Capítulo 1
- Olha só, Silvinha: o anúncio foi pra encontrar alguém pra dividir o apê com a gente. Não pra achar uma pretendente pra você.
Depois de uma mordida no pão que segurava, de boca cheia mesmo, os farelos saltando a torto e a direito, Silvinha respondeu:
- Mas podemos unir o útil ao agradável, não podemos? Quem sabe a minha alma gêmea não acaba vindo parar aqui dentro?
Depois de uma risada absolutamente escrachada, Cris retrucou:
- É, até poderíamos...
Desligou o fogo, pegou a chaleira e derramou a água fervendo no coador de café em cima da garrafa térmica. Depois completou:
- Se essa coisa de alma gêmea existisse.
Já com a xícara estendida, Silvinha disse:
- Amiga, se eu não te amasse tanto diria que... Putz, Cris... Você é horrível!
A reação de Cris foi voltar a rir. Enquanto enchia a xícara de Silvinha direto do coador. A superioridade de sempre na voz, quando contestou:
- Horrível não. Realista.
Foi a vez de Silvinha rir:
- Realista? Insensível, isso sim!
Ainda segurando o coador e a térmica, Cris perguntou:
- Insensível por quê?
Voltou a depositar tudo em cima do mármore da pia. Pegou duas fatias de pão de forma e colocou na torradeira, enquanto Silvinha dizia:
- Ah, Cris... Nem vem! Você nunca está sozinha. Nas raras ocasiões em que está solteira, tem esse sem número de... Como eu posso definir? Mulheres satélite?
Cris pegou o pote de geléia e uma colher. Gargalhando. Antes de virar-se para a amiga:
- Olha lá! Mais respeito! Me apaixono facilmente. Não tenho culpa, não é mesmo? Queria o quê? Que eu ficasse igual a você: solitária enlouquecida, numa cruzada em busca da mulher da minha vida?
Brandiu a colher imitando movimentos de esgrima. As duas riram. Antes de Silvinha novamente responder:
- Não, né. Mas também não precisa ir passando o rodo pelo caminho... Afinal, como diz o ditado: quem muitas ama, não ama ninguém...
Cris enfiou a colher no pote, e colocou uma porção tão grande de geléia na boca que teve dificuldade em dizer sem babar nem cuspir:
- Nem vem! A diferença entre nós, Silvinha, é só uma. – parou para engolir - Eu sei aproveitar a vida enquanto espero.
Lambeu a colher até deixá-la completamente limpa. Nesse momento, os pães saltaram. Com tanta força que se projetaram. O primeiro caindo no chão. O segundo, Cris conseguiu interceptar com um pratinho:
- Definitivamente, precisamos consertar essa torradeira!
Pegou a fatia do chão, com a intenção de jogá-la no lixo. Mas Silvinha a impediu:
- Jogando comida fora? Que desperdício! Me dá isso aqui!
Soprou o pão, afirmando, convicta:
- O que não mata engorda, amiga!
Atacaram juntas o pote de geléia. Disputando quem conseguia besuntar primeiro a própria fatia. Como sempre, Silvinha.
Sentou vitoriosa na cadeira onde estava antes, e após morder o pão como se estivesse faminta, prosseguiu:
- Quer dizer então, que só está aproveitando enquanto espera... Espera o que, posso saber?
Com a mesma forma exagerada e melodramática com que mordeu o pão, Cris esclareceu:
- A mulher certa. A que vai dar sentido a minha vida vazia. Aquela destinada a fazer com que todas as outras pareçam invisíveis, nada, ou... Restos.
Silvinha sacudiu a cabeça negativamente, em total desaprovação:
- Pobre coitada. Resto é o que vai sobrar pra ela, isso sim.
Fazendo Cris rir. Da forma mais sacana possível:
- Tenho culpa se passaram mel em mim?
Silvinha pensou alto. Simplesmente escapou:
- Pois em mim devem ter passado esperma!
As duas se olharam, antes de exclamarem juntinhas:
- Eca!
Riram gostosamente. Terminaram de tomar o café. Silvinha lentamente, com cuidado para não queimar a boca. Cris praticante de um gole só.
Enquanto ajudava Cris a colocaram a louça na pia, Silvinha insistiu:
- Pois meu lema vai continuar o mesmo: pra que esperar, se posso buscar?
Cris a olhou reprovando completamente:
- É por isso que nenhum relacionamento seu dá certo. Ansiosa demais, assusta as mulheres. Acabam todas correndo de você. Vai é arrumar um jeito da sua alma gêmea nem passar por perto!
Silvinha mostrou a língua para a amiga, antes de dizer:
- Isso é o que nós vamos ver!
De uma forma muito, mas muito determinada mesmo.
Silvinha havia acabado de tirar o jaleco, pronta para sair do laboratório e ir almoçar, quando o celular tocou. Procurou em cima da bancada, na própria mesa, na bolsa.
Nada.
Tentou seguir o som, mas parecia vir de todos os lados... Ou então... Sempre de onde estava... Olhou para baixo... Para o casaco de moleton que estava usando. Colocou a mão no bolso em frente à barriga... E o aparelho estava lá. Igual a um filhote de canguru escondido.
Felizmente, ainda não havia parado de tocar. Pela persistência, Silvinha já sabia quem era:
- Fala, Cris!
A voz do outro lado reclamou como sempre fazia:
- Caramba, Silvinha! Será que algum dia você vai atender sem eu ter que ligar pela terceira vez? Se fosse a tal alma gêmea, já teria desistido...
Riu sozinha da própria gracinha. Silvinha não deixou barato:
- Me ligou pra ficar fazendo piadinha?
Imediatamente, Cris retrucou:
- Nope! Pra te contar o péssimo andamento das coisas.
Já sabendo do que se tratava, Silvinha primeiro suspirou. E só depois falou:
- Tá. Manda. Quantas você já descartou hoje, senhorita nenhuma é boa o bastante para morar com a gente?
Ignorando a ironia da amiga, Cris questionou:
- Me diz só uma coisa, amiga: você pendurou o anúncio num aeroporto?
Silvinha não respondeu. Ao invés disso perguntou:
- Por quê?
Cris não agüentou:
- Deixa eu ver: porque hoje ligaram uma alemã, uma japonesa e uma argentina. Ou isso, ou estamos com falta de brasileiras no Rio de Janeiro.
Silvinha confessou:
- Coloquei num hostel. Algum problema?
- Não, mas... Não prestou, porque... Nenhuma serviu.
Silvinha olhou no relógio: uma boa parte do almoço perdida. Foi curta e grossa:
- Vamos lá, jogo rápido: a alemã não servia por quê?
- Ela simplesmente desligou.
Obviamente, Silvinha não acreditou:
- Como assim, desligou do nada?
- Tá... Eu fiz uma brincadeirinha.
- Cris...
- Nada demais...
- Cris...
- Eu só falei uma coisinha...
- O quê?
- Heil, Hitler!
Silvinha explodiu:
- Puta que o pariu, Ana Cristina!
O nome completo era sinal de que a amiga estava realmente brava. Mas Cris defendeu o próprio comportamento com o jogo de cintura que o trabalho de assessoria de marketing lhe conferia:
- Se ela não tem um mínimo de humor negro, não ia mesmo conseguir conviver comigo...
Silvinha preferiu não discutir:
- E a japonesa?
- Não falava português. Only English...
- E daí? Eu falo inglês fluentemente, e você também.
- Pô, Silvinha. Pra morar comigo tem que falar a minha língua.
Silvinha não agüentou. Teve que rir. Tentou disfarçar:
- E a argentina?
- Era argentina.
Apesar de duvidar que existisse algum sentido ou explicação plausível naquilo, Silvinha tentou desvendar o raciocínio da amiga:
- Será que perdi alguma coisa? Por que essa eu realmente não entendi.
- Me recuso a dormir no quarto ao lado do de uma pessoa que acha que Maradona é melhor do que Pelé!
- Surreal! - foi o que Silvinha pensou ao ouvir.
Mais ainda com o que veio a seguir: um barulho de descarga inconfundível.
- Cris, eu não acredito! Sabe que eu detesto quando você vai ao banheiro enquanto fala comi...
- Pera! Só um minutinho!
Durante os instantes que se seguiram, Silvinha ficou se esforçando para não imaginar o que a amiga estava fazendo... Sem conseguir. Podia quase ouvir o barulho do papel higiênico. Com uma careta, deixou escapar novamente:
- Puta que o pariu, Ana Cristina!
Que obviamente, Cris não ouviu. Ainda levou algum tempo para voltar, como se nada tivesse acontecido:
- Pronto! Pode falar, Silvinha!
Pelo barulho de água, Silvinha já sabia: lavando as mãos, enquanto equilibrava o celular entre o ombro e o ouvido...
Não disse mais nada. Nem poderia. Apenas suspirou, resignada. Já estava acostumada. Afinal... Aquilo era total e absolutamente Cris.
- Porra, Silvinha! A gente não tinha combinado que ia sempre fazer uma prévia por telefone antes de deixar qualquer uma vir aqui?
Silvinha gritou da cozinha:
- Tive que abrir uma exceção, amiga. A garota não é qualquer uma. Tem referências. E preferência! Pensa: prima da minha amada chefinha.
Cris não pareceu muito convencida:
- Pois não espere que eu faça reverências! Pouco me importa de quem ela é prima. Pode muito bem ser uma psicopata ou uma maníaca...
Como num passe de mágica, teve toda a preocupação dissipada pela aparição de Silvinha trazendo duas caipirinhas:
- Relaxa, porque a menina já deve estar quase batendo aí.
Mas ainda perguntou, enquanto pegava o copo que Silvinha estendia:
- Pelo menos sabe o nome da nossa nova roommate escolhida por puro nepotismo?
Silvinha não deu muita trela:
- Sei lá. Esqueci. Começa com B... Mas pra que diabos você quer saber?
Enquanto misturava melhor a bebida com o dedo enfiado no meio do gelo, Cris descascou:
- Pra que seria, né, Silvinha? Pra fazer a numerologia! Eu, hein? Bom, daqui a pouco nós vamos descobrir. – se ajeitou melhor no sofá, e mudou o tom completamente – Quer saber? Quando o estupro é iminente, relaxe e...
Completaram juntinhas:
- Goze!
Beberam ainda rindo. A careta de Cris após o primeiro gole fazendo Silvinha perguntar:
- Forte demais?
Cris assentiu. Para logo depois completar:
- Abusou, hein amiga? Álcool na veia! Já me vi deitada na sarjeta com uma cachorra desconhecida lambendo a minha boca por muito menos...
Silvinha teve que rir:
- Ah, claro! Que desculpa mais perfeita pra atos de promiscuidade: foi o álcool! Acontece que na verdade, bêbados só fazem aquilo que realmente têm vontade. É como diz o ditado: a bebida entra, e a verdade sai...
Olhando para cima, e deixando escapar um suspiro exasperado, Cris replicou:
- Tá bom, Silvinha! Lindo bla bla bla., mas... Primeiro tome um porre, uma vez que seja, pra depois poder falar!
Voltou a sentar no sofá, no momento exato em que o interfone tocou. Silvinha correu para atender:
Cris ouviu a amiga quase gritar para o porteiro, empolgadíssima:
- Manda subir!
Antes de voltar para a sala correndo. Visivelmente ansiosa, ajeitando as roupas e o cabelo:
- Tô bem assim?
Fazendo Cris frisar, da forma mais implicante e irônica possível:
- A pretendente é para o quarto, queridinha. Não pra você.
Mas Silvinha não se deixou abater:
- Quem sabe? Estou com um pressentimento que... – a campainha tocou. Ela completou, antes de atender – Bom... Nós já vamos ver.
Abriu a porta, e...
De onde estava sentada, Cris não conseguiu enxergar, mas pôde imaginar, antes mesmo da garota entrar, só de ver a reação de Silvinha.
Levantou quase correndo por dois motivos: o primeiro, uma curiosidade irresistível. O segundo, para salvar a amiga, uma vez que...
Silvinha continuou paralisada, completamente muda em frente à porta. De queixo caído...
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