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Capítulo 6. Chá com a realeza

Havia coisas sobre Amélia que poucos sabiam. Na verdade, ela não sabia se alguém tinha conhecimento desta situação de casamento. A jovem tinha medo de ser uma decepção, o que pode parecer algo comum, mas para uma jovem dama, isso pode ser um fardo muito pesado. Quando ela atravessou a janela e entrou de volta no quarto, viu Felipe sentado na poltrona perto da cama, a luz suave da tarde iluminando seu rosto.

— Fugindo de novo, pirralha? — ele disse, rindo do susto que Amélia tomou ao vê-lo.

Amélia levou a mão ao peito, respirando fundo para acalmar seu coração acelerado.

— Ainda bem que é apenas você. Fiquei preocupada de encontrar a rainha aqui — disse, a voz ainda tremendo ligeiramente.

Felipe se levantou da poltrona e caminhou até a janela, observando o lado de fora com um olhar pensativo.

— Os guardas não iriam te manter presa no quarto, mas eu queria causar uma boa impressão à rainha — ele comentou, lançando um olhar de soslaio para Amélia. — Você já fez amizade?

Amélia se sentou na beirada da cama, tentando recuperar o fôlego após a escalada, e olhou para Felipe com uma expressão de confusão.

— Como? — perguntou, ajeitando uma mecha de cabelo que caíra sobre o rosto.

— O irmão de Nicolas está olhando para sua janela — Felipe explicou, apontando discretamente para o lado de fora.

Amélia seguiu a direção do dedo dele e avistou Olavo olhando em sua direção. Ela sorriu, lembrando-se da breve interação que tiveram.

— Oh, eu estava mostrando meus dotes de arqueira — disse, encolhendo os ombros.

Felipe arqueou uma sobrancelha, virou-se para encará-la e perguntou — Eles são bons? — seu tom de voz era curiosidade misturado com uma pitada de dúvida.

— Piores que o Leo — respondeu Amélia, tentando conter uma risada.

— Ninguém é pior que o Leopoldo, Amélia — Felipe riu, sacudindo a cabeça.

— Eles conseguem ser, eu juro — Amélia riu com ele, a tensão começando a se dissipar.

Felipe caminhou até sua irmã e sentou-se ao seu lado na cama, a expressão de divertimento dando lugar a uma preocupação genuína. Os cochichos da corte eram que Nicolas era comprometido com Dominique e que Amélia não era bem-vinda.

— A jovem moça chamada Dominique mandou informar de seu comportamento inadequado e da sua fuga para a rainha. Por sorte, eu estava perto e disse que poderia ser um vulto — Felipe contou, olhando para Amélia com ternura. — Cuidado com essa moça. Uma jovem muito agradável me disse que ela tem um romance com o futuro rei e, após vê-la falando de você para a rainha, não duvido que tenha mesmo e não tenha gostado nenhum pouco de sua presença na corte.

Amélia abaixou a cabeça, envergonhada de ter sido jogada em meio a um triângulo amoroso.

— Como você está? — Felipe perguntou, segurando a mão dela de forma fraternal. Amélia suspirou e olhou para o irmão, seu olhar a encoraja a falar.

— Conheci o rei — disse ela, com uma nota de incerteza na voz.

— Como ele é? — Felipe perguntou, tentando captar mais detalhes.

— Parece ser gentil — respondeu Amélia, a voz tingida de tristeza e dúvida. Ela não sabia como seriam as coisas na corte e essa incerteza a deixava assustada.

— Não precisamos do trono ou títulos, Amélia. Você não precisa ficar aqui. Eles precisam mais da gente do que nós deles, você sabe disso, não é mesmo? — Felipe apertou a mão dela com mais firmeza, transmitindo conforto, sua voz era suave e reconfortante.

Amélia apenas concordou com Felipe, sentindo um alívio momentâneo. Ele se inclinou e beijou sua testa suavemente antes de se levantar.

— Vou falar para a rainha que viram errado e que você estava no quarto, já que não foi pega por ninguém — disse ele, dando um último sorriso encorajador antes de sair do quarto.

Amélia apenas concordou com Felipe, sentindo o calor fraternal do beijo em sua testa. Ele se retirou do quarto, prometendo falar com a rainha e garantir que ela não tivesse problemas, já que não havia sido pega por ninguém. O alívio foi temporário, mas trouxe um breve momento de paz ao seu coração inquieto.

Após a aventura descendo pela janela, Amélia decidiu não sair mais. Felipe e Marcelo, por outro lado, já haviam explorado grande parte do castelo, trazendo de volta histórias que a faziam se sentir um pouco menos isolada, mas ainda assim, a ansiedade pairava sobre ela como uma nuvem.

No dia seguinte, a cabeça de Amélia pesava com o amontoado de informações que havia recebido. Pensamentos confusos se entrelaçavam, e ela não conseguia entender completamente sua situação. Nicolas parecia estar comprometido, e a realidade disso a atormentava.

— O que estou fazendo aqui? — sussurrou para si mesma, a voz carregada de dúvida e frustração.

Os olhos de Nicolas continuavam a assombrar seus pensamentos. Aqueles olhos azuis, cheios de confusão e luz, a haviam marcado profundamente. Ela se sentia atraída por ele, mas a ideia de ele estar comprometido com Dominique a deixava perdida. Era um sentimento amargo, misturado com um estranho desejo que ela não conseguia controlar.

Faltava pouco tempo para o chá com a rainha, e as servas de Amélia voltaram para ajudá-la a se preparar. Enquanto ajeitavam suas vestes, sapatos e cabelo, ela sentia como se estivesse sendo moldada para um papel que não queria desempenhar. Cada toque das mãos das servas parecia reforçar a sensação de prisão.

Desceu na companhia de suas damas e seus guardas, o som dos passos ecoando pelos corredores silenciosos do castelo. Cada passo era um lembrete de sua situação, e ela se sentia uma prisioneira sendo escoltada, a liberdade que havia experimentado brevemente no jardim agora parecia um sonho distante.

O peso da responsabilidade e a incerteza do futuro a oprimiam, mas Amélia sabia que precisava manter a compostura. Cada olhar, cada gesto, seria observado e julgado. Ela ergueu a cabeça, tentando encontrar força dentro de si mesma, determinada a enfrentar o que viesse, mesmo que seu coração estivesse em tumulto.

A porta do salão onde o chá seria realizado estava à sua frente, e Amélia respirou fundo antes de entrar. Ela sabia que, independentemente dos sentimentos conflitantes que tinha em relação a Nicolas, precisava encontrar seu lugar naquela corte, mesmo que ainda não soubesse exatamente qual era.

Marcelo trouxe um pouco de leveza para animar sua irmã, lembrando-a do verdadeiro motivo pelo qual tinham vindo à corte: conhecer o futuro rei, representar sua família e fazê-los orgulhosos. Essa memória trouxe clareza para Amélia, que se esforçava para lembrar do seu propósito ali, apesar das dúvidas que corroem seu coração.

Felipe já estava sentado à mesa quando Amélia chegou. Ela pensou que seria um encontro íntimo, o que lhe trouxe um pouco de tranquilidade. Felipe, sempre atencioso, puxou a cadeira para que ela se sentasse, um gesto de cortesia que ele não costumava fazer em casa, mas que agora servia para impressionar a família real. Enquanto se acomodava, Felipe informou que Marcelo estava cuidando da guarda, mencionando que cerca de cem homens haviam chegado à nova residência. Isso a fez se sentir mais segura, sabendo que seus irmãos estavam por perto, protegendo-a.

Dominique e suas fofocas eram cruéis, e as irmãs de Nicolas riam junto com ela. Nicolas estava visivelmente desconfortável, lançando olhares furtivos para Amélia, que se sentava do outro lado da mesa, encarando fixamente o prato à sua frente.

Felipe, chateado com a situação, provavelmente notou que as piadas internas de Dominique e as irmãs de Nicolas eram sobre sua irmã. Com um gesto elegante, ele limpou a garganta, e todos se calaram. Amélia pensou que Arthur, em seu lugar, provavelmente teria virado a mesa de forma brutal.

— Obrigada pelo convite, Majestade — Amélia disse timidamente, fazendo com que Dominique e as irmãs de Nicolas rissem novamente.

— Não precisa agradecer. Era para ser apenas nós, mas se tornou um evento — a rainha lançou um olhar severo para Dominique e sua filha, que se calaram imediatamente.

— Tudo bem, é um prazer estar na companhia de vocês — Felipe disse sorrindo, com um tom debochado que só Amélia percebeu. Ele dominou a conversa com seu charme habitual, contando histórias da viagem até a corte.

— Amélia — a rainha disse, chamando a atenção dela — que belo colar você usa.

Todos se viraram para observar o pescoço de Amélia e notaram o cordão com um pingente que parecia uma chave.

— Obrigada, Majestade. Era de minha mãe — Amélia segurou o pingente com força. Felipe sorriu para ela, cheio de orgulho.

— Nossa mãe faleceu há muitos anos — Felipe olhou para a rainha, que parecia curiosa — ela era muito parecida com Amélia. Imagine quão bela era.

— Sim, muito bela — Nicolas murmurou para si mesmo, com um tom baixo. Ele passou a maior parte do tempo olhando para Amélia. A rainha havia contado a ele que a mãe de Amélia faleceu quando ela nasceu, e que ela cresceu apenas entre os irmãos.

A cabeça de Nicolas estava uma completa confusão. Dominique o olhava furiosa, claramente procurando uma forma de mandar Amélia embora. Apesar do visível desconforto de Amélia, os olhos de Nicolas e dela se encontraram algumas vezes. Apenas um cego não notaria que o futuro rei encarava a convidada com curiosidade.

Amélia estava confusa e ansiosa. Ela gostava de Nicolas, mas a ideia de se envolver com um homem comprometido a deixava insegura. Ao mesmo tempo, ela sentia uma conexão inegável com ele, algo que não podia ignorar.

Felipe, percebendo a tensão, segurou a mão de Amélia sob a mesa, oferecendo-lhe apoio silencioso. Ele sabia que a situação era complicada, mas queria que sua irmã soubesse que não estava sozinha. A presença dele ali era um lembrete de que ela tinha uma família que a amava e que sempre estaria ao seu lado, independentemente do que acontecesse na corte.

A rainha se retirou, deixando Nicolas e os demais ainda tomando o chá. Amélia sentiu que não havia motivo para continuar ali.

— Com licença — Amélia se declarou, curvando-se para Nicolas. Felipe, observando a atitude da irmã, também se declarou. — Vou passear no jardim.

— Você está bem, meu anjo? —Felipe perguntou, preocupado. Amélia acabou de encontrar com a cabeça. — Se precisar, mande Luís me chamar. — Ele pediu para ela, tentando tranquilizá-la.

Amélia retribuiu o sorriso e deixou a sala. Os guardas a seguiram, parecendo dois patinhos acompanhando a mamãe. Eles estavam preparados para qualquer eventualidade, obedecendo às ordens de Felipe e Marcelo. Os gêmeos João Lucas e João Luís, grandes homens com pouco mais de 1,95m de altura, ainda maiores com suas armaduras. Ambos tinham uma pele queimada do sol; Lucas raspava a cabeça enquanto Luís mantinha o cabelo maior, com alguns cachos.

Ela os conheceu quando chegou ao reino de Navie. Seus pais foram executados por dívidas da coroa, bem na frente dos filhos. O trauma deixou as irmãs mais novas das meninas mudas. Amélia os ensinou a escrever, e seu pai cuidará dos meninos como filhos. Em gratidão, eles entraram para as tropas da família.

— Acho que alguém impressionou o rei — disse Luís quando Amélia se sentou num dos bancos do jardim. Cada guarda se posicionou em uma ponta.

— Não fale besteira — Amélia respondeu, quase ofendida.

— É impossível não impressionar qualquer homem com sua beleza, Amélia — Lucas disse com uma voz terna.

— Estão implicando comigo porque sabem que sou como uma dama perfeita e não posso correr atrás de vocês com esses sapatos.

Os três riram da colocação do jovem, mas ficaram em silêncio quando avistaram, ao longe, Dominique e Nicolas andando pelo jardim. Amélia observou atentamente. Eles devem estar discutindo, mas devido à distância, não consegui ouvir nada. No entanto, os rostos deles não estão felizes.

Amélia se sentia cativada pelos olhos azuis de Nicolas, cheios de confusão e luz. Havia algo naquele olhar que atraía, apesar de toda a situação complicada. Ela estava confusa, sentindo-se dividida entre a atração que sentia por Nicolas e a certeza de que ele parecia comprometido com Dominique.

Saber da presença de Dominique era um pouco tranquilizante. Ela não estava interessada em casar com o rei e ter que viver presa. Mesmo assim, a presença constante de Dominique ao lado de Nicolas a deixou insegura e apreensiva.

Amélia respirou fundo, tentando enganar seu coração. Ela não queria se envolver em um triângulo amoroso, mas a conexão que sentia com Nicolas era inegável. Enquanto observava os dois à distância, ela se dizia como seria o futuro e se algum dia teria a chance de esclarecer seus sentimentos. Por enquanto, tudo o que podia fazer era seguir em frente, tentando manter a compostura e a dignidade, apesar da turbulência interna.

Luís e Lucas, percebendo o conflito interno de Amélia, protegidos vigilantes, prontos para protegê-la não apenas de ameaças externas, mas também das dores do coração. Afinal, eram mais do que guardas; eram amigos leais que fariam de tudo para vê-la feliz e segura.


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