão sentido à vida.
Enquanto o pequeno Hector se aconchegava em meu abraço, Lian me deu um olhar cúmplice, cheio de lembranças não ditas, como se estivéssemos nos comunicando em silêncio da mesma forma que fazíamos quando éramos crianças no orfanato. Era surreal pensar em como o tempo passou e, ao mesmo tempo, como certos laços permanecem tão inabaláveis.
— Então, me conta, Lian — comecei, com um sorriso ainda estampado no rosto. — Como foi essa jornada de se tornar pai? Ainda me lembro da nossa última conversa, quando você estava nervoso só de pensar na ideia de adotar.
Lian riu, passando a mão pelos cabelos enquanto olhava carinhosamente para Hector.
— Ah, foi uma montanha-russa. No começo, eu não tinha ideia de como seria realmente. Mas quando conheci o Hector, tudo fez sentido. Ele trouxe luz para minha vida de uma forma que eu não sabia ser possível. Cada dia com ele é uma nova descoberta, uma lição de paciência e amor. — Seus olhos se suavizaram ao falar, e foi impossível não notar o orgulho transbordando de suas palavras.
Hector, ainda agarrado a mim, olhou para o pai com um sorriso sapeca, e eu me abaixei para ficar na altura dele.
— E você, campeão? Como é ter o Lian como papai? — perguntei, curioso para ouvir a resposta.
— É legal! — respondeu ele, com uma simplicidade que só as crianças têm. — Ele me ensina a desenhar e a gente brinca de super-heróis. Eu sempre sou o herói e ele é o vilão!
— Claro que você sempre ganha, né? — falei, dando uma risadinha.
— Sempre! — Hector afirmou com convicção, balançando a cabeça, enquanto Lian o observava com um olhar que dizia mais do que palavras jamais poderiam expressar.
Nesse momento, um dos organizadores do evento se aproximou, me informando que precisavam da minha presença para outra rodada de entrevistas. Suspirei internamente, desejando poder continuar naquela bolha de conforto com meu amigo e seu filho por mais um tempo. Mas o dever me chamava.
— Parece que o trabalho não para, hein? — disse Lian, com uma expressão compreensiva.
— Pois é, mas vocês vão ficar para o almoço, não é? Quero colocar a conversa em dia. — Fiz a pergunta com a esperança de prolongar o reencontro.
— Claro! Não saímos daqui tão cedo — respondeu ele, com um sorriso de satisfação.
Antes de me afastar, me abaixei uma última vez para me despedir temporariamente de Hector.
— Prometo que depois a gente brinca de heróis e vilões, combinado? — sussurrei, fazendo-o rir e assentir energicamente.
— Combinado! — ele respondeu, com o entusiasmo típico de uma criança que só pensa em diversão.
Com um aceno para Lian e um sorriso para Hector, voltei para o centro das atenções, onde os repórteres me aguardavam. Mas, dessa vez, senti uma leveza a mais. Reencontrar Lian e conhecer seu filho trouxe um calor inesperado ao meu dia, como se aquelas pequenas interações tivessem recarregado minhas energias para enfrentar o que estava por vir.
Enquanto os flashes das câmeras disparavam e as perguntas começavam a vir de todos os lados, minha mente ainda ecoava o som da risada de Hector e a simplicidade das palavras de Lian. Eles eram um lembrete vivo de que, por mais complexo e caótico que o mundo se tornasse, ainda existem momentos de pureza e felicidade, e são esses momentos que realmente importam.
Ao final da entrevista, enquanto as luzes e os holofotes começavam a se dissipar, meu olhar buscou, quase instintivamente, a figura de Lian e Hector ao longe. Eles estavam de mãos dadas, conversando sobre algo que os fazia rir. E naquele instante, percebi que, por mais que a vida me puxasse em direções diferentes, sempre haveria um caminho de volta para as coisas simples, para as pessoas que realmente importam.
E foi com esse pensamento que encerrei o compromisso, pronto para me juntar a eles e aproveitar o resto daquele dia que, inesperadamente, se tornou muito mais especial do que eu esperava.
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Depois de um longo e cansativo dia, o evento finalmente estava chegando ao fim. Despedi-me de todos e fui até o estacionamento, onde meu carro me aguardava como um refúgio silencioso. O caminho de volta para casa foi tranquilo, o trânsito surpreendentemente leve, algo pelo qual eu estava sinceramente grato. Aproveitei essa calmaria para refletir sobre as conversas que tive com Lian e Hector, sobre o tempo que eles passaram na cidade e como foi especial reencontrá-los em um dia tão significativo.
Quando cheguei em casa, abri o portão e entrei no terreno familiar. Estacionei o carro e, com um suspiro de alívio, peguei minhas coisas e me dirigi para dentro. O cansaço já começava a pesar, mas ainda havia uma sensação de satisfação por tudo ter corrido bem.
Ao passar pela sala, vi Alberto, que me cumprimentou com um sorriso amistoso.
— Boa noite, Michael. — disse ele, enquanto se levantava de onde estava sentado. — O tio Alan está dormindo no quarto dele. Por que você não vai acordá-lo?
Ergui uma sobrancelha, já imaginando quem havia dado aquela "sugestão".
— Deixa eu adivinhar... A Anastácia pediu para você fazer isso, não é? — comentei, lançando um olhar de canto para a sala, onde o namorado de Alberto estava, acenando de forma casual para mim.
— Está certo, mas vê se não faz nada indecente. — brinquei, dando um sorriso de canto.
Alberto fingiu uma expressão de choque exagerado, o que me arrancou uma risada discreta enquanto eu seguia em direção ao quarto de Alan. Parei diante da porta, bati algumas vezes, mas não obtive resposta. O silêncio do outro lado sugeria que ele estava dormindo profundamente. Hesitei por um momento antes de girar a maçaneta e entrar.
O quarto estava mergulhado em uma penumbra aconchegante, com apenas a luz suave da lua filtrando-se pelas cortinas semi-abertas. Alan estava encolhido na cama, os cobertores meio desarrumados ao redor dele. Parecia tão tranquilo, quase vulnerável naquele estado de descanso, um contraste com a personalidade forte e decidida que ele costumava mostrar durante o dia.
Por um instante, fiquei parado na entrada, observando-o. Algo naquele momento me tocou — talvez fosse a simplicidade da cena, o silêncio da noite envolvendo o espaço, ou a sensação de segurança que emanava dele, mesmo enquanto dormia.
Me aproximei lentamente, tentando não fazer barulho. Sabia que deveria acordá-lo, mas ao vê-lo tão sereno, a ideia parecia quase cruel. Então, com cuidado, me sentei na beirada da cama, pensando em como seria melhor abordá-lo sem parecer intrometido.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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