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17


17.

Rodrigo fitava Rebeca, enquanto um paramédico lhe prestava os primeiros socorros.

As ambulâncias chegaram em poucos minutos, a Polícia veio em seguida. Um pouco antes, Silvia tratou de recolher todas as armas em poder de Adriana e amigos, pediu a um dos companheiros que desse sumiço nelas e se encarregou de expor "os fatos" para os policiais que chegavam.

— Vai ficar tudo bem — ela garantiu para eles, mas quando falou fitava Bianca, deixando claro que era por ela que fazia aquilo. Então, se afastou lançando olhares mordazes para o grupo.

Rebeca deixou um barulhinho esganiçado escapar quando o paramédico pressionou a ferida. Mal podia acreditar que estavam vivos, assim como alguns dos homens de Alex ainda estavam ao fim do confronto.

Ergueu o olhar para Rodrigo, ele assistia o recolhimento de um dos corpos, metros adiante. Quando tudo acabou, os homens de Cobra exterminaram os criminosos sobreviventes. O rosto dele se contraiu quando fecharam o saco plástico, mas ela sabia que era apenas um reflexo involuntário.

Ele não sentia nada. Nenhum deles sentiu quando perceberam o que aconteceria. Simplesmente, viraram os rostos para o lado e esperaram os pedidos de "piedade" e "socorro" pararem junto com os gemidos de dor.

Se colocar no lugar do outro faz parte da natureza humana, é assim que as relações são cultivadas e evita-se que certos limites sejam ultrapassados, mas para aquele pequeno grupo de amigos, que lutaram tanto pela vida de uma criança, arriscando as suas próprias, todos aqueles que lutaram para impedi-los, não mereciam sua compaixão. Então, quando o silêncio lhes chegou, permitiram-se continuar nele, compartilhando olhares cúmplices.

O paramédico encerrou o atendimento, dizendo que Rebeca precisava ser levada logo para o hospital e se afastou para providenciar a partida imediata. Rodrigo retornou o olhar para ela.

A fitou por um longo momento, os braços cruzados como se precisasse se defender de algo. Era tão fácil falar e jogar charme para as mulheres, mas como Chico insinuou, ele temia Rebeca. A temia porque sabia que com ela não queria apenas uma transa e, também, porque sempre soube da paixão dela pela irmã mais velha.

Impaciente, batia o pé. Tinha se feito uma promessa no alto daquela elevação, um pouco antes do tiroteio iniciar e, se deixasse o momento passar, jamais a cumpriria. Então, se aproximou, ficando a poucos centímetros dela.

Rebeca o encarou de volta, admirando a determinação naqueles olhos verdes bonitos e gentis. Ele chegou mais perto, tão perto que pôde sentir o calor do seu hálito. O modo como a fitava teria lhe causado rubor, se não tivesse perdido tanto sangue. Por um segundo, achou que ele estivesse interessado nela, mas logo descartou a ideia com um sorriso singelo, que Rodrigo desmanchou quando pousou seus lábios sobre os dela.

Um beijo rápido, suave. Então ele recuou, deslizando a mão sobre seu queixo, dizendo:

— Eu gosto de você. Gosto muito e há muito tempo. Só queria que soubesse. — Sorriu e se afastou, deixando-a dividida entre a dor e a surpresa daquele gesto e palavras.

Fitou os ombros largos, balançando enquanto ele caminhava, sem se dar conta de que sorria largamente e com o coração disparado, como se tivesse sido a primeira vez que lhe beijaram.

***

Sentada sobre uma maca, dentro da ambulância, Adriana olhava para a carnificina que o local se tornou. Tinha se deixado cair em um silêncio sepulcral, sentindo-se grata por nenhum dos companheiros se sentir disposto a conversar.

Desfrutava aquele breve momento de solidão, aguardando a partida para o hospital.

Não se importou com a fuga do inimigo declarado. Estava cansada, mais cansada do que jamais imaginou se sentir. Depois daqueles minutos de tormento, chegava a conclusão de que, embora o odiasse com todas as suas forças e tivesse desejado e planejado a sua morte, não se satisfaria com ela.

Matar para se defender era algo com o qual podia conviver. Matar por matar, não lhe traria nenhuma paz.

Bianca entrou na ambulância e sentou à sua frente. Era linda, apesar de toda a sujeira sobre o corpo e o sangue em suas mãos. Seu sangue. Em algum momento daquelas horas em que compartilharam uma gama de sentimentos conflituosos e desejos assassinos e carnais, ela perdera o olhar petulante.

— Você está bem? — Ela perguntou baixinho, tentando esconder o quanto achava penoso vê-la com aquela aparência tão maltratada, apesar de ao longo daquelas quase 48h de convivência, terem tentado se ferir de diversas formas.

Drica engoliu em seco, sentindo o sabor do próprio sangue.

— Vou ficar — garantiu. Ficaria mesmo, não por si, mas pela filha.

Arfou, quando sentiu a mão de Bianca tocar sua face, deslizando até o queixo, devagar, onde um hematoma se projetava em um roxo intenso. Um gesto delicado e confortador depois de toda a violência que viveram.

— Obrigada — sussurrou, sem saber ao certo se lhe agradecia por aquele carinho, pela ajuda ou pelos sentimentos fortes que lhe despertava, tão alheios a si, quanto a mulher que tinha se obrigado a ser naqueles dias.

Era, de fato, forte e decidida, disposta a entrar numa briga se fosse necessário, metida a conquistadora, abusada. Mas nunca foi dada a desvios de caráter, nunca apreciou usar armas, embora soubesse fazê-lo desde muito nova, graças ao tio falecido. Nunca lhe passou pela cabeça cometer um crime. Apesar de não se considerar um exemplo de boa conduta social e moral, vivia sua vida honestamente.

De repente, abandonou-se em um choro silencioso. Não era pela dor que, com certeza merecia lágrimas como aquelas, mas pelo peso que abandonava seus ombros. Lis ficaria bem e seus amigos, sua família, estavam vivos. Ela estava viva e Bianca também.

— Eu sinto muito! Por tudo!

Bianca tomou a mão dela entre as suas.

— Você fez o que era preciso. Em seu lugar, se esta fosse a única solução que se apresentasse, teria feito o mesmo. — Tentou sorrir, mas também não tinha forças para fazê-lo. — Começamos com o pé esquerdo, Drica, mas eu te admiro. Não temos mais que dois dias de convivência e passamos por tantas situações, tantos extremos, que nem consigo acreditar que chegamos a este momento. Em tão pouco tempo, você cativou meu ódio, meu respeito, minha admiração e, por fim, meu desejo.

Adriana fez um grande esforço para sorrir.

— Eu realmente gostaria de ter te conhecido em outro momento.

— Teríamos nos odiado, já disse.

— Mas poderíamos ter nos "divertido" muito mais.

— Se eu fosse você, tomaria cuidado com todo esse convencimento, quase te matou ontem. Achei que tivesse aprendido a lição.

Agora, ela sorria largo, devolvendo o aperto em sua mão, com calor.

— Sou uma péssima aluna. Sempre precisei de reforço — piscou.

Bianca lhe sorriu de volta, assistindo as lágrimas que lhe escorriam pela face, silenciosas. Uma visão que jamais esqueceria, assim como jamais esqueceria o brilho em seus olhos quando encontraram o clímax juntas. De alguma forma, Adriana ficou marcada em sua alma.

Manteve a mão dela na sua pelo máximo de tempo possível, reparando como se encaixavam com perfeição, assim como seus corpos, horas antes. Por fim, abandonou a delicadeza daquele contato e saiu da ambulância, sussurrando:

— Acabou — e a palavra lhe pareceu terrivelmente amarga quando percebeu que isso significava, de fato, o fim.

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