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Capítulo Dois

— Seojoon? — Lisa indagou. O rapaz riu.

— Eu mesmo, Lalisa.

— Quanto tempo! — um sorriso brando lhe dominou o rosto — Fico feliz de te ver bem.

A expressão relaxada de Seojoon foi substituída por um encarar acolhedor. Lisa estranhou o que estava se passando até que ele falou, surpreendendo-a:

— Mas não sinto que posso dizer exatamente o mesmo de você, né?

Lisa suspirou, sentindo o ímpeto de colocar tudo para fora crescendo em seu íntimo.

— Quando você vai parar de ser tão direto assim?

— O que acha de andarmos um pouco? — Seojoon sorriu de leve, ignorando o questionamento, mas já direcionando a situação — Aquele parquinho que costumávamos brincar é aqui perto, lembra?

Lisa não foi capaz de recusar, e quando deu por si, já estava sentada no balanço que aguentou seu peso por quase toda vida. Seojoon estava ao seu lado, e eles estavam comentando sobre suas pequenas aventuras.

— E aquela vez que eu te deixei cair do escorregador e, como estávamos brincando de pirata, você ficou uma semana dizendo que te dei de comida para tubarões?

— Você não me deixou cair, você me empurrou! — Seojoon acusou, e eles gargalharam até um silêncio reconfortante aparecer. O rapaz não iria perder a chance. — Mas, me diga, o que vem perturbando seu coração?

Lisa fitou-o. Mesmo com seu amigo de infância sentia uma pequena dificuldade em se expressar, principalmente quando a própria empresa em que trabalhava ensinava os idols a esconder a maioria dos problemas.

— Tive um namorado por dois anos. Terminamos há quatro meses.

— Está sendo difícil superá-lo?

— Ah, Seojoon, eu já entendi que não daríamos certo. O problema é me encontrar de novo, sinto que depois de tanto tempo, tudo que lutamos para construir foi em vão. Um pedaço meu pertence a ele e não sei como preencher o espaço.

Seojoon expirou ruidosamente, chamando atenção da amiga. Sem hesitar, ele envolveu a mão de Lisa na sua, olhando para ela sem desviar a atenção.

— Lisa, você sabe que pode contar com sua família, né? Eles te amam.

— N-Não quero preocupá-las. — os olhos desviaram para o chão — Já moro longe, minha mãe me liga mais do que deveria e vovó até aprendeu a mexer no celular para trocarmos mensagens. Já fizeram o suficiente por mim e...

Um aperto consolador na mão de Lisa a fez parar e fitar Seojoon novamente. A voz dele saiu em um sussurro macio:

— Em tempos assim, você não precisa enfrentar tudo sozinha, mesmo que o papel de se encontrar novamente seja seu.

— Mãe, olha, é a Lisa! — uma voz infantil gritou antes que pudesse haver uma resposta, e o momento foi quebrado. Seojoon soltou a amiga repentinamente, largando uma sensação de vazio neles, assim como um rubor em seus rostos. — Vou pedir um autógrafo!

A criança parou na frente de Lisa, estendendo-lhe depois uma folha amarrotada com alguns desenhos. A garota não conteve o sorriso que se formou ao ver o olhar animado da menininha de cabelos negros.

Aceitou o papel amarrotado sem desviar sua atenção da criança, antes de se virar novamente para Seojoon.

— Teria uma caneta? — pediu, sentindo mãe e filha a olharem.

Seojoon pareceu atrapalhado com a pergunta, mas simplesmente crispou os lábios numa linha fina e abanou negativamente a cabeça. Lisa encolheu os ombros e encarou novamente as pessoas à sua frente, porém, os olhares nos seus rostos já não eram de ânimo, mas de estupefação.

— Filha, vamos embora... — disse a mãe, puxando a menina pelo bracinho, levando-a longe dali num passo estranhamente apressado.

— O que acabou de acontecer? — Lisa perguntou, permanecendo com o papel amarrotado na mão.

— Talvez tenham ficado envergonhadas? — disse Seojoon, começando a esboçar um sorriso atrapalhado, embora este não lhe chegasse aos olhos.

Lisa suspirou, rendida, e arrumou o papel no bolso do casaco, ainda confusa com o que tinha acabado de acontecer.

— Lisa, à noite você está livre? — perguntou, exibindo um rubor que contrastava com o claro da sua pele.

Ela sentiu o seu coração aquecer ao perceber o que aquela pergunta significava.

— Sim, por quê?

— Estava pensando se podíamos ir juntos à feira do Chuseok na vila. — a voz de Seojoon saiu decidida, embora o seu olhar estivesse preso ao chão.

Lisa começou a balançar, aterrissando depois com um pequeno impulso, sempre sem deixar cair o mel que segurava contra o peito. Virou-se para Seojoon, que a observava com um brilho no olhar, tornando o seu rosto ainda mais belo. Por que ela ainda se sentia uma pequena criança perto dele?

— Combinado, às 20h00 estarei na vila a sua espera... — disse, antes de virar sobre os calcanhares e iniciar o seu caminho para casa. Ao afastar-se do parquinho, Lisa não conseguia controlar o sorriso bobo que reinava nos seus lábios.

Lisa alisava o tecido do hanbok que pertencera a sua mãe, enquanto esperava pelo amigo. Este era composto por uma camisola branca de mangas compridas, e uma saia enorme rodada de um tecido sedoso de cor vermelha. Para acompanhar, colocou o cabelo ruivo em uma trança.

Finalmente, avistou a figura de Seojoon ao longe, caminhando na sua direção. Reparou que ele também vestira o traje tradicional de Chuseok, utilizando uma camisola larga de mangas compridas azul, e umas calças de seda castanhas. Ela sentiu o coração falhar uma batida ao constatar que aquela vestimenta tornava-o ainda mais belo.

Ele esboçava um sorriso que lhe iluminava o rosto, puxando as pálpebras numa linha fina.

— Está maravilhosa... — disse, fazendo uma pequena vênia.

— Também não está nada mal... — Lisa sentiu as bochechas quentes, e o coração batendo forte contra o peito.

Por fim, iniciaram uma caminhada lado a lado, enquanto falavam sobre tudo o que vinha à cabeça, e observavam as várias barracas de feirantes, iluminadas por pequenas lanternas penduradas.

Por vezes, Lisa espiava pelo canto do olho a postura descontraída de Seojoon, que mantinha sempre um pequeno sorriso, e caminhava com as mãos atrás das costas.

A garota já não recordava sentir-se assim tão tranquila e feliz há algum tempo, e começou a imaginar uma vida ao lado do rapaz, repleta do som melodioso dos seus risos, e da sua energia calma e reconfortante.

Depois de uns longos minutos de caminhada, pararam em um miradouro que dava visão para toda a cidade. Ao fundo, o lago refletia na sua superfície a imagem deslumbrante da lua cheia. Era como um quadro de cortar a respiração.

Seojoon surpreendeu Lisa, virando-se para ela e pegando-lhe as mãos.

— Lisa, promete uma coisa... — disse, não desviando os olhos dos dela.

A garota sentiu um nó formar na garganta ao ouvir o tom de voz dele se tornar tão sério. Apenas conseguiu assentir, estando hipnotizada pela fitada carinhosa que o rapaz lhe lançava.

— Promete que vai tentar se aproximar mais da sua família. Não há momento melhor que o Chuseok para isso e você precisa tanto deles, como eles de você. — as mãos de Seojoon largaram as de Lisa e subiram até seu rosto, despertando todos os nervos debaixo da pele, até mesmo em lugares que ela desconhecia.

Lisa não aguentou a intensidade do momento e diminuiu a distância entre eles, pegando no colarinho da camisola de Seojoon, puxando-a para que o rosto dele se aproximasse. Sentido a respiração do rapaz fortemente contra a sua, não resistiu e juntou os seus lábios com os dele, num beijo capaz de derreter o mais duro dos diamantes.

Tudo à volta de Lisa desapareceu, à medida que Seojoon retribuía na mesma intensidade, e rodeava a sua cintura com um aperto repleto de desejo. E ali, rodeada no abraço dele, a garota sentiu que tudo era possível, inclusive a ideia de superar seu caos interno e se reaproximar da família.

Palavras: 1284

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