Capítulo 1
Cidade do México — México.
Maite vive com seu marido, Daniel e seu filho Vitor. O garoto, de nove anos, é apegado à mãe e bastante sapeca. Maite está presa a um casamento abusivo e controlador. No fundo, não se sente confortável ao lado do marido, mas permanece casada para manter as aparências.
Daniel é advogado, um homem sério, egocêntrico, ciumento e violento. Ele controla Maite severamente, sufocando-a com suas exigências e imposições. Sempre atento a cada passo da esposa, ele a monitora de perto, limitando sua liberdade e restringindo suas escolhas.
Apesar do medo que sente, Maite começa a questionar sua própria vida. A cada dia, cresce dentro dela o desejo de escapar daquela prisão silenciosa. No entanto, a ideia de fugir parece impossível, especialmente por causa de Vitor. Ela não suporta a ideia de deixá-lo para trás, mas tampouco deseja que o filho cresça em um ambiente tão opressor.
Enquanto tenta manter as aparências, Maite começa a planejar secretamente sua saída. Porém, Daniel não é um homem que aceita ser desafiado. E qualquer deslize pode significar o fim de sua liberdade ou até mesmo algo pior.
Maite está arrumando Vitor para a escola. Ela penteia os cabelos do filho e ajeita seu uniforme, admirando-o com um sorriso.
— Está lindo, meu amor. Pronto para ir? — Pergunta, ajeitando o uniforme dele.
— Sim, mamãe. Você vai me levar?
— Claro que sim. — Ela se levanta e estende a mão. — Vamos descer, senão você pode se atrasar.
Vitor assente e segura a mão da mãe. Juntos, saem do quarto e descem as escadas. No hall de entrada, Daniel já os espera.
— Vou levar o Vitor para a escola — Informa Maite, tentando soar natural.
Daniel cruza os braços e a encara com frieza.
— Nós vamos levar, Maite. Ele é nosso filho.
Ela respira fundo, tentando conter a frustração.
— Eu posso levá-lo sozinha. Depois, quero visitar uma amiga.
Os olhos de Daniel estreitam-se. Em um movimento rápido, ele segura firme o braço da esposa.
— Que amiga?
Maite se esforça para manter a calma.
— A Dulce. Ela está grávida e vou ajudá-la a escolher o enxoval.
Daniel solta o braço dela lentamente, mas mantém o olhar duro.
— Eu levo Vitor para a escola e depois deixo você na casa dela. Quando sair do escritório, passo para te buscar.
Ela respira fundo, mas não discute. Apenas assente, mesmo sentindo o nó apertado na garganta. Cada dia ao lado dele parece uma prisão sem grades, onde até as decisões mais simples precisam de sua aprovação. Mas, por dentro, ela sabe que precisa encontrar um jeito de escapar. E precisa fazer isso logo.
No caminho até a escola, o silêncio dentro do carro é quase sufocante. Vitor, alheio à tensão entre os pais, olhava pela janela do carro, enquanto Maite mantém o olhar fixo na janela a seu lado, tentando ignorar a presença opressora de Daniel ao volante.
Ao chegarem à escola, Maite sai do carro e abre a porta traseira e ajuda o filho a descer. Ele a abraça com força.
— Tchau, mamãe. Te amo.
Ela beija a testa do menino e sorri, apesar do aperto no peito.
— Também te amo, meu amor. Se comporte, está bem?
Vitor acena e corre para o portão. Maite o observa até que ele desapareça entre os outros alunos. Quando se vira para voltar ao carro, sente o olhar de Daniel queimando sobre ela.
— Agora vamos para a casa da sua amiga
Maite entra sem discutir, embora soubesse que essa não era uma gentileza. Daniel nunca fazia nada sem um motivo. No caminho, ele mantém a expressão séria, os dedos apertando o volante com força.
— Quanto tempo você pretende ficar lá? — Pergunta, sem desviar os olhos da rua.
— Não sei. Talvez algumas horas. Faz tempo que não a vejo.
Ele solta uma risada seca.
— Algumas horas? E o que vocês têm tanto para conversar?
Maite fecha os olhos por um momento, sentindo a paciência se esvair.
— Daniel, ela está grávida. Vamos escolher o enxoval. Você quer que eu cronometre cada minuto?
— Eu só quero saber onde você está. É normal um marido se preocupar com a esposa.
Ela não responde, apenas suspira. Qualquer palavra errada pode transformar aquela conversa em uma discussão sem fim.
Quando chegam ao prédio de Dulce, Daniel estaciona e a encara.
— Vou te buscar às cinco. Não saia para outro lugar.
Maite assente sem emoção, abre a porta, desce rápido e entra no prédio. Assim que ele arranca com o carro, sente o ar voltar aos pulmões. Mas sabe que aquela sensação de alívio é passageira. Porque, no fundo, Daniel sempre está ali. Observando. Esperando o menor deslize. E ela sabe que, cedo ou tarde, terá que encontrar uma saída.
Em Monterrey, Willian terminava os preparativos para a viagem à capital com sua esposa Alexandra, e sua filha Naelly, de seis anos. A mudança representava uma nova oportunidade profissional para ele, mas, para Alexandra, significava algo ainda maior: um passo rumo a uma vida mais sofisticada, exatamente como sempre desejou.
Willian organizava as malas no porta-malas do carro, mas não conseguia conter o incômodo ao ver a quantidade de bagagem que a esposa havia preparado.
— Alexandra, não há necessidade de tantas malas.
Ela, já acomodada no banco do passageiro, suspira impaciente.
— Meu amor, estamos nos mudando para a capital. Acha mesmo que vou deixar todas minhas roupas aqui?
—Isso é um exagero! Eu mal trouxe minhas próprias roupas; trouxe apenas algumas. Foi difícil até encaixar minha mala e os brinquedos da Naelly.
Willian olha ao redor, franzindo a testa ao perceber a ausência da filha.
— Aliás... onde está Naelly?
— Deve estar vindo — Responde, distraída, verificando as unhas.
Ele coloca as mãos na cintura, irritado.
— Você deveria estar ajudando ela! Que tipo de mãe você é?
— Sou uma mãe moderna, Willian. Não quero estragar minhas unhas, e, além disso, nossa filha já sabe se arrumar sozinha.
Willian revira os olhos e, sem responder, entra novamente na casa. No canto da sala, encontra Naelly sentada no chão, os olhos baixos e os bracinhos enlaçados ao redor dos próprios joelhos. A tristeza dela é evidente.
Ele se abaixa e segura suavemente o rosto da filha entre as mãos.
— Princesa, o que aconteceu?
Ela o encara com os olhos marejados.
— Papai, eu não quero ir. Vou ter que deixar meus amiguinhos... nunca mais vou brincar com eles.
O coração de Willian aperta. Ele sabia que a mudança seria difícil para a filha, mas não imaginava que a filha ficaria tão triste.
— Eu sei que é difícil, meu amor — Diz ele, passando a mão pelos cabelos dela. — Mas prometo que essa nova cidade pode ser divertida também. Vamos explorar juntos, conhecer novos lugares, e você fará novos amiguinhos.
— Mas eu gosto dos meus amigos daqui... — Sussurra, segurando as lágrimas.
Willian suspira, sentindo-se impotente. A mudança era necessária e inevitável, mas, por Naelly, ele faria o possível para que ela se sentisse segura e feliz.
—Podemos ligar depois para cada um dos seus amiguinhos e prometer que vão continuar amigos. O que acha?
Ela hesita, mas por fim assente devagar.
— Tá bom papai..
Ele sorri e a abraça com carinho.
— Vai dar tudo certo, minha princesa. Eu prometo.
No fundo, Willian se perguntava se aquela promessa realmente poderia ser cumprida. Afinal, ele próprio não sabia o que esperar dessa nova vida que estavam prestes a começar ou recomeçar.
Willian segura a pequena mão de Naelly e juntos saem da casa. Com um último olhar para o lugar onde viveram tantas memórias, ele tranca a porta, sentindo um aperto no peito. Embora soubesse que a mudança era necessária, não podia ignorar o sentimento de despedida que pairava no ar.
Ao chegarem ao carro, Willian abre a porta traseira para a filha. Naelly sobe silenciosamente e se acomoda no banco, abraçando seu bichinho de pelúcia favorito. Ele fecha a porta com cuidado e dá a volta até o banco do motorista.
Alexandra, impaciente, checa o celular e suspira ao vê-los se acomodando.
— Finalmente! Pensei que íamos passar a noite aqui — Resmunga.
Willian ignora o comentário e dá a partida no carro. Conforme deixam Monterrey para trás, o silêncio se instala no automóvel, quebrado apenas pelo barulho do motor e o barulho dos outros carros que passavam por eles.
A viagem é longa e monótona. Naelly observa pela janela, vendo as paisagens mudarem aos poucos. De vez em quando, suspira baixinho, abraçada ao seu ursinho de pelúcia, sem dizer uma palavra.
Willian aperta o volante, lançando olhares para a filha pelo retrovisor. Ele sabia que aquela viagem não era apenas uma mudança de cidade, mas também uma transição difícil para Naelly. E, de certa forma, também para ele e talvez, poderia reencontrar seu grande amor.
Já Alexandra, alheia a qualquer sentimento de despedida, retoca a maquiagem no espelho do carro e sorri para si mesma. Para ela, essa era uma oportunidade de ouro, um passo rumo a uma vida mais grandiosa e cheia de status.
De volta à Cidade do México, Maite entra no apartamento de Dulce e é recebida com um abraço caloroso. A barriga da amiga já está bem evidente, marcando o sexto mês de gestação. Ela espera um menino e, apesar do cansaço da gravidez, exibe um brilho especial no olhar.
— Dul, amiga! Você está linda! — Fala Maite com um sorriso sincero, envolvendo Dulce em um abraço.
— Obrigada, May! — Responde, retribuindo o gesto. — E você, como está? Veio sozinha?
Maite suspira profundamente, sentindo o peso da resposta antes mesmo de dizê-la.
— Infelizmente, não. Você sabe como é... Quase nunca consigo sair sozinha. Daniel sempre está atrás de mim, como uma sombra. Confesso que estou exausta disso.
— Eu entendo perfeitamente, amiga. Seu marido é um homem escroto, controlador, abusivo e egoísta. Você precisa dar um basta nessa situação. Se eu fosse você, pegaria o Vitor e fugiria antes que seja tarde.
Maite abaixa o olhar, sentindo o aperto no peito aumentar.
— Vontade não me falta, Dul. Mas se eu fizer isso, Daniel me perseguirá até o fim do mundo. Além disso, ele pode usar sua influência para me tirar a guarda do meu filho. Ele é violento, não iria aceitar essa situação pacificamente.
Dulce observa a amiga com atenção e hesita antes de perguntar.
— May... Ele já bateu em você?
Maite não responde de imediato. Apenas solta um longo suspiro e passa as mãos pelos cabelos, desviando o olhar.
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