O quase beijo
Kyle deu um amplo sorriso para a rainha com a menção das frutas do Reino que seria dela dentro de alguns dias.
Ele não sabia dizer quando, até porque ela mantinha o segredo guardado as sete chaves, mas tudo indicava que o ataque seria logo, pois Darken já havia falado com as fadas. Aquilo queria dizer que seria por aquela semana.
— Estou muito perto daquilo que quero conquistar caçador. Posso sentir em minhas mãos, o cheiro, o gosto do poder. — O brilho maligno nos olhos dela não poderia ser escondido nem se ela tentasse, estava visível. — Isso quer dizer que não é necessário que você esteja mais no Reino da terra, ele será o próximo que irei atacar.
Ela se levantou e ajeitou a capa que vestia, longa, grossa e negra. O peso dela era tanto que Darken andava com dificuldade por conta daquilo.
Kyle não entendia o porquê dela usar uma peça de roupa tão incômoda mas após algum tempo ele viu que aquilo representava o poder para ela. Como se a peça de roupa, feita com tecidos caros, fosse muito importante para ressaltar aquilo. Era incrível como Darken usava o dinheiro do povo para os problemas mais estúpidos.
Mesmo o Reino da escuridão sendo infértil, os habitantes pagavam seus impostos com moedas ganhas por serviços prestados a outros reinos e Darken usava aquele dinheiro de maneira imprópria, para benefícios dela própria e não para melhorias do Reino e sua população.
Ele estava prestando atenção nos trejeitos estranhos da rainha que só naquele momento se deu conta do que ela havia falado.
— Por que diz isso vossa majestade?
— Já tenho o que preciso, você será necessário para vigiar o Reino da água agora. — Ela sentou-se e se pôs a avaliar a expressão neutra de Kyle.
Ele procurava não denotar nenhum tipo de dica que pudesse dar a ela, não queria que ela lesse o que ele estava pensando e o mínimo indício de que ele estivesse escondendo algo daria para Darken o motivo necessário para alguém o vigiar.
— Só acho que não passei o tempo necessário no Reino da terra, pode haver algo que seja necessário descobrir. — O rosto deformado de Darken se pôs a ficar pensativo.
Antes era uma expressão de desconfiança, o que Kyle não precisava era que a bruxa da noite estivesse daquela forma com ele e ao ver o rosto dela mudar, Kyle sentiu um enorme peso saindo de suas costas.
— Tem razão mas não será necessário muitas visitas caçador, somente mais uma. — Ela estalou os dedos e o criado corcunda apareceu.
Kyle às vezes achava que ele ficava a espreita à espera da rainha o chamar como um cachorrinho bem treinado.
— Você pode se retirar, preciso descansar. — Ela desviou o olhar para o homem e torceu os lábios — Inútil arrume meus aposentos, preciso me deitar.
Kyle fez uma reverência e saiu dali a passos apressados.
Ele teria que tomar cuidado, a rainha não era burra e estava começando a desconfiar dele. Kyle nunca foi de questionar as ordens que Darken dava e agora ele se viu entre obedecer e seguir aquilo que seu coração queria, que era ver Linary.
Linary fazia tudo no piloto automático e com agilidade. Era chato ter obrigações quando quem fazia tudo era Laynei.
— Laylin!!!! — Ela gritou a irmã mais nova que estava lá fora caçando as malditas borboletas.
Dizer que ela estava cansada era um eufemismo. Linary não aguentava mais cozinhar e limpar, definitivamente ela não havia nascido para os serviços domésticos.
Gostava de estar lá fora, aproveitando o dia. Platando suas flores, nadando no rio aquecido ou simplismente olhando para o céu. Ela sentia que estava perdendo tudo aquilo estando ali, infurnada dentro de casa.
Passos agitados faziam barulho nas tábuas do chão, até aquele som a estava irritando.
— Chamou mana? — Laylin estava com uma aparência horrível.
Seu rosto estava coberto de lama, como se ela tivesse se esfregado em alguma poça. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo mas várias mechas estavam soltas, criando um penteado completamente desalinhado. As roupas estavam em um estado deplorável, seria necessário duas lavagens para que tudo aquilo saísse e as botas não eram vistas nos pés delicados da jovem.
— Posso saber que diabos estava fazendo? Parece que saiu do chiqueiro Laylin. — Linary disse brandindo uma colher de pau na direção da irmã suja.
— Caí em uma poça de lama quando estava caçando uma bela borboleta. — Laylin disse limpando o rosto com uma das mangas do vestido que um dia poderia ser considerado amarelo.
— Quando Laynei ver o estado deplorável desse vestido não vai sobrar nada de mim, mas fique sabendo que irei descontar tudo em você mocinha. — Ela se virou e voltou a mexer no ensopado de legumes que fazia. — Trate de pegar a vassoura e limpar a casa, aproveite que já está suja mesmo.
— Laynei nunca me obrigou a fazer serviços domésticos Linary.
— Laynei não está aqui Laylin, trate de me obedecer agora mesmo. Não pense que vou ficar servindo de babá para você, não é mais uma criança vai tratar de me ajudar sim. — Linary estava a ponto de gritar com a mais nova mas Laylin fez o que lhe foi ordenado sem que fosse preciso que ela pedisse outra vez.
Linary colocou dois pratos na mesa e a panela de barro com o ensopado dentro. O cheiro estava maravilhoso e poderia ser visto que a comida estava quente pelos vapores que ela emanava. Pelo menos o ensopado ela sabia fazer.
— Varra rápido para que possamos comer, tenho um compromisso para o fim do dia. — Linary foi até a pia e começou a espremer os limões para fazer uma bela limonada.
— Para onde vai Linary? — Ela mordeu os lábios, pensativa se deveria ou não contar para a irmã sobre o encontro com Kyle.
Linary gostaria de confidenciar aquilo com Laylin mas assim que Laynei chegasse ela ficaria sabendo. Linary gostava da irmã mais nova mas era fato que ela era lingaruda.
— Não sei se confio em você o suficiente para contar.
— Vai me deixar curiosa? — Linary se virou e colocou o suco na mesa.
— Vou sim e ai de você se contar que saí. Ai de você Laylin. — Ela revirou os olhos e foi para o banheiro tomar banho.
Linary se sentou e ficou olhando para o pequeno pássaro azul que pousara no parapeito da janela.
Um sorriso despontou de seus lábios e a mão direita repousou em seu queixo. O pássaro era lindo, de uma cor vibrante de azul e volta e meio ele mexia com a cabeça pequenina, fazia um barulho suave e voltava a estudar o terreno.
Linary se pegou pensando em como faria hoje com Kyle. Ela estava nervosa, mais do que gostaria de demonstrar mas iria seguir o plano até o fim.
— Não vai comer? — Ela estava tão distraída em seus pensamentos que nem havia se dado conta de que a irmã havia voltado.
Ela assentiu e começou a se servir. A comida não estava tão gostosa como as que Laynei fazia mas pelo menos ela não havia queimado.
— Onde você vai hoje?
— Não vou contar Laylin. Se não fosse tão fofoqueira eu poderia lhe confidenciar.
— Juro que não conto para nossa irmã. — Ela juntou os dedos e os beijou como se estivesse prometendo.
Linary revirou os olhos e voltou a comer, ignorando as promessas mentirosa da irmã. Ela sabia que Laylin na primeira oportunidade contaria para Laynei, não iria arriscar.
Se a irmã mais velha soubesse que ela iria encontrar com Kyle seria um problema de proporções épicas e Linary ficaria de castigo para sempre.
Ela mal terminou de comer e já foi se levantando e colocando o prato na pia.
— Lave as louça. — Ela disse e foi para o quarto tirar o gosto da comida da boca.
Linary se olhou no espelho, ajeitou o vestido verde e pegou a escova para pentear os cabelos.
Ao terminar sorriu, satisfeita com o resultado, e se apressou para ir ao local marcado.
Kyle havia desmontado de seu cavalo e sentado na mesma pedra que estava antes, se pondo a esperar.
O sol já estava baixo mas montanhas, descendo de maneira vagarosa, como se estivesse com preguiça de dar lugar a lua e seu brilho prateado. O céu continha um jogo de cores misturadas, o azul, o rosa entrelaçado com um tom alaranjado, que somente a mãe natureza era capaz de compor, nem mesmo os mais famosos pintores conseguiriam atingir aquele nível de perfeição.
A brisa suave soprava as mechas escuras de Kyle sob seu rosto e os pássaros cantavam indicando que estavam prontos para encerrar suas atividades diárias e dar lugar aos animais noturnos.
Kyle pegou seu cantil de água, amarrado propositalmente em sua cintura, e bebeu goles ávidos da água da água fresca.
Ele estava nervoso, Linary demorava e a espera lhe causava uma sensação ruim. Quanto mais ela demorasse a chegar mais tempo ele tinha que ficar fora do Reino da escuridão e as desconfianças de Darken aumentariam, o que não era favorável à ele.
Por mais que ele quisesse ficar um tempo com a jovem de cabelos platinados ela não valia seu pescoço, com certeza sua vida vinha em primeiro lugar, sempre.
Desde que podia se lembrar, Kyle sempre se pôs acima de qualquer outra coisa. Ele nunca teve escolha de nada na vida desde que vira sua mãe o abandonar com sete anos.
Sempre viveu das migalhas de pessoas ruins que jogavam pedaços de pão velho no chão para que pudesse comer e conforme fora crescendo nada mudou.
Foi naquele tempo que conhecera a rainha Darken. Ela não era uma pessoa confiável e muito menos caridosa, mas ela havia visto em Kyle algo que ninguém mais via.
Foi daí que ele decidiu que ele valia a pena sim, tudo graças a bruxa da noite. Fora com ela que Kyle viu sentido em sua vida vazia e medíocre, se iludiu de que tudo aquilo seria recompensado. Passara toda a adolescência tentando agradar a rainha exigente.
Ele sabia que naquele tempo, ela tinha planos para quando o garoto de dez anos crescesse e que um dia a dívida enorme iria ser cobrada, só que o que ele não sabia era que o preço seria tão alto.
Como ter que matar pessoas, torturar outras e perder a liberdade que ele tanto prezava. E o que era pior, Kyle perdeu aquilo tudo sem nem ao menos se dar conta, só quando era tarde demais para ele. Tarde demais para rendição, tarde demais para perdão.
Quando viu Linary algo dentro dele desabrochou. Kyle com seus vinte e um anos de idade já havia conhecido várias mulheres. Muitas experientes, poucas inocentes e nunca havia sentido nada daquilo que sentia pela jovem bruxa da terra.
Um fascínio por assim dizer, uma imensa vontade de desvendar seus segredos, de saber das coisas mais banais, como por exemplo a forma que ela dormia, o que gostava de comer ou simplismente ficar admirando o sorriso dela.
A forma como os olhos dela ficavam com pequenas ruginhas nos cantos dos olhos quando ela lhe dava um sorriso irônico ou quando sua testa franzia quando ela estava aborrecida, o que era frequente quando estava na presença dele.
Quem diria que aquela menina pudesse fazer uma proposta daquelas para ele. Kyle não conseguia acreditar que Linary fosse tão ousada assim.
Ter uma oportunidade de provar aqueles lábios volumosos e rubros era uma oportunidade ao qual ele não podia desprezar. Talvez fosse sua única chance de provar algo tão puro e doce; nem que fosse para o inferno algum dia ele queria estar no Paraíso por alguns segundos, já ia lhe bastar por anos de penitência.
— Desculpe a demora, tive que cuidar da casa. — A voz suave e musical de Linary fez Kyle despertar de seus pensamentos.
Ele ficou de pé, se virou e se pôs a admirá-la. Era algo bom, pois das outras vezes ele estava ocupado demais se divertindo as custas do aborrecimento dela.
Daquela vez ele estava disposto a aproveitar cada segundo ao lado de Linary, pois poderia ser o último. Kyle não sabia até quando conseguiria esconder de Darken sua escapulida para encontrar a bruxa do Reino inimigo, e ela não ficaria nada feliz quando soubesse.
Delma já desconfiava e só queria um motivo para o colocar na forca e era o que aconteceria quando Darken ficasse sabendo.
— Oi, está me escutando?
— Sim, sim me desculpe. — Ele balançou a cabeça para clarear as idéias e se concentrar no que deveria. — Não tem problema, não estou há muito tempo aqui.
Ele se aproximou dela e pegou nas mãos delicadas de Linary, sentindo a maciez como a pétala de uma rosa.
As bochechas dela ficaram em um tom imediato de rosado. Aquilo fazia com que um sorriso escapasse dos lábios de Kyle, não era zombaria, o fascínio era evidente.
— Onde está a moça ousada que conheci?
— É que.. — Ela prendeu uma mecha de cabelo por detrás da orelha, as palavras se perdendo, juntamente com seu foco.
Seu olhar perdido em várias direções menos para o rosto dele. Kyle só queria que Linary olhasse para saber o que ela estava pensando naquele momento.
— Que tal conversarmos primeiro? Assim você não fica tão encabulada como está agora, não quero que fique tão desconfortável comigo. — Ele a direcionou para a grama verdinha, se sentou e a ajudou a fazer o mesmo.
Linary se encostou na árvore de tronco grosso e envelhecido, soltando o ar que estava prendendo. Ela estava nervosa e não havia se dado conta até estar na presença dominante de Kyle.
Pensava ser corajosa e destemida mas a idéia de um simples beijo a estava deixando apavorada, não pelo ato em si mas o medo de fazer papel de boba a dominava até o ponto de desespero.
— Vamos lily não quero te ver nesse estado, vamos conversar. — O apelido era estranho aos ouvidos dela, nunca ninguém havia feito tal ato.
Ela sorriu, aprovando o que Kyle fez mas era óbvio que Linary nunca ia admitir aquilo em voz alta.
— Você me disse ontem que ia me contar sobre a floresta das fadas. Já esteve lá muitas vezes? — Kyle revirou os olhos para a curiosidade insana da moça.
Ele sabia que ela ia abordar aquele assunto e ficou debatendo internamente se contaria ou não, aquilo poderia acarretar em ela querer ver tudo com os próprios olhos, o que era perigoso.
— Posso te contar sobre a floresta das criaturas fantásticas.
— Essa não me interessa.— Ela descartou a evasiva dele com um gesto de mãos.
Não interessava a ela por ser mais longe e as possibilidades dela ir para aquela eram nulas. Já a floresta das fadas era logo ali.
— Sendo assim não vou instigar sua curiosidade e ser o possível culpado de você entrar nela e se perder ou pior morrer.
— Tão perigoso assim? — Os olhos dela ardiam como chamas em uma lareira.
Kyle fez um barulho estranho com a boca, como desaprovação. O assunto estava indo para lugares que ele não queria, sabia que se falasse Linary iria querer visitar novamente a floresta e ele não iria permitir aquilo, tal como não permitiu quando a conheceu.
— Já que seu assunto é apenas esse vou embora.
— Não!!! — Quando viu que Kyle iria embora, ela apelou. — Fayfar. — A voz de Linary estava determinada.
Ela fez um movimento com a mão direita e em questão de segundos, as raízes da árvore em que estava encostada, surgiram da grama e prenderam os pés de Kyle no lugar. Não satisfeita, ela fez outro movimento e as raízes subiram ainda mais, deixando Kyle sem forma alguma de sair.
— Pare com isso agora mesmo. Acha que tenho medo de você? — Kyle sabia que aquilo tudo era provocação mas ele queria deixar bem claro que estava insatisfeito com aquela brincadeira.
— Por favor, não vá embora. Juro que não toco mais no assunto. — Linary falou em tom suplicante.
Não iria machucá-lo apesar de poder fazer se desejasse aquilo.
— Me solte então, dê a ordem para essas coisas me soltarem. — O desespero de Kyle era evidente quando viu que as raízes não paravam de subir por seu corpo, se enroscando em sua barriga e chegando perto de seus braços.
Ela fez outro movimento para baixo e de imediato, as raízes cederam e voltaram para seu lugar original, fazendo com que Kyle respirasse aliviado.
— Nunca mais faça isso Linary.
— Desculpe, não queria assustá-lo. — Ela respondeu de forma humilde.
Ele levantou o queixo dela com o indicador, um dos lados de seus lábios repuxados em uma sombra de um sorriso.
— Inconsequente. — Ele largou o queixo dela e se afastou. — Já que está disposta a mudar de assunto, que tal se eu te ensinasse a usar o arco e flecha.
— Isso seria ótimo. — Linary se levantou rapidamente, a animação tomando conta de seu corpo.
Ele se levantou e se juntou a ela. Retirou o objeto de suas costas e se pôs atrás dela. Quando viu que ela havia ficado nervosa pela posição vulnerável ele se pôs a acalmá-la.
— Calma raposa. — As sobrancelhas de Linary se juntaram em confusão por ele dizer aquilo, então ele sorriu. — Lembra, sua irmã lhe chamou assim no mercado.
— Sim. — Ela ficou de frente e olhou para árvore, que deduziu que seria o alvo usado.
Kyle colocou o arco na mão dela e aproximou ainda mais seu corpo, a frente dele estava emanando uma grande quantidade de calor, que fazia com que Linary se sentisse aquecida, como uma capa grossa em uma noite fria.
— Segure o arco com sua mão fraca, a que menos utiliza para fazer algo. — Linary segurou o arco com a mão direita e levantou a cabeça a espera por uma nova ordem. — Agora a mão forte para fazer a puxada.
Ele colocou a flecha na posição correta, as mãos por sob as dela em um aperto firme.
— Relaxe a mão, ela serve apenas para o apoio do arco não precisa colocar força nela lily. — Kyle pegou três dedos dela e os colocou por debaixo da flecha. — Essa pegada vai permitir que você calcule o trajeto da flecha.
A voz dele, bem próxima de seu ouvido, somada a aproximação sem espaço algum causava arrepios em Linary.
— Concentre-se. Suba mais o arco, até que sua mão que vai fazer o tiro, esteja colado ao seu rosto. — Ele ajeitou o objeto da maneira que queria e se afastou. — Atire na árvore.
Com aquela ordem, Linary puxou a fina corda e soltou vendo a flecha seguir um caminho reto mas não havia alcançado o tronco, que era seu alvo.
— Droga. — Falou em voz alta.
— Não desanime, foi apenas a primeira tentativa.
— A culpa é sua. — Ela Falou inconformada.
Detestava não fazer algo direito, sempre buscava o perfeccionismo e quando não o conseguia alcançar, Linary se sentia fracassada.
— Posso saber porque diabos a culpa é minha?
— Sua proximidade me desconcentra. — Aquilo foi capaz de arrancar uma gargalhada estrondosa de Kyle.
A expressão emburrada, os braços cruzados como forma de defesa e a postura ereta a faziam crer que realmente a dedução dela estava correta. A culpa era dele.
Realmente, Linary era adorável e única.
— Faça o que te falei, vou manter distância. — Kyle se afastou e se pôs a analisar as ações dela a um metro de distância.
Linary repetiu tudo aquilo que havia apreendido mas não havia dado certo e o erro foi feito diversas vezes.
Kyle se aproximou devagar, rindo. Aquilo irritava Linary de diversas e incontáveis formas.
— Agora eu gostaria de saber onde que a culpa é minha. — Ela o empurrou e as risadas se intensificaram.
— Para de rir de mim idiota.
— Não fique irritada lily, é normal para um iniciante. Demora para se adaptar.
— Não me chame mais por esse apelido estúpido, te desautorizo. — Ela jogou o arco no chão e cruzou os braços com raiva.
— Ei, não desconte sua raiva no meu bebê.
— Você e seu bebê podem ir para o inferno. — Quando Linary pensava em se virar e ir embora, Kyle a segurou e trouxe o corpo dela para junto dele.
— Calma raposinha, não precisa se irritar. Você só está assim porque não se saiu bem mas escute é normal. Você não é uma perita nesse objeto.
Linary respirou fundo e tentou se acalmar. Ela era uma tola por estar descontando suas frustrações nele e aquilo só comprovava o quão infantil ela era.
— Desculpe. — Sussurrou.
Kyle a olhou com carinho e aproximou o seu corpo ao dela, de forma que as respirações de ambos se mesclassem, criando nenhum tipo de espaço entre os corpos dele.
Um arrepio de antecipação percorreu pelos braços de Linary e o estômago dela se revirava de nervosismo quando Kyle levantou o queixo dela, a fazendo olhar para dentro daqueles olhos tão escuros e profundos.
— Kyle.. — Ela disse de maneira incerta, em um tom tão baixo, o medo de estragar o momento se fazendo presente.
— Calma, deixa acontecer, já vai acontecer. — Linary fechou os olhos quando viu os lábios dele se aproximando e esperou ansiosa pelo encontro de seus lábios.
Kyle sorriu ao ver os olhos dela fechados e os lábios selados à espera.
Quando ia eliminar a distância, o barulho do corvo de Darken se fez presente naquele ambiente tranquilo.
Ele olhou para o céu e viu o ponto preto sobrevoando por entre as árvores altas, espiando a procura de algo que Kyle necessitava descobrir.
Aquilo era perigoso para ele, a bruxa da noite poderia ter mandado a ave para espionar os passos dele e Kyle suspeitava que Delma e sua influência maligna pode ter implantado idéias erradas na cabeça deturpada de Darken, criando teorias da conspiração e uma possível traição.
Maldita fosse aquela bruxa nojenta de cabelos esverdeados. — Ele pensou com raiva.
Kyle soltou Linary de forma delicada e se afastou dois centímetros dela, já sentindo falta do toque dela, de sentir a pele dela por sobre seus dedos.
Ela abriu os olhos, sobrancelhas juntas e expressão confusa.
— O que houve? Fiz algo errado? — A expressão dela era adorável.
Kyle passou o nariz pelo dela em uma carícia íntima.
— Você não fez nada, eu que não posso mais ficar por aqui. — Kyle beijou a testa dela e correu para desamarrar o cavalo que estava na árvore.
— Mas e o que combinamos?
— Me desculpe. — Kyle montou no cavalo e saiu sem olhar para trás, deixando Linary confusa e com raiva.
Kyle nunca tinha ido tão rápido em toda sua vida, os cascos do cavalo faziam um barulho alto se chocando contra o chão e o barulho do vento se tornava cortante contra seus ouvidos.
O desespero tomava conta de cada fibra de seu ser e fazia com que tremores deixassem o corpo dele em constante estado de oscilação.
O corvo o seguira, daquilo Kyle não tinha dúvidas. Não era mera coincidência, Darken mandara a ave o seguir. Não havia mais o que fazer nem o que esconder, só fazer uma prece para que sua cabeça não estivesse a prêmio quando chegasse.
O caminho nunca fora tão longo e aquilo não melhorava em nada o estado dele.
Tudo que Kyle queria era só um momento de descanso daquilo tudo, sem necessidade de usar máscaras e usufruir momentos como aquele com Linary
Onde a paz reinava e ele não tinha que fingir nada para ninguém.
Após o que pareceu uma eternidade, Kyle avistava o seu destino à alguns metros de distância. O Reino da escuridão.
Já era de manhã e o sol brilhava fortemente mas aquele Reino era tão esquecido por Deus que parecia que o sol não brilhava por ali, criando um clima horrível com nuvens pesadas e neblina mas aquele cenário conseguia refletir bem o humor atual dele.
Kyle passou pelo moradores do Reino, tendo que reduzir a velocidade de seu puro sangue. Todos ali o olhavam com receio mas ao reconhecê-lo sorriam e emitiam brilhos esperançosos em seus olhares. Na certa pensavam que a comitiva da rainha era milagrosa e conseguiriam o impossível, tomar os reinos e terem lugares dignos para morar. Ele só esperava que Darken cumprisse, ao menos, aquilo.
Kyle desmontou do cavalo, o amarrou em uma cerca perto dali — já que não via o criado que sempre o ajudava — e seguiu para dentro do Castelo, se preparando para o que o aguardava.
O longo corredor parecia triplicar de tamanho a cada passo dado e mesmo que andasse a longas passadas, aquilo parecia não adiantar de nada.
Chegando na sala do trono, Kyle se deparou com a rainha, sentada em seu trono, ditando palavras para que o criado escrevesse com uma longa pena em um pergaminho.
Delma estava perto dela e sorria como uma idiota a cada palavra sussurrada por Darken. Um brilho maligno estampado no olhar.
Kyle tinha vontade de empunhar seu arco e acertar uma flecha bem no meio de seus olhos e vê-la morrer aos poucos.
— Ora, veja rainha quem resolveu dar o ar da graça. — Delma falou em voz alta, tirando a atenção de Darken do criado corcunda.
Kyle fez uma careta para a bruxa horrorosa de cabelos verdes e se curvou, reverenciando a rainha.
— Vossa majestade. — Ele disse, ignorando Delma e seu veneno.
— Já sei de tudo caçador. Posso saber o porquê de estar se encontrando com uma bruxa da terra? — Kyle manteve sua expressão impassível e deu um meio sorriso.
— Só pretendo saber dos poderes dela rainha. — Ele disse de forma convicta e deu ombros. — Sei que elas são poderosas e pretendo descobrir até onde irá, afinal todos sabemos que os poderes delas são um mistério.
— Você pensou bem caçador. Fico feliz de ver o quão leal você é.
— Darken, não pretende acreditar em tamanha mentira não é? — Delma disse de maneira exaltada.
— Cale-se. — Ela se virou para Kyle com uma expressão determinada e feroz em seu rosto distorcido. — Descubra tudo o que puder. Quero acabar com elas.
Aí aí...
O que será que Kyle vai fazer na hora de escolher?
Ficará ao lado de Darken e seu plano louco ou escolherá Linary?
Me digam o que acham da história, sua opinião é muito importante.
Bjs e até a próxima Att.
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