Capitulo Dez
Michael Gutierrez:
Acordei sentindo o calor reconfortante dos braços de Alan firmemente ao redor da minha cintura. A textura suave da pele dele contrastava com o frio da manhã que tentava invadir o quarto através das frestas da janela. O ritmo constante da respiração dele era um lembrete silencioso da presença segura e carinhosa ao meu lado. Por um momento, fechei os olhos e me deixei perder na sensação, sentindo o peso confortável do corpo dele contra o meu, como se ele estivesse tentando me proteger de qualquer incerteza ou sombra que o dia pudesse trazer.
Cada vez que ele exalava, seu peito se movia suavemente contra minhas costas, e eu podia quase ouvir o sussurro do afeto nos pequenos gestos inconscientes que ele fazia, como quando seus dedos deslizaram de leve pela minha pele, em um toque quase sonâmbulo, mas cheio de ternura. Ali, naquele instante, o mundo parecia ter parado. Havia uma paz no simples fato de estar nos braços dele, como se a rotina e as preocupações diárias tivessem sido suspensas, deixando apenas o conforto da presença mútua.
Eu não queria me mover, não queria interromper aquele abraço silencioso que parecia nos conectar em um nível mais profundo. Talvez fosse o silêncio matinal ou a luz suave que começava a banhar o quarto, mas algo naquele momento parecia quase mágico, como se estivéssemos em um mundo à parte, onde nada mais importava além daquele aconchego compartilhado.
Levantei-me um pouco, tentando não romper o calor do momento, quando senti os dedos de Alan deslizarem suavemente pelo meu queixo. O toque era delicado, quase como uma carícia, enquanto ele me guiava, com uma ternura inegável, até nossos lábios se encontrarem em um beijo lento e envolvente. Era um gesto simples, mas carregado de carinho e intimidade, como se cada movimento contivesse a promessa de um novo dia juntos.
Enquanto nossos lábios se tocavam, o mundo parecia se dissolver em segundo plano. O beijo era leve, quase como se ele estivesse saboreando o momento, prolongando cada segundo como se não houvesse pressa. Era como se ele quisesse me lembrar que, mesmo nas manhãs mais comuns, o amor ainda estava ali, nos pequenos detalhes.
Quando ele se afastou, só o suficiente para nossos olhares se cruzarem, vi um brilho suave em seus olhos que parecia refletir a paz daquele instante. Com um sorriso que aquecia o coração, ele sussurrou:
— Bom dia, amor.
A voz dele era rouca e carregada de afeto, como se aquelas poucas palavras carregassem todo o sentimento que havia entre nós. Senti meu peito se aquecer com aquela saudação simples, mas cheia de significado. Era nesses momentos, nas pequenas coisas, que eu percebia o quanto ele realmente me amava.
Um sorriso tímido surgiu nos meus lábios enquanto ainda sentia o gosto do beijo suave de Alan. Sem conseguir evitar, fechei os olhos por um breve instante, me permitindo absorver a doçura daquele "bom dia". A mão dele ainda repousava delicadamente no meu queixo, e, mesmo após o beijo, seus dedos traçavam caminhos invisíveis pela minha pele, como se quisesse manter aquele toque por mais tempo.
Abri os olhos e o encontrei me observando com um olhar tranquilo, quase contemplativo. Era o tipo de olhar que me fazia sentir como se eu fosse a única coisa que importava no mundo para ele naquele momento. Alan sempre teve essa capacidade de me envolver sem precisar dizer muito, como se as palavras fossem apenas complementos para o que os gestos e olhares já diziam por si só.
— Você dormiu bem? — perguntei, a voz ainda suave, quase num sussurro, enquanto meus dedos traçavam pequenos círculos nas costas dele, sentindo a textura da pele aquecida pelo lençol.
Ele fechou os olhos brevemente, como se estivesse saboreando o toque, antes de responder com um sorriso preguiçoso:
— Dormir com você do meu lado? Acho que nunca dormi melhor.
Havia algo naquela resposta, uma mistura de simplicidade e sinceridade, que fez meu coração bater um pouco mais forte. Era engraçado como essas pequenas trocas matinais pareciam reforçar nosso vínculo, como se cada gesto ou palavra fossem tijolos sólidos construindo, dia após dia, uma relação cada vez mais forte.
Sem pressa, ele deslizou a mão pelo meu pescoço, se inclinando ligeiramente para depositar outro beijo, dessa vez na minha testa. Foi um gesto calmo, mas cheio de carinho, como quem deseja prolongar a paz daquele momento.
— O que acha de ficarmos assim só mais um pouquinho? — ele sugeriu, a voz arrastada pelo sono que ainda parecia pesar nos seus olhos. — Antes que o mundo lá fora nos tire essa tranquilidade.
Não consegui evitar um sorriso mais largo. A ideia de ficar ali, apenas aproveitando a presença dele, sem pressa, parecia perfeita. Nossos corpos se ajustaram novamente na cama, voltando a se encaixar como duas peças que se complementam. Deitei minha cabeça no peito dele, ouvindo o ritmo constante do seu coração, e senti a mão dele acariciando meu cabelo de forma preguiçosa.
Era como se aquele pequeno refúgio que criamos entre os lençóis fosse impenetrável, uma bolha onde o tempo não tinha pressa e a rotina estava a quilômetros de distância. Só nós dois e o silêncio confortável que compartilhávamos.
— Sabe... — Alan começou, a voz dele soando pensativa —, às vezes eu acho que esses pequenos momentos, como agora, são o que realmente importa. Tudo lá fora pode ser complicado, mas aqui... aqui tudo é simples, é certo.
Eu levantei a cabeça, olhando para ele, e vi a sinceridade no olhar que ele me lançava. Não precisei dizer nada; apenas me inclinei para dar outro beijo suave, em resposta, selando aquele sentimento mútuo de que, apesar de tudo o que o dia pudesse trazer, nós tínhamos esse pequeno pedaço de paz para chamar de nosso.
Com o coração aquecido e a alma tranquila, voltei a deitar minha cabeça em seu peito, deixando que o som constante das batidas do coração dele me embalasse. Era o nosso momento, e eu queria aproveitar cada segundo como se fosse o último.
*****************
Quando finalmente tivemos que nos levantar da cama, o encanto tranquilo da manhã foi quebrado pelo som insistente de batidas na porta. A voz animada de Anastácia ecoou pelo quarto, anunciando:
— Calvin chegou!
Senti o corpo de Alan se tensionar por um breve momento antes dele suspirar e esboçar um sorriso carinhoso. Ele sempre ficava mais alerta quando o filho estava por perto, e isso era algo que eu admirava nele: o amor incondicional que transparecia em cada gesto, mesmo nos momentos mais simples.
— Acho que é melhor eu ir logo falar com o meu filho — ele disse, com um tom suave mas decidido.
Com movimentos precisos, Alan se esticou na cama, alcançando a cadeira de rodas ao lado, e se preparou para a transição. Observei enquanto ele, com uma habilidade que só o tempo e a prática trazem, passou calmamente seu corpo para a cadeira. Mesmo sendo uma rotina diária, havia algo na forma tranquila e natural como ele fazia isso que sempre me impressionava.
Antes de se afastar, ele olhou para mim e piscou de um jeito que era tanto um convite quanto um "obrigado por estar aqui". Sem perder tempo, ele se dirigiu ao banheiro, a expressão séria agora substituída por uma leve excitação ao pensar no encontro com Calvin.
Eu balancei a cabeça com um sorriso divertido nos lábios, observando a dedicação inabalável de Alan. Momentos como esse, quando ele mudava o foco para quem mais amava, eram a prova viva de como a paternidade o completava. Eu sabia que a relação entre ele e Calvin não era perfeita, mas havia algo profundo e forte ali, algo que o fazia superar qualquer obstáculo para estar presente.
Fiquei por um instante contemplando o quarto vazio, sentindo a ausência repentina do calor dele, mas logo me levantei. Sabia que aquele encontro seria importante, e eu queria estar por perto, mesmo que fosse apenas para apoiar Alan de longe. Afinal, cada pedaço da vida que compartilhávamos juntos, cada desafio ou alegria, era mais um passo na construção do que tínhamos — uma família unida, apesar de tudo.
E com esse pensamento em mente, comecei a me arrumar, sabendo que o dia ainda guardava muitas surpresas, principalmente com Calvin agora por perto.
Fui para a cozinha, ainda sentindo a suavidade do momento que Alan e eu havíamos compartilhado. Quando entrei, a visão que me recebeu foi a de Vinicius, cercado pelos filhos, o que encheu o ambiente de uma energia calorosa e familiar. Axel estava rindo enquanto brincava com Alberto no chão, os dois perdidos em algum jogo imaginário cheio de risadas. Do outro lado, Vinicius, com uma expressão serena e concentrada, alimentava a pequena Karina, que abria a boca para cada colherada com aquele olhar curioso típico dos bebês. Perto da mesa, Jonathan estava em pé, pegando um pouco de vitamina com um ar meio distraído.
Vinicius levantou o olhar ao ouvir meus passos e abriu um sorriso acolhedor.
— Bom dia, Michael! — ele disse, com aquela gentileza que sempre fazia questão de demonstrar.
Antes que eu pudesse responder, Axel me avistou e correu em minha direção com um brilho nos olhos, os braços estendidos. Ele me envolveu em um abraço apertado, envolvendo minha cintura com aquele entusiasmo puro de criança.
— Bom dia, tio Michael! — ele exclamou, a voz cheia de animação.
Senti meu coração se aquecer ao retribuir o abraço, passando a mão carinhosamente pelo cabelo dele. Axel sempre tinha essa capacidade de iluminar qualquer ambiente com sua alegria contagiante.
— Bom dia, campeão — respondi, sorrindo para ele e depois olhando para o restante da família.
Vinicius me observava com um sorriso afetuoso enquanto continuava a alimentar Karina. A cena toda me fez perceber o quanto esses momentos simples, mas cheios de amor e cumplicidade, eram preciosos. Era como se, mesmo em meio à correria do dia a dia, essas interações pequenas mas sinceras fossem um lembrete constante de que a verdadeira felicidade está nos detalhes.
Jonathan, sempre mais reservado, deu um leve aceno com a cabeça, mas não deixou de esboçar um pequeno sorriso enquanto pegava sua bebida. Ele era um garoto observador, sempre atento ao que acontecia ao redor, e eu sabia que, mesmo com seu jeito mais calado, havia muito carinho por trás daquele aceno sutil.
Enquanto Axel finalmente soltava minha cintura e voltava a brincar com Alberto, me aproximei da mesa e peguei uma xícara de café, sentindo o aroma revigorante que me fez relaxar os ombros.
— Como foi a noite de vocês? — perguntei, puxando conversa enquanto me sentava à mesa, já me sentindo parte daquele momento aconchegante.
Vinicius olhou para os filhos e depois de volta para mim, com um sorriso satisfeito nos lábios.
— Foi tranquila, só acordamos algumas vezes por causa da Karina, mas isso já virou parte da rotina. E você? Dormiu bem?
Assenti, sentindo um conforto na simplicidade daquela troca de palavras. Era como se, no meio de todas as responsabilidades e desafios, nós encontrássemos força nesses pequenos momentos de conexão.
— Dormi sim, e parece que o dia vai ser agitado com a conversa entre o Calvin e o Alan — comentei.
Vinicius sorriu, concordando, e foi nesse clima de leveza e cumplicidade que a manhã seguiu, com risos infantis, conversas casuais e o calor familiar que parecia preencher cada canto daquela cozinha.
Vinicius me lançou um olhar um pouco mais sério enquanto dava outra colherada para Karina, que batia as mãozinhas na mesa com impaciência. Ele sempre foi observador e tinha um jeito de captar o clima das coisas com facilidade.
— Deve ser algo bem sério, só pelo tom da mensagem que o Alan mandou para o Calvin ontem — disse ele, com um toque de preocupação na voz.
Fiquei em silêncio por um instante, refletindo sobre o que aquilo poderia significar. Eu sabia que a relação entre Alan e Calvin, apesar de próxima, tinha seus altos e baixos. Havia coisas não ditas, questões pendentes que ainda precisavam ser resolvidas, e o fato de Alan ter mandado uma mensagem que deixou Vinicius atento só reforçava que algo estava diferente.
— É... Eu também percebi — respondi, a voz um pouco distante enquanto meu pensamento voltava à noite anterior. Alan estava inquieto, com aquele olhar pensativo que ele tem quando algo o incomoda, mas ele não quis entrar em detalhes na hora.
Vinicius terminou de alimentar Karina e limpou cuidadosamente o rostinho dela com um pano, enquanto seus olhos voltavam a me observar com uma expressão que misturava curiosidade e apreensão.
— Calvin estava meio estranho quando chegou hoje cedo — Vinicius continuou. — Ele tentou disfarçar, mas dá pra ver quando ele tá preocupado com alguma coisa. E se o Alan tá assim também, talvez estejam prestes a ter uma conversa séria.
Assenti, sabendo que Vinicius tinha razão. Era fácil perceber quando algo estava fora do lugar, especialmente com pessoas que a gente conhece bem. Meu instinto me dizia que a tensão entre Alan e Calvin estava se acumulando há algum tempo, e que, seja lá o que fosse, aquele encontro poderia ser decisivo.
— Espero que consigam resolver isso — falei, mais para mim mesmo do que para ele, enquanto tomava um gole de café.
Axel e Alberto continuavam a brincar no chão, completamente alheios ao clima de preocupação que pairava no ar. Às vezes, eu invejava essa inocência infantil, essa capacidade de se focar apenas na diversão e nas pequenas alegrias do momento.
Vinicius me lançou um sorriso compreensivo, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.
— Eles vão ficar bem. Às vezes, as conversas difíceis são necessárias pra colocar as coisas no lugar. E você sabe que o Alan e o Calvin têm uma ligação forte. Vai dar tudo certo, Michael.
Eu queria acreditar nisso, e, no fundo, sabia que Vinicius estava certo. Mas não deixava de ser difícil afastar a preocupação, especialmente quando envolve as pessoas que a gente ama. Resolvi confiar que o dia traria as respostas necessárias, e até lá, me manteria presente para o que viesse.
— Obrigado, Vini — respondi, apreciando o otimismo dele. — Vamos torcer para que as coisas se ajeitem.
E com isso, voltamos a focar no presente, deixando as crianças dominarem a conversa com suas histórias e brincadeiras, enquanto a tensão do que estava por vir permanecia no fundo da nossa mente, aguardando o momento certo para se revelar.
Minutos depois, Calvin e Alan entraram na cozinha, trazendo consigo uma atmosfera ligeiramente diferente, mas mais leve do que eu havia antecipado. Havia um brilho nos olhos de Calvin, e antes que alguém pudesse dizer qualquer coisa, ele soltou uma risada, como se algo tivesse finalmente se encaixado para ele.
— Pai, você estava preocupado que eu iria ficar com ciúmes por isso? — Calvin disse, claramente tentando aliviar qualquer tensão remanescente. — Eu até que iria gostar de ter um irmão mais velho e não ser o único responsável pelo Alberto e o Bobby.
A risada de Calvin era contagiante, e ele rapidamente continuou, enquanto se aproximava de Vinicius.
— Vou querer conhecer ele, claro, e apresentar meus filhos e o meu esposo também.
Ele se sentou ao lado de Vinicius com um sorriso despreocupado e, de maneira afetuosa, deu um beijinho carinhoso na bochecha dele. Vinicius retribuiu com um olhar cheio de ternura, como sempre fazia.
Eu sorri, aliviado ao ver que as coisas tinham se resolvido de forma tão tranquila, e entrelacei meus dedos com os de Alan, sentindo a tensão se dissipar aos poucos.
— Viu? Eu sabia que daria certo — comentei, meu tom leve e cheio de confiança renovada.
Alan, ainda um pouco pensativo, mas claramente mais relaxado, apertou minha mão em resposta. Era como se todo o peso da preocupação que ele carregava tivesse finalmente começado a desaparecer.
Anastácia, que estava observando tudo de longe, não conseguiu segurar a língua e soltou uma risada divertida.
— Estava se preocupando à toa, Alan — ela disse, balançando a cabeça como se o cenário tivesse sido previsível para ela o tempo todo.
Nesse momento, Alberto, que até então estava brincando com Axel, ouviu o comentário de Calvin e levantou o olhar.
— Ei, você não é responsável pela gente — disse ele, com uma expressão que misturava inocência e um leve toque de indignação.
Anastácia, com sua sabedoria prática e um sorriso travesso, não perdeu tempo em responder.
— Na verdade, nem vocês dois são responsáveis por vocês mesmos — replicou ela, piscando para Calvin, enquanto se dirigia aos pequenos. — Por isso que sempre tem alguém de olho em vocês.
Todos na cozinha riram, inclusive Calvin, que agora parecia mais à vontade com a situação. O clima, antes tenso, havia se transformado em algo leve e até divertido. Era bom ver como a família conseguia lidar com as questões mais complicadas de forma tão natural, reforçando os laços que compartilhavam.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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