E mais um dia olhando

O trio de cores que me move

Vermelho, verde, amarelo

Pare, siga, corre...

Pés descalços no chão

Olhares repulsivos

Pochete com moedas

Gestos expressivos

Quantos são os pequeninos

Quantos são os Pobres João

Nos sinais de toda a cidade

Tentando ganhar o sustento e o pão

De trombadinha a professor

De analfabeto a formado

Nessa ciranda dançam muitos

Que hoje estão desempregados

A cada dia que se passa

O número tende a aumentar

Disputam com os pombos na praça

O espaço pra se alimentar

Água, pipoca,chiclete

Caneta, revista, Coquetel

Bolo de goma,paçoca

Confeito de gengibre ou de mel

Ambulantes perambulando

Cada um dando o seu melhor

Enchendo os pés de calos

E a testa de suor

Escorraçados, desprezados

Arriscando suas vidas por um real

Quase sendo atropelados

Costurando os carros no sinal

Nas avenidas, nas estações

Nas paradas de toda cidade

A mesma infeliz canção

Embala as ruas com veracidade

-Pipoca é cinquenta! Ei água é um real!

Ainda vem um infeliz tirar

As pobres e poucas *Tartarugas da mão do mortal

Vendem água pra mocinha apressada pro curso

Pro Empresário no carro e pro doutor

Uns olham com desprezo

Outros  fitam com amor

E no suor do trabalho

Ainda que humilhado, mas honesto

Seguem a romaria de tantos brasileiros

Que perderam o oficio e apelaram ao comércio

A **marolinha que me destes

Num tsunami se transformou

E quem tava na beira da praia

Se não fugiu,se afogou

Na crise socioeconômica

Que o Brasil devastou

*Animal da nota de dois reais

**Expressão Usada pelo ex-presidente Lula a cerca da crise na América