10 | de volta ao lar
CAPÍTULO DEZ
DE VOLTA AO LAR
O silêncio no trem enquanto maioria dos passageiros dormiam era reconfortante para os pensamentos de Jungkook. Ele tinha uma grande dificuldade de pensar quando estava num lugar muito barulhento. Faltavam cerca de trinta minutos para chegarem em Busan e, diferente de Haeri que dormia tranquilamente ao seu lado, ele não conseguia pregar os olhos.
Aproveitou para desenhar durante a maior parte da viagem; rabiscou algumas pessoas aleatórias, a janela com a paisagem que começava a ficar esbranquiçada com a pouca neve que caía lá fora e agora trabalhava num retrato de Haeri dormindo com a boca levemente aberta. Ela estava com o casaco grosso preto cobrindo as mãos, um cachecol vermelho esquentando seu pescoço e um fone de ouvido tocando uma música qualquer.
Jungkook sorriu, traçando no papel as linhas e detalhes que acabavam se transformando em Haeri. Quando terminou, aproveitou para tirar uma foto do seu rosto de perto, deixando o ângulo engraçado. O barulho da câmera fez Haeri despertar, um pouco confusa com um Jungkook risonho ao seu lado olhando para a tela do celular. Ela franziu o cenho e se inclinou para ver o que era tão cômico e não conseguiu controlar um sorriso ao ver seu rosto na tela.
— Se você mostrar isso pra alguém, eu te mato.
Haeri avistou o caderno de desenho sobre a mesa e o pegou, vendo seu retrato com um sorrisinho no rosto. Achava que Jungkook era o homem mais talentoso de todo o mundo, conseguia fazer de tudo e sempre fazia bem feito. Ele nunca tinha desenhado ela antes — pelo menos ela achava que não —, mas gostava da ideia dele ter esboçado ela ali.
Uma chuva caía do céu de Busan quando eles chegaram na estação. Tiveram que pegar uma pequena fila para comprar um guarda-chuva numa lojinha que tinha ali dentro e por sorte conseguiram levar o último. Haeri se agarrou ao corpo de Jungkook enquanto ele segurava o guarda-chuva sobre eles e correram até o ponto de táxi da estação, agradecendo por não terem de esperar muito para encontrar um motorista.
O bairro em que cresceram não havia mudado muito desde que se mudaram para a capital. Alguns novos prédios estavam espalhados entres as residências, mas algumas coisas, como a loja de doces que iam depois da escola, continuava ali. Haeri observava tudo da janela do carro com um sorriso no rosto. Ela amava Busan e amava aquele bairro cheio de memórias tão gostosas de sua infância. Passaram por um parquinho na esquina da rua onde moravam e sorriu mais ainda ao se lembrar que ela e Jungkook sempre brincavam ali com outras crianças do bairro.
A primeira parada foi na casa de Jungkook, que insistiu para Haeri ficar com o guarda-chuva, mas se deu por vencido por causa da teimosia da mulher. Murmurou um 'te vejo mais tarde' antes de pagar o motorista e sair correndo para dentro da casa. A residência dos pais de Haeri ficava no final da rua, uma pequena casa de dois andares em que passou maior parte da vida. Quando abriu a porta da casa foi recebida por um abraço caloroso do pai, seguido do seu irmão e de sua madrasta, Eunseo.
— Você tá toda molhada, Hae, vou pegar um toalha — a mulher disse antes de sair do seu campo de visão.
— Senti tanta sua falta, filhota — Seojun passou a mão carinhosamente pelo cabelo da filha, que apenas o abraçou novamente como resposta.
Seojun sempre foi um pai presente na vida dela e de seu irmão, sempre fazendo de tudo para suprir a falta que a mãe fizera desde que morreu durante o nascimento de Haeri. Ela não tinha o que reclamar, era um pai carinhoso, prestativo e que sempre apoiou os dois diante de todas as escolhas que faziam.
— Também tava com saudades de você, maninha — Junghyuk se enfiou no meio do abraço e apertou a irmã. Junghyuk não era de mostrar muito carinho, mas desde que começaram a se ver menos, essas demonstrações de afeto se tornaram mais frequentes com mensagens e visitas inesperadas.
Os três começaram a conversar, contando novidades sobre o que havia acontecido na ausência de Haeri e logo Eunseo se juntou a conversa. As duas tinham uma relação amigável, apesar de não conhecer tanto a mulher do pai por ser um casamento recente e não conviver com ela, mas Eunseo era uma boa pessoa e o mais importante era que fazia seu pai feliz e, para Haeri, isso era o suficiente para fazê-la gostar da mulher.
Ela e o pai decidiram fazer o almoço, coisa que eles adoravam fazer juntos já que a comida de Haeri não é lá essas coisas e o tempero dele sempre parecia salvar o dia. Ela sentiu o coração quentinho enquanto cozinhava e contava sobre a vida para o pai, mas quase engasgou com a própria saliva quando ele tocou no nome de Jungkook e perguntou o que eles faziam morando juntos. A gente não mora na mesma casa, pai, foi o que ela respondeu, o que não é mentira, mas sentiu um estranho incômodo no pé da orelha.
Decidiu que era melhor não chamar Jungkook para almoçar ali, só para evitar mais algum comentário sem noção do pai, mas ela mandou uma mensagem contanto o ocorrido para o amigo, que respondeu não muito depois.
guk
imagina se ele descobre oq aconteceu na casa do hoseok
:O
eu
vc seria um homem morto
guk
to com medo de encarar ele
e ele ler minha mente
e ver vc pelada
eu
pq vc vai ficar pensando em mim pelada quando tiver vendo ele?
q nojo
vc é estranho
guk
a culpa n é minha de pensar nisso
a culpa é sua
eu
tá flertando cmg jungkook?
guk
não.
depende
se vc quiser sim
eu
vou pensar no seu caso
a gente vai sair hj de noite?
meu irmão quer me levar pra conhecer a namorada dele
n quero ir sozinha
guk
tá me chamando pra um encontro de casal?
eu
sim
um casal de amigos
guk
nao acredito que ri disso
passo aí as sete
eu
vc ri de tudo q eu falo
okay :D
Às sete horas, Jungkook estava tocando a campainha da casa de Haeri. Foi atendido por Seojun, que primeiro o encarou de cima a baixo, mas depois abriu um sorriso e puxou Jungkook para um abraço. O garoto estranhou, mas retribuiu o gesto depois de ver algumas garrafas de soju espalhadas pela sala e entender que ele estava um pouco bêbado.
— Como você está bonito, Jeon Jungkook — deu uns tapinhas nas costas dele. — Seul te fez muito bem, nem parece aquele menininho catarrento que minha filha brincava.
— Obrigada, senhor — Jungkook se curvou agradecendo o elogio estranho. — Haeri está pronta?
— Ela tá lá em cima, mas você não vai lá — Seojun passou os braços pelo ombro de Jungkook, aproximando o rosto do menino como se fosse falar algo super secreto em seu ouvido. — Acho que Haeri está namorando — Jungkook arregalou os olhos, sendo pego de surpresa. — Veja bem, minha mulher foi ajudá-la no quarto e viu algumas marquinhas, se é que você me entende, no corpo dela.
Jungkook sentiu o coração pular de nervoso ao ouvir as palavras do pai da amiga e por um momento achou que tudo teria sido descoberto e que levaria a maior bronca de sua vida, mas as palavras que saíram da boca de Seojun em seguida o fizeram ficar mais surpreso ainda.
— É você, não é? — sussurrou. — Pode falar, eu sei que é. Não existe essa de homem e mulher serem amigos assim. Vocês estão morando juntos? Quando é que você ia falar comigo?
— Não é isso, senhor — Jungkook tentou começar a se explicar.
— Não precisa mentir, filho. Eu gosto de você, é um rapaz de bem — Seojun apontou para o peito de Jungkook —, um rapaz bonito, forte, inteligente.
— Obrigada, senhor, mas-
— O que vocês estão fazendo aí fofocando? — A voz de Haeri fez o pai da moça soltá-lo e virar-se rapidamente para a filha. Ele logo a puxou pelo braço e a trouxe para perto de Jungkook. — Que foi?
— Nada, só estava falando como Jungkook anda muito grudado em você — Seojun caminhou até o sofá e se jogou ali. — Não voltem tão tarde.
Haeri franziu o cenho e encarou o amigo, que parecia tão chocado que não conseguia piscar uma vez se quer. Ela o cutucou no braço.
— Já podemos ir? Vamos chegar atrasados — Junghyuk apareceu na ponta da escada enquanto ajeitava a camiseta.
Os três fizeram seu caminho até o carro do irmão, agradecendo pela chuva ter passado. Jungkook se sentou no banco de trás juntamente com Haeri, deixando o banco da frente livre para quando passassem na casa da namorada de Junghyuk. A mulher colocou os cintos e cutucou Jungkook para fazer o mesmo.
Ele ficou em silêncio o caminho todo, morrendo de vontade de contar para Haeri o que tinha acontecido, mas não podia ser na frente do irmão e os dois estavam tão envolvidos numa conversa aleatória que não quis atrapalhar.
Depois de buscarem a namorada, uma moça bonita com os fios loiros e chamada Misoo, eles seguiram para o bar. Era um local majoritariamente construído em madeira escura, o ambiente com algumas luzes coloridas dava a impressão que estavam quase numa boate. Haviam mesas de sinuca e uma bancada enorme com diversas garrafas de bebida decorando a parede.
Decidiram se sentar numa mesa mais ao fundo, com dois bancos estilos americanos, um de frente pro outro. Haeri se ajeitou na poltrona ao lado de Jungkook, que logo tirou seu casaco por causa do aquecedor no local. A mulher ao seu lado sorria grande enquanto folheava o cardápio.
— Acho que vou querer esse sanduíche — ela apontou com o dedo e depois o encarou. — E você?
— Pode ser a mesma coisa.
— A gente vai comprar alguma coisa no bar, vocês querem o que? — Junghyuk perguntou enquanto se levantava.
— Pode ser cerveja — Haeri respondeu e Jungkook apenas concordou, vendo os dois se afastando e indo em direção a bancada. — Tá tudo bem? Você tá quietinho.
— Seu pai acha que a gente tá namorando — ele soltou, fazendo a amiga arregalar os olhos.
— Quê? Como assim?
— Ele do nada me disse que sua madrasta viu que seu corpo tava marcado e falou que achava que você tinha namorado e aí disse que sabia que era eu — Haeri encarou a feição preocupada de Jungkook com um sorriso no rosto.
— Você deve ter se borrado todinho — ela riu. Jungkook deu um tapinha no ombro dela. — Relaxa, se ele falar alguma coisa eu nego.
— Ele parecia bem convencido de que eu era o namorado.
— E daí? Todo mundo sempre acha que a gente namora, não faz diferença mais um.
— Só que é o seu pai e às vezes a mudança de opinião dele sobre mim me assusta.
— Tá com medo do meu pai? — Haeri riu de novo antes de apertar a bochecha de Jungkook. — Vamos mandar uma foto nossa pra ele.
— Ficou doida, Haeri? — Jungkook tentou argumentar, mas ela já estava abrindo a câmera no celular. — Aí que ele vai achar mesmo.
— É só brincadeira, vem logo — ela puxou Jungkook para seu lado, que suspirou fundo antes de abrir um sorriso para a foto. Haeri sorriu também, colando o rosto dos dois bem pertinho, parecendo uma foto de casal mesmo.
— Fiquei bonito, pelo menos? — perguntou se inclinando para ver a foto. — Seu pai vai me matar.
— Vai nada. Bom que agora a gente tem uma desculpa pra dormir na casa um do outro —Haeri comentou assim que enviou a foto pro pai com alguns emojis engraçados.
— E posso saber o motivo de você querer dormir na minha casa?
Haeri encarou Jungkook, só pra perceber que ele estava bem perto dela. Ela juntou os lábios contendo um sorriso e virou o rosto, vendo que o irmão já tinha voltado com as bebidas.
A namorada de Junghyuk era extremamente divertida e logo ganhou o coração da irmã mais nova. Jungkook também gostou muito da menina e os três acabaram descobrindo que tinham estudados juntos quando pequenos. O resto da noite se manteve agradável, eles conversaram e riam até demais por causa da bebida.
Haeri já se sentia zonza desde algum tempo depois da quarta garrafa de cerveja e a coragem tomou conta do seu corpo quando ela começou a colocar as mãos na coxa de Jungkook, tocar seus braços enquanto conversava, se apoiar em seu ombro, mexer com os dedos dele... Isso tudo enquanto Jungkook também bebia, o que não ajudou a situação dos dois. Haeri só percebeu o que estava acontecendo quando sentiu Jungkook apertar sua mão debaixo da mesa.
— O que tá fazendo? — ele sussurrou pra ela enquanto o casal de namorados conversava.
— O que você acha? — respondeu de volta e tomou um gole da bebida. Ela soltou a mão e colocou sobre a virilha do homem, dando um leve aperto ali que causou um arrepio em Jungkook. Ele a repreendeu com o olhar, mas Haeri só conseguiu sorrir. — Acho que tá na nossa hora.
— Já quer ir, Hae? — Junghyuk perguntou e fez um biquinho. — Tá tão bom aqui.
— Vocês podem ficar, mas já to morrendo de sono — fingiu um bocejo. — Eu e Jungkook voltamos de táxi.
— Tem certeza? Posso levar vocês — ele respondeu se levantando, mas perdendo um pouco do equilíbrio.
— Eu vou dirigir na volta, não se preocupe — Misoo disse rindo, sendo a única entre eles que não havia bebido álcool.
— Obrigada, Misoo. Você é tão legal.
Os dois se despediram do casal e saíram do local. Haeri se agarrou ao braço de Jungkook em busca de equilíbrio enquanto caminhavam até o ponto de táxi mais perto. Ele ria de algumas coisas idiotas que ela falava sempre que estava muito bêbada e fazia algumas piadinhas com ela também. Quem visse de longe nunca desconfiaria que eles não são um casal e talvez no fundo ele entendesse o porquê do pai dela achar aquilo também. Jungkook gostava muito da companhia de Haeri e o brilho em seu olhar sempre presente quando observava ela se divertir não negava isso.
Haeri insistiu que Jungkook entrasse com ela em casa quando elas chegaram, mas ele não cedeu dessa vez, já se sentindo um pouco sóbrio. Apesar de querer muito ficar com Haeri naquela noite — e em outras também —, não se sentia confortável com a presença do pai dela. Ela murmurou frustrada alguma coisa que ele não entendeu direito.
Eles se despediram com um beijo na bochecha — e um tapa forte até demais no ombro dele — e Jungkook seguiu seu caminho com as mãos no bolso até sua casa. Quando chegou, logo se jogou na cama, sentindo os olhos pesarem rapidamente, mas uma vibração em seu celular o fez despertar do quase sono.
hae
vcme deve uma
amanha
Jungkook dormiu com um sorriso no rosto.
oieeeee
ui esse capítulo foi bem grandinho, to me esforçando pra escrever mais assim...
o que acharam dessa volta deles pra Busan? ainda tem muitos dias e (SPOILER) tudoooo pode acontecer!
obrigada pelas +400 visualizações e +100 votos AAAA fico mto mto mto contente, de verdade.
obrigada por esse apoio, meu coração fica quentinho demais da conta E TAMBÉM obrigada pelos parabéns no capítulo anterior.
vejo vocês no próximo, atéeee
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