Capítulo 30. A Ira do Rei
Nicolas entrou na sala do trono com passos pesados, seu semblante rígido como se a própria sala, contendo segredos e traições, refletindo o turbilhão de emoções que fervilhavam dentro dele. À sua frente, estavam os pais de Dominique, Catarina, com a expressão tensa, e Pedro, tentando manter uma postura dura seus olhos não passavam para o lado, ele era uma vítima e ainda assim estava do lado de Catarina. Sabiam que o peso das ações que prestes a ser julgado. Dominique, confinada em seus aposentos, era vigiada de perto pelos guardas de Amélia, agora protegida pelas consequências dos atos ocorridos que tentaram destruí-la.
As notícias de que Dominique estava isolado, alheia ao que ocorria fora de suas paredes, apenas alimentavam a fúria de Nicolas. Ela parecia imperturbável, talvez por ignorância ou, quem sabe, por frieza. O mais perturbador foi que ela ainda não sabia da morte de seu benfeitor, o homem que ajudou a tentar destruir Amélia.
— Vossa Alteza — Disseram todos, inclinando-se em uníssono quando Nicolas se acomodou em seu trono.
Ele se enviou sem qualquer pressa, com o semblante de quem já havia decidido o destino de todos ali, embora o julgamento ainda não tivesse começado. O silêncio que o silêncio era sufocante, quebrado apenas pelo anúncio da chegada de sua mãe. Elizabeth entrou na sala com sua habitual autoridade, caminhando até o lado oposto de Arthur.
Arthur, o irmão de Amélia, permanece inabalável ao lado de Nicolas. A tempestade de emoções que antes de passar por seu rosto havia se dissipado, resulta por uma calma inquietante. Ele foi a testemunha ocular dos fatos, o homem que conhecia as profundezas da dor que sua irmã havia enfrentado. O contraste entre sua aparente serenidade e a fúria assassina que Nicolas tentava conter era palpável. Mesmo assim, Arthur, um guerreiro suportado por batalhas e sofrimentos, estava em conflito. Ele sabia que o que estava por ser seria difícil, pois a justiça muitas vezes traz um preço alto, especialmente quando sangue e laços estão envolvidos.
Elizabeth manteve-se em silêncio ao lado do trono de seu filho, sua presença imponente, mas não interferente. Embora tivesse insistido para que Dominique fosse retirada da cela, agora estava ciente de que suas tentativas de intervir para proteger o jovem haviam sido feitas em vão. A raiva de Nicolas era profunda demais para ser atenuada por laços de família ou qualquer argumento de sua mãe. Ele já sabia da interferência dela, das tentativas de enviar servas a Dominique, e sua frustração com Elizabeth estava clara, ainda que ele mantivesse as aparências.
Por fim, Nicolas respirou fundo, os pensamentos que o assombravam passando diante de seus olhos como um furacão de imagens. O sofrimento de Amélia, a injustiça infligida à sua família, a traição que emanava daqueles que agora se encontravam diante do seu julgamento. A fúria dentro dele se transformava em uma frieza calculada. Ele olhou para Arthur, buscando o suporte silencioso de seu cunhado, que retribuiu com um nível de conhecimento.
Então, finalmente, ele corta o silêncio, sua voz ressoando pela sala como um açoite.
— Expliquem-se — disse Nicolas, com uma frieza gélida, suas palavras cortantes como lâminas afiadas.
O comando ecoou na sala, e todos sabiam que não teria piedade. A verdade seria revelada, e os responsáveis por tanto sofrimento, por arruinar o que poderia ter sido um futuro pacífico, agora enfrentam a ira de um homem que não toleraria mais traições.
O olhar de Nicolas percorreu cada rosto à sua frente, fixando-se em Pedro por um momento mais longo. Ele viu a tristeza no olhar de Pedro. Catarina, por outro lado, mantinha-se em uma postura de resistência, embora seus olhos traíssem o medo de ver a irmã envolvida em tamanha desgraça.
Arthur falou calado, mas sua mera presença é um lembrete constante de que a verdade, dolorosa como era, seria exposta sem hesitação. A tensão na sala era palpável, como se o próprio ar estivesse carregado de eletricidade, pronto para morrer.
Nicolas, sentado em seu trono, esperava as respostas. Mas, no fundo, ele já sabia que nenhuma justificativa seria suficiente. A traição era profunda demais, e o sangue já havia sido derramado.
Nicolas estava imerso em uma fúria silenciosa, suas mãos fechadas em punhos ao lado do trono, contendo uma tempestade que rugia dentro de si. Cada palavra proferida por Isabel, mãe de Dominique e Catarina, soava como uma confissão de traição. A mulher, com as marcas profundas do cansaço e da culpa estampadas no rosto, parecia encolher sob o peso de suas próprias palavras, enquanto Nicolas a observava impassível.
— É tudo culpa minha, Vossa Alteza — a voz dela era trêmula, um fio frágil de queixa que se perdeu no vasto salão. Isabel mal conseguiu erguer os olhos para olhar o rei. — Eu incentivo minha filha a falar com o antigo noivo de Amélia...
Nicolas, ao ouvir essas palavras, sentiu o sangue pulsar em suas têmporas. Ele fechou a mão com tanta força que as juntas ficaram brancas, sua respiração tornou-se pesada enquanto lutava para manter o controle.
— Eu sabia de seu noivo fracassado e onde eles viviam. Dominique o ama, e eu só queria o melhor para minha filha — Isabel contínua, a voz embargada de desespero.
— Colocando a vida da futura rainha em risco? — A voz de Nicolas explodiu como um trovão, reverberando pelas paredes da sala do trono. O som ecoou, fazendo os presentes estremecerem. O impacto das palavras fez o silêncio se abater novamente sobre o ambiente, como um golpe certo.
Isabel, tremenda de medo, caiu de joelhos diante do rei, como lágrimas surgindo nos cantos de seus olhos.
— Não pensei desta forma. Por Deus, Vossa Alteza... — sua voz era um sussurro desesperado. — Solte minha filha. Eu consegui que estava fazendo o certo, ainda mais cartas da rainha e suas, pedindo pelo dote... como de Amélia.
As palavras dela ecoaram na sala, e Pedro, irmão de Amélia, que permaneceu observando tudo em silêncio até então, franziu o cenho ao ouvir a menção das cartas. Seu olhar de reprovação pousou sobre Nicolas, trazendo à tona a verdade amarga de um passado em que Nicolas e sua mãe pressionaram pelo dote de Dominique, como feito feito com Amélia.
Nicolas, por sua vez, sentiu o amargor se espalhar pela boca ao registrar os dias em que estava cego por Dominique. Houve um tempo em que ele ficou encantado por ela, quase seduzido pelas promessas de amor que ela fazia. Mas agora, tudo parecia um jogo frio e calculado.
— Dominique disse que fez tudo por amor — Nicolas disse, a voz baixa, quase para si mesmo. — Mas isso não justifica os atentados contra Amélia.
Isabel tossiu, tentando manter a compostura enquanto continuava sua confissão.
— Nós... eu na verdade — ela corrigiu-se ao olhar para o marido, que se mantinha calado ao lado — achei que o senhor não deveria se casar com uma mulher que tinha um compromisso anterior. O senhor conhece a história? Uma mulher comprometida não deve ser oferecida ao rei...
Essas palavras despertaram uma ira incontrolável em Nicolas. Seus olhos, antes gélidos, agora queimavam com uma fúria intensa.
— Você está tentando inutilmente manchar a imagem de Amélia para mim? — Nicolas rugiu, sua voz ecoando pela sala. Ele se declarou do trono de forma abrupta, uma raiva pulsando em cada fibra do seu corpo. — Acha que não sei a história da minha futura esposa? O que não sei o que aconteceu na sua vida? — Sua presença era ameaçadora, e ele avançou um passo em direção a Isabel, como se a simples proximidade pudesse esmagá-la. — Me julgo um tolo para tentar fazer intriga?
O marido de Isabel tentou intervir, abaixando a cabeça e se curvando diante de Nicolas.
— Não era a intenção dela, Vossa Alteza — ele murmurou, tentando enganar a situação. — Mas as cartas deixadas à nossa família ficaram confusas sobre seus desejos...
Pedro, que até então estava em silêncio, abriu os lábios em desaprovação. Ele sabia muito bem o que essas cartas foram feitas. No entanto, seus olhos estavam focados em Isabel, seu cunhado fervendo de raiva pela traição velada contra sua irmã.
Nicolas, percebendo o peso das ações de Isabel e o quanto havia sido manipulado no passado, sentiu uma raiva crescer dentro de si. Ele deu as costas aos dois, voltando-se para sua mãe, que observava a cena em silêncio.
— Vocês ficarão na corte pelo tempo que eu achar conveniente — Nicolas decretou, sem qualquer traço de compaixão. — E eu pensei em deixar Dominique sair do quarto.
— Meu filho, você não pode... — Elizabeth começou, a voz cheia de preocupação.
Nicolas se virou abruptamente para ela, o rosto tomado por uma ferocidade que nunca havia sido mostrada antes.
— Cuidado com o que diz ao seu futuro rei — anunciau Nicolas, sua voz dura como pedra.
Elizabeth se encolheu sob o olhar de seu filho, atônita com a mudança brusca de comportamento. Ela tentou protestar, mas suas palavras morreram antes de serem pronunciadas.
— Eles devem ter o direito de sair... — insistiu Elizabeth, com a voz vacilante, como se tentasse recuperar algum controle da situação.
Nicolas deu um passo à frente, o olhar fixo e determinado.
— Esta é minha corte — disse ele, cada palavra compartilhada de autoridade e ameaça. — E a escolha cabe a mim. Se a família deste nobre não estiver feliz, ou até mesmo a senhora, minha mãe, eu posso fazer os prisioneiros e trancá-los em uma torre. — Sua voz se transformou em um rosnado. — Ninguém sairá deste castelo sem minhas ordens.
O silêncio que se abalou foi esmagado. Os olhos de todos se fixaram em Nicolas, agora não mais apenas os herdeiros do trono, mas um rei implacável, pronto para fazer o que fosse necessário para proteger aqueles que amavam.
Nicolas respirou fundo, observando os últimos nobres deixarem a sala do trono. A tensão permanecia no ar, embora agora estivesse confinada ao silêncio que restava. Apenas Elizabeth, Arthur e Nicolas continuaram ali, suas presenças pesadas com as implicações das conversas que tiveram.
A rainha, Elizabeth, olhou para o filho com uma confusão de incredulidade e preocupação. O jovem que ela havia criado com tanto zelo, o menino gentil e sonhador, agora exibia uma autoridade implacável, algo que ela reconhecia bem. Aquela ferocidade lembrava seu falecido marido, o antigo rei, que nunca suportaria ser desafiado. O paralelo a assustava.
— Filho, você não deve estar em juízo perfeito. Eles são nobres com títulos — a voz dela, compartilhada de compreensão, ecoou no salão vazio.
Nicolas, mantendo o olhar firme, respondeu sem hesitação.
— Nobres falidos, minha mãe — corrigiu, sua voz grave e sem compaixão. — Os títulos para mim não têm valor. Tanto que, assim que me tornei regente, proíbe a venda deles.
Elizabeth, surpresa com a frieza do filho, insistiu:
— Deixe-os ir. Não vale a pena criar mais inimizades.
Nicolas suspirou, gesticulando de forma cansada.
— Estou cumprindo-os aqui com o pedido de Pedro, meu cunhado. — Ele lançou um olhar furtivo para Arthur, que ficava em silêncio, embora a tensão fosse visível em sua postura. — Não se trata apenas de uma questão de nobreza, mãe.
— Explique-me o motivo, e eu o apoiarei. Sempre fiz isso — Elizabeth falou, sua voz mais suave, tentando restabelecer a conexão materna.
O olhar de Nicolas foi suave por um breve momento, mas logo retornou ao mesmo tempo habitual.
— Os homens de Amélia querem executar Dominique. — As palavras saíram como pedras, causando uma expressão de choque no rosto da rainha. — Eles acreditam que Dominique atentou contra a vida de Amélia. As notícias correm rapidamente entre os servos e guardas da corte. A tropa de Amélia está à espera nos fechados, e mesmo os irmãos dela não conseguem conter a fúria deles.
Elizabeth se mudou, os olhos arregalados.
— É tão grave assim? — Disse, sua voz trêmula.
Nicolas concordou, o peso da responsabilidade evidente em seus ombros.
— Minha mãe, muitas pessoas são leais a Amélia. Seus guardas já me ameaçaram, colocando uma espada em meu pescoço — ele admitiu com um toque de amargura.
Elizabeth começou a andar nervosamente, suas mãos entrelaçadas em ansiedade.
— Isso é um absurdo. Você é o rei! — A incredulidade em sua voz era palpável.
Arthur, que até então permaneceu impassível, soltou uma risada baixa, provocando um olhar severo de Elizabeth. Ele tinha sido o homem a colocar a espada no pescoço de Nicolas, e ambos sabiam disso.
Nicolas, percebendo a ironia, sacudiu a cabeça.
— Eu sou o futuro rei de um reino falido, onde pessoas morrem por dívidas que não prestam pagar. — Ele tamborila os dedos no braço do seu trono, sua mente perdida em pensamentos sombrios. — Eu não sou um rei amado, mãe.
Elizabeth parou abruptamente, fitando o filho.
— Ninguém está cumprido por dívidas em nosso país — declarou com firmeza, mas havia uma dúvida sutil em sua voz.
Nicolas a encarou, um olhar distante.
— Vou descobrir isso em breve. Mas, por agora, sei que eles não me servem, servem a Amélia. — Ele suspirou profundamente, esfregando a testa. — Posso pedir clemência por Dominique, mas não me ouvirão. E como posso pedir isso? Pedir pela vida de uma mulher que capacitou a futura rainha seria trair Amélia.
— Qual o tamanho das tropas de Amélia? Eles tentaram um golpe? — Elizabeth disse, sua mente já calculando os possíveis riscos.
— Não, mãe — Nicolas respondeu, à exaustão tomando conta de sua voz. — O povo ama Amélia porque ela veio de uma família sem títulos, uma família que desistiu para conquistar o que tem. A história dela dá esperança ao povo. Eles a veem como uma deusa libertadora, e isso é algo que nunca poderei ser.
Elizabeth olhou para o filho, mais preocupada do que nunca. Ela sabia que a força de Amélia poderia ser tanto uma vitória quanto uma ameaça para o futuro de Nicolas.
Sem mais palavras, Elizabeth deixou a sala, seu rosto marcado pela preocupação. Cada passo que ela dava parecia aumentar o peso em seus ombros, enquanto refletia sobre o futuro incerto que aguardava seu filho.
Nicolas permanece em silêncio por um momento, tamborilando os dedos novamente, sua mente retornando à conversa que teve com Arthur sobre os guardas de Amélia.
— Arthur — chamou ele, o tom de voz ponderado. Arthur virou-se, levantando uma sobrancelha em resposta. — Sabe se João Lucas conversou comigo sobre o que aconteceu com a família dele? Sobre as acusações que ele tem contra meu governo?
Arthur coçou a barba, refletindo.
—Lucas? — Ele soltou uma risada seca. — Sei que ele só pensa em matar você, Nicolas. Não sei se quero conversar.
Nicolas Bufou, clínico.
— Por causa da paixão que nutre pela minha futura esposa? — A ênfase possessiva em "minha" não passou despercebida por Arthur.
— Ela é minha irmã — Arthur lembrou, mantendo o tom firme, mas calmo.
Nicolas olhou de forma inquisitiva, a tensão entre eles visíveis.
— Então, cunhado, você ainda coloca esse homem como general, sabendo dos sentimentos que ele nutre por minha mulher? — Nicolas não escondeu o desagrado.
Arthur soltou um suspiro pesado, sabendo que não havia solução fácil para essa situação.
— Ele foi escolhido porque morreria por Amélia sem hesitar. — Arthur olhou para o chão, sentindo uma pontada de culpa. — Sabemos que, com ele lá, ela estará segura.
Nicolas cruzou os braços, o olhar perdido.
— Nem eu me desculparia se algo acontecesse a ela — murmurou, sua voz mais baixa, como se estivesse confessando algo a si mesmo.
Arthur concorda.
— Sim, mas você é o rei — lembrou Arthur, com um toque de ironia amarga.
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