Capítulo 22
Delilah Decker
Puxo o cobertor para mais perto do rosto e encaro a janela, a chuva lá fora está mais fraca do que a de ontem a noite. Abraço o travesseiro e deito minha cabeça.
Alguém bate na porta e nem me importo de fazer nada, ouço um suspiro e então a porta abre, espero ele dar a volta na cama para ver meu irmão vestido para o jogo.
-Você não vem?- pergunta.
-Não.- balanço a cabeça.
-O que você tem?- ele senta na cama.- Chegou da aula e nem almoçou.
-Eu acho que tô ficando doente.- explico.
Já tinha ligado para Alisson, ela entendeu muito bem quando disse que estava mal e deu o dia de folga para mim. Então eu ia aproveitar.
-Quer que eu fique?- ele acaricia meu braço.
-Não, pode ir.- sorrio.- Vou estudar um pouco para a prova de amanhã e como alguma coisa.
-Ok.- ele se curva e beija minha cabeça.
-Querida?- meu pai chega.
-Ela vai ficar.- Peter explica.- Está se sentindo mal.
-Quer que o papai fique?- ele pergunta preocupado.
-Não, tudo bem.- sorrio para ele.- Bom jogo.
-Me ligue se acontecer algo.- ele acaricia meus cabelos e leva Peter.
-Ok.
Volto a deitar a cabeça no travesseiro e olho para meu celular, viro na cama com um ruído irritado e vejo a minha estante cheia de livros. Livros que me lembram Will.
Sento na cama e aperto meus braços com força tentando esquecer a conversa de ontem, a conversa na qual eu não respondi se gostava dele.
Mas estava claro, aquilo tudo tinha dado certo quando ainda estávamos no casual, assim que Will percebeu que gostava de mim...tudo virou de cabeça para baixo.
Passo a mão pelos cabelos e me levanto, alcanço os livros para estudar e tento me concentrar na prova que vou ter amanhã, sim, vou me concentrar na prova que tem amanhã.
☀️
Will Matthews
Tiro o boné e apoio os braços na divisão do banco de reservas para o campo, vejo o treinador falando com o treinador do outro time e com os juízes.
-Que merda de chuva.- um deles fala com raiva.
-Ainda dá pra jogar.- Peter olha pro céu.
-Não com aquela nuvem vindo.- aponto para a nuvem carregada.
-Que merda de chuva.- Peter murmura.
-Não vai ter jogo.- explico andando até o banco e me jogando.
-O que você tem?- Peter cruza os braços e me observa.- Não vai dizer que é a mesma coisa da minha irmã? Ela estava passando mal mais cedo...
-Ela está passando mal?- ergo os olhos e o encaro.
-É, ontem chegou toda molhada e passou a noite toda no quarto, hoje de manhã foi pra aula mas não conseguiu ir trabalhar.
Eu notei, não tinha visto Delilah no escritório quando fui trabalhar, queria entregar um livro para ela como pedido de desculpas, mas não encontrei ela.
Achei que estivesse me evitando, mas agora com Peter falando parecia que ela estava doente. Doente porque andou na chuva depois de brigarmos.
Ela podia estar precisando de ajuda, de remédios, de alguém pra ficar com ela. E todos com quem ela podia contar estavam aqui.
-Pessoal, não vai ter jogo.- o treinador chega.
-Eu tenho que ir.- me levanto e coloco o boné.
-Todos vão voltar no ônibus.- ele fala sério.
-É, mas eu preciso ir. É urgente.- pego minha bolsa de treino.
-Você é responsabilidade minha, Will, não vai sair sem ser no...
-Tchau!
Passo pela porta e entro nos corredores, preciso arranjar um táxi e ir o mais rápido possível até a casa de Delilah. Ela pode estar passando mal ou algo assim.
Saio do estádio e vejo um táxi, entro rapidamente e digo o endereço, tiro uma nota de cem do bolso e peço para ele ir o mais rápido possível.
☀️
Delilah Decker
Termino de fazer uma anotação e meu estômago ronca, então fecho os livros e saio da cama para ver se tem alguma coisa na geladeira.
Já está anoitecendo, então o jogo já deve estar começando. Vou ver se está passando no canal da TV universitária para dar um tempo nos estudos.
Termino de descer as escadas e vou até a cozinha, abro a geladeira e vejo que tem um pouco de leite. Pego a caixa e uma tigela junto com o cereal.
Quando termino, sento na bancada e como olhando para o nada. Parece que um caminhão me atropelou e passou de novo por cima de mim só para terminar o trabalho.
Nunca mais vou ficar andando na chuva, já sinto minha garganta doendo e é provável que eu vá vomitar esse cereal já que eu vômito muito quando fico gripada.
A campainha toca e reviro os olhos indo até a porta, ajeito a regata que estou vestindo e no meio do caminho percebo que é de Will, paro por um segundo e me pergunto como a regata dele chegou aqui.
Ignoro isso e abro a porta, ergo os olhos para ver Will com um olhar preocupado, ele passa os olhos pelo meu corpo e então para no meu rosto.
-O que você está fazendo aqui?- pergunto.
-Eu não sei.- ele engole em seco.- Fiquei preocupado, seu irmão falou que estava doente...
-Você tem jogo.- aponto para o uniforme.
-Foi cancelado por causa da chuva.- ele me observa.- Posso entrar?
Abro espaço para ele passar e fecho a porta depois de ele passar, o observo enquanto ele coloca a bolsa de treino e o casaco na poltrona.
-Você está bem?- pergunta.
-Estou.- cruzo os braços.- Com dor de garganta, por causa de ontem, mas bem.
-Que bom, isso é bom.- ele tenta sorrir.- Achei que estava mal.
-Até agora, nada grave.- explico mantendo distância.- Mas eu tenho que estudar, tenho prova amanhã.
-Eu sei, você me falou.- ele apoia as mãos nos quadris.- Sobre ontem...
-Não quero falar sobre ontem.- falo rapidamente.
-Isso não é muito maduro...
-Eu tenho direito de não querer falar sobre ontem, Will.- balanço a cabeça.
-Sobre qual parte? Achar uma merda eu gostar de você? Ser idiota o bastante para sair na chuva? Ou me ignorar completamente quando perguntei se sentia o mesmo?- ele mantém uma calma na voz que me deixa irritada.
-Eu não sou idiota, Will.- falo baixo.- Eu e você combinamos que isso seria apenas casual, você sabia que o que eu precisava naquela hora era sexo.
-Ah, desculpa se eu entendi mal. Preciso voltar para a parte que eu gostava de ser o seu brinquedinho sexual.- ele fala rindo.
-Não venha com essa!- grito com raiva.- Você gostou de tudo que eu fiz, assim como eu gostei...
-Você gosta de mim, Delilah?- ele faz a mesma pergunta e fico calada.
Nos encaramos e Will levanta as sobrancelhas esperando minha resposta, mas parece que minha voz não consegue sair por puro medo da resposta.
-Então acho que acabou.- ele abre a bolsa de treino.- Procure outra pessoa para transar.- ele tira uma sacola da livraria.- Espero que tenha sorte em achar um que não goste de você.
Ele passa por mim e empurra o livro contra meu peito, eu seguro antes de cair e a porta bate com força dizendo que ele foi embora, abaixo a cabeça e encaro a sacola.
Algo cai nela e percebo que são lágrimas, limpo a minha bochecha com raiva e viro para subir as escadas. Subo degrau por degrau como se meu corpo estivesse ficando cada vez mais pesado.
Coloco uma mecha atrás da orelha e entro no meu quarto deixando o livro na cama para ir até a janela e ver o táxi indo embora, me sinto horrível vendo isso.
Passo a mão pelo rosto e limpo as lágrimas, tento não pensar no que ele falou. Por que me sinto tão horrível? Por que não consigo parar de chorar como uma idiota?
Sento na cama e meu corpo treme de tanto chorar, eu estraguei tudo só por que estava com medo de tudo dar errado. Eu estraguei tudo com Will.
David estava certo, ninguém nunca me entenderia como ele entendia. Talvez eu só funcionasse para ficar sozinha e não para namorar ou ficar com alguém.
Agora não consigo dormir, amanhã eu tenho prova e estou me sentindo tão horrível que a única coisa que sei que posso fazer agora é estudar. Pelo menos posso fazer isso.
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