Capítulo 25. Fúria contida
Nicolas mal teve tempo de analisar o que acontecia. A última frase de Amélia, "é ele", ecoava em sua mente como uma sentença, enquanto o brilho de seus olhos desaparecia e seu corpo desfalecia em seus braços. O desespero o atinge de maneira avassaladora, como nunca antes. Uma agonia profunda tomou conta de seu peito, e por um momento, o mundo ao seu redor se distorceu, seus sentidos confusos, em choque.
— Amélia! — sua voz saiu rouca, mas ele não conseguiu fazer mais isso.
Ao redor, as pessoas se aglomeravam, mas a visão de Nicolas se focava apenas no corpo frágil e desacordado de sua noiva. Ele tentou chamar ajuda, mas a voz não saiu. O caos se formou como uma tempestade ao redor deles.
Pedro segurava Arthur, que lutava para se soltar, sua espada empunhada como se estivesse pronta para cortar o mundo em pedaços. Embora ele gritasse furiosamente, Nicolas não conseguia ouvir os sons ao seu redor, o sangue martelando em seus ouvidos, abafando tudo. Era como se ele estivesse preso em um pesadelo silencioso, onde só a imagem de Amélia em seus braços importava.
De repente, Felipe empurrou Nicolas com uma força brutal, arrancando Amélia de seus braços. O futuro rei quase caiu para trás, incapaz de resistir ao ímpeto. Felipe, com uma expressão de fúria que Nicolas nunca tinha visto antes, carregou sua irmã desacordada para longe, ignorando completamente a presença do rei. Aquele olhar de ódio puro cravou-se em Nicolas como uma lâmina fria.
Ao redor, os irmãos de Amélia estavam descontrolados. Arthur, selvagem como um leão enjaulado, lutava com Pedro, seu desejo de vingança transbordando em cada movimento. As palavras que ele gritava eram um borrão, mas sua intenção era clara: matar.
— EU VOU MATÁ-LOS! — Arthur rugiu, sua voz finalmente cortando a névoa que envolvia Nicolas. Pedro lutava com todas as forças para contê-lo, mas a determinação nos olhos de Arthur era feroz, indomável.
— O que você fez?! — Pedro falou, seus olhos faiscando de fúria enquanto se dirigia a Catarina e Dominique, que agora eram o foco de todos os olhares no salão. A traição de Dominique foi evidente, e a dor que ela causou à família de Amélia foi algo que ninguém ali esqueceria.
Foi apenas quando os ecos das palavras de Amélia se repetiram na mente de Nicolas — "é ele" — que a realidade o atingiu como um golpe certo. Ele sabia quem era o homem, e a lembrança da história de Amélia, da perseguição que ela e sua família enfrentaram, explodiu em sua mente. A conexão foi feita, e a fúria dos irmãos de Amélia agora fazia sentido.
Os olhos de Nicolas escureceram com uma fúria silenciosa e assassina. Todo o peso de sua posição como rei futuro desapareceu naquele momento, substituído pelo instinto primitivo de proteger e vingar a mulher que amava. O calor da raiva subiu por seu corpo, e suas pernas, antes paralisadas, finalmente obedeceram.
Com passos firmes e decididos, ele atravessou o caos, empurrando os guardas de Felipe, ignorando qualquer protocolo. Colocou-se à frente de Arthur, o irmão furioso de Amélia, compartilhando a mesma intensidade sombria em seus olhos. Naquele momento, eles eram iguais — dois homens unidos pela dor e pelo desejo de vingança.
— Guardas! — A voz de Nicolas cortou o ar, contendo de uma fúria contida, houve um acidente.
A guarda pessoal de Nicolas se moveu com prontidão, unindo-se aos homens de Felipe, que já estavam preparados. Os olhos de Nicolas, normalmente serenos, agora brilhavam com uma ira gelada, e seu peito subia e descia com o esforço de manter o controle sobre suas próprias emoções. O salão de noivos, antes repleto de risos e celebrações, agora estava imerso em uma atmosfera densa e sufocante, como se o próprio ar tivesse se tornado pesado demais para respirar.
— Levem esse homem e Dominique às celas — recomendou Nicolas com uma firmeza implacável. — Eles não são bem-vindos aqui.
Os olhos de Dominique se arregalaram de surpresa. Ela, sempre acostumada a manipular as situações ao seu favor, não esperava que Nicolas fosse tão incisivo. O sorriso diabólico que antes adornava seus lábios desaparecidos, substituído por uma sombra de incredulidade e desespero. Ela tentou dar um passo à frente, em direção a Nicolas, mas os guardas já estavam em movimento.
— Nicolás! — A voz da rainha Elizabeth soou, um tom de reprovação e alerta que tentava conter o filho. Ela avançou alguns passos, sua postura e seu rosto marcados por preocupação, mas Nicolas não olhou.
— Vossa Alteza, por favor, não faça isso! — Catarina chorava, suas palavras tremendas em meio ao desespero, enquanto agarrava o braço de Nicolas. As lágrimas escorriam por seu rosto, a dor pela traição da própria irmã se misturava com o medo de que pudesse acontecer. Mas nem mesmo as súplicas de Catarina, que sempre fora uma amiga querida, consiga alcançar o coração do futuro rei naquele momento.
Nicolas não cedeu, não vacilou. O olhar sombrio que ele lançou à sala, agora em silêncio, era o de um homem que fazia justiça por aqueles que amava, custasse o que custasse.
— Agora! — Ele falou, sua voz ecoando pelas paredes, reverberando como um trovão que parecia abalar as fundações do salão.
O salão, antes ornamentado para a festividade mais aguardada do reino, havia se transformado em um cenário de pesadelo. Os sorrisos desaparecidos, e os olhares dos nobres estavam cheios de choque e medo. O som das armaduras dos guardas ao se moverem enchia o ar, um presságio de que tudo havia mudado. Os sonhos de um noivo perfeito foram brutalmente despedaçados, substituídos por uma tensão insuportável, uma ferida aberta diante de todos.
Enquanto Dominique e o homem eram levados sob o olhar impiedoso de Nicolas, o coração do futuro rei estava em frangalhos. A visão de Amélia desacordada, o medo e a fúria dos irmãos dela, o veneno que Dominique trouxe para sua vida... tudo se fundia em um sentimento de perda irreparável. O momento que deveria selar sua felicidade ao lado de Amélia agora era uma lembrança amarga, contaminada pelo ódio e pelo medo.
E assim, o salão outrara radiante de alegria se tornou um palco de dor, com Nicolas no centro, lutando para manter o controle enquanto o peso de seu futuro o esmagava.
Os sons abafados dos murmúrios no salão aumentavam à medida que os convidados, sem entender o que havia ocorrido, eram escoltados para fora por guardas. Os sussurros de curiosidade se misturavam com o choro angustiado de Catarina, sentada no chão, incapaz de controlar a torrente de lágrimas. Arthur andava de um lado para o outro, como uma fera enjaulada, seus passos ecoando pela sala enquanto Pedro tentava acalmá-lo, embora ele próprio estivesse fervendo de raiva.
O pai de Amélia, Laerte, estava num canto, seu rosto carregava o peso de um homem desolado. Seus olhos estavam distantes, como se a magnitude do que acontecera tivesse roubado todas as suas forças.
Pedro, vermelho de ódio, se aproximou de Catarina. O rosto dele estava distorcido pela ira enquanto a agarrava pelo braço — O que você fez? RESPONDE! — A voz dele cortou o ar como uma lâmina, mas Catarina só conseguia chorar.
A rainha Elizabeth, impotente diante da situação, perguntou: — Alguém pode me explicar o que está havendo?
— O que você disse a ela? — Pedro balançava Catarina, exigindo respostas. O desespero em sua voz revelava o impacto da traição que se insinuava em sua mente.
— Meu amor, eu juro que não sabia de nada disso. — Catarina, soluçando sua voz era baixa, desesperada.
Pedro soltou o braço dela com um gesto brusco, recuando como se estivesse tocando algo venenoso.
— Não me chame assim! — Seus olhos se estreitaram em desgosto. — Você tem noção do que sua irmã fez? O que ela trouxe para nós? — Suas palavras eram cortantes, cada sílaba carregando o peso da decepção.
Nesse momento, Marcelo chegou. A tensão no salão era palpável. Seus olhos ficaram preocupados quando entrou.
— Como está Amélia? — Pedro correu até ele, com o coração apertado.
— Ainda inconsciente. — Marcelo respondeu, sua voz grave, mas carregada de fúria. Ele olhou para Arthur e ordenou — Organize as tropas. Quero todos os homens de confiança patrulhando os portos e cercando o castelo. Aquela criatura asquerosa não veio sozinho. Não deixem que ele escape. — Sua determinação era feroz, refletindo o instinto protetor da família.
Arthur, como uma flecha, saiu sem hesitar. Todos sabiam que a fúria silenciosa dele seria canalizada em uma defesa implacável. Em questão de minutos, centenas de homens com o brasão da família de Amélia estariam guardando o castelo, prontos para capturar os inimigos.
— Como ele chegou até aqui? — Marcelo, ainda processando o que havia acontecido.
— Responde, Catarina! — Sua voz tremia de raiva.
— Nas minhas cartas para Dominique... Eu mencionei que Amélia havia sofrido nas mãos de um homem, e foi por isso que vocês vieram para cá, em busca de uma nova vida. — Catarina, em meio às lágrimas, confessou, estava soluçando, seu corpo tremia ao falar.
— Como ela chegou até ele?! — Pedro sentiu o chão desabar sob seus pés, sua voz era um misto de dor e incredulidade.
— Eu juro que não sei! — Catarina tentou segurar a mão de Pedro, mas ele virou o rosto, incapaz de olhar para ela. Catarina, em desespero, se virou para Nicolas. — Vossa Alteza, por favor, não pode deixar minha irmã numa cela! — Ela implorava, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Nicolas, no entanto, estava endurecido pela raiva. Seu olhar estava frio e sombrio, como se estivesse a um passo de explodir. — Saia. — Ele ordenou, sem emoção. Sua voz carregava uma frieza mortal.
A dor e a humilhação que sentia eram insuportáveis. Ele poderia matar Dominique e aquele homem naquele instante. Como foi tolo de pensar que poderia se casar com alguém como Dominique? Sua mente girava, o ódio fervendo em suas veias.
Catarina saiu do salão em lágrimas, arrasada. Mesmo sem intenção de prejudicar, agora ela carregava parte da culpa. Naquele momento, não havia mais inocência em suas lágrimas. Ela sabia que suas palavras foram as chaves que abriram as portas do inferno para sua família.
— Vossa Alteza — Laerte, o pai de Amélia, aproximou-se com o rosto carregado de pesar — lamento profundamente pelo que aconteceu em sua festa, e pela minha filha...
— Não foi sua culpa, meu sogro — respondeu, tentando manter a voz estável, apesar da tempestade que rugia dentro dele.
A imagem de Amélia desacordada ainda queimava em sua mente. A dor de vê-la em tal estado o consumia, e a fúria por saber que alguém tentou tocá-la, tentou abusar dela, o corroía. Seu corpo estava tenso, cada músculo tremendo com a necessidade de agir, de punir aquele homem da forma mais brutal possível.
Laerte olhou para Pedro, que, em silêncio, se aproximou e o abraçou. O irmão de Amélia estava tomado por uma raiva contida, mas Laerte parecia mais frágil, a impotência de um pai que falhou em proteger sua filha evidente em seu semblante.
— O que faremos? — Laerte perguntou, com a voz embargada, sem conseguir esconder a preocupação.
Nicolas quase não conseguiu responder. Tudo dentro dele gritava por vingança. Pensar que aquele homem tentou tocar sua Amélia... a visão nublada, e o sangue latejava em seus ouvidos. Ele mal conseguia suportar o desejo visceral de sair dali e matá-lo com suas próprias mãos. Seus punhos estavam fechados, e suas unhas quase cravaram na própria pele.
— Ele será executado. — A declaração escapou de seus lábios, como um rugido, carregada de uma fúria incontrolável.
— Qual o motivo da execução daquele homem? — A voz da rainha cortou o ar, cheia de incompreensão.
Nicolas se virou abruptamente, seus olhos faiscando. Ele não tinha tempo nem paciência para as formalidades, nem para explicações. — Pois é a vontade do rei! — esbravejou, sua voz reverberando pelo salão, ecoando nas paredes como um trovão.
A rainha olhou para ele como se não o reconhecesse. O filho sempre gentil e equilibrado agora parecia completamente transtornado. O rosto de Nicolas estava contorcido pela raiva, os olhos escurecidos por uma fúria que ninguém ali tinha visto antes. Mesmo sua mãe, que o conhecia tão bem, parecia incerta sobre como lidar com aquele homem furioso diante dela.
— As coisas não funcionam assim, Nicolas. — A rainha tentou trazê-lo de volta à razão, mas ele mal a escutava. Seu coração estava tão inundado de ódio e desespero que não havia espaço para a lógica.
Nicolas virou-se então para Laerte. O olhar abatido do homem revelava a dor de um pai que havia tentado enterrar o passado sombrio de sua filha, mas que, de alguma forma, falhou. Ele parecia devastado, como se todo o seu esforço de anos tivesse sido em vão.
— Senhor — Nicolas começou, sua voz ainda carregada de emoção, mas mais suave agora, enquanto buscava a conexão com o homem que lhe confiou sua filha — não se preocupe. Aqui, nada acontecerá com o senhor, nem com Amélia. Eu juro pela minha vida.
As palavras de Nicolas pareciam carregar o peso de uma promessa absoluta. Laerte, com os olhos marejados, olhou para ele com gratidão e emoção.
— Não se preocupe, meu sogro, eu prometi que cuidaria de sua filha, e farei isso, custe o que custar.
O grande salão, que antes fora o palco de celebrações e risadas, agora estava tomado por uma atmosfera de desespero e angústia. A dor de cada pessoa ali parecia se refletir nas paredes silenciosas, como se o próprio castelo absorvesse o sofrimento que se desenrolava diante dele.
Nicolas respirou fundo. Ele sabia que precisava sair dali, precisava ver Amélia. Estar ao lado dela era o único alívio que poderia encontrar para a dor que o consumia. — Devo ir ver Amélia — disse a Pedro, que assentiu em silêncio, os olhos ainda brilhando de ódio.
Sem perder mais tempo, Nicolas virou-se e saiu do salão o mais rápido que pôde, seu coração pesado com a responsabilidade que agora carregava, mas determinado a manter sua promessa. A necessidade de ver Amélia, de sentir sua presença, era urgente. Ele precisava se assegurar de que ela estava bem, mesmo que seu mundo estivesse desmoronando ao redor deles.
O corredor estava repleto de guardas da família de Amélia, suas posturas rígidas. Quando Nicolas se aproximou dos aposentos de sua noiva, sua mente girava em torno de um único pensamento: ver Amélia. Ele precisava ter certeza de que ela estava bem.
No entanto, ao tentar passar, a lâmina de uma espada reluziu à luz das tochas, pressionando-se contra seu pescoço. Nicolas parou de súbito, sua respiração interrompida pela proximidade do metal frio.
— Me deixe passar — sua voz era baixa e carregada de fúria.
Do outro lado da espada, Lucas, com os olhos vermelhos de raiva e ressentimento, não recuava. Ele sentia que Nicolas era o responsável por todo o sofrimento de Amélia. Ela, que antes corria livre e alegre pelos campos de sua casa à beira-mar, agora estava presa em uma vida de angústia e incertezas. Para Lucas, o futuro rei tinha roubado o brilho daquela mulher que ele sempre amou à distância.
O silêncio entre os dois homens era palpável, tenso como a espada que separava o amante silencioso e o noivo declarado. Nicolas tentava se convencer de que Lucas não agia por razões pessoais, mas os olhos flamejantes do guarda diziam o contrário. Cada segundo que a lâmina permanecia contra sua pele parecia aumentar o abismo entre eles.
— Me deixe passar! — Nicolas repetiu, a paciência já se esvaindo, sua voz mais firme e autoritária.
Lucas não moveu um músculo. Ele sentia o pulsar acelerado do próprio coração, sua mente inundada pela imagem de Amélia desacordada, indefesa. Para ele, o futuro rei era um predador, e a única maneira de proteger Amélia era impedindo Nicolas de chegar até ela. Queria cravar a lâmina no pescoço de Nicolas, acabar com tudo ali, mas algo o conteve. Talvez o juramento que fizera como guarda, talvez a própria honra.
— Amélia! — gritou Nicolas, sua voz reverberando pelos corredores. O desespero em sua voz era quase palpável, e Lucas lutava contra a vontade de afundar a espada em sua pele.
Nesse momento, a porta dos aposentos se abriu. Felipe apareceu, o rosto molhado pelas lágrimas não derramadas, o olhar devastado. Ele não disse uma palavra, apenas lançou um olhar a Lucas. Sem resistência, Lucas abaixou a espada.Nicolas passou por ele sem outra palavra, sentindo o ódio queimando nas costas, mas nada importava agora. Ele precisava de Amélia.
Nicolas entrou no quarto com passos rápidos, mas o peso de cada um deles parecia carregar todo o tormento de sua alma. Quando seus olhos encontraram Amélia deitada na cama, ainda inconsciente, ele sentiu um aperto sufocante no peito. A visão de sua amada vulnerável e indefesa era seu pior pesadelo. O futuro rei ajoelhou-se ao lado dela, segurando a mão fria de Amélia contra seu rosto.
— Meu amor... — ele murmurou, os lábios pressionando suavemente a pele pálida de sua mão. — Acorde, por favor...
A súplica de Nicolas saiu trêmula, quebrada, enquanto a esperança de vê-la despertar o dilacerava por dentro. Ele estava acostumado a controlar seu mundo, mas naquele momento, tudo parecia escapar de suas mãos. O silêncio entre os dois homens no quarto era quase insuportável, até que Felipe, que observava a cena com olhos pesados, colocou a mão no ombro de Nicolas.
— Vossa Alteza, em breve ela acordará — Felipe disse com um tom baixo, mas firme. Ele queria trazer consolo, mas também temia pelo estado da irmã.
Nicolas, porém, não conseguia encontrar paz em palavras. Sua mente fervilhava de ódio, sua alma clamava por vingança. Ele ergueu os olhos para Felipe, a determinação fria dominando suas feições.
— Matem ele — ordenou Nicolas, sua voz baixa, mas repleta de fúria reprimida. — Eu... eu não posso, sem um julgamento. Vocês podem.
Havia um amargo desespero em suas palavras, uma luta interna entre o dever de um futuro rei e a vingança de um homem apaixonado. Nicolas sabia das restrições que sua posição lhe impunha, mas naquele momento, ele não se importava com as consequências. Ele queria justiça. Não, ele queria sangue.
Felipe suspirou profundamente, seus ombros tensos. Ele entendia a angústia de Nicolas, mas também compreendia o perigo que rondava.
— Vossa Alteza, ele é um homem poderoso. Sem dúvida, não veio sozinho.
— Aqui, ninguém é mais poderoso que eu — respondeu Nicolas, com um olhar gelado que cortava o ar. Seus olhos queimavam com a promessa de retaliação, como se já estivesse decidido que nenhum obstáculo o impediria. Ele era o rei desse reino, e ninguém ousaria ditar o que ele poderia ou não fazer.
Felipe olhou para Nicolas com uma mistura de respeito e cautela. Ele sabia que Nicolas estava no limite, a raiva o corroendo por dentro, mas também sabia que não podiam agir por impulso.
— Vamos analisar essa possibilidade — Felipe respondeu finalmente, sentando-se numa cadeira próximo à cama de Amélia, sua voz carregada de prudência.
— Eles estão presos, na torre mais alta — avisou Nicolas, com uma frieza que parecia vir de um lugar profundo e sombrio. Ele desejava que alguém acabasse com a vida daquele homem. Se não o fizessem, ele sabia que em breve seria ele mesmo.
O silêncio retornou ao quarto, espesso como o ar antes de uma tempestade. Nicolas segurava firmemente a mão de Amélia, como se aquela conexão física fosse a única coisa que ainda o mantinha ancorado à realidade. Seus pensamentos oscilavam entre o amor que sentia por ela e o ódio que o consumia por não ter conseguido protegê-la.
Ele não soltaria sua mão. Não até que ela acordasse e estivesse segura novamente.
Quando Amélia finalmente recobrou a consciência, um grito sufocado escapou de seus lábios, ecoando pelo quarto. O desespero era visível em cada respiração acelerada, seu corpo tremendo como se estivesse sendo sacudido por um pesadelo do qual não conseguia escapar.
— Estou aqui, meu amor — disse Nicolas, tomando-a em seus braços com ternura, enquanto suas mãos percorriam suavemente os cabelos desalinhados de Amélia, numa tentativa de acalmá-la.
Ela demorou alguns segundos para sentir-se verdadeiramente segura, mas o desespero não cedia de imediato. Lágrimas correram por seu rosto, tão abundantes que parecia que os rios de todo o reino poderiam ser preenchidos por sua dor. O dia que tanto havia planejado, aquele que sonhara ser o mais feliz de sua vida, havia se transformado num cenário de caos e sofrimento. Ela olhou para Nicolas, que estava ao seu lado, tentando oferecer a paz que ele mesmo mal conseguia encontrar.
— Onde ele está? — a voz de Amélia soou frágil, mas havia uma força subjacente à pergunta, uma exigência pela justiça que sentia ser sua por direito.
— Preso, e de lá ele só sai morto — respondeu Nicolas, com uma frieza que apenas ocultava a raiva fervendo dentro dele.
— Estamos cuidando de tudo, minha irmã — acrescentou Felipe, observando sua irmã com olhos cautelosos, esperando que ela encontrasse algum alívio naquelas palavras.
Amélia respirou fundo, mas a sensação de que tudo aquilo era um pesadelo persistia. Era como se estivesse em uma realidade distorcida, onde seus sonhos se desfazem em agonia.
— Isso é um pesadelo... — murmurou, enquanto se apertava contra Nicolas, buscando conforto em sua proximidade. — Me desculpe por isso... por tudo isso.
Nicolas segurou seu rosto com delicadeza, a tristeza nos olhos de Amélia partindo seu coração.
— Não se desculpe por algo que não fez — disse ele, acariciando lhe o rosto. — Eu estou aqui. E vou permanecer aqui, sempre.
— Pode ficar? — Amélia perguntou, seus olhos inchados pelas lágrimas, mas agora cheios de um medo mais profundo: o de perder Nicolas.
— Se seus irmãos não se importarem... — Nicolas respondeu, com um sorriso suave e esperançoso. — Será um prazer lhe fazer companhia.
Ela virou-se para Felipe, que estava de pé, observando a irmã com uma mistura de proteção e tristeza. Ele sabia que não poderia negar qualquer coisa a ela naquele momento, mesmo que quisesse.
— Os guardas ficaram lá fora. A ordem é simples: matar primeiro, perguntar depois — Felipe avisou, saindo do quarto em silêncio.
O silêncio se instalou entre Amélia e Nicolas. Havia tanto a ser dito, tantas palavras sufocadas pelos eventos terríveis daquela noite. Mas, por um momento, ambos ficaram ali, apenas olhando. Amélia deitou a cabeça no ombro de Nicolas, e ele não hesitou em envolver seus braços em torno dela, protegendo-a como se o simples gesto pudesse afastar todas as sombras que os cercavam.
— Eu lamento por isso, meu amor — sussurrou Nicolas, deslizando os dedos pelos cabelos de Amélia novamente, sua voz carregada de remorso. — Não foi isso que eu planejei para nós.
— O que importa é que estamos juntos — respondeu Amélia, olhando para ele com olhos que, mesmo banhados em tristeza, irradiavam amor e confiança.
Nicolas se forçou a sorrir. Ele estava frustrado e profundamente chateado, mas sabia que precisava ser forte por ela. Nada o destruiria mais do que vê-la sofrer.
— Queria te dar algo — disse ele, em um tom que parecia aliviar o peso de ambos por um instante.
— O quê? — Amélia se sentou na cama, um pequeno brilho de curiosidade surgindo em meio à tempestade de sentimentos.
Com um sorriso discreto, Nicolas tirou uma pequena caixa do bolso. Ele a abriu com cuidado e revelou um anel. — É tão lindo, Nicolas...
— Gostou? — perguntou, feliz ao vê-la sorrir novamente, mesmo que por um breve momento. — Tem algo dentro.
Amélia tirou o anel do dedo e o olhou mais de perto. Dentro, havia uma inscrição gravada: "Te amarei enquanto respirar. L."
Ela reconheceu imediatamente o anel. Era o anel que seu pai havia dado à sua mãe.
— Eu irei te amar enquanto eu respirar, Amélia — jurou Nicolas, seus olhos brilhando com a sinceridade de sua promessa.
— Eu também, Nicolas — respondeu Amélia, segurando sua mão com firmeza, sentindo o calor e a certeza de suas palavras.
E ali, naquele quarto que antes transbordava dor e incerteza, os dois selaram sua promessa de amor eterno foi cumprida, eles se amaram até o último suspiro.
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