M A N A
Mαnα é umα pαlαvrα em hαvαıαno. Seu sıgnıfıcαdo é o Poder Dıvıno, é α energıα vıtαl que fluı αtrαvés de todαs αs coısαs. É o poder de curαr e de compreender α mάgıcα do mundo.
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Desentender-se com sua família e seu noivo às vésperas do seu casamento tem suas vantagens, o silêncio no café da manhã, os olhares cuidadosos e as poucas palavras trocadas evitaram que a veia na minha testa ameaçasse estourar outra vez. Não havia clima nem mesmo para o passeio que Mansur havia me sugerido na noite do nosso jantar de ensaio.
O idiota parecia mais destruído que eu, com óculos escuros e um vidro de analgésicos no bolso do shorts. Não que eu estivesse melhor, mas depois daquela noite maldita sentia todo meu corpo dormente, minha mente funcionava no automático e eu só torcia para chegar ao fim da cerimônia sem nenhuma grande loucura.
Me despeço de todos com um aceno, minha irmã é a única que questiona porque Mansur não está indo me fazer companhia e ele lembra a todos que já foi lá, sem mim, pouco se fodendo para a tradição.
Passa do horário do almoço quando entro no barco que vai me levar a ilha de Maui, a segunda maior ilha do Havaí, cheia de paisagens lindas, histórias e tradições. Dentre as tradições, aquela que estava ali para cumprir, ir até o caminho das conchas e encontrar o par que seria usado na cerimônia de casamento, bastava encontrar uma idêntica a de Mansur.
Procuro espaço no deck, é um barco grande, feito para turistas e pessoas que lidam com negócios da ilha, para facilitar locomoção. Me sento em uma mesa na lateral, em uma distância segura das barras de proteção, ainda que o mar estivesse tão calmo quanto um vulcão adormecido. Deixo a bolsa sobre a mesa e me sento tomando um momento para respirar fundo, a viagem até a ilha de Maiu não era tão rápida, o barco ia em uma velocidade reduzida para que os turistas pudessem desfrutar da paisagem, eu poderia ter pego uma lancha, faria o trajeto em menos da metade do tempo, mas eu precisava daqueles minutos para limpar a mente.
Ao menos foi o meu intuito.
Os últimos turistas adentravam a embarcação quando o capitão anunciou uma última vez que estávamos prestes a partir. Uma pequena onda de rostos curiosos e animado invadiu o deck ocupando espaços nas mesas e nos bancos laterais, embaixo do sol Havaiano. Entre os transeuntes, de soslaio, vi a figura que me atormentava os pensamentos. Torci para ser um delírio, que o sol estivesse queimando meus neurônios, mesmo estando na sombra. Mas não foi o suficiente para o destino me dar uma trégua.
Tentei desviar a atenção antes que fosse pega o encarando, em vão. O rosto bonito me encontrou, os cabelos penteados para trás, óculos escuros, os lábios bonitos formaram um sorriso em minha direção, me cumprimentando em silêncio. Voltei minha atenção para a mesa de madeira soprando o ar que nem imaginava estar prendendo. Demorei alguns instantes para levantar o olhar outra vez. Taehyung ainda estava lá, mas sua atenção havia retornado aonde provavelmente estava em um primeiro momento. A mulher com ar de modelo americana a sua frente, jogando os cabelos por cima dos ombros e dando sorrisos largos. Minhas orbes rolaram sem nem mesmo perceber.
Me levanto em um rompante jogando a bolsa sob meu ombro, passo pelos turistas e entro na cabine principal, uma área social, no entanto menos visita já que os turistas preferiam ver o mar e as ilhas a nossa volta. Abro o computador e plugo os fones de ouvido, precisava revisar algumas planilhas da loja, algo que poderia sim esperar até a semana seguinte, no entanto, precisava me ocupar naquele momento.
Perco o foco em pouco mais de dez minutos, meu olhar se perde na janela de vidro apreciando o mar calmo, os pássaros que faziam sua revoada na brisa fresca. Em Taehyung devorando uma melancia, sujando todo o rosto e deixando gotas escorrerem por seu pescoço da forma mais infame que um homem poderia.
Puta merda.
O cretino me encara de volta, abocanhando outra vez a melancia, sugando o suco, limpando a boca com o polegar e lançando um sorriso sensual. O som dos meus joelhos se chocando ecoa, pressiono minhas coxas e fecho os olhos o xingando mentalmente. Ele sabe bem o que faz, tanto sabe como o vejo sibilar: tão bom quanto você.
Eu o odeio com todas as minhas forças naquele instante. Quero atirá-lo do barco e pular logo em seguida.
Para o meu azar, são duas horas de viagem.
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Tenho quase certeza de que sobrevivi por pura pena divina. Taehyung perturbou todos os meus sentidos, andou de um lado para o outro, deu risadas, sentou ao meu lado e perguntou o que eu fazia. O maldito até dormiu na cadeira ao lado e achou um jeito de apoiar a cabeça nas minhas pernas. E desde então tenho ficado imóvel, qualquer movimento não programado sei que vou acabar com o seu pau na minha boca.
O capitão avisa nossa chegada e eu expulso me levantando o mais rápido possível, sem lhe dar tempo arrumar qualquer desculpa. Jogo a bolsa no ombro e caminho para fora do barco seguindo para o cais. Uma multidão fica para trás, provavelmente procurando o guia, me esgueiro entre os pescadores indo para a locadora de carros á poucos metros de onde o barco havia atracado, um pequeno comércio havia se formado ali.
──── Olá, eu gostaria de um Jipe. ──── dito recebendo um sorriso de um senhor que lembrava o meu avô.
──── Onde nós estamos indo? ──── a voz soa sem avisos me dando um susto. Arrego os olhos virando a atenção a Taehyung e então para o barco e sua espuma de turistas.
──── Como você...argh! ──── fecho os olhos deixando meus ombros caírem. ──── Nós não estamos indo para lugar nenhum. ──── seguro minha voz para não chamar atenção.
──── Então por que precisa de um Jipe?
──── Eu preciso ir até uma vila do outro lado da ilha, é mais rápido.
──── Ótimo, preciso tirar mais algumas fotos. ──── balança a câmera antiga em suas mãos. ────Não vim nesse passeio só para ser levado a lojinhas de conveniência. ──── apontou para o guia que levava o grupo para a loja ao lado.
──── Não te convidei para ir comigo Tae. ──── o senhor retornou entregando as chaves, tinha a cor e a placa do Jipe no chaveiro, agradeci em um sorriso me virando para o homem audacioso. ──── Pensei que tínhamos concordado que você manteria distância.
──── Estou mantendo distância. ──── o cinismo explicito em sua voz.
──── Chama isso de distância? ─── gesticulo entre nós.
──── Tenho resistido a vontade de te beijar até perder o fôlego, enfiar o rosto na curva do seu pescoço e me embriagar no seu cheiro. ──── sibilou calmo em um tom calmo, mas sutilmente sofrido. ──── Essa é toda distância que consigo manter sem me jogar na boca de um tubarão baby, para de me maltratar vai. ──── choramingou inclinando o corpo para frente, fazendo cara de inocente. ──── Sem contar que eu nem imaginava que ia te encontrar aqui, foi uma coincidência.
Cruzo os braços resistindo a necessidade de me aproximar dele, como um imã.
──── E a sua companhia no barco? Ela não vai ficar feliz em seguir o passei sem você.
──── Ela pode escrever uma nota de reclamação e deixar com o guia, eu tô nem ai. ── deu de ombros sem se incomodar com o cenário. ──── Prefiro ir com você, seja lá o que esteja fazendo.
──── Pela companhia, é só por isso que estou te deixando ir, mas não tente nenhuma gracinha. ──── ele acenou positivamente me lançando um daqueles sorrisos retangulares. ──── Você dirige, eu tô cansada demais pra isso. ──── jogo as chaves em sua direção seguindo para o estacionamento.
Entro no veículo de estofado azulado, deixo a bolsa no banco traseiro e passo o cinto de segurança tentando não pensar muito no fato de Taehyung esta posicionado ao meu lado retirando os óculos de sol do rosto e os usando para prender os fios longos. É uma visão um tanto quanto tolerável. Recosto no banco apoiando o braço na janela, mudando o foco da minha atenção. Ouço o ronco do motor e em poucos instantes estamos manobrando e pegando a saída da rota principal.
O céu aberto não demonstrava nenhum indicativo de chuva, mas senti no ar que nuvens grossas se aproximavam pela costa leste, ou talvez eu estivesse errada, o vento forte e o cheiro da água do mar, por pouco não me embalavam em um sono tranquilo, algo que eu definitivamente precisava.
A costa se transformava em uma bela paisagem, o mar em seus tons de verde, os corais á vista, as ondas gordas batendo contra as pedras e formando uma espuma branca espeça. Independente do quanto quisesse deixar o Havaí, sabia que não existe lugar mais bonito no planeta terra, longe dos problemas, posso me lembrar como amo o lugar, mas já não sou tão apegada quanto imaginava.
──── No que esta pensando? ── a voz grave do homem ao meu lado invade minha mente. Viro o rosto lentamente capturando sua imagem atrás do volante. Sim, ainda diabolicamente lindo. E tranquilo. Há uma paz que me causa inveja no rosto de Taehyung.
──── Em como a ilha é linda. ── vejo a mão que descansava no volante alcançar a minha, sobre a minha coxa. Encaro os dedos longos buscando espaço entre os meus. ──── Duas mãos no volante, gringo.
──── Posso dirigir perfeitamente assim, só estou segurando são mão, não com ela dentro da sua calcinha. ──── mordo a língua ao pensar que seria uma situação menos perigosa se fosse o caso. ──── Eu falei sério quando disse que foi coincidência. Eu não sabia onde estaria hoje, não te segui.
──── Mas não saiu do meu pé assim que me viu.
──── Se o destino me deu a oportunidade de passar mais um tempo com você eu não poderia simplesmente ignorar isso.
──── Você poderia sim. ──── seus dedos apertaram os meus levemente.
──── Eu não queria. ── confessou formando um sorriso tolo no rosto. Queria que tivesse me causado qualquer sensação obscena, graficamente descritiva, mas seu sorriso fez meu peito aquecer. Algo que eu não me lembrava de ter sentindo antes.
Era apenas um sorriso. Um sorriso tolo que ele dava ao segurar minha mão.
Como pode uma pessoa se sentir tão sortuda e azarada como me sinto agora.
Não resisto á entrelaçar os dedos envolta dos seus, entregue ao meu destino canalha. Me estico ligando o som do carro, toca a rádio local, uma regional soava suas últimas estrofes antes de outra que eu não me lembrava de ter ouvido antes começar.
──── Aumenta o som, whoaa, eu adoro essa música. ─── o rapaz diz animado se juntando ao cantor, se juntando não, se entregando.
𝑻𝒓𝒂𝒗𝒆𝒍 𝒘𝒊𝒕𝒉 𝒎𝒆, 𝒅𝒐𝒏𝒕 𝒚𝒐𝒖 𝒘𝒂𝒏𝒏𝒂 𝒈𝒆𝒕 𝒂𝒘𝒂𝒚?♪
𝑉𝑖𝑎𝑗𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑖𝑔𝑜, 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑛𝑎̃𝑜 𝑞𝑢𝑒𝑟 𝑒𝑠𝑐𝑎𝑝𝑎𝑟?
Ele parecia saber a letra de cor, gesticulando a cada estrofe, seguindo ritmo como se aquelas palavras fossem suas. O par de olhos amendoados me sugaram para o seu tornado de emoções, e eu segui sentindo os músculos do meu rosto corresponderem ao seu pedido silencioso esboçando um sorriso de olhos marejados. Talvez eu não fosse mais me sentir assim outra vez, com ninguém, nunca.
"𝑨𝒏𝒅 𝒊𝒏 𝒕𝒉𝒆 𝒆𝒏𝒅, 𝑰 𝒘𝒂𝒏𝒏𝒂 𝒔𝒉𝒐𝒘 𝒚𝒐𝒖 𝒉𝒂𝒑𝒑𝒊𝒏𝒏𝒆𝒔𝒔. 𝑨𝒏𝒅 𝒔𝒉𝒐𝒘 𝒂𝒍𝒍 𝒎𝒚 𝒄𝒐𝒍𝒐𝒖𝒓𝒔 𝒕𝒐 𝒚𝒐𝒖. 𝑱𝒖𝒔𝒕 𝒕𝒆𝒍𝒍 𝒎𝒆 𝒚𝒐𝒖 𝒍𝒐𝒗𝒆 𝒎𝒆, 𝑰 𝒄𝒐𝒖𝒍𝒅 𝒈𝒊𝒗𝒆 𝒚𝒐𝒖 𝒆𝒗𝒆𝒓𝒚𝒕𝒉𝒊𝒏𝒈. 𝑨𝒏𝒅 𝒕𝒉𝒂𝒕 𝒘𝒊𝒍𝒍 𝒃𝒆 𝒕𝒉𝒆 𝒃𝒆𝒔𝒕 𝒑𝒂𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝒎𝒆..." ♪
"𝐸 𝑛𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑒𝑢 𝑞𝑢𝑒𝑟𝑜 𝑡𝑒 𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎𝑟 𝑎 𝑓𝑒𝑙𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒. 𝐸 𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎𝑟 𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑠 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎s 𝑐𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑎 𝑣𝑜𝑐𝑒̂. 𝐴𝑝𝑒𝑛𝑎𝑠 𝑑𝑖𝑔𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑚𝑒 𝑎𝑚𝑎, 𝑒𝑢 𝑝𝑜𝑑𝑒𝑟𝑖𝑎 𝑡𝑒 𝑑𝑎𝑟 𝑡𝑢𝑑𝑜. 𝐸 𝑒𝑠𝑠𝑎 𝑣𝑎𝑖 𝑠𝑒𝑟 𝑎 𝑚𝑒𝑙ℎ𝑜𝑟 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑖𝑚..."
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A imagem fica marcada em mim, impregnada na minha memória e capturada pela câmera do celular. Tento fingir que não passei todo o trajeto cantarolando e o gravando atrás do volante, que trocamos risadas íntimas demais para duas pessoas que faziam algo erado pelas costas dos outros, que sua boca macia não tocou a minha, mas tocou as costas da minha mão afetuosamente.
Ajeito a bolsa no ombro ao saltar do carro a pequena vila estava mais decorada do que me lembrava, provavelmente para a chegada dos turistas. Haviam barracas no meio das rua, e onde eu me lembrava ser a praça principal uma plateia assistia atentamente as dançarinas de hula performando. Não me aguento e tomo passos largos para assistir.
Elas usavam vestidos azuis sem alças, coberto por uma saia tradicional de folhas. Seus pulsos e tornozelos eram enfeitados pelas mesmas folhas verdes vibrantes que formava uma coroa em suas cabeças. Suas vozes afinadas e fortes se juntavam aos instrumentos simples usados na performance.
──── É diferente da que vejo nas festas em Wakiki. ── comenta Taehyung chegando por trás de mim, um dos seus braços rodeando minha cintura.
──── A que você vê nas festas é mais moderna, essa é a hula tradicional. ─── murmuro de volta recostando a cabeça em seu ombro inconscientemente. ──── É hula kahiko, só com instrumentos de ritmo e voz.
──── Você dança? ─── pressiono os lábios ao notar que cantarolava junto baixinho.
──── Quando eu era pequena, minha mãe me ensinou. Ela dizia que era importante me manter conectada com as raízes, não importasse o que eu decidisse fazer no futuro. ── imito os movimentos das dançarinas com uma das mãos. ──── A minha família me enlouquece tanto que as vezes eu esqueço o quanto amo a minha cultura, o quanto amo essa ilha. E diferente do que eles dizem eu não me sinto culpada em querer mais quando vejo tudo isso.
──── Amor não deve te fazer sentir culpa, deve ser um lugar seguro. ─── suas dedos trilharam a minha cintura. ──── Querer sair daqui não te faz amar menos o seu local, uma coisa não interfere com a outra.
──── Para alguém que só fala asneira você tem umas boas frases de efeito. ── sinto sua risada na minha nuca. ──── Minha nossa, elas são lindas. ── tambores se juntam aos instrumentos de ritmo causando uma mudança brusca na apresentação, o compasso se tornando mais pesado.
──── Elas são incríveis mesmo. ── concordou apoiando o queixo no meu ombro. ──── Só pra constar você rebola mais gostoso que todas elas juntas.
──── Alguém já te disse que você não tem limites? ── empurro o cotovelo na direção da sua costela.
──── Aparentemente só você acha isso. ──── resmungou cínico, usando aquele tom de voz que notei usar sempre que precisava aliviar o clima. Era maluquice acreditar que ele já me conhecia tão bem assim.
──── Oh, talvez eu esteja errada aqui. ── suspiro em um tom falso.
──── Tudo vai ser perdoado se dançar hula só pra mim. ─── uma risada cresce no fundo da minha garganta e eu engasgo divertida. Ao mesmo tempo um trovão soa em um aviso sutil de que a chuva se aproximava vinda do outro lado da ilha.
──── Viu, sem limites. ──seguro a mão em repouso na minha lateral o puxando comigo.
──── Qual é, tenho certeza que fica linda com essas roupas, mas se quiser dançar sem nada eu não sou contra, tudo pela experiência.
Ignoro suas palavras o rebocando entre as pessoas, em busca de uma barraca de informações, e não demorei a encontrar uma dupla com mapas e pacotes de visitas para vender. Um deles me reconheceu, a filha de Kaleo não teria tanta sorte assim de passar despercebida, ao menos me rendeu um tratamento melhor e sem golpes. Aparentemente não poderíamos seguir dali de carro para o meu destino na ilha, especificou que com a chuva seria perigoso, poderíamos ficar presos no caminho, então era melhor tomar um atalho pela trilha, chegaríamos mais rápido e sem surpresas desagradáveis. Assim eu esperava.
Entregou-me um mapa e desejou sorte a nós dois, Taehyung me encarou sem entender o motivo das palavras dele e eu não estava disposta a explicar no momento.
Ajeito a bolsa no ombro logo me arrependendo de não tê-la deixado no carro, burrice a minha. O caminho era de fato uma trilha, pouco mais estreita que o espaço para um carro passar, o mato estava baixo o suficiente para enxergamos o solo e as poças que logo se formariam.
──── Acho que estamos perto do local de gravação do Jurassic Park. ─── seus olhos curiosos olhavam envolta enquanto nos embrenhávamos na paisagem menos ensolarada e mais nublada.
──── Na verdade nós passamos por lá de carro, você estava cantando Bruno Mars na hora.
──── Sério? Devia ter me dito, baby. ── tirei os olhos do mapa o vendo passar na minha frente com a câmera em uma das mãos, enquanto surrupiava a bolsa do meu ombro com a outra. ──── Eles também gravaram aquele filme do Adam Sandler aqui, Como se fosse a primeira vez.
──── Veio preparado para a viagem, wikipédia ou tiktok? ──── comentei voltando minha atenção as linhas, não estávamos longe.
──── Livros...e tiktok claro. ── paro me dando conta de que apontava a câmera em minha direção. ──── O que pensa que eu sou?
──── Prefiro não responder essa pergunta. ── levanto o dedo do meio e ele da risada tirando foto do mesmo jeito.
──── Obama nasceu no Havaí, mas essa todo mundo deve saber.
──── Claro, ele era vizinho do meu pai quando criança. ── seus olhos cresceram em pura surpresa.
──── Mesmo? Chegou a conhecer ele? ─── caminhou em minha direção eufórico.
──── Não, tô zuando com a sua cara, baby. ── rolou os olhos torcendo os lábios na coisa mais fofa que já vi em toda minha vida, me fez quer beijá-lo, somente por isso, sem segundas intenções.
Mas antes que eu fizesse qualquer coisa que fodesse mais com a minha sanidade pingos grossos de chuva caíram do céu apagando o vulcão crescente em mim. Os céus sabem bem o que fazem.
Apressamos os passos pela trilha aumentando o ritmo até estamos correndo na chuva, a brisa fresca mistura com a água fria não me faz odiar estar ensopada, na verdade, eu me sinto bem, bem como não me sentia á meses. Uma risada escapa da minha boca, fecho os olhos e me deixo rir até a barriga doer e apoio as mãos nos joelhos.
Ás vezes ser lembrado de que estar vivo é mágico. Mais a frente, parado dentro da caverna Taehyung me olhava, provavelmente tentando entender o que acontecia. Quando meu olhar encontrou o seu minha risada ganhou mais força e a sua se juntou a minha. Rir, mesmo sem sem motivo é muito bom.
──── Do que estamos rindo? ── ele pergunta entre uma gargalhada. Seus dentes bonitos aparecendo no sorriso retangular.
──── Eu não sei, da vida? ── ergo o tronco correndo os últimos passos em sua direção e me jogando em seus braços . ──── do destino, talvez do universo. ── seguro seu rosto com ambas as mãos. ──── do seu cabelo escorrido na testa, fica tão lindo assim. ── deixo escapar. ──── Você está sempre lindo.
──── Eu penso o mesmo sobre você, mesmo com seu rímel descendo até sua bochecha agora. ─── os dedos longos se afundam entre meus dreadlocks vermelhos. ──── Você é sempre linda baby, sempre. ──── os lábios macios raspam contra os meus. ────O que me faz te querer mais e mais. ── suas últimas palavras soam como uma confissão calorosa.
Encosto a boca na sua provando o sabor da sua língua sem medir esforços, sou fraca demais e isso não é novidade. Fraca e faminta pelo turista pauzudo que nunca deveria ter entrado na minha vida, menos ainda entre as minhas pernas.
Nos atracamos em poucos instantes, o peito pressionado eu seu tórax, os barulhos de sucção deixados pelo beijo que estava por todo lugar, necessitado e quente. Nós só paramos quando mão esta dentro do meu vestido e eu me assusto com o frio da parede da caverna.
──── Foco! Foco! ── dito para mim mesma estapeando minha testa.
Ele esboça um sorriso ladino recuperando a respiração enquanto ajeita o monstro dentro dos shorts.
──── Afinal, o que viemos fazer aqui? ─── ajeito minha roupa como se possível topar com alguém ali. Então levanto o rosto o fitando, tenho vontade de rir outra vez, mas me controlo.
──── Me seguiu até aqui e não faz ideia do que vim fazer. ──── comentei retórica. ──── Acho que não vai gostar quando descobrir. ──── estico a mão em sua direção. ──── Meu telefone.
──── Não viemos caçar espíritos ou coisas assim, né?
──── Ainda não estou tão maluca assim.
──── Então porque estamos em uma caverna vazia?
──── Tradição. ── pego o celular acionando a lanterna, por causa do céu nublado e a chva forte a visibilidade havia ficado muito baixa. ──── A caverna dá para o mar, é como um grande balde de conchas e pedrinhas. ──── ilumino o caminho, em poucos passos podendo ouvir o quebrar das ondas.
──── Eu não entendo.
──── Existem várias versões sobre isso, a minha preferida é a da minha avó.
Malie Kalawai'a contava aos seus netos que no extremo da ilha de Maui havia uma caverna, um local abençoado pelos deuses, palco de grandes rituais e especialmente declarações de amor. Segundo ela, Pelé, a deusa dos vulcões, derramou todo o amor que tinha em si naquela região, depois de sofrer com a traição de seu amante Lohiau, a deusa absteu-se dos sentimentos, mas permitiu que criaturas que andavam sob a rua ainda pudessem encontrá-lo, um amor verdadeiro e sem mentiras como o que viveu.
A água do mar que banhava a caverna em maré alta arrastava entre as rochas grandes pequenas pedras em formato de conchas, imitavam perfeitamente a coloração e o padrão das conchas reais. Aqueles que desejavam testar ou provar o valor da sua união, vagam com seu amado pela ilha até a caverna e escolhiam entre as milhares de pedras-concha. Uma tarefa que parecia fácil se não houvesse um pequeno detalhe. Pelé permitiu que o mar trouxe-se apenas duas pedras conchas com o mesmo padrão, formato, linhas, cores. Duas pedras iguais que só poderiam ser encontradas por aqueles que tinham um amor puro e reciproco no coração.
──── Minha avó encontrou a dele junto ao do meu avô, meus pais encontraram as suas, até mesmo Kai e Jada tem suas pedra-conchas iguais. ──── encaro entre as rochas as milhares de pedrinhas e conchas coloridas espalhadas entre um espaço e outro, onde em algum momento quando o mar subisse seriam poços lindos e transparentes. ──── Se eu encontrar uma parecida com a de Mansur podemos trocá-las, como diz a tradição e provar que somos almas gêmeas.
──── Você realmente acredita nisso? ── ele questiona depois de uma momento em silêncio. Os lábios crispados, pensativo.
──── Na tradição ou que Mansur é a minha alma gêmea?
──── No primeiro, tenho a resposta da segunda a muito tempo. ─── havia um tom indecifrável na sua voz.
──── Acredito que a minha família acredita nisso e funcionou para eles. ── ele concorda silenciosamente outra vez. ──── Mansur me mandou a dele, só preciso encontrar outra ou muito parecida.
──── Ele não deveria ter vindo com você procurá-las? ─── questiona se virando pra mim, pegando o celular da minha mão. ──── É essa? ── aceno positivamente.
──── Deveria, mas eu estava ocupada quando ele decidiu vir.
──── Certo, vamos encontrar essas pedrinhas e voltar para vila, precisamos comer.
Sou tão tola quanto as pessoas que acreditaram ser uma tarefa fácil encontrar uma pedra-concha parecida, ou melhor, idêntica. Passei vinte minutos em um poço de conchas incapaz de encontrar ao menos as mesmas cores. Tiro os sapatos andando de uma rocha lisa até outra, me sento vasculhando mais pedrinhas.
A chuva que antes parecia um temporal sem fim havia se transformado em um chuvisco e se misturava entre os raios de sol que foçavam passagem entre as nuvens grossas. Uma chuva passageira típica. As ondas ainda quebram calmamente contra o extremo da caverno, mas sei que não devo demorar mais que o necessário ali.
O dono dos fios longos esta de costas para mim, agachado e afundando a mão sem medo entre as pedras, o ouço resmungar algo em coreano e reposicionar o óculos sob os fios para segurá-los. Que ironia filha da puta do destino eu estar ali logo com ele.
Suspiro barulhentamente me sentindo derrotada com o tempo passado e nenhum avanço, tinhas algumas pedras em mãos, as mais próximas e algumas que selecionei simplesmente por serem bonitas, ficariam lindas em minha nova coleção.
──── Tae! ── respondeu com apenas "hm", já estava sentado em uma das rochas arremessando pedrinhas no mar. ──── Achou algo?
──── Não, baby. ── virou o rosto em minha direção ──── Achou? ──── neguei me levantando, carregando as pedrinhas entre as mãos. Levantou-se vindo em minha direção se desfazendo das pedrinhas que tinha encontrado.
──── É melhor irmos, também estou com fome. ──── o rapaz parou a minha frente se esticando para ver o que tinha em minhas mãos. ────Tire o olho da minha próxima linha exclusiva.
As maçãs do seu rosto se ergueram em uma risadinha e se desfizeram na mesma velocidade. Taehyung deu as costas voltando ao espaço em que estava, se abaixou vasculhando entre as pedras. Não entendi, nem mesmo me respondeu quando perguntei o que estava fazendo. Instantes depois deu-se por satisfeito e veio em minha direção.
──── O que?
Ergueu o pulso em minha direção e abriu o punho mostrando uma pedra-concha em espiral, as linhas esverdeadas se mesclavam com o tom de fundo alaranjado. Era linda. Mas a minha confusão somente foi esclarecida quando tomou uma das pedras que eu tinha entre as palmas.
──── Encontrei essa pouco antes de me chamar. ──── ergueu as pedras a frente dos nossos olhos demonstrando, ou melhor, esfregando em nossa face a similaridade.
──── São iguais. ──── concluo em um sussurro.
Meu rosto esquenta anunciando as lagrimas grossas que se formam em meus olhos, com a enxurrada de emoções que me faz perder o equilíbrio.
O destino não precisava ser mais cruel apontando todos os motivos para eu estar escolhendo a minha infelicidade. Não era justo ter um vislumbre de tudo que eu poderia ter, sem nem mesmo ter sonhado com isso, pois a existência de Taehyung por si só, naquela ilha, no alcance das minhas mãos deixando claro que me queria, era o que eu desejava, sem nem mesmo saber.
──── Não me deixa voltar hoje, por favor. ── dou um passo a frente tomando coragem, pela primeira vez de pedir por ele. ──── Merecemos uma despedida justa.
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Long time no see, hm? Demorou mas a atualização saiu, enfim, espero que tenham deixado uns comentários gostosos ai rsrs, aliás estamos na reta final, qual o palpite de vocês para esta história, hm? Até logo beijinhos.
Ps: Capítulo não revisado, mas logo será. Então ignorem os erros por enquanto.
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