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3. Terra de Inverno

O sino da igreja da praça principal dá dez badaladas, 22h. Sentado na cadeira de acolchoado vermelho do teatro, observo o enorme palco em frente. Foi aqui onde tudo começou. Fecho os olhos e recordo de momentos antigos. Naquela época, este lugar era preenchido por músicas todos os dias. Óperas, musicais, apresentações das mais diversas. Porém, um dia, ele cedeu espaço para uma pequena banda ainda desconhecida. Jovens cheios de sonhos e com uma vontade enorme de fazerem o que gostavam: tocar. Foi um concerto bem simples, a casa não estava lotada e poucas canções foram tocadas. Entretanto, foi o suficiente para que eu tivesse a certeza: essa era a carreira que eu seguiria, músico. Anos e anos se passaram, viajei por todo o mundo, até que, já velho e cansado, volto para onde tudo começou. Uma suave nostalgia invade meu peito.

Abro os olhos e ponho-me a observar o palco. Ele deve ter sido reformado faz algum tempo, mas a madeira já começa a perder o brilho. As cortinas de veludo avermelhado aparentam ser novas. Na minha época nem isso havia. Era somente o grande lugar de apresentações.

- Ei, amigo, não acha que é hora de ir? - Uma voz grave me desperta de meus devaneios. Olho para o lado e vejo que é o guarda do teatro. Não o antigo, que costumava conversar comigo por horas seguidas e aconselhava-me a seguir meu sonho. Esse ainda é um jovem, assim como um dia eu fui. - Já passa das 22h e está um frio de congelar os ossos lá fora. - Ri com sua afirmação.

- Você tem razão - concordo com ele e levanto-me da poltrona. - Esse inverno está bem rigoroso. - Ele assente com a cabeça e diz algo sobre mudanças climáticas. - Tenha uma boa noite - desejo-lhe e vou ao corredor em direção à saída. Quando chego na porta, paro e olho para o palco mais uma vez. Boas lembranças!

Saio do teatro e encaro o frio das ruas. Realmente, está extremamente gelado aqui fora. A lua faz com que a brancura do chão, completamente coberto de neve, se torne mais ofuscante. Olho para a extensão da via e enxergo somente um mar branco.

Caminho por alguns minutos, revirando minhas memórias, até que chego em casa. A antiga casa da minha família, que agora é minha, somente minha... As únicas coisas que não me deixam sentir solitário são as inúmeras recordações que existem nesse lugar.

Subo os poucos degraus e bato os pés no tapete de entrada para cair a neve de meus sapatos. Giro a chave na porta velha e desbotada e entro na residência, que está completamente às escuras. Tateio pela parede até encontrar o interrruptor, penduro o grosso casaco no cabide e vou em direção à cozinha. Não estou com o mínimo de sono e sinto vontade de tomar um chá para esquentar.

Ponho água no bule e coloco para ferver. Apoio-me no balcão de mármore, olhando a janela. Tenho uma boa visão do céu estrelado lá fora. Infelizmente não consigo reconhecer nenhuma constelação daqui. Quando criança, costumava ir até a sacada do quarto de meus pais, onde há um telescópio. Lá eu observava as estrelas com meu pai. Ele se foi há muito tempo, entretanto, o objeto ainda está lá.

A água já está quente o suficiente e eu a despejo na xícara que está com o saquinho de chá. Minha mãe fazia isso nas noites geladas de inverno. Hoje sou eu quem faz.

Com o líquido fumegante em mãos, vou até a sala e sento no velho sofá de couro. Analiso todo o ambiente. Ele parece tão vazio... Passo os olhos por cada canto do local e eis que minha atenção é desviada para o antigo piano. Prometi a mim mesmo que ficaria sem tocar por um tempo, pois a última turnê foi extensa e desgastante. Contudo, o instrumento atrai minha atenção e trás outras memórias à tona.

Ponho a xícara na mesa de centro e vou até o piano. Sento-me no banquinho e observo meu velho amigo. Com todo o cuidado, levanto o tampo e vejo as teclas empoeiradas. Que descaso com meu companheiro de composições! Acho que ele merecer voltar a ressoar melodias. Testo para ver se ainda continua afinado. Para minha sorte, está. Procuro em minha mente alguma música e recordo-me de uma em especial. Inicio a suave melodia, que mais se parece com uma canção de ninar. Sinto estar em completa sintonia com o instrumento. Não preciso nem olhar para qual teclar tocar, meus dedos parecem ser guiados e a música logo se espalha pelo ambiente.

Chego na parte em que entraria o vocal. Não costumo cantar, mas, já que estou sozinho, não tem motivos de me sentir envergonhado. Logo, entoo as primeiras falas em minha língua natal, que não costumo usar em minhas composições, porém esta é uma bela exceção:

Lapistain rakkain tää näyttämö on
Mis kuutamo kujillaan kulkee
Taipunut havu, kesä hoivassa sen
Valkomeren niin aavan
Joka aavekuum siivin
Saapuu mut kotiin noutamaan

De todos os meus filhos, o mais amado é este palco
Onde o luar lhe persegue nas ruas
No meio da primavera, no verão sob os seus cuidados
Um imenso mar branco
Que com asas da lua fantasmagórica
Veio para me levar para casa

Minha voz ecoa por toda a sala. Essa canção me traz uma enorme nostalgia. Por se parecer com uma canção de ninar, volto-me para minha infância. Minha mãe e eu, sentados no piano, entoando velhas cantigas finlandesas, enquanto meu pai ria e saboreava o chá. Agora sou o único que restou. Com uma doce melancolia, canto os versos restantes:

Päällä ralvisen maan hetki kuin ikuisuus
Mi pienen kissan jaloin luokseni hiipii
Tääl tarinain lähteellä asua saan mis
Viulu valtavan kaihon
Ikisäveltään maalaa
Laulullaan herättää maan

Na Terra do Inverno um momento é como uma eternidade
Se armou para mim como as patas de um gatinho
Aqui na fonte de histórias onde eu vivo
Onde o violino da saudade infinita
Pinta sua melodia eterna
Despertando a terra com sua canção

Continuo com as suaves notas, minha amável canção de ninar. Nessa parte entraria uma flauta e uma pequena orquestra, mas o piano faz sua parte sozinho e a canção se torna mais intimista. Observo como ela preenche o ambiente.

Aos poucos a música vai findando. Deixo que a última nota se estenda por alguns segundos a mais, até que ela finalmente se esvanece e o ambiente fica em silêncio, mais uma vez. Olho para o instrumento e sinto lágrimas surgirem. Choro de saudade dos que já se foram.

Engulo o choro e limpo as lágrimas de minha face. Fecho o tampo do piano e me levanto. Deixo tudo do jeito que estava. Pego a xícara e vou à cozinha para lavá-la. Olho pela janela mais uma vez e resolvo ir até a sacada usar o telescópio.

Subo as escadas lentamente, já não tenho a mesma velocidade de anos atrás. Chego até a velha porta e abro. O aposento continua o mesmo, porém, o branco das paredes parece desbotado e a madeira do guarda roupa, cama e escrivaninha já envelheceu. É um quarto simples e possui somente esses móveis e um velho retrato pendurado na parede. Somos nós três reunidos no sofá da sala. Eu, com nove anos e um sorriso infantil, sentado entre meu pai e minha mãe, que também estão rindo. Está foto foi tirada no dia de meu aniversário, depois da festinha. Minha mãe queria ter uma recordação de nós três juntos nesse dia. Lágrimas voltam aos meus olhos, mas dessa vez não deixo que elas fluam.

Corro o vidro da sacada e sinto o vento gelado me tocar. Esfriou mais ainda. Talvez seja quase meia noite.

Aproximo-me do telescópio, limpo a lente com a manga do suéter e observo as estrelas através dela. Pouco a pouco vou nomeando as constelações. A noite costumava ser uma grande fonte de inspiração, ainda é, entretanto, hoje ela só me traz versos de melancolia e nostalgia.

Já escrevi muitas músicas tristes, acho que é hora de algo mais alegre, mas hoje não. Vou compor sobre o que toda essa terra me traz: lembranças.

Fecho o vidro e me dirijo à escrivaninha. Pego o bloco de notas da gavetinha e começo a compor. Hoje serei só eu e minhas lembranças como inspiração. Eu na terra de inverno, a minha fonte de histórias, o meu maior local de saudades.

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