vinte e quatro.
Não sei como devo agir diante de James Rowan usando uma roupa de domingo e sentado no sofá azul de almofadas irregulares de Jolene Dixie. Eu tenho uma imagem de James de terno e cabelos penteados com gel. Vê-lo com os cabelos castanhos secos e em uma roupa casual dentro de um ambiente ocupado pelos Wilder é tão estranho quanto estar em um sonho.
― Ainda não havia reencontrado você, James. ― A senhora Dixie se aproxima com uma xícara de chá inteira. ― Os anos foram generosos com você, garoto.
― Foram generosamente iguais para você também, Jo. ― Ele bebe um pouco do chá e então olha para mim. ― Julgo que seu pai não esteja em casa, Liv. Ou ele já estaria aqui com uma arma na minha cabeça.
― Vocês têm um jeito peculiar de resolver as coisas.
É Cherie quem fala por mim. Minha voz está retida em algum lugar nas profundezas do meu corpo. Desvio o olhar para mamãe, voltando da cozinha após recolher toda a sujeira da bandeja que ela deixou cair. Ela penteia a franja e esfrega as mãos na camiseta com a logo da nossa loja. Lanço a ela um olhar de dúvida e só recebo ansiedade de volta.
― Bem, você tem razão. ― James pousa a xícara no pires e sorri para Cherie de um jeito quase terno. ― É por isso que estou aqui. Para que comecemos a resolver algumas questões de uma maneira mais sensata. Certo, Maggie?
Meus olhos correm de James Rowan para o rosto pálido da minha mãe. Ela está fitando o chão ainda molhado e seus dedos tamborilam em seus lábios. O mesmo gesto que costumo fazer quando estou pensativa.
― Liv, eu sinto muito pelo seu rosto. ― Ele se levanta, entregando a xícara para a senhora Dixie e agradecendo silenciosamente. ― Isso não deveria ter acontecido. Em nome de Seth e da minha família peço desculpas.
Cruzo os braços na defensiva e apenas assinto. Meus olhos não desviam dos de James, como eu fazia quando era criança. Ainda sinto medo do modo como seu rosto tem os ossos bem definidos e de como ele me lembra uma caveira com os olhos fundos e anis. Mas não estou correndo dele dessa vez.
― Seth não tem culpa de nada. ― Digo.
― Não. Ninguém tem culpa. A não ser nós. ― Ele olha para mamãe rapidamente. ― É por isso que estou aqui, hoje.
― James, não...
O estalo na porta é suficiente para me impedir de questionar o porquê mamãe está tão ansiosa. As botas pesadas do meu pai esmagam o carpete de entrada e ele se surpreende de verdade com a figura de James Rowan.
― O que você está fazendo aqui?
― Por favor, não aponte a arma. ― James ergue as mãos em rendição, suspirando de forma exausta. ― Estou aqui porque chegou o momento, Jonathan.
Há uma grande tensão no silêncio que corre enquanto eles se encaram. Eu agradeço que a senhora Dixie esteja ali, porque eles a respeitam. Ela se interpõe entre James e Jonathan e abre os braços.
― Vocês dois não vão se matar no meu tapete. Se querem fazer isso, façam em praça pública.
― Não se preocupe, Jolene. ― Papai ainda está encarando James Rowan de um jeito tão impetuoso que seu pescoço fica vermelho. ― Tenho certeza de que o senhor Rowan já terminou o que veio fazer aqui.
― Não, Jonathan. Eu não terminei. Maggie ― ele busca o rosto da mamãe ― temos que contar a eles. Agora. Antes que seja tarde. Você sabe disso melhor do que eu, Jonathan.
Meu pai finalmente se vira para nós. Seus olhos estão marejados. Eu não consigo dizer se a raiva está saindo-lhe pelos olhos, mas seus punhos cerrados me dão uma pista de que sim. Ao meu lado, Cherie afaga o ombro da mamãe. Ela parece feita de cera de tão pálida.
― O seu garoto dormiu com ela, não foi?
― Pai! ― Protesto. ― Que tipo de exposição virginal você está criando aqui? Eu já disse que não!
― Seth garantiu que não, Jonathan.
Papai olha para o meu rosto novamente. Quero que ele veja o estrago que fez comigo. Mas tenho certeza de que a única coisa que está pensando é que acredita em Seth. Porque ele é homem. E mesmo sendo um inimigo, a palavra dele vale mais que a minha. A sensação que tenho é que meu coração está se quebrando.
― Isso não pode acontecer, Liv. ― Mamãe finalmente diz. ― Você e os garotos Rowan, certo?
Quando ela vem até mim e segura a minha mão, sou estremecida pelos tremores dela. Seu rosto começa a mudar de pálido para o vermelho, o mesmo tom do branco de seus olhos.
― Vamos, sua vadia, diga logo a ela.
― Não chame mamãe assim!
Eu explodo. Não consigo acreditar que aquele homem na minha frente é o meu pai. Impulsiono meu corpo contra ele, soltando-me da mão de mamãe, mas James Rowan segura os meus braços e me bloqueia. Seu toque gelado faz com que eu me afaste.
― Como eu poderia chamar a mulher que dormiu com meu melhor amigo logo depois de nos casarmos?
― Não fale como se você não tivesse feito isso primeiro! ― James Rowan lança o dedo de forma acusadora na direção do meu pai. ― Você não é o grande traído aqui! Você seduziu Pet!
― Ah! ― Meu pai grita. ― E você se vingou me pagando na mesma moeda! Deitando-se com a minha mulher!
― Como você se deitou com a minha!
Meus batimentos cardíacos ecoam em ondas sonoras como um radar, atraindo todos os monstros escondidos na minha mente para mim. Ergo as mãos e elas tremem tanto que não consigo segurar o meu rosto. Eu sei que a senhora Jolene está tentando conter o meu pai e James Rowan, consigo ouvir mamãe chorando enquanto Cherie tenta acalmá-la. Mas estou sendo engolida por um silêncio pungente.
― Liv. ― Cherie entra no meu campo de visão. ― Liv, olhe para mim.
― O que eles estão dizendo? ― Sorrio sem querer. ― Que trocaram de esposa?
― Liv. ― A voz de James Rowan rasga a camada sonora abafada no meu cérebro. Estou de volta à uma cena terrível. ― Há uma grande possibilidade de que Seth seja filho de Jonathan. Assim como há a possibilidade de que você seja minha filha. Nós não fazemos ideia.
― Ela não é sua, James! ― Mamãe chora mais alto. ― Olhe para ela, Jonathan. É sua filha Liv! Liv Wilder!
― Tudo o que vejo é que ela é sua filha, Maggie. Quase dormindo com o possível irmão. Se ela for mesmo filha de James... Isso explicaria a essência medíocre dela.
― Você é medíocre! ― Grito. ― Vocês todos são medíocres! Você é um monstro, pai! Olha o que fez com o meu rosto! Bateu em mim porque achou que eu estava cometendo incesto! Quando na verdade, o senhor é quem merecia um grande tapa por bagunçar a minha vida e a da minha mãe assim!
― Cale a boca, Liv. ― Papai range os dentes. ― Ainda está carregando o meu nome.
― Não seja por isso. Eu o recuso! Eu recuso o sobrenome Wilder!
― Liv, não!
É tarde demais. Há uma grande confusão diante dos meus olhos. Papai segura o meu braço, me puxando para longe de Cherie. Ela se encolhe de medo ao lado da senhora Dixie. Mamãe tenta nos alcançar, mas sou atirada para fora antes que ela possa impedir. Caio sentada no mármore do hall de entrada e ergo os olhos para Jonathan Wilder. Naquele momento, ele só se parece com o xerife contendo um delinquente qualquer.
― Jonathan, o seu ódio não tem que ser revertido contra Liv ou os garotos. ― James Rowan o confronta. ― Estou aqui para que possamos agir como adultos civilizados...
― O que você entende sobre vida adulta, James? Você é um pedófilo!
James Rowan defere um soco no queixo do meu pai. É tão forte e repentino que ele cai contra a porta. Mas se recupera a ponto de devolver o golpe. Me arrasto para longe, ficando de pé com dificuldade. Abafo os gritos com as mãos e atravesso o jardim da senhora Dixie.
Vou vomitar.
Não há nada no meu estômago, a não ser tristeza. Acho que vou vomitar isso quando paro na calçada.
Os vizinhos que estavam assistindo ao show correm na minha direção, mas não param. Eles estão agindo para separar James Rowan e Jonathan Wilder. Cherie vem correndo até mim, mas não consigo olhar para ela.
― Cherie. ― Forço a minha voz. ― Não pode deixar a mamãe com o papai. Me ajude a tirá-la daqui.
― Eu vou levá-la para a casa de Georgia. Venha conosco.
Não consigo voltar na direção da confusão. Balanço a cabeça negativamente ao mesmo tempo em que James Rowan se separa da aglomeração e, cobrindo o olho direito com a mão espalmada, oferece a outra na minha direção.
― Não vou machucar você, Liv. Venha comigo.
Encaro Cherie antes de tomar uma decisão. Ela dá alguns saltos de impaciência, analisando a casa da senhora Dixie. Meu pai está esmurrando a porta enquanto alguns vizinhos tentam contê-lo. Ele é pura fúria.
― Vou entrar pelos fundos. ― Ela diz. ― Por uma janela. E tirá-las daqui. Vá com ele, Liv. Anda. Vai estar segura com os Rowan agora.
Mordo o lábio com tanta força que o óxido do meu sangue preenche a minha saliva. Minha mão escorrega para a mão de James Rowan, o homem que eu cresci achando que era um monstro. Ele me puxa para a calçada e ainda tenho tempo de olhar por cima do ombro para o meu pai. Dói como se estivessem me esfaqueando.
É a consciência de que talvez o monstro tenha vivido comigo durante todo esse tempo. E não longe de mim como eu imaginava.
― Ok, é bem óbvio que você bate uma pra essa. ― A voz de Carson soa vinda da cozinha. ― Agora diga um nome novo.
― Eu não disse nenhum nome! ― Seth protesta. ― Pode parar de falar de masturbação enquanto eu faço omeletes? Com qual tipo de psicopata estou lidando aqui? Eu não estou com cabeça para esse assunto. Podemos falar da Champions?
A gargalhada de Carson ecoa pela mansão Rowan. Eu acabei de colocar os meus pés nela e não consigo me mover. Longe das luzes de neon da festa ela parece tão clara quanto um dia ensolarado graças à iluminação exagerada. Suas paredes são de granizo cor de gelo e toda a decoração oscila entre o cobalto e o ébano.
Eles ainda não sabem o que eu sei.
James Rowan esperava que meus pais fossem sensatos o suficiente para virem até aqui dizer a Seth e Carson Rowan que eles bagunçaram nossas vidas ao trocarem de esposas. Levo a mão à altura do rosto e pressiono minha testa. A dor pulsa contra meu crânio enquanto me pergunto se houve algum outro momento em que me senti tão sozinha quanto aquele.
― Liv? ― James vem até mim depois que a porta de entrada se fecha. ― Você pode subir e se acomodar em um dos quartos de hóspede. Ainda se lembra de como é a casa? Não tivemos muitas mudanças desde aquela época. A não ser pela decoração.
Não posso acreditar que James esteja tratando tudo aquilo com naturalidade. Acho que ele entende o quão indignada estou só pelo jeito com que ergo meus olhos para ele e desiste de insistir para que eu vá descansar.
― Seth? ― Ele grita, apertando os lábios em acordo sobre eu estar presente. ― Carson?
― Jantar, pai! ― Carson grita de volta. ― Vai querer comer ou o xerife jantou você no soco?
― Mais ou menos, Carson! Mais ou menos.
Posso ouvir as risadas de Carson Rowan por cima de um sonoro rock twist dos anos sessenta.
Notas de acidez me puxam para a cozinha. O cheiro de ovos frescos na manteiga e queijo derretido me fazem salivar. Talvez seja pelo fato de que estou faminta, mas consigo sentir com o olfato e a audição o momento em que uma pancetta quica contra uma panela. O ar fresco da mansão está condensado em manjericão e tomates secos.
As sensações libertadas pela fome se dissipam assim que entro na cozinha. Nenhum deles nota a minha presença por um tempo, o que me permite gravar aquela cena. Meus olhos correm das costas de Seth, virado para o fogão e atirando omeletes de duas frigideiras enquanto ensaia alguns passos com a música; para Carson bebendo vinho e batucando a ilha de mármore com os indicadores.
Ele é o primeiro a me ver e seu sorriso derrete para uma expressão de espanto. Ele coloca a taça sobre o mármore e um pouco de vinho lhe escapa quando ele divide a atenção entre mim e James.
― Que merda é essa?
Seth olha por cima do ombro, mas demora a tomar consciência do que seus olhos capturam. Isso o faz girar cento e oitenta graus e cruzar os braços com as frigideiras para que seus omeletes não caiam no chão.
― Tire essa música, Carson. ― James aponta para o celular. ― Sente-se, Liv.
Considero a opção de me sentar na ilha com Carson ou isolada em uma pequena mesa no canto da cozinha. Então, apenas cruzo os braços e balanço a cabeça negativamente. Vou ficar de pé.
― O que aconteceu?
Seth coloca as frigideiras de volta no fogão e desliga as chamas, esfregando as mãos no pano de algodão que estava pendurado em seu ombro. Não gosto de como estou memorizando cada movimento dele. Acho que é uma defesa da minha mente para afastar a lembrança de que nos beijamos sob à grande possibilidade de sermos irmãos.
― Ah, garotos... ― James segura a garrafa de vinho, servindo uma taça para si. Ele a meneia na minha direção, mas novamente me limito a balançar o rosto de um lado para o outro. ― Eu não achei que um dia chegaríamos a ter essa conversa. Muito menos nessas circunstâncias.
― Você engravidou ela? ― Carson grita para Seth, apontando o braço na minha direção. ― Não fui eu, pai! Você sabe como funciona a política de relacionamentos nessa casa. Um não toca na escolhida do outro. Não cheguei perto dela!
― Cala a boca, Carson! ― O pano voa da mão de Seth para o rosto de Carson.
― Prestem atenção em mim, agora. É um assunto delicado. Algo que transformará nossas vidas, certo? Mas que, por agora, não temos que nos preocupar. Nem levar ao extremo...
― Você só pode estar brincando. ― Sai sem que eu consiga segurar. O lado ferido do meu rosto arde quando minha pele se contorce e meus olhos atingem James Rowan. ― Não temos que nos preocupar? Tudo isso não parece extremo? Quando vocês agiram como imbecis pareceu o que? Uma troca justa?
― Do que ela está falando? ― Carson se levanta. ― O que você trocou?
― Liv. ― James abre a mão na minha direção, me pedindo calma. Seus olhos se voltam para os irmãos Rowan e eu encaro meus tênis. ― Carson... E principalmente Seth. No passado... Jonathan e eu tivemos um tipo específico de atrito inconsequente.
― Vocês mataram alguém?
― Carson, ouça-me. Sem interrupções. ― Ele suspira. ― A mãe de vocês... Ela teve um envolvimento com Jonathan.
― O que?
― O meu pai dormiu com a sua mãe. ― Jogo tudo diretamente para Seth. Seus olhos perdem o brilho típico de avelã. ― E o seu pai, para se vingar, dormiu com a minha mãe! E nenhum deles sabe de quem somos, realmente, filhos!
Carson começa a rir. De todas as coisas que eu esperava que os Rowan fizessem, gargalhar era a última delas. Encaro seu rosto, contorcido de cólera. Ele se apoia na ilha e revira os olhos idênticos aos de James.
― Sério, pai...
― É sério, Carson. ― Volto o meu rosto para James e sigo seu olhar até Seth. ― Sinto muito, Seth. Sobre isso. Você é meu filho. Independente do que o destino decida. Não precisamos mudar nada. Fazer nenhum exame idiota. Você é um Rowan, Seth. E talvez só tenham ganhado uma nova irmã agora.
Minhas pálpebras batem de forma violenta, expulsando algumas lágrimas e exigindo que meus olhos caiam do rosto de Seth. Mas a minha mente ainda está com a expressão dele grudada por toda a parte. Acho que é o mesmo tipo de dor que estou sentindo desde que soube daquela tragédia.
Senhoras e senhores! Voltamos! Espero que vocês segurem essa bomba! Ninguém percebeu que a música DNA era uma dica hahahaha Ah! Agora que estou de férias tentarei postar mais vezes. Há uma coisa sobre o Seth que vcs precisam saber: ele é torcedor do Liverpool! E como o time foi campeão mundial hoje - sinto muito torcida do flamengo - estou pensando em fazer um especial sobre Seth no Reino Unido e histórias envolvendo ele e sua paixão pelo time. Dou notícias sobre isso!
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