CAPÍTULO TRÊS

O ACORDO FINAL

Jungkook bebericou a bebida gelada enquanto observava o céu escuro de Seul. Não tinha muitas estrelas ali, como de se esperar, mas a brisa fresquinha que batia em seu rosto compensava a falta delas. O terraço ficava na terceira casa — a que não estava ocupada — do complexo. Eunjae sempre deixava os dois fazer alguma pequena comemoração ali e até participava às vezes.

De qualquer forma, aquele havia se tornado um lugar de Jungkook e Haeri, onde os dois sempre conversavam e desabafavam quando queriam. Ele lembrava de uma vez que tinha chegado a chorar para a amiga ali enquanto contando sobre seus problemas. Não era muito comum eles terem momentos sensíveis assim, mas quando tinham, sempre valiam como um lembrete do quanto a amizade deles era importante.

Talvez esse tenha sido o motivo de Jungkook ter marcado de encontrar Haeri ali. Não sabia o que tinha acontecido, mas conhecia ela o suficiente para saber que ficaria chateada por ter ido nesse maldito encontro — encontro que ele mesmo havia ajudado a marcar. Jungkook bufou, lembrando de como havia se arrependido logo depois de ter mandado mensagem para Seokjin perguntando se ele queria sair com Haeri.

Não que Seokjin fosse um cara ruim, muito pelo contrário. Seokjin era provavelmente tudo que Haeri merecia em um homem e, para Jungkook, esse era o problema, pois ele nunca seria um Seokjin. Toda vez que pensava nisso, queria enfiar uma faca em seu peito. Haeri era sua amiga e estava mais do que claro que continuaria assim. Ele não dizia estar apaixonado, mas desde que beijou ela uma vez na sua festa de dezoito anos, passou a vê-la com outros olhos.

Mas Jungkook já havia se conformado. Aquele beijo aconteceu pois eles estavam bêbados demais e, toda vez que relembravam daquilo, Haeri fingia que estava vomitando, alegando que era como ter beijado seu próprio irmão. Jungkook ria, óbvio, mas no fundo se sentia afetado por saber que a mulher não o via nem um pouco como alguém que poderia ter algo além de amizade.

Haeri subiu as escadas que levavam até o terraço, chamando a atenção de Jungkook quando fechou a porta atrás de si. A cara de derrota da amiga já indicava o quanto aquele encontro tinha sido desastroso e Jungkook mal podia esperar para dar umas boas risadas.

— Tive que tomar vinho.

Foi a primeira coisa que ela disse quando se sentou do seu lado no sofá velho e bege que tinha ali. Jungkook pegou uma latinha de cerveja e entregou para a mulher, que logo abriu e tomou um gole da bebida.

— Mas você odeia vinho.

— Eu sei, mas ele só tinha vinho — comentou. Haeri deslizou as costas no sofá, sentando de uma maneira desleixada. — Foi horrível, Guk. Você tava certo, eu não consigo fazer essas coisas. No começo tava meio bom, sei lá, eu fiquei com tesão e tudo mais. Só que na hora dele tirar meu vestido eu travei e ai falei que tinha que ir ao banheiro — Haeri tomou outro gole da cerveja. — Aí eu te mandei a mensagem e depois tive que abrir a porta e ele me beijou de novo.

— Por isso você fingiu aquela conversa? Achei que ele tinha feito alguma coisa pra você querer sair correndo assim.

— Não fez, ele foi super gente boa. Eu que sou uma idiota mesmo.

— Você não é idiota, Haeri. Só não consegue fazer esse tipo de coisa e tá tudo bem — Jungkook deu leves tapinhas no ombro da amiga. — Se você sabe que esse é seu jeito e que não consegue mudar ele, não gasta tanta energia nisso, porque você vai acabar frustrada toda vez.

Haeri assentiu, concordando com o amigo.

— Tem razão, Guk. Não tenho que mudar quem eu sou, né? Ainda mais por sexo...

— Tá se sentindo melhor agora? — ele perguntou e Haeri assentiu. — Que bom, assim posso me gabar de como eu tava certo.

— Vai se fuder — Haeri bateu no ombro dele, achando graça da situação. — Mas e agora? O que eu faço?

— Sei lá, baixa o Tinder.

Haeri engasgou com a cerveja enquanto tentava não rir.

— Nunca me submeteria a essa humilhação — respondeu.

— É sério, você vai encontrar alguém atraente, vai conversar com a pessoa, conhecer ela antes e depois vai transar. Não é isso que você quer?

— Mas eu não quero que demore tanto, que saco. A única solução é morrer sozinha mesmo.

— Ou baixar o Tinder.

— Baixa você, já que tá falando tanto dele.

— Eu não, esse negócio é pra quem tá desesperado igual você — Haeri o socou no ombro de novo. — Aí, tá doendo.

Os dois ficaram em um silêncio confortável por alguns minutos, bebendo de suas cervejas e observando a paisagem repleta de prédios. Os pensamentos de Haeri buscavam alguma solução, mas nada parecia ser a seu favor. Ela bufou, desviando o olhar da lua para as pernas de Jungkook, logo ao lado da sua. Ele usava uma calça moletom cinza, um pouco justa nas coxas dele. Seus olhos subiram para os braços a mostra, algumas partes da pele cobertas por algumas tatuagens.

— Você anda malhando?

Jungkook a encarou, confuso.

— Eu sempre malhei, você sabe disso.

Haeri deu de ombros, mas ainda encarava os braços de Jungkook. A tatuagem do esqueleto de uma mão ali, perto da frase rather be dead than cool — a qual eles tinham feitos juntos — a chamava mais atenção. Jungkook balançou a perna levemente, encostando seu joelho no dela. Por algum motivo, aquele leve toque fez Haeri imaginar as mãos dele apertando seu joelho numa maneira nada amigável. Então, em sua imaginação, as mãos de Jungkook subiram até a coxa, acariciando ali, perto da sua virilha. A mulher balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos.

— Que foi? — Jungkook perguntou e, só então, Haeri se deu conta do quanto eles estavam perto.

Os ombros se tocavam, assim como as laterais das pernas. Mais um pouquinho para a esquerda e suas mãos também facilmente se tocariam. Jungkook de vez em quando roçava os pés com meias pretas na batata da perna dela. Isso parecia tão normal, que ela nunca nem se deu conta do que faziam, de como eram próximos.

Foi aí que a ideia mais idiota que já teve surgiu em sua mente.

— Você já assistiu aquele filme Amizade Colorida? — Haeri perguntou casualmente, quase fazendo Jungkook engasgar com a cerveja.

— Por que tá me perguntando isso?

— É aquele com aquela mina gostosa e o Justin Timberlake.

— Eu sei qual é o filme, só não entendi a pergunta.

Haeri virou o resto do líquido na latinha e a amassou, jogando-a sobre a mesinha de frente.

— E se a gente fizesse igual eles? — Jungkook não sabia se a amiga estava falando sério ou não, mas nem conseguiu rir com a pergunta que Haeri fizera.

— Tá maluca?

— Por que? — Haeri o encarou, indignada com o tom de voz de Jungkook. — Eu sou tão feia assim que você nunca transaria comigo?

Jungkook apenas fitou Haeri por alguns segundos, buscando alguma coisa em seu rosto, uma tentativa de conter um riso, um franzir de nariz, qualquer coisa que indicasse que ela estava brincando. Mas nada. Haeri estava tão séria como uma estátua.

— Você tá falando sério?

— Fala a verdade, Jungkook — Haeri pediu. — Ignorando que você já me viu de todas as maneiras possíveis nesses anos de amizade, fale como um homem... Você transaria comigo?

Ele engoliu em seco, com medo de responder a pergunta. Se ele transaria com Haeri? Óbvio. Se ele deveria? Definitivamente não.

— Fala logo, você fica me olhando assim, parece um robô que deu um curto circuito e morreu.

— O que você quer que eu fale? É óbvio que eu transaria com você, quem não faria isso? — Jungkook se virou para pegar mais uma latinha de cerveja. Não foi difícil tomar quase metade do conteúdo de uma só vez antes de continuar a falar. — Mas a gente é amigo, ficou doida?

— O que você quer dizer exatamente com quem não faria? Tá me chamando de gostosa? — ela perguntou, começando a achar engraçado o jeito que Jungkook ficou nervoso.

— Puta merda, Haeri... Só cala a boca.

— É sério, eu não tava brincando — Jungkook a encarou. — Presta atenção, isso pode dar certo, ok? Primeiro, a gente já se conhece, tem intimidade suficiente pra eu me sentir confortável. Segundo, você fala que não tá desesperado pra transar, mas eu sei que você só não quer admitir isso pra mim. E eu também quero muito, então por que não?

— Por justamente ter muita intimidade na nossa relação, Haeri. E se acabar estragando nossa amizade?

— Isso não vai acontecer, ok? Um monte de gente faz isso e continua amigo.

— Tá, mas e se der errado?

— Não vai, Guk.

Jungkook pensou em tantos desfechos para o final dessa história e não conseguia imaginar um em que não se apaixonava definitivamente por Haeri ou em que os dois não terminavam a amizade deles. Ele bufou, definitivamente era um cara estranho. Haeri tava quase dizendo por favor, transa comigo e ele ali, empacando tudo. Se fosse há alguns meses atrás, era bem provável dele ter feito essa proposta ridícula pra ela, levando em conta que chegou a sonhar duas vezes que os dois transavam.

Ele terminou o líquido da sua latinha antes de soltar o ar que prendia.

— Beleza, a gente pode tentar, mas com uma condição — ele disse. Haeri bateu palminhas de animação e sorriu para Jungkook. — A gente vai ter que criar algumas regras.

oie!

to gostando tanto de escrever essa história, espero q vcs estejam curtindo tbm!

até o próximo!