NA BARRACA
Dias ensolarados cobriram os acampamentos após a expulsão de Murphy, a nova lei de convivência estabelecendo a paz entre os lados inimigos, e o clima acompanhando sua calmaria.
Essa manhã, porém, o céu amanheceu cinza e turvo sobre a cabeça dos jovens, as nuvens escuras trazendo consigo o frio e a umidade de uma futura tarde de chuva.
Assim como o sol, os adolescentes custaram a se levantar, bem acomodados debaixo de cobertas e abrigos quentes, e os poucos que circulavam pelo acampamento dos com pulseira enrolavam-se nos cobertores ou casacos que possuíam, alguns com copos improvisados de madeira ou metal em suas mãos, bebendo o chá de folhas que Monty havia preparado logo ao alvorecer.
O gosto não era dos melhores, mas Clarke o bebia pelo prazer de sentir o líquido cálido aquecer seu corpo por dentro. Não dispunha de mais uma camada de tecido além de seu casaco jeans para cobrir-se, então sentava-se próxima de uma pequena fogueira para receber seu calor, distraidamente assistindo em silêncio os movimentos rápidos, porém cautelosos, de Charlie e Joan mais à frente.
Nos últimos dois dias sua amiga praticou algumas táticas de defesa com a garota menor, no momento ensinando-a uma maneira de livrar-se de um mata-leão, assim cruzando seus braços no pescoço de Charlie, as costas da menina coladas no corpo da maior, Joan ofegando em seu ouvido cada atitude que deveria tomar.
"Proteja seu pescoço pegando no meu cotovelo e pulso, e os puxe para baixo"
"Dobre levemente os joelhos para ganhar base"
"Passe sua perna esquerda por trás da minha direita"
"Agora com o seu quadril você vai me levantar, fazendo com que passe por suas costas até cair no chão"
Clarke não precisava escutar para saber o que lhe instruía, cada passo gravado em sua memória pelas longas horas que passou em treinamento com coronel Cantu durante os anos. Assim como ela, todos os outros filhos do conselho tiveram aulas de defesa pessoal. No entanto, Joan em especial foi mais afundo com as classes quando fechou seus 17 anos, convencendo seu pai após uma longa e feia briga — e a grande ajuda do coronel Joel — a iniciar o treinamento para a guarda da Arca.
Em partes ela acreditava que Joan havia escolhido tal carreira apenas para irritá-lo, porém quando sua amiga começou a passar horas no setor de treinamento lutando contra bonecos e atirando em alvos, ela percebeu que estava errada.
Lutar e proteger fazia parte de Joan, e para mostrar isso a seu pai ela buscou ser a melhor guarda já existente. Acordava mais cedo para ser a primeira a tomar café no refeitório, engolindo sua refeição quase sem mastigar para chegar o quanto antes na ala militar, treinando o dia inteiro e sendo a última a sair.
Essa era sua rotina todos os dias.
Isso dificultou seu relacionamento com qualquer pessoa que antes convivia, seu namoro de um ano foi rompido e ela não pareceu ligar, o próprio Kane reclamava para Abby que só conseguia ver sua filha quando acordava no meio da noite e a via dormindo ainda de uniforme na cama.
Joan provavelmente estava treinando quando Clarke falou com Wells sobre seu pai...
— Hey — Mesmo em tom calmo, Clarke saltou sentada no tronco, o chá já morno em suas mãos respingando na terra pela brutalidade de seus movimentos.
Quando olhou para o lado onde a voz conhecida vinha, encontrou os olhos castanhos de Finn a mirando com curiosidade ao que parecia dois palmos de seu rosto. Perto demais para ela, que se afastou lentamente, deixando o ar perdido voltar aos poucos para seus pulmões.
Na noite que passaram conversando no bunker haviam ficado bem mais próximos do que isso, porém Clarke havia o empurrado para longe de si desde então, e as poucas palavras que trocaram daquela noite em diante foram sobre a cerimônia de separação ou alguma ordem quanto a distribuição de materiais do bunker.
Ela mal conseguia o olhar nos olhos.
— Podemos conversar... a sós? — Ele perguntou relutantemente, buscando os olhos dela ao inclinar-se para frente no tronco, porém ela fitava suas mãos molhadas com restos de chá.
Em partes evitando seu olhar, Clarke se curvou para deixar seu copo na terra e se ocupando com suas mãos ao secá-las nas laterais de sua calça, ela se levantou. O ato vazio dando esperanças o suficiente para Finn.
Ela sabia que precisariam conversar sobre o que estava acontecendo entre eles uma hora ou outra.
Lado a lado cruzaram com algumas pessoas e grupos, mas não cumprimentaram ninguém, caminhando em completo silêncio até Finn abaixar-se para entrar em sua pequena tenda, os joelhos baixos para não atingir o teto.
Era um lugar apertado de largura e altura, e os dois sentados frente a frente preenchiam todo o chão aerado, inevitavelmente perto um do outro, esquentando o ambiente com o calor reprimido de seus corpos.
— Por que me trouxe aqui? — Clarke cuspiu a pergunta, seu peito pesado e um nó grosso entalado em sua garganta. Seus olhos estudavam Finn atentamente esperando uma boa resposta. O Spacewalker, no entanto, apenas sorria divertidamente, seus olhos vibrantes evidenciando a sua animação com algo.
Tirando de seu bolso o que parecia uma pedra no mais profundo tom de preto, Finn riu a jogando casualmente para cima e pegando-a entre seus dedos manchados de um pó escuro e seco. Carvão.
— Eu pensei que meu cafofo precisava de uma decoraçãozinha, e quem melhor que você para fazer isso? — Finn levantou suas sobrancelhas, brincando com um sorriso presunçoso em seus lábios, e Clarke riu com a leveza de seu ser, nunca esperando por isso. — Talvez possa fazer urso bem... — Ele deslizou sua mão pelo ar ao alongar a última silaba da frase, suas feições teatralmente concentradas no tecido claro que formavam suas paredes. Parou o movimento de seu braço apontando com ponta do carvão para parte mais alta ao seu lado. — Aqui.
— Não um urso, por favor — A garota riu baixo negando brandamente com a cabeça, e Finn sorriu ao concordar, ambos relembrando a péssima experiência que tiveram em seu primeiro dia na Terra.
— Qualquer coisa que não um urso, então. — Sugeriu ele em um suspiro leve, sua animação estranhamente perdendo força ao perceber, observando os traços apaixonantes da princesa, que sentia falta daquilo, ver Clarke sorrir... — Confesso que imaginei que se te fizesse ficar um pouco aqui talvez você falasse comigo.
Clarke desceu seu olhar para o chão, o silêncio preenchendo o pequeno lugar, consumindo-o desconfortavelmente em um bafo cálido e incômodo.
Ela gostava de Finn, um dia com ele na Terra foi o suficiente para que quando encontrasse os olhos castanhos bondosos e brincalhões do rapaz, sentisse um nó embrulhar em seu estômago e uma corrente gelada subir por sua espinha. Ali mesmo, naquele momento, seu coração batia forte e dolorosamente no peito.
Seu problema quanto a Finn era a incerteza de que ele sentia o mesmo por ela, e isso a segurou para trás durante dias.
Clarke não era assim, uma garota que fugia de seus problemas e deixava suas emoções lhe controlar, pelo contrário, se considerava racional e direta, como a vida ao lado de Joan lhe ensinou a ser.
Sentia-se idiota por conter-se, por não resolver seus problemas de primeira ao invés de esconder-se atrás de tarefas e preocupações que não deveria ter.
— Eu gosto de você, Finn. — Clarke arrancou as palavras de seu peito como um band-aid de uma ferida, seus olhos firmes e profundos no dele. Não perderia mais seu tempo sofrendo antecipadamente por uma rejeição. — Ao menos, acho que sim.
A revelação pairou duramente no ar, e os olhos de Finn pareceram afundar-se em pensamentos, esses impossíveis de se decifrar. Os cantos de seus lábios finos curvavam-se para cima tão suavemente que ela mal podia considerar aquilo um sorriso, e as suas sobrancelhas franzidas sobre os olhos alheios não lhe diziam nada.
Ao contrário de Clarke, Finn não se considerava nada racional, e sim passional. Era impulsivo, movido por emoções e sentimentos, não por lógica e razão.
Acima de tudo, não era um rapaz bom de palavras, mas sim de ações.
Suas pernas agilmente escorregaram na terra fofa para ele ficar de joelhos, seu corpo inclinado para frente sobre o de Clarke, uma de suas mãos apoiada na coxa da garota para se sustentar, e a outra passando por sua bochecha em um toque rápido e delicado com o polegar, seus dedos levemente pressionando sua nuca para que ela olhasse para cima, onde juntou suas testas.
Os cabelos de Finn caíram gentilmente sobre seu rosto, a ponta de seu nariz vagarosamente roçando no dela e suas respirações quentes emboladas nas beiras de seus lábios que estavam a margem de se tocarem.
Naquele instante, Clarke senta-se leve, seus olhos lentamente a permitindo apreciar por completo as sensações que seu toque lhe causavam, cobiçando mais.
Macia e delicadamente seus lábios se encontraram e o desejo não cessou, apenas crescendo em seu peito.
Ela o permitiu aprofundar o beijo, suas mãos sentindo cada centímetro do peito ofegante de Finn ao subirem para sua nuca, enroscando o cabelo longo dele nos nós de seus dedos. Seus próprios pés deslizaram na terra para ela ficar de joelhos a sua altura, suplicando por mais contato, mais calor.
Em perfeita sincronia Finn subiu uma de suas mãos para a cintura de Clarke, seus dedos firmes em sua pele por debaixo da camisa puxando-a mais para perto, permitindo-os sentir as batidas aceleradas do coração do outro unidas em uma só sinfonia sem ritmo, suas respirações arfantes esquentando o ar curto da pequena barraca.
Eles ferviam em chamas.
Os dedos de Finn explorando a pele de Clarke sob o tecido de sua camiseta, e os dela não fazendo diferente ao deslizar pelos ombros do rapaz, arrastando o tecido grosso de seu casaco.
Rompendo o beijo para que ele tirasse a primeira peça de roupa, o ar saiu brutalmente dos lábios de Clarke, seu peito arfante como se tivesse corrido por horas sem descansar. Ambos não perderam tempo, ela tirando sua jaqueta e camisa enquanto Finn fazia o mesmo, seus olhos enchendo-se de luxúria ao estudar o corpo curvo e belo de Clark.
Ela sentia seu olhar lúbrico sobre ela ao aproximar-se novamente, o brilho deleitoso em seus olhos fervendo a pele de Clarke em excitação.
As mãos fortes deslizaram pelas coxas encorpadas da garota ao sustentar seu olhar quente, encaixando seus dedos nas costas dos joelhos dela para trazê-la para cima dele, sentando-a em seu colo volumoso ainda coberto pela calça jeans, os olhos verdes sempre conectados aos seus.
Por um segundo ficaram assim, apreciando um ao outro em um silêncio confortável e aconchegante, lentamente aproximando seus rostos até suas testas se encontrarem.
Apreciando o desenho de seus lábios, Finn trouxe sua mão até a bochecha de Clarke, o pó do carvão em seus dedos manchando sua pele ao contornar cada linha do leve sorriso da garota com o polegar.
Ela fechou os olhos calmamente com o toque, sua mão cobrindo a dele em um contato suave de união.
— Eu gosto de você também. — Ele sussurrou. Sua respiração quente contra a dela esbanjando um sorriso divertido junto as palavras doces. — Ao menos, acho que sim.
Clarke riu baixo com a pequena brincadeira, e vendo o belo sorriso em seus lábios Finn nunca a achou tão bonita, beijando-a novamente.
Preguiçosamente deitado na cama de folhas secas e terra esparsa, os olhos de Finn admiravam as curvas sinuosas do corpo de Clarke. A luz rasa do dia sem sol, iluminando em tons azulados frios seus traços belos e quentes.
Ajoelhada ao seu lado, as costas lisas dela estavam manchadas de carvão e terra, seu quadril sendo acentuado ao sentar sobre os próprios pés delicados e pequenos, uma de suas mãos cobrindo os largos seios, enquanto a outra movia-se lenta e agilmente ao rabiscar o tecido áspero da tenda com a ponta gasta do carvão.
Finn reparou os olhos verdes de Clarke concentrados no desenho, compenetrados em cada fino traçado que fazia. Ao mergulhar no mundo individual de sua arte ela parecia esquecer o seu arredor, mordiscava o interior de seus lábios finos sem ao menos perceber, as mechas douradas de seus cabelos caindo por sua bochecha e olhos, alguns fios enroscando-se em seus cílios cumpridos acompanhando o ritmo de suas piscadas.
Ela era linda.
Sem conseguir resistir, ele se sentou na terra atrás dela, ficando a sua altura e sentindo o doce perfume natural de seus cabelos. Finn respirou fundo, embriagando-se em seu cheiro, e encostou os lábios quentes na parte de trás dos ombros de Clarke, deixando leve beijos ao subir para a dobra de seu pescoço, arrepiando-a por inteiro antes descansar seu rosto ali, admirando o desenho na parede fina a sua frente.
Uma bela paisagem em preto e branco, com arvores altas, montanhas ao fundo e um rio raso e comprido sumindo no horizonte. Em sua margem, no centro de tudo, um cervo parecia mirá-lo nos olhos, suas orelhas atentas e o focinho molhado, recém tendo bebido a água do longo rio doce.
— Por que um cervo? — Perguntou ele em um murmúrio, suas mãos passando pela cintura nua da garota, entrançando seus braços ao seu redor.
— Eu sempre gostei deles. — Clarke o respondeu em uma voz suave a rouca. — São animais fortes, mas delicados e graciosos... livres. — Continuou a explicar, deixando a mão que desenhava escorregar para seu colo, lentamente virando seu rosto para o de Finn, a ponta de seus narizes encontrando-se ternamente. — Também é o animal que sei desenhar melhor. — Sussurrou ela com graça, um sorriso formando em seus lábios, assim como nos dele.
— Vamos fingir que foi só pela parte da liberdade. — O riso saiu por seus lábios, e ela assentiu, seus narizes dançando um com o outro.
De repente, porém, o exterior da barraca pareceu agitar-se, quebrando o silêncio quieto e sossegado de antes. Passos pesados pareciam passar de um lado para o outro, com conversas altas e sem nexo aumentando de ritmo e brutalidade abruptamente.
Clarke abriu a boca para perguntar o que estava acontecendo, quando os gritos altos e penetrantes explicaram tudo.
— Tragam água! Vamos!
— Fogo!
NOTAS.: Hey!! Não esqueça de votar caso tenham curtido o capitulo :D
Com esse episódio cheguei na conclusão de que não vou fazer Smut com shipps que não são Belloan - pelo menos não shipps que envolvem o Finn, não consigo, sorry :P
O que vocês acham que aconteceu? OQQ TA PEGANDO FOGO FORA A BARRACA DO FINN?!
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