III
No castelo de Hagalaz, rainha Sabthe cumpria sua rotina normalmente. Durante boa parte da manhã, submeteu-se a exames; não poderia correr o risco de contrair uma das pragas que se alastrava pelo reino. Logo após passar pela checagem, serviçais vieram com seus trajes reais. Decidiu que usaria um vestido de seda rosa cheia de arabescos ao longo das pernas, fino o suficiente para que não passasse calor nos horários mais quentes do dia.
Caminhando pelos arredores do castelo, procurou por Redwic em todos os lugares possíveis. Mandou seus melhores rastreadores, mas nenhum sinal dele. Já era tarde e ninguém tinha o visto durante o dia todo. Cancelara todos os seus compromissos apenas para se dedicar na busca pelo amigo querido. Redwic nunca fez algo do tipo, ele sempre falava sobre o que pensava e sobre como desejava agir. Isso a fez ficar mais preocupada sobre o paradeiro da raposa.
— Primer Facdir — chamou Sabthe, rodeada de seus ministros na mesa circular. — Preciso de opiniões para saber o que faremos. Redwic nunca desapareceu dessa forma.
— Estamos perguntando a todos do reino, minha rainha — respondeu Facdir, cruzando as mãos sobre a mesa. Os outros ministros se remexiam, desconfortáveis. —, mas não encontramos ninguém que tenha o visto.
— Dobre os rastreadores! — ordenou Sabthe, cerrando os punhos. Seu reflexo sobre a mesa brilhante revelava uma mistura de angústia e raiva. Por que Redwic sumira de forma abrupta em um momento tão ruim?
— Rainha Sabthe — Thalimec levantou-se, ajeitando a faixa verde ao redor do pescoço peludo. — Redwic pode estar em qualquer lugar de Hagalaz. Não seria melhor...
— Redwic me avisaria, como sempre fez!
— Talvez esteja morto — acrescentou Facdir, coçando a ponta do nariz. Sabthe o olhou com olhos ardentes em fúria. — Seria prudente focar nosso interesse nos problemas do reino.
— Como ousa, Primer Facdir? — Sabthe levantou de súbito, a cadeira de metal fazendo um barulho estridente ao se atritar com o chão. — Redwic é nossa esperança para dias melhores! — ela pausou, respirando fundo. — Não me surpreenderia se vocês, caros ministros, estivessem de olho em assumir a posição de conselheiro real. Especialmente você, Facdir. Não está satisfeito sendo primer ministro?
Os seis ministros que ali estavam se entreolharam surpresos. Era verdade o que ela dizia, mas, obviamente, negariam até a morte. Facdir empalideceu, encolhendo-se na cadeira.
— Nunca nessa terra, Vossa Majestade! — gaguejou Thalimec, fazendo seus companheiros de ofício concordarem desesperadamente. — Nossos melhores rastreadores estão à procura de Redwic, o vermelho!
— Estamos fazendo o nosso melhor! — Facdir engoliu em seco, sentindo os olhares furiosos da rainha sobre ele.
Antes que Sabthe o respondesse, ouviu a porta atrás dela se abrir, revelando um pássaro ao lado de um de seus cavaleiros.
— Rainha Sabthe — reverenciou o cavaleiro de elmo prateado. —, esse pássaro diz ter visto Redwic perto dos campos secos do leste.
— Como se chama, caro pássaro? — perguntou Sabthe, acompanhada dos ministros.
— Ominus, minha rainha — o pássaro respondeu, ousando pousar sobre a mesa. —, sou amigo de Redwic.
— Redwic, o vermelho? — Ominus assentiu com um assobiar. — É verdade que você o viu?
— Sim, Vossa Majestade, eu o vi.
— Para onde ele estava indo?
— Embora, mas não sei para onde.
— E por que não o perguntou? — Sabthe já estava perdendo a paciência com as vagas respostas da ave.
— Eu perguntei, oras! Mas ele apenas me respondeu que iria embora porque os amava.
— Amava? Quem Redwic amava?
— Vocês, gadoines.
Sabthe, então, caiu por si. Ele os abandonara.
— Obrigada, Ominus — agradeceu, sentindo seu corpo cada vez mais pesado. Debruçou-se sobre a mesa sem se importar em se mostrar fraca para as pessoas a sua volta.
Primeiro Jadar, agora Redwic. Por que ele os abandonara? Por quê?
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