Capítulo 5. O que faremos
A noite já surgiu ao fundo, Íris olhava tudo ao seu redor tentando digerir a completa insanidade que a cercava, seus pensamentos estavam desordenados e as coisas faziam pouco sentido. Todas as suas certezas haviam sido desfeitas em poucos segundos.
A viagem até o apartamento durou pouco mais de trinta minutos, por alguns instantes Íris pensou que Oliver estava perdido, mas chegaram a um condomínio de prédios de luxos, havia muitos homens na portaria, câmera e os muros eram altos.
Oliver passou pela chancela de segurança, mais sua identificação demorou um pouco para ser reconhecida. Como era possível?
— A Rainha da Inglaterra mora aqui? — Iris perguntou olhando o ambiente que era muito vigiado.
— Gostamos de segurança — Oliver responde concentrado na direção que qualquer coisa.
Oliver guardo estacionou o carro e desceu, Íris desceu logo em seguida, ele estava segurando as bolsas dela, parecia um pouco perdido pela quantidade de coisas.
Eles andavam um ao lado do outro em silêncio, a mente de Oliver maquinava muito, ele puxou em sua mente uma lista de pessoas que adorariam o ver morto, porém em algum momento perdeu as contas.
— Você está bem? — Oliver perguntou quando as portas do elevador fecharam.
— Sinceramente? Parece que estou vivendo um pesadelo.
Não havia nada que fizesse Íris perder essa sensação, muito pelo contrário, Oliver sabia que hora que descobrisse tudo provavelmente ela o odiaria.
O elevador se movia lentamente enquanto ambos permaneceram em silêncio, cada um imerso em seus pensamentos. Íris olhava para o chão quase e pensava em sua casa, o que aconteceria agora?
O painel do elevador se iluminava lentamente a cada andar que passava, Oliver se preparava para o que estava por vir agora.
As portas do elevador abriram e eles saíram, Oliver caminho até a porta do apartamento, digitou uma sequência de número da fechadura eletrônica.
A porta se abriu automaticamente, Oliver empurrou e abriu caminho.
Depois do que havia acontecido, Íris entrou a passos lentos e cautelosos naquele lugar, seus sentidos estavam todos em alerta. As luzes se acendiam por sensor de movimento, ela pode observar a mobília estava empoeirada, pequenas partículas de poeira dançavam no ar.
Observava cada canto, havia uma grande sala com um sofá de camurça marrom e uma mesa retangular no centro, duas poltronas azuis de veludo, um aparador com fotos. Íris se aproximou para ver as fotos, reconheceu Oliver, Gabriela e Juju, mas havia uma foto de um homem que não conhecia. Pegou o quadro com uma moldura de madeira, havia um homem com a camiseta da PF ao lado de Oliver, ambos estavam sorrindo.
Será que Oliver tem um irmão? Íris pensava já que não conhecia a família dele.
Devolveu a foto ao lugar, viu que toda mobília era coberta por uma camada fina de poeira.
— Você mora aqui? — Íris virou-se o olhar sem emoções de Oliver.
— Não. É a casa de um amigo.
— Ele não mora aqui pela poeira.
O comentário quase sussurrado foi o suficientemente baixo para Oliver ouvir, Íris olhou para a moldura, deveria ser a casa do rapaz da foto.
Naquele instante Oliver não se sentiu disposto a explicar que perdeu o seu amigo Luan em meio a uma operação, não era um assunto que ele gostava de falar ou lembrar.
— Você pode ficar no quarto, à porta da direita. — Oliver apontou para o lugar. — Tem um banheiro privativo, mas lá não tem nada.
— Obrigada.
Íris se afastou carregando suas coisas, seus passos eram silenciosos como um gato com medo que lhe pode acontecer, apenas observava com um misto de emoções, será que poderia salvá-la?
Ela adentrou o quarto, a cama estava sem lençóis, caminhou até o guarda-roupa, dentro dele havia algumas roupas de cama e toalhas. Enquanto ela esticava os lençóis na cama sentiu um aperto em seu peito, imaginar como estava sua casa era desesperador.
Oliver estava sentado no sofá, tentava acalmar seus demônios que estavam em completo descontrole, quando a caminha tocou, o barulho de alguém digitando a senha chamou sua atenção.
— Demoraram. — Oliver se levantou, puxou um quadro branco que Luan e ele usavam quando discutiam alguns casos. Era um lugar cheio de lembranças.
Carlos se sentou no sofá onde Oliver estava anteriormente, Patrícia revirou os olhos ao comentário de Oliver.
— Suspeitando corretamente que aqui não deveria ter nada, eu passei no mercado para comprar coisas para vocês. — Patrícia caminhou até a cozinha e deixou sacolas de mercado sobre a pia, voltando à mesa o quadro branco já estava escrito — Como está a professora?
Patrícia olhou em volta buscando Íris, mas não a avistou em lugar algum.
— Acho que bem — Oliver comentou — Creio eu que ela é uma garota simples, não está acostumada com essas coisas, ela faz pintura de dedo.
— Entendo bem, nós inseridos neste meio nunca esperamos essas coisas.
A voz de Patrícia saiu em um tom triste e trêmulo, havia uma melancolia de alguém que havia perdido seu amor, naquele momento ela lutava para manter a compostura.
Luan e ela tiveram um relacionamento, mas o rapaz acabou falecendo em uma missão, morto por homens malvados. Agora não era o momento que ela ia se deixar abalar, precisava ser forte. Tinha que ajudar Oliver que sua muralha com a perda de Luan.
— O que vocês pensaram? — Oliver perguntou curioso.
— Bom, não informamos a ninguém para onde vocês vão, uma cidade do interior chamada Paraíso — Carlos entregou uma pasta para Oliver — Conseguimos uma casa bem localizada para vocês, perto de um mercadinho e uma praça.
— Quantos habitantes?
— Quase 6 mil — Carlos comenta.
— Parece um inferno — Oliver diz em voz baixa.
— Além disso — Carlos continuou ignorando a reclamação de Oliver — Vocês são um casal fugindo das grandes cidades para ter filhos.
— Filhos?
— É a desculpa frequente de todos, preferem que as crianças cresçam no interior. Quando consegui o imóvel explique que era seu assistente, parecem curiosos e fofoqueiros. Mantenham as aparências.
Os barulhos de conversaram chamaram atenção de Íris que saiu sem fazer barulho do quarto, seus passos foram lentos e silenciosos, cada voz e fala vazia seu coração acelerar, se escondeu no canto do corredor, queria se manter oculta.
Pensou que daria certo, mas Oliver a viu escondida, seus olhos encontraram os dela, parecia uma criança, ele esboçou um sorriso contido.
— Pode se aproximar — ele chamou — isso é de seu interesse.
Apenas concordando com a cabeça, ela se aproximou, sentou na poltrona de veludo azul e olhou para Oliver, que estava em pé.
— Como você está? — Perguntou Patrícia, sua voz estava carregada de solidariedade
— Não sei dizer isso. — Era um fato que agora Íris ainda não sabia como descrever suas emoções, era algo intenso e controverso.
Oliver a encarava, suas emoções eram capazes de o dominar, sentiu um desejo de correr até ela e abraçar, dizer que ficaria tudo bem, mas manteve sua frieza. Ela era uma vítima e ele um delegado de polícia, não poderiam passar os limites.
— Pode confiar neles, Íris — Oliver entrega a pasta de Paraíso para Íris — se algo me acontecer as únicas pessoas que podem confiar é neles. Não deve entrar em contato com ninguém que não seja eles, pode haver delatores.
— Na Polícia?
— Em qualquer lugar.
— Sabem que você vai se esconder?
— Não — Carlos entrou no meio da conversa — Conseguimos adiantar as férias do Doutor Rangel, então apenas parece longa férias e vamos dar entrada no afastamento dele.
— O que faço com meu emprego? — Íris pensou em suas crianças, na sua vida, ela suspirou apertando suavemente a pasta que havia recebido para aliviar sua frustração
— Escreva uma carta pedindo demissão, quando voltar vamos explicar a situação e tudo voltará ao normal. Será rápido.
— Qual o plano? — Íris perguntou tentando ser impassível já que Oliver parecia não se abalar com nada
— Três carros, três paradas. Vocês vão sair daqui buscar suas coisas e vão seguir até um posto de parada de caminhões — Carlos apontou no mapa — Lá vamos ter um carro novo, todos os dados dele foram adulterados, ele não deixará rastros. Deixem os celulares de vocês lá, após 24h um dos rapazes buscará. Vender o carro e quebrar os celulares de vocês.
— Quebrar?
— Podem ter invadido os nossos celulares — Oliver comenta — é comum para a gente.
— Depois vocês terão outra parada — ele apontou outro posto — aqui vai ter um carro, terá celulares para vocês, entrem no motel, peguem um quarto e troquem o carro.
— Vai dar certo? — Iris perguntou insegura
— Sim. — Carlos comentou — organizei tudo a uns dias já, imaginei que essas ameaças não eram brincadeiras.
— Quando vamos voltar?
Todos ficaram estáticos com a pergunta de Íris. Os três se olharam em completo silêncio, um desconforto começou a pairar sobre o ar, quem teria coragem de dizer a verdade para Íris.
Oliver a olhou, uma moça inocentemente alheia ao que acontecia à sua volta e o que a cercava, parecia que as palavras não tinham coragem de sair de seus lábios, e suspirou de Oliver quebrou o silêncio, ela o encarou.
Patrícia notou a troca de Oliver e Íris, ela sabia que havia algo ali que nem se quer eles sabiam, a voz dela cortou o contato visual deles.
— Bom, estamos à procura do homem que comanda essa operação no Brasil, ainda não temos sinal dele. Assim que ele for preso.
— ou morto — Oliver fala com tom de raiva em sua voz.
— Vocês podem voltar a vida de vocês.
— Enquanto isso vão ser um belo casal de recém casados — Patrícia diz com um sorriso gentil, havia notado uma tensão entre eles que ambos não haviam reparado ainda.
— Casal? Vamos ter que mudar de nome também?
Oliver caiu na risada, talvez fosse um efeito dos seus sistemas nervoso. Acho engraçado a referência de Íris ser de filmes e seriados que já havia assisto.
— Evitem dizer o sobrenome. Oliver e Íris. Isso é tudo que precisam falar.
Oliver, Patricia e Carlos seguiram conversando coisas com temas legais que Íris não sabia o que significava, ela apenas acenava com a cabeça para fingir que prestava atenção no que estava sendo falado.
Quando Patricia e Carlos foram embora já era de madrugada. Patricia havia trazido roupas para Íris caso ela quisesse tomar um banho, eram novas e ela tentou acertar o tamanho, ficou apertado mais dava para usar.
Quando ambos ficaram sozinho na sala, Oliver olhou para Íris.
— Vamos no seu apartamento quando o sol estiver saindo e voltamos. Você pode pegar algumas coisas.
— Você sabe o estado dele?
— Sim, pedi para arrumarem a porta para não ficar aberto. Descanse um pouco e saímos em breve.
Íris voltou para o quarto, ela não conseguiria dormir mais tentou descansar, Oliver também não conseguiria dormir, por isso ficou procurando revisando todas as escutas e conversas de aplicativo de mensagens que havia conseguido de sua investigação, procurando algum sinal.
Eram exatamente 4h45 da manhã quando Íris apareceu na sala, Oliver estava ainda focado na tela, ele não tinha se dado conta de que horas eram.
Oliver não havia notado a presença de Íris, agora ela parou para analisar o homem, a sua frente, seus olhos estavam fixos no computados e seus dedos ágeis percorriam o teclado. Estava tudo escuro a sua volta, ele era iluminado apenas pelo brilho da tela, vestia uma camiseta branca e uma calça. Parecia diferente sem o terno, ainda estava bonito mesmo casual.
Um sorriso brotou no canto do lábio de Oliver quando ele sentiu que Íris o observava.
— Quer comer algo? — Perguntou sem desviar o olhar da dela.
— Não, obrigada. Já estou pronta. — Íris tentou mostrar seriedade e impassividade. Se as circunstâncias fossem outras.
— Vamos então.
Oliver se levantou da frente do computador, pegou a chave do seu carro, eles iriam correr pelas ruas, o plano era ir rápido, chegar mais rápido ainda.
Ambos foram ao carro em silêncio, Oliver arrancou em alta velocidade, percorria as ruas com pouco movimento e uma música alta que batia contra os vidros.
A música parecia preencher o vazio que aquela situação tinha, ele abaixou o som o volante quanto eles estavam chegando não deveria ter barulho e agora eles deveriam ser discretos.
O carro foi parado em um lugar proibido, Oliver havia explicado que a ideia era ser rápido, ficou preocupado com a reação de Íris ao ver suas coisas todas quebradas.
O caminho até a porta de Íris foi percorrida em completo silêncio. Ao olhar a porta havia marcas dos chutes que tomou para ser invadida, ela deslizou os dedos pela madeira que agora estava levemente danificada.
Quando empurrou a porta, seu coração se afundou ao ver o estado que estavam suas coisas. Móveis estava quebrado, havia estilhaços de vidro para o chão, ela ficou parada sem saber por onde começar, tudo que havia trabalhado tanto para conseguir foi destruído tão rapidamente.
Íris sentiu que não iria conseguir lidar com isso, seus olhos encheram de lagrimas, Oliver parou em sua frente como se fosse impedir ela de continuar contemplado a destruição.
— Sei que é um momento difícil — Oliver tocou o braço dela com suavidade na ideia inútil de tentar apoiá-la
— Como se tudo estivesse desmoronando na minha frente, como um castelo de carta. — Iris se sentou no sofá, lágrimas escorreram pelo seu rosto, ela apenas desejava ter uma vida tranquila e isso foi tirado dela.
Oliver senta-se ao seu lado, puxa o rosto de Íris pro seu ombro — Se eu pudesse voltar no tempo arco-íris. Sinto muito.
— Não podemos ficar? — sua voz é dotada de uma esperança que talvez eles consigam escapar sem ter que deixar tudo para trás.
— Eu adoraria ficar, mas acho que não seria seguro. Se não fosse o ataque que você já sofreu, não chegaria a esse ponto.
— Eu oficialmente odeio tulipas amarelas — ela diz entre lágrimas.
— Também odeio arco-íris — Oliver beija os cabelos de Íris, que ainda está apoiada em seu ombro.
E ai amorecos. Tudo bem? Acabei de escrever esse cap agora dia 11/12/2022 as 15h49. Mas eu vou liberar três cap de uma vez e como não sei escrever dele/dela. Pode demorar.
Comenta ai quando você leu esse capítulo.
Revisão - 04/03/2023
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