Capítulo 7
Os resultados da fisioterapia surtiram efeito mais rápido do que Zayn esperava. Em dez dias já conseguia andar sozinho se apoiando pela casa. E agora conseguia segurar a pequena sobrinha Zaneyah de oito meses sozinho.
Era louco pensar que sua irmã caçula Safaa era mãe. Bem, na verdade ele sabia que esse não era o problema. Zayn não conseguia esquecer o fato de que ele próprio era pai.
Como as coisas mudam rápido desse jeito?
Era difícil conversar sobre o que sentia. Sabia que eles o amavam mas as coisas em sua cabeça ainda estavam bagunçadas. E parecia que revirar as caixas que estavam em seu quarto não tinha sido uma boa ideia também.
Uma delas estava cheia de roupas aparentemente novas. Havia uma camisa xadrez vermelha em especial que Zayn podia sentir o cheiro de perfume. Não fazia ideia de que cheiro era aquele mas ele gostava. Na verdade gostou tanto que tirara a peça da caixa e dormia com ela. Se pudesse morar num cheiro seria aquele.
Outra caixa tinha vários materiais que pareciam ser da sua faculdade. Sua mãe havia mostrado fotos de sua formatura em Artes. Liam aparecia nelas. Assim como em várias outras fotos deles em outras caixas.
Estava se tornando seu hobby secreto tentar montar uma linha cronológica com as fotos que encontrara ali. Tinha detalhes que havia percebido: além das mudanças de cabelo, tinha as tatuagens tanto dele como de Liam que iam aumentando com o passar dos anos. Mas tinha algo que era sempre presente nas imagens: o seu sorriso. Ele parecia feliz ao lado de Liam.
─ Ei, maninho, pode me ajudar? Safaa perguntou.
─ Claro! falou guardando de volta as fotos.
─ Segura sua sobrinha linda rapidinho, preciso subir um pacote que chegou para você.
─ Pacote? Zayn perguntou enquanto tentava ajeitar a sobrinha agitada em seus braços.
─ SIM! Respondeu Safaa gritando já no corredor.
─ Sorte tem você Zaneyah que não precisa se preocupar com nada além de comer e dormir, aproveite que dura pouco, Zayn falou enquanto a sobrinha fazia barulhinhos que ele havia classificado como fofos.
Será que o seu filho fazia barulhinhos assim? pensou. Meu deus ele nem mesmo sabia a idade do seu filho.
─ Olha eu amo o meu marido mas você teve muita sorte com o seu também, Safaa falou entrando no seu quarto com uma caixa dos correios.
─ Sabe o quão estranho soa isso? Nós somos jovens demais para sermos casados e termos filhos, Zayn falou.
─ Citando nossa autora preferida, Jane Austen: "Não é o tempo nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a disposição..."
─ "Sete anos seriam insuficientes para algumas pessoas se conhecerem, e sete dias são mais que suficientes para outras.", Zayn completou.
Conhecia aquela citação de cor. Era um trecho do livro Razão e Sensibilidade. Bom, pelo menos era uma das coisas que lembrava. Ele sabia que por baixo de todas aquelas tatuagens tinha uma rapaz que só queria amar e ser amado. Sentia que isso pelo menos não havia mudado.
─ Vamos me dê minha filha e abra a caixa anda, sua irmã falou.
─ Não vou abrir na sua frente! Zayn negou.
─ Não deve ser nada demais ou inapropriado. Liam não faria isso, Safaa falou.
─ Como você pode ter tanta certeza? perguntou ainda desconfiado.
─ Ok, todo mundo tá tratando você com respeito, sem ser invasivo nem nada, mas já que você não fala sobre isso eu vou falar sobre uma experiência pessoal: a primeira vez que você trouxe o Liam aqui em casa foi durante uma celebração do Ramadã.
Aquilo era sério. O Ramadã era o nono mês do calendário islâmico, no qual a maioria dos muçulmanos pratica o seu jejum ritual, o quarto dos cinco pilares do Islão. Além das cinco orações diárias (salá), durante esse mês sagrado recita-se uma oração especial chamada Taraweeh (oração noturna).
─ E particularmente, eu fiquei impressionada porque além de respeitar o jejum ele aprendeu todas as rezas em árabe para poder participar conosco e trouxe presentes para toda família. Esse foi o homem com quem você se casou. Esse homem não seria desrespeitoso com você em nenhuma hipótese Zayn.
─ Certo, vou confiar na sua palavra, falou trazendo a caixa para si.
A embalagem de papelão foi fácil de ser aberta. E Safaa realmente tinha razão não era nada inapropriado, na verdade ele estava encantado com o conteúdo: dois cadernos no estilo scheetbook de uma marca chamada Midori (que ele sabia que custavam caro), um kit de tintas guache da Schmincke, uma caixa aquarela da Derwent Academy e um kit de canetas estilo brush além de alguns pincéis.
Ele reconhecia aqueles materiais. Por anos, enquanto crescia aquilo havia sido seu sonho de consumo. Havia uma nota escrita a mão no meu daqueles materiais, e Zayn precisou usar todas as suas forças para não chorar na presença da irmã.
Sua mãe me falou sobre a sua melhora com a fisioterapia e eu fico muito feliz em saber disso. Você mais do que tudo sempre foi apaixonado por arte e eu espero que esses materiais te ajudem a se conectar com a arte que você costumava fazer e isso te ajude a melhorar por dentro como você tem melhorado por fora.
Liam Payne.
─ Não falei? Você é muito sortudo, Safaa comentou vendo o conteúdo da caixa.
─ Eu queria lembrar dele, da minha história com ele...
Sua irmã se aproximou deitando a cabeça em seu ombro.
─ Acho que você deveria fazer menos esforço em se lembrar e ao invés disso, deixar o Liam ter um pouco de espaço na sua vida, falou.
─ Como assim? perguntou.
─ Deixa um pouco pra lá isso de tentar lembrar o que vocês viveram, deixa só ele só se aproximar de você, o Liam é um cara incrível e o filho de vocês é a criança mais adorável do mundo depois da minha filha é claro, Safaa falou. ─ Você só tem a ganhar se deixar eles entrarem na sua vida, vai por mim.
─ Vou pensar sobre isso ok? falou Zayn. ─ Agora leva minha sobrinha para longe, eu quero mexer nessas tintas.
─ Vai aproveita seus brinquedos novos, falou saindo do quarto.
E era como Zayn se sentia, como uma criança que tinha ganhado brinquedos novos. E rapidamente sua mente começou a imaginar as possíveis misturas de cores e texturas que podia fazer com todo aquele material.
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