Capítulo 31. Dia do sorvete.
Oliver dedicou-se à sua carreira e a Juju, sua sobrinha, sendo a única mulher que realmente merecia todo o seu amor. Eles tinham o "Dia do Sorvete", uma tradição onde toda quinta-feira iam juntos à sorveteria.
Na primeira semana de aula de Julieta, Oliver estava ansioso por encontrá-la para tomar sorvete e depois irem para casa, mas ele não esperava que quem a acompanharia até o portão seria Íris. Ao vê-la, ele sentiu uma mistura de sentimentos: o desejo de correr até ela, abraçá-la, beijá-la, e também uma dor no peito, seu coração apertou, e seus olhos se encheram de lágrimas involuntariamente.
Fazia exatamente um ano, dois meses e dezoito dias que Oliver não via Íris. Ela continuava tão linda quanto se lembrava, com um sorriso amplo em seus lábios.
Quando seus olhares se encontraram, Íris sentiu todas as emoções que havia reprimido por tanto tempo voltarem à tona. Quantas vezes ele lhe disse que a amava, e ela nunca teve coragem de responder. Porém, naquele momento, ela percebeu que o sentimento também estava vivo dentro dela. Era difícil lidar com a intensidade daquele reencontro, mas sabia que algo precisava ser dito, algo que ficou guardado por tempo demais.
— Tio — Julieta puxava Íris pela mão até Oliver — A tia arco-íris voltou.
— Oi — Íris disse timidamente, sentindo o coração acelerar. Tinha tanto a dizer, mas a coragem parecia escapar de suas palavras.
— Oi Íris, como tem passado? — O tom da voz de Oliver era formal, como se estivessem mantendo uma distância cuidadosa.
— Bem, e você? — respondeu ela, tentando disfarçar o nervosismo.
— Bem — ele respondeu de forma simples.
— Tia, vamos tomar sorvete com a gente? — Julieta convidou com entusiasmo.
— Ah, Juju — Íris se abaixou, ficando na altura da sobrinha — A tia tem que resolver umas coisas ainda.
— Eu e o tio esperamos, você vai tomar sorvete com a gente?
— Juju ela pode estar ocupada... — Oliver a interrompeu, pegando-a no colo.
— Não tá.
— Julieta. — Oliver chamou sua atenção, mas Julieta se mantinha em sua teimosia. Em sua cabecinha passava o plano de juntar seus tios novamente.
— Não tá, tio, eu sei. — Íris apenas encolheu os ombros.
— Se você quiser ir... — Oliver comentou, deixando a opção em aberto.
Por um tempo, ambos se entreolharam, Íris não sabia exatamente se deveria ou não aceitar o convite. Estava preocupada que Oliver não a quisesse por perto, mas também desejava aproveitar aquele momento com ele e a sobrinha. As dúvidas a assombravam: ele a odiava ou não? Era só isso que ela pensava, mas precisava tomar uma decisão.
— Eu vou buscar minhas coisas.
— Eba! — Ela levantou os braços, animada. Íris voltou para dentro da escola.
— Tio, agora você tem que pedir a tia arco-íris em casamento.
— Como, Juju?
Oliver abriu a porta do carro para Julieta, que subiu e ele a prendeu na cadeirinha.
— Uma chata feia da minha turma vai ser noivinha e eu vou ser do seu casamento também.
— Amor, o tio não vai casar.
— A tia voltou, você casa com ela e eu vou ser noivinha.
— Prometo pensar no assunto.
Íris saiu de lá de dentro, agora com apenas uma mala de mão. Oliver fechou a porta de Julieta.
— Agora você anda com mala. — Ele sorriu para Íris e colocou a pequena mala dela no porta-malas de seu carro.
— Machuquei as costas e o médico me recomendou não usar mais tantas bolsas.
— Iris, se você não quiser ir, tudo bem.
— Eu quero.
Oliver foi até a porta do carro e a abriu para Íris, que entrou. Quando ele ligou o carro, o som começou a tocar.
— Titio, essa não. — Ela se referia à playlist.
— Qual você quer ouvir?
— A outra lá. — Julieta escondia um segredo, sua mãe havia falado que o tio ouvia músicas de sofrer por causa de Íris.
— Ah, sim. — Oliver riu e colocou uma playlist de música sertaneja considerada "sofrência".
Julieta cantava as músicas de cor, e Íris sentiu um rubor subir em seu rosto, todas as músicas pareciam uma indireta para ela. A viagem prosseguiu com momentos de descontração e risadas, mas havia um misto de emoções no ar, pois o destino de Íris ainda era incerto e o coração de Oliver se debatia entre a alegria de tê-la de volta e a tristeza da possível partida em breve.
— Tio, você tá triste? Não tá cantando comigo. — Juju chutou o banco de Oliver, notando a ausência de animação nele.
— Que isso, Juju? Só não precisamos deixar a Íris surda. — Ele sorriu, tentando disfarçar o sentimento de tristeza.
— Canta, tio!
Juju berrava uma música do Gusttavo Lima dentro do carro, e Oliver, mesmo com o coração apertado, cantou com ela até chegarem à sorveteria. Ao estacionar, ele parou o carro de uma vez, o que fez Íris soltar uma risadinha.
— Sorvete! — Ela falou alto, animada com a ideia.
— Vou te ajudar a descer, Juju.
Íris saiu do carro e tirou o cinto de segurança da sobrinha, ajudando-a a descer. Oliver fechou o carro e se aproximou delas.
— Sorvete de que hoje, princesa? — Ele segurou a mão de Julieta, e juntos, entraram conversando animadamente na sorveteria.
— Huum, eu quero ver todos! — Julieta respondeu, curiosa, e começou a olhar os diferentes sabores de sorvete.
Eles passaram um bom tempo na sorveteria, Julieta encantada com todas as opções. Finalmente, ela escolheu o seu sorvete e voltou para Íris, radiante com o sabor escolhido. Íris olhou para Oliver, e mesmo com a tristeza ainda presente, sentiu-se grata por aquele momento especial com a sobrinha e o homem que um dia amou e que ainda ocupava um lugar especial em seu coração.
— Vamos sentar. — Ambos foram até a mesa, e Oliver ofereceu a Íris um café que ele havia pegado para ela.
— Obrigada, Oliver.
Juju sentou-se animada na cadeira, Íris acomodou-se em frente a ela, enquanto Oliver ficou ao seu lado.
Oliver sentia uma mistura de emoções dentro de si. Queria abraçar e beijar Íris, mas ao mesmo tempo, sentia raiva e frustração por não ter conseguido esquecê-la completamente.
— Sua mãe gosta que você venha aqui? — Íris perguntou para Julieta.
— Não, ela falou que quando você tiver filhos vai fazer o mesmo. — Juju respondeu com naturalidade.
O sorvete de Julieta era enorme, repleto de docinhos e coberturas coloridas. Ela se deliciava com cada colherada, explicando empolgadamente sobre suas férias e suas novas experiências na escola. Era típico de Julieta monopolizar a conversa e se sujar inteira com o sorvete.
— Vamos, amor? Sua mãe já está mandando mensagem dizendo que você só podia tomar o sorvete pequeno. — Oliver disse, tentando conter a bagunça da sobrinha.
— Esse é pequeno, tio! — Julieta respondeu toda lambuzada, orgulhosa do seu sorvete gigantesco.
— Vem, a tia vai te ajudar a lavar suas mãos. — Íris se levantou com a menina e foram juntas ao banheiro.
Enquanto lavavam as mãos de Julieta, a menina fez uma pergunta curiosa:
— Tia, você vai casar com o meu tio, né?
— Como, meu amor?
— Ele vai casar com você.
— Eu não sabia disso.
— Ele vai pedir, eu sei.
Íris sorriu da inocência de Julieta e disse: — Ah, sim.
— Eu vou ser a noivinha. — Julieta anunciou com entusiasmo.
— Igual a Mariana?
— Vou ser mais bonita que ela.
— Entendi agora. — Íris riu, concordando com a empolgação de Julieta.
Ao voltarem para a mesa, Julieta correu até Oliver e o abraçou com alegria.
— O que, Juju?
— Você sabe! — A menina riu, dando um segredo que não parecia ser segredo para ela.
Quando Íris retornou, eles decidiram levar Julieta de volta à casa de Gabi. No caminho, a pequena continuou cantando e falando animadamente sobre o sorvete que havia saboreado. Oliver entregou Julieta a Gabi, que o repreendeu pela demora e se preocupou com o açúcar que a filha havia ingerido antes de dormir.
Quando voltou ao carro, a atmosfera ainda estava agitada. Oliver respirou fundo antes de dar a partida e conduzir Íris de volta para casa.
— Vou te levar pra casa. — Ele disse, mantendo a voz calma.
— Obrigada. — Íris respondeu, olhando para fora da janela.
— Onde você está morando? — Oliver perguntou, tentando manter a conversa leve.
— No mesmo lugar de antes. — Íris respondeu, ainda com certa tensão na voz.
O caminho de volta foi guiado pela música que tocava no rádio. As palavras se tornaram desnecessárias naquele momento, e ambos preferiram se perder nas melodias que preenchiam o ambiente.
Finalmente, o carro chegou ao apartamento de Íris. Oliver parou o veículo em frente ao prédio e desligou o motor.
— Chegamos. — Ele disse, olhando para ela com uma mistura de sentimentos.
— Sim. — Íris respondeu, olhando de volta para ele.
Por um instante, o silêncio prevaleceu entre eles, e a tensão podia ser sentida no ar. Oliver queria dizer algo, mas as palavras pareciam ter desaparecido de sua boca.
— Bom... obrigada pelo sorvete e por me trazer de volta. — Íris disse, quebrando o silêncio.
— Não precisa agradecer. Eu só... queria ter mais tempo com você. — Oliver confessou, olhando nos olhos dela.
— Eu também... — Íris respondeu, desviando o olhar por um momento.
Oliver sentiu uma vontade imensa de abraçá-la e beijá-la, mas a hesitação ainda o impedia. Em vez disso, ele abriu a porta do carro para ela, dando a entender que era hora de ir.
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