Capitulo Dezesseis
Alan Jones:
Anastacia finalmente se sentou no lugar onde Michael estava poucos segundos antes. Seus olhos viajaram lentamente de mim para os meus filhos, carregando uma mistura de ternura e preocupação. Ela parecia querer absorver cada detalhe daquela cena, como se tentasse compreender o que passava em nossas mentes. Havia uma suavidade em seu olhar, mas também uma sombra de incerteza. O modo como seus dedos se entrelaçavam sobre o colo revelava um nervosismo contido. O silêncio entre nós era denso, carregado por tudo o que não precisávamos dizer, mas que estava ali, vibrando na atmosfera.
Enquanto ela olhava para os meninos, seu rosto suavizava, quase como se encontrasse uma espécie de paz ao vê-las. Mas logo depois, seus olhos voltaram para mim, buscando algum tipo de resposta, de entendimento. Era um momento que parecia pequeno, mas estava carregado de sentimentos não ditos, como se estivéssemos prestes a atravessar uma barreira invisível entre o que éramos e o que poderíamos nos tornar dali em diante.
Anastacia nos observou em silêncio por um instante, permitindo que o peso de suas palavras se espalhasse pelo ar como uma brisa densa e inevitável. Seu olhar, firme e acolhedor ao mesmo tempo, nos impedia de escapar da verdade que ela acabara de expor. Eu sentia Calvin se mexer ao meu lado, incômodo e nervoso, como se estivesse dividido entre o desejo de se abrir e o medo de expor as próprias vulnerabilidades.
— Eu sei que não é fácil, Percy — ela retomou, agora com uma suavidade quase maternal na voz. — Confiar em pessoas que você ainda está aprendendo a conhecer, baixar suas defesas e deixar alguém entrar... mas o Alan e o Calvin só querem o que qualquer família deseja: estarem juntos, cuidarem uns dos outros, criarem memórias. E você, por mais que tente se proteger, também quer isso, não é? Sei que, no fundo, o que te assusta não é a ideia de fazer parte dessa família, mas a possibilidade de se decepcionar de novo.
Minhas palavras ficaram presas na garganta. Como ela conseguia ver tudo isso com tanta clareza? Ela realmente me entendia, talvez porque, em algum lugar dentro dela, também conhecesse o peso de se sentir deslocado entre laços de sangue e afeto. Percy apertou minha mão discretamente, e Calvin fez o mesmo com ele, como se tentássemos nos apoiar mutuamente. Os dedos de ambos estavam trêmulos, mas o gesto era genuíno.
— Não é fácil para nenhum de nós — admiti, lutando para encontrar as palavras certas. — Mas saiba que já te considero meu filho, e quero estar presente na sua vida, conhecer cada detalhe, poder conversar com você todos os dias. — Meus olhos se voltaram para Percy, que me encarava com um brilho de esperança nos olhos.
— Eu estou ansioso para ter mais um irmão — disse Calvin, com um sorriso tímido. — Quero que meus filhos conheçam o tio e que você faça parte da nossa vida, dos seus sobrinhos... de tudo.
Percy respirou fundo, sua voz quase um sussurro quando finalmente falou:
— Eu sinto que estou sempre andando em um campo minado, com medo de dar um passo em falso e perder tudo. Sei que vocês estão se esforçando para me incluir, mas às vezes me pergunto se não sou apenas uma peça solta nesse quebra-cabeça.
Anastacia balançou a cabeça devagar, com uma expressão que misturava paciência e determinação.
— Você não é uma peça solta. Eles precisam de você tanto quanto você precisa deles. Todos vocês têm os mesmos medos, e é por isso que acabam criando barreiras onde deveriam construir pontes. Vocês têm que se permitir errar, se machucar, mas também se curar e crescer juntos. Família não é sobre perfeição; é sobre tentar, tropeçar, e ainda assim, continuar de mãos dadas.
Essas palavras ecoaram dentro de mim, quebrando algumas das barreiras que eu mal percebia ter levantado. Eu sabia que ela estava certa. O olhar de Calvin, carregado de expectativa e compreensão, só reforçava o que já estava claro. Nós éramos três pessoas imperfeitas, buscando um jeito de nos encaixar. Talvez fosse isso que precisávamos: admitir nossas fraquezas e aceitar o apoio uns dos outros.
Calvin respirou fundo e, com a voz embargada, finalmente encontrou coragem para falar:
— Percy, eu... — Ele hesitou, buscando a força que lhe faltava. — Eu também estou morrendo de medo. Medo de fazer tudo errado, de te afastar, de não conseguir ser o irmão ou o amigo que você precisa. Mas eu quero tentar, mesmo que a gente acabe tropeçando no caminho.
O silêncio que se seguiu foi curto, mas carregado de significados. Não precisávamos de mais palavras. A troca de olhares que se seguiu foi mais poderosa do que qualquer discurso. Nossos medos, aos poucos, começavam a se dissolver, abrindo espaço para algo novo — algo que talvez pudéssemos chamar de esperança.
Anastacia sorriu, satisfeita, como se estivesse presenciando o nascimento de algo belo. Ela se levantou com delicadeza e deixou um beijo leve na testa de cada um de nós antes de dizer:
— Vocês já sabem o que precisam fazer. Só falta coragem para dar o primeiro passo.
O ambiente, antes pesado, agora parecia carregado de possibilidades. Era o início de um novo capítulo, onde, com todas as nossas imperfeições, finalmente nos permitíamos começar a caminhar juntos.
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Percy estava com os olhos marejados, e pude ver que as lágrimas estavam prestes a cair. Meu coração apertou ao perceber o quanto ele tentava segurar suas emoções. Antes que ele desmoronasse, instintivamente, estendi a mão e limpei delicadamente seu rosto, num gesto de cuidado.
— Se você tem medo que eu te odeie, saiba que nunca seria capaz de fazer isso — ele disse, a voz embargada pela emoção, enquanto apertava minhas mãos e as de Calvin ao mesmo tempo. — Desde que cheguei, vocês me acolheram tão bem e cuidaram de mim como se eu já fizesse parte dessa família.
Essas palavras me tocaram profundamente. Antes que Percy pudesse processar o que estava sentindo, Calvin o envolveu em um abraço apertado, surpreendendo a todos nós com a intensidade daquele gesto. A risada que se seguiu foi um alívio, misturada com carinho genuíno, um som puro que veio do fundo de nossos corações.
— Claro que eu seria bom com o meu irmão mais velho! — Calvin exclamou, ainda rindo, enquanto segurava Percy com firmeza. — Você é parte da nossa família agora, e eu não vou deixar que esqueça disso.
Ao ouvir isso, percebi que algo havia mudado no ar. A tensão que antes pairava sobre nós finalmente se dissipou, dando lugar a uma sensação de pertencimento e conforto. A conexão entre nós, antes frágil e incerta, se solidificou naquele simples momento de afeto sincero.
Enquanto Percy e Calvin se soltavam do abraço, meu olhar se fixou neles com um misto de orgulho e ternura. Era como assistir algo que eu ansiava ver há muito tempo. Dei alguns passos à frente, contemplando meus filhos com o coração cheio de gratidão.
— Eu nunca estive tão feliz de ver vocês assim — falei, sentindo a voz embargar um pouco pela emoção. — Vocês são meus filhos e, mais do que qualquer outra coisa, eu quero que vocês saibam que sempre terão um ao outro, independente do que acontecer. Família é isso — continuei, me aproximando e colocando uma mão sobre o ombro de cada um. — Não importa o que enfrentemos ou o quão difíceis as coisas possam ficar, a gente cuida um do outro.
Olhei de Percy para Calvin e, por um breve momento, para mim mesmo, como se estivesse agradecendo internamente por estarmos juntos ali, naquele momento. Meu peito se encheu de amor e gratidão. A luta para segurar as lágrimas era quase em vão, e eu sabia que, como pai, aquele era um dos momentos que eu sempre guardaria.
— Percy, você sempre foi meu menino — falei, puxando-o para perto e o envolvendo em um abraço cheio de calor e proteção. — E Calvin, você se tornou um homem que eu admiro mais do que consigo expressar. Ver vocês dois juntos, apoiando um ao outro, faz todo o esforço valer a pena.
Calvin tentou manter o tom descontraído, mas não conseguiu esconder a emoção. Ele sorriu de lado, lutando contra as lágrimas que escapavam.
— Pai, você está nos fazendo chorar, sabia? — ele brincou, enquanto enxugava uma lágrima que insistia em cair. — Mas você está certo. Somos uma família e, mesmo que às vezes a gente tropece, no final das contas estaremos juntos, apoiando uns aos outros.
Ri baixinho, e dei um leve tapinha no ombro de Calvin, como quem diz que estava tudo bem deixar as emoções fluírem. Então, voltei meu olhar para Percy, que parecia ainda surpreso diante de tanto carinho.
— Percy, você não precisa mais carregar esse peso sozinho — disse, agora com firmeza, mas mantendo a suavidade na voz. — A partir de agora, não há mais espaço para dúvidas: você tem a mim, ao Calvin, e a essa família que só quer o seu bem. Não importa o que vier, nós estamos aqui para você.
Vi algo mudar nos olhos de Percy, como se as barreiras que ele ainda segurava começassem a se desfazer. Ele sorriu, tímido, mas genuíno, enquanto olhava para nós, percebendo que, finalmente, tinha encontrado o lugar ao qual pertencia.
Sem dizer uma palavra, Percy deu um passo à frente e, dessa vez, foi ele quem nos puxou para um abraço. Eu, no meio, envolvi meus dois filhos com toda a força do meu amor, sentindo o calor daquele momento que, eu sabia, ficaria gravado para sempre em nossas memórias.
O silêncio que se seguiu não foi de desconforto, mas de paz, uma paz compartilhada que só quem finalmente encontra seu lugar no mundo pode experimentar. Quando nos afastamos, ainda com aquele sorriso de satisfação, passei a mão pelos cabelos dos dois, como costumava fazer quando eram crianças.
— E agora — disse, quebrando a solenidade com um tom mais leve —, que tal fazermos algo que qualquer família unida faria? Que tal uma pizza e um filme juntos?
Calvin riu, e Percy, com os olhos ainda brilhando, concordou com entusiasmo. E assim, de forma simples e natural, selamos aquele momento como uma verdadeira família. Sabíamos que, independentemente dos desafios que viessem, estávamos juntos para enfrentá-los, unidos por laços mais fortes do que qualquer dúvida ou medo.
— Vou ligar para o Vinicius vir junto com as crianças — Calvin disse, já com um sorriso no rosto, enquanto pegava o telefone e discava o número do esposo dele.
Eu observei com carinho enquanto ele aguardava a ligação ser atendida. Era evidente que Calvin estava animado com a ideia de reunir todos, especialmente ao incluir Vinicius e as crianças. Aquele entusiasmo mostrava o quanto ele valorizava esses momentos em família.
Quando a ligação foi atendida, o rosto de Calvin iluminou-se ainda mais.
— Amor, estamos todos aqui e decidimos pedir uma pizza e assistir a um filme. Por que você não traz as crianças e se junta a nós? Vai ser ótimo termos todos reunidos. — A alegria na voz de Calvin era contagiante, e dava para sentir a expectativa no ar.
Enquanto Calvin conversava com Vinicius ao telefone, não pude deixar de me sentir grato por ver o quanto ele estava feliz em partilhar a vida com alguém tão especial. O fato de ele querer incluir Vinicius e os pequenos nesse momento reforçava o laço que estávamos construindo — não apenas como uma família, mas como uma comunidade de amor, apoio e conexão.
Percy, ao meu lado, esboçou um sorriso tranquilo ao perceber o quanto todos estávamos o aceitando.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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