- O que acabou de falar? - Julie arregala os olhos. - Vai morar em uma ilha enquanto cuida do irmão da Jamily?

- Exatamente. - Suspiro alto.

- Tem certeza que ficará bem? - Ela pergunta. - Você não está acostumada com tanta tranquilidade, e morar em uma ilha deve ser bem calmo.

- Terei que me acostumar o mais rápido possível. - Digo.

Realmente não gosto de lugares muito tranquilos. Com o tempo acabei me acostumando com a correria da cidade e do hospital, então morar em uma ilha de agora em diante será mais um desafio na minha vida.

- Vai ficar fora por quanto tempo? - Julie pergunta.

- Até eu ser expulsa ou o paciente estiver completamente recuperado.

- Boa sorte minha amiga. - Julie aperta meu ombro.

- Não me deseje sorte, vá no meu lugar. - Sorrio abertamente.

- Apesar de estar curiosa para conhecer essa ilha e esse homem, tenho certeza que você será a única a ter paciência para enfrentá-lo, então eu iria perder viagem. - Julie também sorri. - O primeiro grito que ele desse eu já estaria chorando e pedindo para voltar para casa, você me conhece bem.

Depois de ouvir como o irmão da Jamily é ruim, sendo tão sensível como é, Julie realmente não duraria nem um dia. Na verdade estou em dúvida se eu também irei conseguir conquistar sua confiança.

Ele rejeitou cinco enfermeiros, então não será por minha causa que ele mudará de ideia tão facilmente. Tenho certeza que minha vida tranquila está com os dias contados literalmente.

- Jamily deve estar muito feliz agora.

- Com toda certeza está. - Cemicerro os olhos.

- Depois de tanto tempo tentando achar uma forma de te prejudicar, ela enfim conseguiu.

- Ela é louca. - Digo. - Tudo bem me odiar, mas usar o irmão ferido é doentio.

- Você tem razão. - Julie fala. - Mas estamos falando sobre Jamily, a garota que não se importa com ninguém a não ser ela mesma, então não deveríamos estar tão surpresas com mais uma atitude egoísta vindo dela.

Quando penso que ela já fez tudo de ruim, ela consegue me surpreender ainda mais, então percebo o quanto sou boba por pensar que ela poderá mudar algum dia.

- Ela deve ter ficado no pé da Angel, caso contrário ela não iria pedir isso para você.

- Só vou fazer isso porque Angel me pediu, mas deixe ela pensar que é por causa dela. - Falo. - Só assim ela a deixá em paz por algum tempo.

- Eu deveria lhe dar uma boa lição depois que voltar ao trabalho? - Julie finge ser corajosa.

- Se quiser ser mandada para algum lugar sem...

- Acho melhor não. - Ela me corta.

- Foi o que pensei. - Sorrio abertamente.

Caminho até meu closet, pego uma mala e volto para o quarto e a coloco sobre a cama.

- Quer ajuda? - Ela pergunta.

- Sim. - Confirmo com a cabeça.

Volto para o closet com Julie ao meu lado, e começo escolher as roupas que irei levar para minha pequena viagem.

Vou entregando para Julie as roupas que escolho e ela vai as colocando no braço esquerdo uma a uma.

- Será que eu peguei tudo? - Pergunto a mim mesma.

- Pegue alguma roupa para o inverno. - Julie fala. - Em uma ilha provavelmente faz frio durante a noite.

- Você tem razão.

Depois de alguns minutos volto para o quarto com Julie, depois de ter pego tudo o que eu precisava, e começo a guardar na mala.

- Já estou começando a ficar com saudades. - Ela faz biquinho.

- Vai ficar bem seu eu? - Pergunto. - Qualquer coisa peça para Angel ficar com você.

- Vou decidir o que fazer quando você se for. - Ela se senta na beirada da cama e começa a dobrar as roupas e me entrega em seguida.

- Não se esqueça de fazer todas as refeições na hora certa e...

- Está bem mamãe. - Julie sorri abertamente. - Pare se de preocupar tanto comigo, eu vou ficar bem.

- Não sei se meu celular irá funcionar na ilha, mas se não, provavelmente tem algum telefone, então eu te ligo de vez em quando.

- Ok. - Ela diz apenas.

Já tem alguns anos que eu e Julie moramos juntas, e é a primeira vez que vamos ficar longe uma da outra por tanto tempo. Somos acostumadas a cuidar uma da outra, então já estou começando a sentir sua falta e me preocupar antes mesmo de viajar.

- Pode parar. - Julie bufa alto.

- Parar?

- De me olhar assim. - Ela fala. - Pode não parecer, mas eu sei me cuidar, então pare de se preocupar.

- Ok. - Falo. - Mas se precisar...

- Eu te ligo. - Ela me corta. - Então se preocupe mais com o que terá que enfrentar de agora em diante do que comigo.

Por algum motivo me sinto estranha todas às vezes que penso nesse homem, mas provavelmente deve ser nervosismo pela mudança repentina.

- Já estou ficando nervosa só de pensar em encontrar esse homem. - Assumo.

- Você está nervosa? - Julie leva as mãos a boca. - Você estar nervosa com alguma coisa é novidade para mim Becca.

- Por que está tão surpresa? - Pergunto. - Não sei se você percebeu, mas eu também sou humana.

- Nos conhecemos há anos, e é a primeira vez que te vejo tão inquieta.

- Eu também não estou me reconhecendo. - Confesso.

- Você vai se sair bem como sempre. - Ele me oferece um sorriso reconfortante.

- Assim eu espero. - Suspiro alto.

Meu celular começa a tocar, então o pego sobre a cama e atendo a ligação.

- Olá Angel.

- Oi Becca. - Ela diz. - Está tudo bem?

- Sim. - Falo.

- Já está se preparando para a viagem? - Angel pergunta.

- Estou terminando de arrumar minha mala. - Me sento na beirada da cama.

Angel se cala por algum tempo, mas consigo escutar ela suspirando por diversas vezes.

- Quer desistir Becca? - Ela pergunta de repente. - Eu me viro com a Jamily depois.

- Já decidi. - Falo. - E você sabe que quase nunca fujo de uma boa luta.

- Tem certeza?

- Sim. - Falo.

Não aceitei ser a enfermeira do irmão da Jamily porque eu quis, mas para evitar que Angel fosse prejudicada, então não mudarei de ideia mesmo que ela me peça para não ir.

- Cuide da nossa garota. - Olho para Julie.

- Não se preocupe. - Ela fala. - Irei fazer compainha para Julie enquanto estiver fora.

- Obrigada. - Agradeço. - Agora preciso desligar, tenho muita coisa para fazer ainda.

- Ok. - Ela diz. - Faça uma boa viagem, e me dê notícias quando chegar na ilha.

Conversamos por mais alguns segundos e finalizo a ligação em seguida.

🌻

- Não quero que vá. - Julie começa a chorar quando me despeço dela.

- Eu sei, mas é necessário. - Enxugo suas lágrimas. - Então pare de chorar.

- Mas...

- Logo estarei de volta. - A corto. - Até parece que nunca mais irá me ver.

Julie me puxa para um abraço, que retribuo com carinho.

- Me ligue quando chegar ao seu destino. - Ela fala ao se distanciar de mim.

- Ok. - Digo apenas.

- E não se esqueça de se alimentar...

- Quem está fazendo o papel de mãe agora? - A corto.

Julie pega a minha mão e aperta de leve, me transmitindo confiança.

- Se esse homem gritar com você, grite mais alto que ele. - Julie fala de repente.

- Está mandando eu gritar com um paciente? - Finjo espanto.

- Se ele for tão ruim quanto dizem, é aceitável. - Ela dá de ombros.

- Não se preocupe. - Falo. - Espero que não seja necessário eu fazer isso.

Apesar de saber que estou me enganando, ainda tenho esperanças que o senhor Izan possa ter mudado nesse pequeno período de tempo, e que não complique minha vida mais que o necessário.