Sentindo o amor
Linary estava feliz naquele momento. Seu treino com Samar estava evoluindo, mas ao que tudo indicava os feitiços mais brandos não era especialidade da jovem e a ruiva não sabia explicar o porquê. A teoria dela era que Linary fosse mais qualificada para feitiços sombrios e a moça só queria entender o que tudo aquilo significava.
— Laylin tem mais vantagem no que condiz a feitiços brandos. — Ela disse ao ver a irmã levitar como se fosse a coisa mais natural possível.
— É impressionante. — A voz de Samar encontrava-se surpresa. — Ela acabou de fazer dezesseis anos sempre esperamos que mais novas demorassem para ter um contato mais elevado com seu elemento, mas Laylin é formidável.
— Ouviu isso Linary? — A mais nova disse para irritar Linary enquanto pousava de forma elegante no chão. — Você não consegue controlar o elemento tão bem quanto eu. — Linary revirou os olhos diante as provocações da irmã. Não iria morder a isca.
Ela sabia do que era capaz, só que tinha que se esforçar para ter a tal conexão com o elemento que tanto Samar mencionava. A vida de Laynei estava em risco, querendo ou não ela tinha que aprender aquela maldita tarefa.
— Recebi uma ave de rapina hoje com uma mensagem de Ava. — As palavras da ruiva fizeram com que Linary saísse de seus devaneios.
— O que ela disse? Será que viu alguma coisa? — Linary tropeçava nas palavras tamanho o nervoso que sentia.
Seu coração palpitava furiosamente dentro do peito e suas mãos suavam. Tinha medo de que a mensagem de Ava se desse por conta de alguma visão que tivera a respeito do bem estar de Laynei.
— É sobre o portal que se encontra na floresta das fadas. Vocês precisarão das coordenadas dela e da chave para abrir o portal.— Linary respirou aliviada e assentiu.
A viagem seria depois de amanhã e tudo tinha que sair na mais perfeita ordem.
Eram os últimos dias que eles passariam no Reino do fogo e Linary tinha seus medos que não gostava de mencionar para ninguém, nem mesmo para Kyle.
Medo de não conseguir passar pela temida floresta das fadas, de não conseguir ajudar a irmã e chegar tarde demais, de falhar.
— Ei pequena, acorde. — Ela piscou e deu de cara com a imensidão azul dos olhos de Kyle bem a sua frente. Ele estava sorrindo e o coração de Linary bateu mais depressa dentro do peito.
Será que era possível que ele escutasse as batidas de onde estava? — Pensou reflexiva.
A todo momento que o via era aquilo que sentia, como se mil borboletas alçassem vôo ao mesmo tempo em sua barriga e uma sensação gostosa se alastrava por todo o seu corpo. Era fato que Linary estava perdidamente apaixonada por Kyle e naquele momento ela não fazia questão alguma de negar, caso alguém perguntasse ou de esconder seus sentimentos.
— Estava só pensando.
— Muito longe não é. Te chamei várias vezes. — Ele disse brincalhão.
— Chegou de maneira tão furtiva que nem o vi.
— Tenho meus truques. — Ele disse sorrindo fazendo com que Linary assentisse e fechasse os olhos ansiosa ao vê-lo se aproximar ainda mais para logo em seguida sentir seus lábios nos dela.
— Senti saudades. — Ele sussurrou no ouvido dela a fazendo sorrir como uma menina boba.
— Também. — Ela abriu os olhos e constatou que estar apaixonada era maravilhoso. — Onde estão as garotas? — Linary questionou ao olhar em volta e ver que Samar e Laylin não estavam mais ali.
— Não escutou as vozes alteradas de Auheb e Archie? — Ela negou com a cabeça e ele franziu as sobrancelhas confuso. — Parece que você estava determinada a cortar tudo o que estava em sua volta pequena. Bom, eles estão discutindo de novo.
— Virou rotina.
— Sim. — Ele fez uma pausa, pegou na mão dela e começou a correr pelo pátio amplo.
— Espera. Onde vai me levar?
— Vamos espionar a discussão. — O olhar de Kyle era matreiro e o sorriso jovial que ele dava era lindo de se ver.
— Não acredito que é do tipo que gosta de fofocas Kyle. — Linary tentou que sua voz saísse séria, mas era quase impossível com Kyle daquela maneira.
— É divertido, vamos. — Ele a puxou mais forte e Linary deixou ser levada.
Os gritos de Auheb e Archie poderiam ser ouvidos por boa parte do Castelo. A disputa para ver quem dava a última palavra era acirrada e nenhum dos dois fazia questão de ceder. O orgulho de ambos em pauta.
Auheb de um lado defendia a boa ação do príncipe em prol do Reino do fogo. Um sacrifício pelo herdeiro deveria ser feito aos olhos do rei, era o que se esperava de um monarca.
E do outro lado estava Archie que se recusava a ceder aos planos loucos do pai. Não queria mais abaixar a cabeça para as sandices que Auheb pensava e fazia.
— A sua atitude irresponsável obteve resultados catastróficos moleque. — Archie escutou aquele discurso pela décima vez em menos de cinco dias.
Desde que a realeza do Reino da água fora embora aquilo já havia virado rotina no Castelo.
Auheb procurava Archie e os dois acabavam em uma discussão.
Com o fim do noivado, o Reino da água se recusava a fazer aliança com o Reino do fogo, o que acarretava no enfraquecimento de ambas potências contra Darken. O orgulho de Kolbert comprometia todo o território.
— Íamos selar essa aliança com o noivado garoto tolo. Pôs tudo a perder em troca de amor.— Ele cuspiu a palavra como se aquilo fosse algo horrível, abominável.
— O senhor nunca foi capaz de sentir algo assim não é mesmo majestade? — A voz de Archie exalava deboche e veneno. Já estava cansado de ter que rebater os argumentos do pai que não fazia questão nenhuma de enxergar nada além do que queria.
— Archie se acalme por favor. — O príncipe se virou ao sentir um toque delicado o segurando e viu que Samar estava ali.
A sua amada ruiva.
Algo dentro dele se acalmou instantaneamente. Era aquele o efeito que a bruxa do fogo causava nele desde que pusera os olhos nela.
Aquele sentimento nasceu, cresceu e floresceu com o tempo se transformando em amor e ele nunca trocaria aquilo por conta de ambição. Que o Reino do fogo ruisse se tivesse que trocar Samar por uma princesa qualquer.
Ela era seu lar e aquilo era o que importava para Archie.
— O que faz aqui Samar? Não me lembro de a ter a chamado. — O tom de voz de Auheb exalava ódio.
Ele sempre havia tratado a moça como membro da família. A viu nascer e o gosto da traição ardia em sua língua naquele momento pois a ruiva sabia que Archie nasceu para governar o Reino ao lado de uma princesa e não de uma bruxa.
— Olha como fala com ela. — Archie falou em um tom de advertência.
— Não tenho que aturar a presença de todos por aqui. Desejo que vão embora o mais rápido possível. — Ele fez um sinal apontando todos ali presentes, incluindo Linary, Kyle e Laylin. — Você também Samar. Colocou tudo a perder, se for embora pode ser que Kolbert volte atrás na decisão. Ainda há tempo Archie. — Auheb voltou seu olhar para o filho e tentou uma vez mais.
— Pois escute bem majestade, ouça com atenção. Já que ela não é bem vinda aqui eu também não sou.
— Não acredito que está me dizendo isso. — O rei deu um passo para trás e viu com horror o príncipe tirar a coroa que enfeitava os belos fios loiros e a jogar no chão.
— Eu renuncio o trono alteza. — Archie andou a passos firmes até Samar.— Casa comigo? — Olhou para Linary e Kyle e elevou o tom de voz para ser ouvido. — Vamos na missão com vocês.
— Não pode renunciar algo para o qual você nasceu, é o herdeiro seu maldito. — Auheb gritava a pleno pulmões.
— Não se trata somente de você meu pai, é a minha vida.
Após todo o ocorrido todos se retiraram da sala onde a discussão ocorreu.
Kyle e Linary se retiraram para um local mais afastado e os dois se encontravam em um silêncio reflexivo sobre o que aconteceu entre Auheb e Archie.
A pergunta que não queria calar no pensamento deles, será que Archie ajudaria na missão ou seria apenas um peso morto naquilo tudo?
Linary sabia que Samar seria de grande ajuda, mas tinha suas dúvidas com relação ao príncipe mimado.
— Acha mesmo que ele nos ajudará? — Kyle questionou parando novamente no pátio onde aconteciam os treinos.
— Quero crer que sim. Que eu saiba príncipes também tem treinos para possíveis guerras.
— Gostaria de o treinar se possível. Você e Samar contam com a magia como proteção, eu e ele não podemos ser um peso para o grupo. Se Archie for uma fraqueza isso será usado contra nós.
— Que perigos poderíamos correr durante a viagem Kyle? Só vamos em busca de Thamerya para que nos ajude a salvar Laynei.
— Na estrada podemos encontrar ladrões Linary, tem a floresta das fadas que termos que passar antes de chegar ao portal. Ela por si só ja é um grande obstáculo. — Kyle queria mencionar sobre ter o fato de Darken mandar perseguidores atrás deles assim que saíssem do Reino do fogo.
Ele apostaria seu arco e flecha que Darken sabia de cada passo deles e esperava somente a hora certa para atacar.
Ela não era tola, não iria mandar um pequeno grupo de guardas somente para invadir o Reino do fogo e pôr tudo a perder. O plano de tomar os reinos era muito valioso para a bruxa da noite.
Kyle sentiu a verdade dançar sobre sua língua. Queria contar para Linary tudo o que havia feito de ruim.
Que a irmã estava presa unicamente por sua causa, que por conta das informações dele que Darken sabia de tanta coisa.
A cada dia mais ele se enrolava em uma corda que já estava ficando apertada em seu pescoço. Não via saída por ângulo nenhum.
Era naquele momento tinha que ser. Não poderia passar mais dias, pois significa tormento para ele próprio.
— Você podia me ensinar a manejar uma espada. — Linary o fez despertar de seus pensamentos e seu jeito tímido com olhos focados no chão e bocechas coradas sempre faziam se sentir um maldito sortudo por tê-la.
— Para ser igual àquele desastre do arco e flecha? — Ela deu um soco leve no peito dele e aquilo o fez gemer de dor dramaticamente.
— Meu ombro ainda dói raposa. — Ela arregalou os olhos e em dois passos fechou a distância deles.
Abraçou Kyle e murmurava um pedido de desculpas por entre as várias camadas de tecidos da roupa que ele usava. Ela olhou para o ombro dele e fazia gestos circulares no local tentando apaziguar a dor.
— Pare com isso pequena. Estava brincando com você, estou bem. — Ele envolveu o corpo dela no aconchego dos seus braços e beijou o topo da cabeça de Linary. — Eu te ensino.
— Sério? — Ele assentiu e voltou a esconder o rosto por entre os cabelos platinados dela. — Obrigada.
— De nada meu amor. — Ele murmurou, mas aquilo saiu tão abafado por conta de suas mechas, que Linary se questionou se não havia imaginado que escutou aquilo.
— Não acredito que saíram na nossa frente para se beijarem? — Laylin estava na entrada do pátio com as mãos na cintura e expressão debochada. Samar e Archie também presenciavam toda a cena e aquilo fazia com que Linary ficasse envergonhada o que refletia em seu rosto ficando cada vez mais vermelho.
— Não se pode ter um segundo de paz com você. Não estávamos nos beijando, Kyle vai me ensinar a usar a espada. — Linary viu os olhos da mais nova brilharem de interesse e tratou logo de cortar qualquer esperança que ela pudesse ter em relação àquilo. — Você não se incluí nisso.
— Por que você sempre me deixa de fora dos acontecimentos mais interessantes? — Linary revirou os olhos exasperada. Não queria discutir com a irmã, mas seria inevitável.
— Você já vai conosco Laylin pare de drama. Pode assistir.
— E me interessa muito ver você falhar também nisso.
— Que tal se começarmos? — Samar interviu quando viu que Linary estava perdendo a paciência com a irmã irritante.
— Será interessante ver sua desenvoltura. Dado que não fora treinado pelos melhores. — Archie disse se dirigindo para Kyle que o olhou com ironia.
— Acha mesmo que não posso dar conta de você?
— Eu fui treinado pelos melhores soldados desde que você possa imaginar. Então posso dizer com firmeza que não tem chance contra mim. — Archie dizia cheio de si.
— Não acredito que vocês estão disputando? — Samar disse incrédula.
— Pegue as espadas. — Os dois continuaram se encarando, ignorando as palavra da ruiva.
— Já volto. — Archie saiu do pátio deixando Linary e Samar sem entender nada.
— O que está acontecendo Samar?
— Somente uma batalha de ego entre dois idiotas Linary, nada demais. — A ruiva se sentou no chão e Laylin acompanhou. — Sente-se também vamos assistir. Vai ser interessante.
Kyle virou o pescoço e um estalo se foi ouvido por ele o que provocou um sorriso. Endireitou sua postura e viu com satisfação o príncipe vindo em sua direção com duas espadas em punho.
Jogou uma delas para Kyle e segurou uma firmemente.
Ele sabia que o embate não seria fácil, mas o príncipe estava acostumado a lidar com embates limpos, afinal nunca havia participado de guerra alguma e nenhuma luta que não fosse por diversão. E mesmo assim o príncipe tinha um ego gigantesco que seria um prazer para Kyle derrubar.
Archie correu para cima dele só dando tempo de Kyle levantar a sua como defesa, impedindo por segundos que o objeto atingisse seu rosto. Metal com metal se chocando criando um som estridente em meio ao local amplo.
Não havia tempo para se pensar em lutas assim, ele contra atacou Archie que desviou rapidamente, girou e conseguiu cortar um pedaço de pano da roupa de Kyle.
O príncipe continha um sorriso triunfante por ter conseguido tal ato e já previa a fácil vitória.
Kyle esperou Archie o atacar para desviar e logo em seguida desferir uma cotovelada em seu nariz pegando o príncipe de surpresa que deu um passo vacilante para trás.
O jovem não perdeu tempo ao contornar e desferir um pontapé na parte de trás do joelho do príncipe, que por consequência o fez tombar ao chão.
Kyle apontou a espada ao rosto de Archie que levantou a mão em rendição para encerrar a luta.
Laylin bateu palmas animada e se levantou para cumprimentar Kyle.
Linary ficou sem entender o porquê de tudo aquilo, parecia bobagem demais para se pensar.
— O que foi tudo isso?
— Apenas uma batalha de egos. Homens conseguem ser estúpidos quando querem Linary. — A ruiva respondeu e se levantou para caminhar em direção a um abalado príncipe.
— Agora que já paramos com essa palhaçada podemos treinar?
— Bom trabalho Kyle. Quem diria que todo o meu conhecimento não serviria para nada. — Archie disse se levantando e espanando a poeira sobre a parte de trás de suas calças.
— Você foi bem para alguém que nunca esteve em um combate pela vida. Pelo visto você nos ajudará no caminho. — Kyle falou e levantou a mão para apertar com a de Archie que estendeu a sua e fechou com a de Kyle.
Linary continuava sem entender o porquê daquilo tudo, por aquele motivo chegou sorrateiramente ao lado de Kyle e tocou em seu ombro para chamar sua atenção.
Ele olhou para o lado e deu um sorriso grandioso quando a viu.
— Posso saber o porquê disso tudo? — Ela sussurrou bem perto dele para que somente Kyle a a ouvisse.
— Por dois motivos pequena. Não sou do tipo que recebe provocações calado. — Ele deu de ombros como se aquilo fosse dizer muito.
— Não acredito que perdemos tempo porque você não gosta de ser contrariado.
— Isso fere meu ego pequena. — Ele sorriu e puxou Linary para um abraço. — O outro motivo e a minha prioridade manter você e Laylin seguras nessa viagem. Não preciso me preocupar com mais duas pessoas em perigo. Pode até ser egoísmo por minha parte, mas nessa viagem o que me importa é somente manter vocês seguras. — Após dizer aquilo Linary sorriu ao sentir os lábios de Kyle deixando um beijo por detrás de sua orelha a fazendo pedir por mais.
Era estranho para ela o quão seu corpo se modificava ao estar na presença dele. Tudo nunca era o suficiente sempre querendo mais. Querendo algo que ela não sabia explicar, descobrir coisas novas e aquilo a deixava com medo e feliz.
— Vamos treinar um pouco com você e Samar. — A voz de Kyle a fez voltar a realidade e sair de seus pensamentos dispersos.
Mesmo que não soubesse o que fosse aquilo que sentia ela estaria disposta a descobrir.
— Efraim fez o combinado e está tudo acertado. Pode ficar despreocupada rainha. — Delma entrou calmamente no quarto de Darken sem nem ao menos ser anunciada e sem aviso prévio.
A bruxa da noite terminou de colocar a coroa em sua cabeça e lançou um olhar afiado para Delma que sorria tranquilamente.
Desde que Kyle desertou a equipe, o que fez com que Darken descesse um pouco do pedestal em que ela mesma havia se colocado, Delma se achava no direito de fazer o que bem entendesse. No pensamento dela Darken não tinha mais aliados fiéis como antes, o que só sobrou ela.
— Quem te deu o direito de invadir meus aposentos Delma?
— Assuntos urgentes minha senhora. — Ela deu de ombros e continuou a falar. — Já pode dar seguimento ao plano. Tudo foi feito como a senhora queria no Reino da água. — Darken assentiu.
— E o plano para trazer o caçador de volta?
— Ainda com isso? Por mim ele viraria pó junto com o reinado de Kolbert.
— Ele é assunto meu Delma. Por isso não se intrometa.
— Como queira. Isso também está em andamento, Efraim já providenciou o que a senhora pediu. O quanto antes o menino estará a sua frente majestade. — Darken sorriu ardilosa e assentiu uma vez mais.
Trazer Kyle de volta estava se tornando uma obsessão para ela ao ponto de se igualar a prioridade de tomar os quatro reinos.
Na cabeça dela sem ele não havia planos, não era mais a mesma coisa. Ele tinha um trato com ela portanto tinha que cumprir.
Darken tentava se convencer de que era somente aquilo o motivo pelo qual queria trazer o jovem caçador de volta e não que se torturava diariamente ao ver Kyle com a moça de cabelos platinados.
— Só queria entender como você não previu que isso iria acontecer rainha. — A voz irritante de Delma se fez presente.
— Foi um erro que cometi e que não voltará a acontecer. — Ela disse sucinta.
Tinha vontade de quebrar alguma coisa ao se lembrar do quão tola foi.
Por mais que não admitisse para si mesma, ela sabia bem lá no fundo que Kyle era objeto de afeição dela sim. Por aquele motivo Darken conseguia ver cada passo que ele dava fora do Reino.
No início não se preocupava de o vigiar, mas quando a jovem Linary entrou na jogada ela sentiu necessidade daquilo.
Via a interação entre os dois e pensava que o caçador estava jogando com a jovem bruxa. Por vezes mandou o corvo para que Kyle soubesse que ela o vigiava.
Viu os cuidados de Kyle para com a bruxa da terra após o ocorrido no Reino do ar e naquele tempo sua raiva chegou ao nível de estar satisfeita somente ao vê-lo morto aos seus pés, mas quando o sagaz caçador lhe confidenciou o feitiço da bruxa ela se tranquilizou.
Queria confiar que o garoto tinha devoção cega por ela e que jamais a trairia. Aquele foi o seu primeiro erro.
O segundo não foi ela mesma ter matado a jovem Linary e ter dado a tarefa para ele. Confiou que ele faria. Outro erro.
Não poderia ter outro mais.
Não haveria oportunidade para tal.
Andar a esmo pelos corredores vazios do Castelo era o auge do desespero para Linary que se encontrava sem ter o que fazer naquele momento.
Ela queria estar com as outras pessoas, desfrutando de uma boa conversa com Kyle, Archie e Samar. Escutando as piadas sem graça de sua irmã mais nova, mas ficou claro que a mente dela não estava ali e sim na viagem que fariam amanhã.
Primeira parada o Reino da água. Samar dissera que Damein continha a chave para o portal onde era revelada a passagem para o local onde Thamerya vivia.
Após concluir essa etapa, teriam que passar pela temida floresta das fadas e suas armadilhas.
Linary queria muito conhecer o local, não era mistério nenhum para Ninguém tal desejo, mas com Laylin por perto aquilo perdia toda a graça.
Teria que focar na segurança da mais nova e aquilo por si só era um balde de água fria em seu corpo.
Ela não fazia questão de mencionar seus medos para ninguém, nem mesmo para Kyle. Se fazia de forte quando na verdade estava em um completo desespero por dentro. Um medo sem igual.
Laynei ainda estava sob o domínio de Darken, logo ela que sempre foi a mais forte. A figura materna após a morte da mãe.
Tudo aquilo era o suficiente para tirar o sono de Linary noite após noite e, por mais que tentasse se distrair, nada surtia efeito. Quando deitava a cabeça no travesseiro os medos voltavam com força total, a rondando como uma assombração a meia noite.
Quando chegou na parte de trás do Castelo, respirou fundo o ar noturno com um leve odor de terra molhada por conta da chuva que tinha caído há poucas horas, e sentou em um banco de mármore que ali havia.
No céu o azul escuro predominava e poucas nuvens acizentadas se faziam presentes.
Uma leve brisa soprava os cabelos dela e aquilo fazia com que ela fechasse os olhos, aproveitando aquilo. Dado que o Reino do fogo sempre fora muito quente.
— Vejo que desejas ficar sozinha pequena. — A voz rouca era como música para os ouvidos dela e Linary sorriu. Mesmo de olhos fechados ela sabia quem era.
Como se pudesse o encontrar no meio do escuro. Sua salvação.
Abriu os olhos e virou o pescoço para o olhar melhor.
O sorriso de sempre estava ali e fazia com que tudo ficasse melhor, somente por olhar, somente por existir.
— Como me encontrou?
— Pura e simples perseguição. — Ele disse e se sentou ao lado dela, seus dedos mínimos se tocando levemente.
— Oh céus, devo me preocupar? — Linary disse dramaticamente.
— Acho que é um caso de mencionar para o rei. Devo ser preso imediatamente pequena. Sofro de um mal terrivelmente perigoso.
— Que seria? — Ela disse entrando no jogo que servia de muito para a distrair. Kyle se aproximou dela, seus lábios por meros centímetros não se encostando.
— Uma paixão avassaladora. — Linary riu.
— Então deves me prender também.
— Sente o mesmo pequena? — Ela assentiu embaraçada. — Um charme irresistível suponho? — Ela assentiu novamente.
— Podemos dar uma volta por aquele jardim de novo? — Ela questionou ansiosa.
— Antes me diga o que fazia aqui sozinha?
— Depois. — Linary se levantou fazendo com que Kyle a seguisse.
— Pensei que tinha medo daquele labirinto.
— Não dá para ter medo com você ao meu lado. — Ele a fez parar, segurou seu pulso e a trouxe para seus braços. Uma sensação de segurança tomando conta do corpo de Linary.
— Sempre te protegerei. Nem que para isso tenha que dar a minha vida em troca da sua. — Um suspiro surpreso saiu dos lábios dela. Sentiu a veracidade de cada palavra e gostou do que ouviu.
Linary não comseguia parar de sorrir. Estando ao lado de Kyle aquilo era feito com facilidade.
Antes era um sacrifício deixar de ser ranzinza e ela achava que nunca conseguiria gostar de ninguém no sentido romântico da palavra. Aquela era a prova de que estava enganada.
Seus medos caíam por terra somente por estar ao lado dele, sumiam como espumas ao vento e todas as suas inseguranças parecia tão pequenas.
Caminhavam há algum tempo e mesmo estando cansada não poderia estar mais feliz.
Mesmo em circunstâncias que não deveria se sentir assim.
Ela tentava encontrar a culpa em algum canto escondido da sua mente, mas naquele momento os dedos de Kyle roçaram nos seus e qualquer pensamento que não fosse aquele desapareceu.
— Vejo uma fumaçinha saindo de sua cabeça. O que tanto pensa? — Kyle questionou com bom humor. Ela respirou fundo e olhou para o céu.
— Estou me sentindo culpada por estar aqui enquanto minha irmã está correndo perigo. Nem notícias dela eu tenho. — Kyle parou no local e Linary o olhou confusa. — O que houve?
— Já chegamos. — Ela olhou em volta e se deu conta de que estavam no local que haviam estado assim que chegaram no Reino.
— Nem percebi.
— Sobre a sua irmã não se preocupe. Prometo que iremos a trazer de volta.— Kyle havia falado com tanto convicção que algo dentro de Linary se acendeu a incitando a acreditar.
— Por que diz isso? Acha mesmo que iremos conseguir?
— Vai dar tudo certo pequena. — Kyle passou um braço pela cintura de Linary e um arrepio percorreu o corpo dela causando uma sensação boa. — Olhe como as estrelas são bonitas. — O tom de Kyle era fascinado e fez com que Linary lhe lançasse um olhar divertido.
— Isso é surreal. Vai me dizer que nunca parou para olhar as estrelas? — O tom de deboche predominava na voz dela.
Ele a olhou de soslaio e sorriu. O brilho que havia no olhar de Kyle rivalizava com o brilho das estrelas que se apagaram mediante ao azul profundo e belo.
— Sim, mas nunca parei para analisar de verdade e nunca ao lado de alguém tão especial.
— Ele levantou a mão em direção ao céu, a abriu e logo em seguida a fechou como que para simular que havia pegado uma estrela. — Para você. — Ele abriu a mão novamente e ela estava vazia fazendo Linary cair na gargalhada.
— Não há nada.
— Mas se pudesse pegaria todos os pontos brilhantea no céu e colocaria aos seus pés. — Ela fechou a distância imposta por ambos, passou os braços pela cintura dele e deu um beijo rápido nele.
— Se considere sortudo por eu não fazer questão alguma disso. — Sua mão vagarosamente percorreu um longo caminho até a nuca de Kyle e emaranhou-se nos abundantes fios negros. — A única coisa que peço é você por inteiro.
Aquelas palavras eram como música aos ouvidos de Kyle. Seus lábios moldando os de Linary. Devagar, suave, lento. Sua língua deslizando pela dela em uma carícia deliciosa.
Para Kyle os corpos de ambos não estavam perto o suficiente, nada estava sendo o suficiente. Ele puxou a cintura fina dela fazendo com que o corpo pequeno se morasse ao seu.
O beijo que ora começou lento, logo se tornou voraz. Um fogo consumindo o corpo de ambos os fazendo entrar em combustão espontânea. Desespero se mesclando a necessidade.
As mãos dele sentindo o cada pedaço dela como que para ter certeza de que tudo era real e não devaneios de uma mente louca.
Linary se afastou e tentou tirar a fina camisa que Kyle usava. Pano demais, bloqueio demais.
Kyle a parou e sorriu com o olhar confuso que ela portava.
— Tem certeza pequena?— Ele questionou com receio.
Por mais que ele quisesse jamais iria fazer algo contra a vontade dela, além do mais Linary poderia estar confusa pelos medos que sentia e só queria se sentir segura.
Não era somente aquilo que o bloqueava havia também o mar de mentiras que os separavam somente isso era os suficiente para parar qualquer ato dali para frente.
— Claro. Acha mesmo que eu iria fazer algo que eu não quero. — Ela falou baixinho e se o ambiente não estivesse tão tranquilo Kyle jamais iria escutar.
Ele segurou o rosto dela com as duas mãos fazendo com que o mesmo sumisse dentro delas.
Aproximou seus lábios dos dela novamente em um beijo cálido e suave sentindo os mesmos inchados por conta do beijo anterior.
Por vezes parava para dar atenção a cada ponto do rosto dela, descendo pelo pescoço esguio e branco demais.
Cada beijo era como uma reverência a pequenos pontos de perfeição em forma de pele.
— Kyle. — Um sussurro inaudível foi dito por ela. Incapaz de dizer algo mais que aquilo, palavras faltando para aquele momento.
Gemeu quando sentiu a língua dele percorrendo o pescoço dela em uma caricia íntima demais.
Lava pura substituindo o sangue que percorria em suas veias.
As mãos dela agarraram a camisa dele fechando-se em punhos no tecido, o trazendo ainda mais para perto de si.
— Vamos devagar pequena. — Ele disse muito próximo dos lábios dela, sua respiração quente se mesclando com a de Linary.
O coração dela batia descompassado, frenético como sons de tambores usados em festividades.
A vontade era de saber se o mesmo acontecia com o dele, se corações apaixonados batiam em perfeita sincronia um com o outro.
Seu ar lhe faltou quando os dedos compridos dele toparam as finas alças do vestido que trajava.
— Calma. — Murmurou no ouvido dela. Os mesmos dedos fazendo círculos em sua pele causando um fogo abrasador capaz de incendiar um reino.
As palavras surgindo um efeito calmante. Olhos fechados na tentativa de sentir cada sensação que prespasava seu corpo.
Logo o ar noturno beijou o corpo exposto causando um leve arrepio e lábios suaves roçando sua pele. Lábios do seu amado.
— Tão linda. — O som das palavras de Kyle fizeram com que Linary abrisse os olhos e uma imensidão azul lhe brindava com sentimentos expostos. — Perfeita demais para mim. — Dedos trêmulos mapeando cada zona proibida, cada centímetro de pele exposta. Lábios substituindo onde mãos estiveram.
Logo peças de roupas dele se juntaram as dela. Fascínio emitindo por um som escapado de lábios entreabertos. Lindo demais.
Um abraço foi dado e ela sorriu ao sentir que o coração dele estava tão acelerado quanto o dela.
— Não tenha medo. — Ela se assustou por um momento. Impressionada com o quão bem ele a conhecia. Não havia nada o que pudesse esconder. Não havia nada que ela quisesse esconder.
Ele a deitou na grama do jardim secreto, seu corpo por cima do dela. Uma sensação indescritível se apoderado de Linary.
Fechou os olhos ao sentir lábios dando atenção a cada parte de sua pele, tocando locais onde a vergonha não lhe deixava olhar fazendo com que suas bochechas corarem e a lua desviar o olhar para deixar os amantes a vontade.
Olhos nos olhos, lábios nos lábios.
Não se sabia onde um começava e o outro terminava.
Gemidos mesclados abafados pelo som de animais noturnos.
— Escutou isso? — Kyle sussurrou entre os lábios dela, não conseguindo se afastar nem mesmo para falar.
— O quê? — Ela murmurou. Sua voz saindo com um tom diferente do qual estava acostumada.
— O som do amor. Em algum lugar algum homem está dizendo para uma mulher que a ama.
— Não entendo. — Disse confusa.
— Esse homem sou eu. — Kyle disse. Ambos atingindo o êxtase máximo.
Linary sentiu seu corpo desfalecer em um prazer indescritivel.
Um suspiro satisfeito escapando por seus lábios.
Aquela noite havia sido perfeita.
Ela viu e sentiu o amor.
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