Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

A CAÇADA

Clarke, Jasper e Monty seguiam Finn na busca de trilhas de animais. Joan havia se separado deles assim que entraram na floresta, todos concordando que seria mais propenso dela conseguir caçar algo se estivesse sozinha.

O grupo começou devagar com Clarke tendo de ensinar Jasper e Monty o que era, e como montar, uma armadilha boca de garrafa — um simples buraco escondido no chão, com paredes negativas para o animal não escalar.

Assim que aprenderam, Finn foi apontando caminhos favoráveis e cada um fazia sua armadilha sozinho, o que poupou muito tempo. Já haviam feito cerca de doze armadilhas para animais pequenos, mas agora o Spacewalker não conseguia mais encontrar rastros.

— E aí Finn? — Clarke perguntou atrás dele cuidando onde pisava, suas mãos segurando as alças da mochila nos ombros.

— Não sei... está tudo bagunçado por aqui — Finn parou de andar, olhando para os três atrás dele num suspiro frustrado. Era estranho como a terra se comportava, as trilhas estavam bagunçadas e fundas, ou ele lia bem pior do que pensava, ou tinha algo muito errado ali.

— Como assim? — Ela parou de andar também, seu olhar preocupado em destaque no rosto. Finn voltou a analisar a trilha atrás dele, apenas para confirmar o que vira antes.

— É como se mais alguém tivesse passado por aqui e bagunçado todos os rastros...

— Isso não é possível, estamos bem longe do acampamento. — Clarke negou, buscando alguma outra explicação vinda de Finn, que não sabia bem o que dizer.

— Ou é isso ou eu sou péssimo rastreando... — Finn tentou brincar, forçando um sorriso, mas tanto ele quanto Clarke sabiam que se fosse o caso, todas as armadilhas que fizeram seriam completamente inúteis.

O Spacewalker passou as mãos pelos cabelos longos, a respiração descompassada em agonia. Era um erro honesto, mas sentia-se culpado da mesma forma.

A mão de Clarke pousou no topo de suas costas em um toque terno e sincero, o que era novidade para Finn. Diferente de quando Joan lhe chamou a atenção na nave por seu erro estúpido, Clarke o reconfortou, tirando o peso de seus ombros em um sorriso curto. Finn tinha duas mortes para carregar em suas costas, ela sabia que não era hora de acusá-lo de nada.

Monty e Jasper não pareceram notar o momento entre os dois, assim como não viram grande importância no que disse Finn, se entreolhando, cúmplices.

— Não pode ter sido Joan? — Sugeriu Jasper, incerto se devia ao menos tentar chutar, e Clarke negou com a cabeça.

— Ela foi mais para o sul, tentando ficar perto do rio.

— Bom, eu já tenho uma mochila cheia de frutas e raízes, podemos voltar e checar as armadilhas que fizemos. — Monty sugeriu. Tentava deixar o assunto de lado, sabendo que não chegariam a lugar algum com aquela conversa.

— Ok, vamos. — Clarke concordou.

Estavam prontos para dar a volta quando o frio e arrepiante o grito agudo ecoou pela floresta, a sudeste dali alguém corria perigo. O peito de Clarke parou por um mísero segundo em desespero, ela mal teve tempo de raciocinar. Quem mais poderia estar por ali? Ter soltado aquele grito aterrorizante?

— Joan! — Clarke berrou de volta, estava longe demais para receber uma resposta, mas o fez de qualquer maneira, correndo na direção de onde veio o primeiro grito.

— Clarke! — Finn tentou a impedir antes ir atrás dela. Era muito imprudente correrem diretamente para o perigo, mas não podia deixar que ela fosse sozinha, assim como não podiam deixar Joan para trás.

Logo todos eles corriam floresta à baixo lado a lado, o sangue subindo em adrenalina, seus pés como raios na terra sem ligar para rastros, eles desviavam as árvores como podiam entre o desespero, alguns galhos e espinhos de plantas cortavam sua pele no caminho, deixando pequenos arranhões em seus braços e rostos descobertos.

Clarke podia notar que a vegetação mudava enquanto corriam, estavam cada vez mais próximos do rio onde Joan deveria estar.

Não pensou, porém, que estavam tão perto.

Ao vê-la Clarke derrapou na terra enlameada para diminuir o passo, Jasper e Monty conseguiram parar de correr a tempo de não escorregarem e colidirem com Clarke, mas Finn não foi tão ágil, trombando de frente com as costas de Jasper.

— Ouch! — Jasper soltou um silvo com o baque e, em resposta, um rosnado grave veio de mais adiante, um animal escondido entre as árvores atrás de Joan, que ao ouvir o bramido pôs o indicador nos lábios, sinalizando para ficarem em silêncio. — O que está acontecendo? — Jasper murmurou, confuso e um pouco assustado.

— Quem gritou? — Clarke perguntou no mesmo volume raso, tentando ver entre as árvores atrás dela.

Jasper notou que Joan estava mais suja do que eles e morbidamente carregada de animais pendurados em seu cinto, havia dois coelhos, quatro esquilos, um gambá e uma raposa, a pelagem dos animais com sangue e terra, seus olhos apagados, sem vida. Todos abatidos com uma facada na cabeça, exceto um esquilo magro, que possuía um ferimento nas costas. Ela parecia estar à vontade demais com a carne em sua cintura, talvez muito preocupada e ocupada para ligar.

— Octavia me seguiu... — Joan por fim respondeu a eles. — E pelo visto não foi a única.

Ela deu um passo silencioso para a direita, liberando a vista para fora da floresta, onde após a mata rasa e algumas pedras, estava Octavia na beira de um rio, caída no chão apoiando seu torso com os antebraços, seu peito subia e descia num ritmo agitado, perdida ao olhar para o urso-negro americano de quase 100kg, que também a encarava com curiosidade.

— Oh merda. — O silvo raso sai dos lábios de Jasper. — O que... O que podemos fazer? — Estava apavorado, mas eles não podiam simplesmente a assistir morrer.

— Eu não sei. — Joan respondeu com pesar. As técnicas que conhecia eram de autodefesa, não de como defender alguém, e Octavia não estava a escutando. — Ela congelou, está em choque.

— Eu vou lá. — Finn deu um passo decidido para frente, mas tanto Joan quanto Clarke o impediram de avançar com seus braços no caminho.

— Uma coisa eu sei, se qualquer um de nós aparecer lá o urso vai tomar como ameaça. — Joan explicou, movendo-se para focar nos olhos castanhos destemidos de Finn. — Ou ele mataria Octavia, ou viria atrás de você.

— Se não os dois. — Complementou Clarke, descartando a ideia de uma vez. — Temos de distrair aquela coisa sem sermos vistos.

— Como? — Monty perguntou, buscando respostas ao olhar para os outros três. Jasper se mantinha distraído cuidando de vigiar o urso, como se seu olhar prevenisse Octavia de ser atacada.

Em uma ideia repentina Clarke tirou sua mochila dos ombros às pressas, abaixando para abri-la em silêncio. De lá tirou algumas peças de metal e Joan entendeu o que queria fazer.

— Todo mundo pega um galho, um pedaço de metal e se separa.

Monty foi o primeiro a assentir, abaixando para pegar o que pediu. Finn teve de puxar Jasper pela jaqueta para que dispersasse o olhar do urso e apanhasse o que precisava.

Se esgueirando pelas árvores, eles seguiram o delineado da floresta que criava uma meia lua ao redor do animal na beira do rio. Joan ficou logo atrás de Octavia nas árvores, podendo ver bem o rosto apático do animal, que cheirava a sola das botas da garota.

O urso levantou a cabeça para olhar Octavia e ela conectou seus olhos com o do animal, cometendo seu maior erro. Ursos tomam este simples ato como desafio, uma ameaça a sua grandeza. O monstruoso animal tomou uma pose agressiva, seu rugido forte rasgando o ar. A pupila dele enegreceu seus olhos e a saliva escorreu dos seus lábios caídos, todos seus dentes estavam agora a mostra, e ele parecia faminto.

O urso golpeou o ar, testando a reação de Octavia que mal se moveu, ainda em choque. Jasper escolheu o melhor momento para usar sua placa de alumínio. O som metálico sem ritmo ecoou rapidamente das costas do urso, chamando a atenção dele antes que pudesse atacar Octavia.

Ele virou a cabeça bruscamente para trás, suas orelhas apontando para a direção de Jasper, curioso com o ruído que jamais ouviu. O urso desceu das duas patas em um baque seco e surdo, e desviando das pernas de Octavia ele foi para trás, ignorando-a por completo.

Monty, Finn e Clarke acompanharam Jasper a fazer mais barulhos metálicos, e dessa forma o urso não soube mais para onde ir. Confuso ele bramia em gemidos animalescos, virando sua cabeça para os diferentes pontos de onde vinham os sons.

Joan viu ali uma oportunidade.

— Octavia. — Chamou em um sussurro, mas a garota não respondeu. — Octavia! — Joan tentou novamente um pouco mais alto, mas nada. Octavia conseguia a ouvir, mas não tinha coragem para se mover. Ela precisava a tirar dali.

Em um suspiro desgastado, Joan largou a placa de alumínio e o graveto na terra, e tirou do cinto a faca que Bellamy a entregou mais cedo, deixando-a empunhada na mão, por segurança.

Finn foi o primeiro a notá-la, se arrastava pelas plantas ralas que dividiam a floresta da beira do rio, aproximando-se de Octavia com seus olhos fixos no urso e sua faca apertada no punho. Estava fazendo exatamente o que dissera para que ele não fizesse.

Ele se encontrou em curta confusão com os olhos de Clarke, que estava mais a sua esquerda. Ela negava com a cabeça, seus olhos repletos de preocupação, assim dizendo que não estava de acordo, ou ciente, da ideia de Joan.

Era tarde demais para voltar a trás. O urso aparentava ser ainda maior visto de perto, sendo mais assustador do que quando o via da floresta. Joan queria acabar logo com aquilo, sair logo dali. Ela esticou seu braço para tocar o ombro de Octavia e a garota vacilou sob seu toque inesperado. Mesmo com o susto, ela não saiu do lugar.

Joan sabia o que tinha de fazer.

— Octavia, preciso que você feche os olhos e me escute com calma. — Ela sussurrou na altura no ouvido da garota. Se concentrando em cada palavra, mas mantendo seus olhos pregados no urso, querendo saber a cada segundo onde e o que ele estava fazendo.

Joan controlou sua respiração, mantendo um ritmo calmo e suave, relaxante. Nunca havia de fato tirado alguém de um estado de choque antes, mas havia visto Abby o fazer com Clarke uma vez.

Sua amiga devia ter apenas seis anos e nem ao menos havia se machucado, Joan era quem tinha esbarrado no espelho e fincado sua coxa com um caco de vidro. Clarke, porém, não aguentou ver a ferida aberta de Joan. Elas aprenderam sobre músculos na escola, mas assisti-los funcionando foi muito pior do que ver os desenhos nos livros. Ela ficou estática, seus olhos vidrados no ferimento grave da amiga enquanto Abby tirava o pedaço largo de vidro da sua perna, e depois remendava sua pele ponto por ponto.

Lembra-se vividamente de como a mãe dela a abraçou por trás no chão frio da arca, acariciando seus cabelos loiros e sussurrando as mesmas palavras que Joan agora murmurava para Octavia.

"Vai ficar tudo bem." Joan respirou calma e profundamente pelo nariz, influenciando-a a seguir o mesmo passo. "Nada pode controlar você, apenas te estimular a fazer sua vontade."

"Você pode ceder ou lutar."

— Lute contra o medo hoje, Octavia, e você estará livre.

Os olhos verdes de O conectaram-se com os âmbares de Joan em uma faísca de bravura. Lute e estará livre. Como tinta em papel as palavras marcaram Octavia permanentemente. Lute e estará livre.

Joan sorriu discretamente para Octavia, que assentiu em resposta. Elas conversavam sem o uso de palavras como quem se conhece há anos, era estranho como nem três horas atrás eram completas desconhecidas, e agora Octavia tinha a sensação de que podia confiar sua vida nas mãos de Joan. Ela passava essa segurança apenas com o olhar.

Sabendo que tinham de recuar, Octavia puxou suas pernas lentamente para perto, buscando afastar-se um pouco mais do urso. Joan apertou seu ombro quando o fez, tensa com a possibilidade de isto chamar a atenção do animal.

O urso, porém, não ligou muito para o som das botas de Octavia arrastando nas pequenas pedras, mas notou que alguma coisa estava diferente ao seu redor. Seu focinho molhado mexia-se inquietamente, buscando a fonte do aroma forte que se aproximou dele.

— Merda. — Monty murmurou, vidrado no urso a sua frente.

— O que? — Jasper engoliu seco, buscando encontrar alguma coisa na direção que Monty olhava, apenas vendo o urso.

— As carnes. — Monty respondeu a Jasper. — Ele está farejando os animais presos em Joan.

O enorme urso virou sua cabeça para trás e, sabendo o que ia acontecer, Jasper não hesitou um instante antes de gritar com toda a potência de seus pulmões.

— Joan! Corre!

O aviso veio pouco antes do rugido enfurecido do urso, mas foi tempo o suficiente para que as duas levantassem e corressem antes dele começar a fazer o mesmo.

Pela margem do rio elas travavam uma batalha de velocidade contra o animal. Podiam escutar seus passos duros e pesados no chão de pedras chegando cada vez mais perto, e seus bramidos graves de esforço ficando mais altos.

O fôlego de Octavia se esvaia ao lado de Joan, quanto mais corriam mais as pisadas dela ficavam desordenadas. Ela não foi criada com uma academia aos seus pés como ela, pelo contrário, vivia debaixo deles, escondendo-se sob o piso. Sua capacidade física era muito pior que a de Joan e eternamente mais fraca que a do urso.

Se Octavia fosse derrubada nem ao menos saberia se defender, enquanto Joan conhecia cada fraqueza do animal e ainda possuía uma faca em mãos para ajudá-la. As chances de Octavia eram praticamente zero, enquanto as de Joan beiravam o cinquenta.

Não tinha mais tempo para pensar, se ela fosse fazer alguma coisa ela precisava fazer agora, pois o urso estava logo atrás delas, podia senti-lo perto demais.

Joan cerrou os dentes, reunindo toda sua coragem, e jogou seu peso contra Octavia, colidindo com seus ombros duros em um golpe forte. Ela foi arremessada para o lado com o impacto, tropeçando nas pedras maiores que tiraram seu equilíbrio.

O plano dela era deixar Octavia cair na vala de plantas rasas que separavam as pedras das árvores, abandona-a para lutar com o urso sozinha. Não previu, porém, que na tentativa de manter-se de pé, involuntariamente, O se agarraria na primeira coisa que encontrasse: o seu braço.

Elas caíram juntas, uma em cima da outra, cotovelos colidindo com costelas, joelhos em quadris e ombros em maxilares, elas rolaram uma sobre a outra, sem saber se os estalos quebradiços que ouviam vinham delas ou dos galhos e ramos que atropelavam.

Acabaram lado a lado, suas respirações ofegantes, seus corpos doloridos e os com cortes de espinhos e pedras ardendo em suas peles. Joan queria acreditar que com isso estariam em segurança, mas podia ouvir os bramidos do animal poucos metros dali. Ela buscou o conforto de sua faca na mão, mas sentiu apenas suas unhas contra a pele.

— Minha faca. — Joan sussurrou entre um gemido de dor ao levantar do chão, todas as juntas do seu corpo doíam ao se mover. Diria mais alguma coisa, mas não foi necessário, Octavia assentiu prontamente, ajoelhando-se no chão para procurar entre as plantas.

Joan observou o topo do breve barranco que se encontravam, buscando por mais sinais do urso. A segurança de estarem atrás de um pequeno muro de pedras foi quebrada subitamente ao encontrá-lo correndo diretamente em sua direção.

Octavia gritou e Joan se jogou para trás como impulso para chutar o focinho do animal. Sua bota reforçada ajudou com o peso, ela pode ouvir um estalo e sangue saiu do nariz do animal. Ele hesitou um segundo, parecendo atordoado, talvez assimilando o que acabara de acontecer. Enquanto isso ela se puxou para trás com os braços na terra, tentando manter maior distância. O urso rugiu mais uma vez, o som grave e cortante era tudo que Joan podia ouvir e seus olhos tomados de escuridão era tudo que podia ver, ele estava enfurecido com o ataque.

— Joan! — Octavia berrou para chamar sua atenção. O urso olhou para a ela e Joan se forçou a fazer o mesmo, notando a faca de sobrevivência em suas mãos.

Mais potente e demoradamente do que das últimas vezes, o animal rugiu para as duas. Era como um aviso para elas, um aviso de que ele estava de saco cheio e acabaria com aquilo ali e agora.

Ele deu meio passo para trás aos pés de Joan, suas patas grandes movendo-se com leveza na terra. Ela soube imediatamente o que ele se preparava para fazer, lançando um olhar para Octavia.

Poucos instantes antes do urso se jogar em direção a Joan, a faca aterrissou na terra fofa ao seu lado, seus dedos tocando o cabo frio. Ela cravou a longa lâmina no pescoço grosso do animal, usando seu impulso contra o próprio. Sua mão foi engolida pela pelagem e gordura, podia sentir, na ponta de seus dedos, o coração dele bater forte e seu sangue fluir entre as veias que dilacerava, seus músculos rompiam e seus órgãos eram destroçados pelo rasgo que fez ponta a ponta na garganta do animal.

O sangue quente do urso jorrou sobre o peito de Joan, a banhando com o espesso líquido vermelho. A vida foi sugada de seus olhos negros antes assustadores, seus músculos relaxaram subitamente, não o sustentando mais de pé. Assim o corpo inerte do animal desabou para o lado, formando uma poça viscosa de sangue onde Joan estava.

Octavia deitou-se na terra ao lado de Joan, ambas com o fôlego descompassado, olhando para o céu azul infinito sobre suas cabeças. Apreciavam a calmaria dos sons de água correndo do rio, e dos pássaros piando nos galhos das árvores, coisas que antes estavam muito ocupadas para ouvir. O pior já tinha passado.

— Você está bem? — Joan sussurrou entre arfadas, virando seu rosto para ela no chão.

— Você está me perguntando isso? — Octavia riu, seus olhos conectando-se aos dela.

— É... — Joan parou um pouco para pensar, olhando para seu braço coberto de sangue. Lançou um olhar para Octavia e as duas riram juntas, incrédulas. Faziam pouco tempo que estavam na terra, e cada hora parecia mais intensa, após tanta tensão, apenas risadas tirariam o peso de suas costas.

Calma e lentamente a risada foi se esvaindo, e Joan voltou a olhar para o céu, sua bochecha suja com o sangue do urso e algumas folhas secas que grudaram ali.

Octavia continuou a mirá-la por um tempo, sem saber direito o que mais lhe dizer.

Joan não parecia ligar para mais nada no momento.

A lama misturada com o sangue viscoso do urso formava uma pasta negra onde deitava, escurecendo suas roupas e lambuzando a pele pálida que tocava o chão. Uma camada grossa do sangue vermelho vivo cobria seu torço, sendo difícil distinguir o que vinha dela ou do animal. Era aterrorizante o estado de Joan, mas ainda assim, ela olhava para as nuvens com um sorriso suave no rosto, em paz.

— Como você está? — A voz de O saiu em um sussurro, mas Joan pode escutá-la.

— Levando em conta as circunstâncias... — Joan se sentou na terra, soltando um curto silvo de dor no caminho. Ela jogou sua cabeça para trás, cansada, antes de olhar para Octavia, um sorriso divertido ainda preso em seu rosto. — Bem.

— Eu-ahm... — O se apressou para ficar de pé, ignorando suas pernas bambas quando o fez. Octavia se pôs de frente para Joan e estendeu uma mão para ajudá-la a levantar. — Eu sinto muito, eu não devia ter te seguido, é só que... — O mordeu seu lábio inferior, parte pela força que teve de fazer para erguer Joan, que soltou um gemido raso de dor, e parte por não estar certa se deveria continuar a falar.

Ela nunca teve amigos, num geral, cresceu com Bellamy e somente o Bellamy ao seu lado. Sua mãe estava lá de vez em quando, mas a via mais como a pessoa que a mantinha, mais ou menos, alimentada. Octavia não sabia como era ter uma amiga, porém, depois de tudo que aconteceu naquela última hora, Joan parecia ser o mais perto de uma do que jamais teve.

Bellamy a repreenderia se soltasse essas palavras em voz alta. Joan era, de fato, a pessoa que ele mais odiava naquele lugar. Haviam tido não apenas uma, mas duas conversas quentes naquela manhã, repleta de ameaças, desavenças e olhares cortantes.

Não havia testemunhado a primeira, porém seu irmão voltara da floresta mais sério e agitado do que entrou. Quando perguntou o motivo de tal mudança súbita ele resmungou o nome de Joan, seus ombros tensos e seu maxilar travado. Octavia pediu para se acalmar, mas ele se desvencilhou dela bruscamente, deixando escapar que precisava fazer algo, pois a arca estava atrás dele.

Ele se negou a explicar qualquer outro detalhe sobre o assunto, deixando-a plantada para falar com John Murphy.

Octavia grunhiu em puro desgosto ao relembrar. Como ele queria sua confiança, se ele não confiava nela?

— Eu não suportaria ficar no acampamento. — Octavia suspirou. — Bellamy quer me prender mais uma vez em uma caixinha do que ele acha que é proteção, mas só está me afastando cada vez mais com seus segredos e restrições. — Ela rolou os olhos, lançando um olhar para Joan, que a ouvia atentamente. — Eu precisava fazer alguma coisa que eu decidi fazer, sabe?

— Octavia... — Joan respirou fundo, sem saber ao certo como responder.

Cada palavra dita por Octavia podia ter sido dita por Joan semanas atrás, horas atrás. Seu pai a controlava com o máximo de segredos e contenções que podia, fez isto até não ter mais opções senão a deixar ir. Foi no seu último momento juntos que ela percebeu seus motivos.

Esticando levemente sua mão para alcançar a de O, ela sorriu ternamente e deixou um gentil aperto ali, ao mesmo tempo reconfortando-a e chamando sua atenção para o que diria a seguir.

— Ele faz tudo isso porque te ama.

Joan sabia que, como seu pai, Bellamy não a queria perder. Kane fez de tudo para isso não acontecer, mas sem ter o mínimo de liberdade ela acabou, ainda assim, bem longe de seus braços.

Conseguia se identificar com Octavia, e sabia exatamente do que ela precisava para ficar a salvo e, ao mesmo tempo, sã.

— Bom, espero que tenha gostado de vir hoje... — Joan deu de ombros, soltando suas mãos despojadamente.

— Porque nunca mais vou sair daquele acampamento, é eu sei. — Octavia rolou os olhos, precipitando o tédio que seria dali em diante. Joan segurou o riso.

— Não, isso seria um desperdício, com um urso desse tamanho podemos alimentar todo mundo hoje e ainda sobraria carne para amanhã. — Octavia franziu a testa, sem entender nada, e Joan sorriu, achando graça em sua expressão. — Você vem em toda caçada que eu vier agora, você conseguiu achar ele, tem um dom.

— Foi mais ele que me achou — Octavia murmurou, alterando seu olhar entre o animal e Joan, ainda confusa.

— Que seja — Ela deu de ombros, pegando sua faca e guardando-a no cinto.

Octavia buscou por respostas em seus silenciosos olhos e lá as pode encontrar com facilidade. Joan não criava nenhuma barreira em seu olhar, sustentava-o abertamente, com um sorriso escondido em seus lábios. Ela queria a ajudar, ela sabia que precisava disso, de uma válvula de escape.

Novamente Octavia sentiu: ela podia confiar em Joan.

Uma ter salvado a vida da outra podia colaborar neste quesito, mas de alguma forma elas estabeleceram um laço ali que ambas sabiam que seria forte e duradouro.

— Obrigada. — Disse Octavia, sua voz baixa, carregada de gratidão por tudo que Joan havia feito por ela.

O som de folhas secas e galhos quebrando anunciaram passos rápidos vindo da floresta atrás delas. As duas viraram para trás depressa, atentas devido aos acontecimentos recentes. Octavia tinha os joelhos dobrados para correr se necessário e Joan a mão apertada no cabo de sua faca, os olhos fixos no movimento da mata.

Foi um alívio ver a silhueta de Clarke surgir dentre a escuridão das árvores.

— Ai meus — A garota murmurou sem fôlego, apressando o passo ao ver a terrível imagem de Joan coberta de sangue. — Elas estão aqui! — Gritou.

Clarke ofegava intensamente pela corrida, o pânico estampado em suas feições. Ela traçou com os olhos um caminho sinuoso sobre o corpo ensanguentado de Joan, buscando por lá alguma lesão. Sem encontrá-las ela ergueu suas mãos no ar, mas conteve o instinto em meio segundo, juntando novamente os braços ao corpo, incerta do que fazer em seguida.

Tatearia sua pele atrás do ferimento que não podia ver, mas dessa forma acabaria encostando no machucado, o que poderia piorá-lo, além causar dor a Joan. Não faria isso, mas estava difícil encontrar a fonte de tanto sangue.

— Onde você...

— Lugar nenhum, eu estou bem — Joan afirmou antes mesmo que Clarke pudesse terminar. — Não se preocupa.

— É? e todo esse sangue? — Clarke levantou uma sobrancelha, não acreditando em uma palavra sequer.

Não duvidava por falta de confiança, Joan sabia disso, Clarke estava apenas preocupada com seu estado. Ela abriu a boca para responder, mas fechou novamente ao ver Monty, Finn e Jasper se aproximando.

— Wow. — O queixo de Jasper caiu, admirado com o urso morto aos seus pés. Foi somente com sua indicação que Clarke notou o animal, dando um passo para trás, também surpresa. — Parece que teremos urso para jantar — Ele riu, entusiasmado com a ideia. — É uma pena, eu adoraria comer suas frutas e raízes Monty.

O garoto passou o braço pelo ombro do amigo e zombou, bagunçando seus cabelos em pequena comemoração. Seu bom astral deixou o clima mais leve entre todos ali, que seguraram a risada com a brincadeira. Até mesmo Monty sorria ao rolar os olhos, empurrando Jasper mais para longe.

— Você zoa, mas elas vão fazer diferença depois, viu? — O rapaz ria, apertando as alças de sua mochila, defendendo seu trabalho duro.

Entre um riso e outro Joan lançou um olhar convencido para Clarke, que sorriu em um suspiro leve, vencida. Ela não deveria ter duvidado da amiga.

A situação que se encontrava, porém, continuava sendo preocupante.

— Ok, vocês duas precisam se lavar, se tiverem algum ferimento ele com certeza vai infeccionar com toda essa... sujeira.

Octavia e Joan se entreolharam, estudando uma a outra por um momento, antes de analisarem o restante a sua volta. Eles também estavam imundos, Clarke em particular tinha seus cabelos molhados de suor, os braços cobertos por manchas de terra e marcas de arranhões feitos por galhos e espinhos ao correr, o maior dos cortes já com sangue seco acumulado em sua maçã do rosto.

— Acho que todos nós precisamos dar um mergulho — Octavia disse em meio a um sorriso vívido, pela primeira vez desde que entraram na floresta, estava realmente animada. — Está na hora de se divertir um pouco.

NOTAS: Estou tendo problemas pra escrever esses dias... a faculdade está pedindo trabalho atrás de trabalho e está difícil conciliar, possível que tenha de vacilar um pouco alguns dias de postagens... peço perdão :(

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro