A BASE DE CONFIANÇA
O sol estava em seu ponto mais alto, Bellamy já havia tirado sua jaqueta de militar para aguentar o calor que fazia, vestindo apenas a camisa cinza do uniforme. Ele coordenava os voluntários que conseguiu, separou-os em três grupos, um para montar o acampamento, outro para criar armas para futuras caçadas e o terceiro para ir em busca da água potável do rio, afinal, não sabiam quando teriam um dia de chuva.
Cerca de 60 pessoas estavam ajudando a retirar materiais da nave, buscando materiais para fazer o que foram designados, mas principalmente compartimentos e peças que servissem para coletar e beber água. Os outros 40 delinquentes preferiram ficar de bobeira, cuidando de suas próprias coisas e sendo os adolescentes cheios de hormônios que são.
Isso era um bom sinal para Blake.
Mesmo após o desafio astuto de liderança feito por Joan naquela manhã, os delinquentes permaneciam cegamente fiéis a Bell. Ele era da classe operária e isso era o suficiente para mantê-los alienados. Ninguém suportava a elite da arca.
Ainda assim Bellamy sabia que tinha de ficar atento, Joan era uma líder nata a se seguir, tinha a postura, a força, a imagem e conhecimentos necessários, e assim que assumisse o grupo restariam poucos dias para ele, pois a arca viria e o puniria pelo crime imperdoável que cometeu.
Ela e seus dois amigos eram os filhos da arca na Terra, as sementes que floresceriam, aqueles que o queriam morto como o homem que assassinou.
Pela milésima vez na última hora ele se distraiu assistindo a delicada garota ruiva tirar o couro do pequeno esquilo morto, o sangue vermelho vivo escorria por suas mãos, criando uma poça viscosa na terra aos seus pés. Joan dissecava o animal que pregara na árvore, pretendia usar sua carne como isca para um predador maior e seu couro para guardar coisas pequenas em seu cinto.
Enquanto isso, Clarke separava o que servia da nave para fazer armadilhas, subia e descia a rampa de entrada com os braços carregados de fios soltos e metais de diferentes formas. Quando sua pilha de tralha se tornou um monte de 30cm, Wells se pronunciou, atraindo mais a atenção de Bellamy.
— Alguém mais virá com a gente? — Ele soou alto e grave pelo acampamento. Os olhos de Clarke cruzaram com os de Joan num pensamento mútuo. "Com a gente"?
Joan podia ter menos mágoa em relação ao que Wells havia lhe dito na decolagem, mas Clarke deixou claro que jamais o perdoaria pelo que fez. Ela não queria ficar no meio da confusão dos dois, seja lá o que fosse.
No entanto, Joan não interrompeu a busca por ajudantes, apenas deixou claro, com um sinal de cabeça para Clarke, que isso não aconteceria se ela não quisesse. Por enquanto ela precisava de acompanhantes, e tinha esperança de que seu pequeno show a minutos atrás servisse para alguma coisa além de criar uma isca.
— Contem comigo. — Skywalker Finn saiu da nave com um sorriso divertido no rosto. — Será legal a aventura.
Bellamy, mesmo que nada surpreso, não ficou contente com a oferta, ele cruzou os braços e travou maxilar involuntariamente, assim desafiando quem mais quisesse acompanhá-los, afinal, os amigos de seu inimigo, são inimigos.
— Nós... nós também. — A voz esganiçada vindo de trás de Bell pegou a todos de surpresa.
O voluntário era um rapaz espichado e magricelo, com cabelos mal cortados e um óculos de motoqueiro posto de enfeite no topo da cabeça. Ele punha tolamente uma de suas mãos para o alto, não o favorecendo em nada sua imagem.
Joan, Clarke e Bellamy fixaram seus olhos críticos no rapaz, o analisando da cabeça aos pés descaradamente. Ele engoliu em nervosismo e o amigo ao seu lado o cutucou na costela para abaixar o braço, tentando o deixar um pouco menos bobo. Este era um rapaz atarracado de cabelos lisos e negros em uma franja que quase cobria seus olhos estreitos também escuros, era clara a descendência asiática.
O perfil dos rapazes fez Bellamy rir, desvanecendo qualquer preocupação de seu corpo. Se os dois esquisitões queriam participar do bando de excluídos, quem era ele para impedir?
Realmente o interesse dos dois garotos para ir a uma caçada era duvidoso, não pareciam o tipo de pessoa que levavam as coisas a sério e eram claramente fracos. Joan precisou perguntar.
— Por quê?
O dos óculos de imediato passou a palavra para o seu amigo com o olhar, um pouco intimidado e atrapalhado com a risada de Bellamy junto da pergunta. O asiático permaneceu neutro ao olhar para o Impostor, antes de olhar para Joan.
— Precisamos aprender a caçar também, certo? Quem melhor para ensinar? — Ele deu de ombros ao responder e dessa forma qualquer resposta que pudesse vir de Bellamy agora seria insignificante. O rapaz não ligava para suas ameaças, expôs para o falso guarda que entre os dois, Joan era melhor.
— Ah por favor, aquilo foi pura sorte — Bellamy riu seco, rolando os olhos. Enquanto Joan sorria em pura satisfação. — Se querem ir com ela, tudo bem, mas se voltarem feridos por um animal ou mesmo por uma facada dessa daí — ele indicou Joan, que limpava suas mãos com um trapo, com o queixo — Eu não vou ajudar.
— Eu não tenho tempo de ensinar ninguém hoje. — Joan guardou sua faca entre o cinto e o tecido verde musgo de sua calça tática, deixando o comentário ácido do impostor morrer no ar, e focando apenas na fala do rapaz. Não tinha como ensinar em horas o que demorou uma vida para aprender. — Vocês ajudariam montando armadilhas com Clarke, quanto mais melhor.
— Eu posso ajudar a colher algumas plantas e frutos comestíveis também, cresci na área agrícola da arca. — O asiático disse em resposta, deixando claro que estava certo sobre a escolha feita. — Monty, a propósito. E esse é Jasper. — Monty deu um tapinha bruto no ombro do amigo, que tomou como uma deixa.
— É, Jasper Jordan, oi. — Ele fez uma saudação e Clarke se segurou para não dar risada.
Joan sorriu levemente, aliviada por ter mais alguém ao seu lado. Ela e Monty trocaram um olhar significativo, assentindo um para o outro, estabelecendo entre os dois aquilo que Joan mais apreciava, confiança.
Eles estavam do seu lado e não no de Bellamy.
— Ótimo, alguém mais com alguma habilidade escondida? — Clarke perguntou, olhando para Jasper e depois Finn.
— Eu sou bom em seguir rastros. — Comentou o Spacewalker, descendo da rampa da nave em um pulo. — Sempre tirei 10 nas provas da arca, posso ajudar a entrar trilhas de animais.
— Ok, perfeito. Temos tudo que precisamos para ir então. — Clarke disse para Joan, ajeitando no ombro a mochila improvisada onde pôs sua pilha de tralha.
— Eu quero ir também! — A voz feminina vindo do outro lado do acampamento fez todos virarem suas cabeças. A irmã do impostor diminuiu a corrida ao se aproximar de Joan.
Bellamy chegou aonde estavam em passos ágeis e puxou Octavia para perto de si pelo bíceps, prendendo-a com tanta força que seria impossível escapar por entre seus dedos. Ele não a queria aonde não tivesse certeza de que estava segura, e para ele Joan Kane não era sinônimo de segurança.
— O que pensa que está fazendo? — A tentativa falha de sussurro era áspera e forte. — Você vai ficar aqui no acampamento, segura. — A garota rolou os olhos, quase que entediada.
— Não Bell — Octavia baixou o tom de voz, esperando que os outros não a escutassem — De um jeito ou do outro eu vivi a minha vida presa. Agora eu estou na Terra! Quero curtir, me divertir, e não vou conseguir isso com você me vigiando — A garota sorriu ternamente em busca de alguma empatia vinda do irmão, que não cedeu uma gota, e Joan? quase riu. Ela disse se divertir? Em uma caçada?
— Não... — Bellamy retomou em um sussurro ainda mais seco e irritadiço, no entanto foi interrompido.
— Ela não vai vir com a gente. Não se preocupe, irmãozão.
A ruiva aproximou-se dos dois em poucos passos, pousando gentilmente sua mão no ombro do impostor que segurava a irmã. O toque quente em seu ombro foi quase como um sinal de aliança, indicava calorosamente que não havia com o que se preocupar, que Octavia não iria a lugar algum. E que neste instante Joan não era seu inimigo.
Em um olhar hesitante Bellamy conferiu as reais intenções de Joan, que assentiu quase imperceptivelmente com a cabeça, dando-lhe a confiança necessária para aliviar a tensão em seus músculos, soltando o braço da irmã.
— Caçar não é divertido. — Joan explicou diretamente à Octavia. Os olhos âmbar conectados com os verdes, ambos em tenso protesto. — Precisa de atenção, silêncio, cuidado e agilidade. Se abrir a boca no momento errado você afasta a presa ou vira uma, e eu não quero seu irmão no meu pé porque você acabou como comida de urso.
Bellamy assentiu discretamente às brutas e sábias palavras da garota.
Sentia-se grato e aliviado, contudo, um tanto incomodado com si mesmo por tal sentimento direcionado a ela. Joan era o mal que desceu a Terra para dificultar sua vida, sua fuga. Ela era uma filha do conselho. Uma lutadora e grande líder. A verdadeira pedra em seu sapato.
Octavia bufou e rolou os olhos antes de dar às costas para os dois, pisando firme no caminho que seguiu.
— Obrigado. — O impostor soltou num murmúrio quase inaudível sem nem ao menos perceber.
— Não foi por você. — Joan o respondeu de imediato, na tentativa de cortar qualquer simpatia entre os dois. Nem ao menos o mirava, seguia curiosamente o caminho que Octavia traçava até a nave. — Você devia ficar de olho nela. — Alertou a ele, seus olhos vidrados na entrada da nave onde Octavia desapareceu ao cruzar a cortina, seus passos mais altos com as botas batendo no metal. — Ela parece teimosa. — Bellamy não conteve o riso.
— Octavia? Teimosa? Não. — Ele brincou em um tom agradável de ironia, quase a fazendo rir também.
Seus olhos se encontraram neste exato instante, pela primeira vez sem a carga pesada do ódio em suas costas. Joan percebeu que o impostor, apesar de sua postura irritante, era de fato bonito. Entrava com precisão no que ela considerava ser seu 'tipo'.
Possuía um corpo bem delineado, com ombros largos e um maxilar que representava força. Os cabelos escuros dele caíam em ondas bagunçadas sobre o rosto sujo de sardas, sua pele bronzeada combinava com os olhos castanhos enegrecidos e destacava seus traços bem desenhados. Seu maior charme, porém, era a pequena cicatriz no canto superior de seus lábios.
O coração de Joan bateu mais forte ao imaginá-los tocando os seus, suas respirações ofegantes entrelaçadas, as pontas de seus narizes dançando em ritmo lento...
Não!
Joan cortou o pensamento e rasgou-o em milhões de pedaços, engolindo-os junto ao nó preso em sua garganta num suspiro duro. Como tal imagem insana entrou em sua cabeça? Não podia acreditar em si mesma.
Ele era um impostor! Um estúpido e egoísta!
Ela não disse nada antes de virar as costas para Bellamy, seguindo em direção à floresta. O rubor de seu rosto escondido pela escuridão do manto das árvores.
— Vocês vêm ou não? — Joan chamou os outros sem ao menos olhar para trás. Eles não pareciam ter entendido a deixa para acompanhá-la.
Jasper e Monty trocaram um olhar animado antes de irem atrás dela, Finn foi logo em seguida, deixando um sorriso charmoso ao passar por Clarke que, ao invés de juntar-se aos outros, apressou apenas alguns passos até chegar em Wells, impedindo-o de ir a qualquer lugar ao pôr a mão no seu peito, mantendo uma boa distância com seu braço esticado.
— Você não vem. — Disse com suas expressões sólidas como uma rocha.
— O que? Por quê? — Wells quase riu, incrédulo. Tinha uma ideia do porquê dizia isso, mas não achava que dispensaria sua ajuda dessa forma. Eles estavam na Terra, precisavam um do outro.
— Pode me entregar a mochila se quiser, eu dou para um dos outros levar. — Clarke ignorou as perguntas, não podia respondê-las agora, traziam muitas lembranças e emoções que não tinha tempo para lidar. Wells bufou em reprovação, mas ainda assim passou a tirar as alças da mochila de seus ombros.
— Isso é porque você está brava comigo, não é?
— É claro que é porque estou brava com você Wells! — Clarke bradejou, respirando fundo ao perceber que estava quase gritando. Aquela foi apenas uma pequena parte da sua raiva transbordando do rio de emoções que ela barrava.
— Não pode me deixar de fora para sempre. — Ele rebateu, segurando a mochila no ar entre os dois. Ele buscava conectar seus olhos, mas Clarke fugia de seu olhar.
— Eu posso e eu vou.
Ela arrancou a mochila das mãos de Wells e foi embora em passos pesados, marcando a terra sob seus pés. Ele respirou fundo, frustrado.
Abby se concentrava para remendar os estragos que bala fez no estômago do chanceler, estavam na terceira bolsa de sangue das três que tinham permissão para usar e Jaha já estava desacordado com a anestesia fazia mais de duas horas, lhe restando muito pouco para voltar a ter consciência.
Ela podia ver pelos sinais vitais no monitor à sua esquerda que Jaha estava próximo de acordar, mas ela tinha que seguir apenas a dosagem inicial o máximo que podia, pois se fosse aplicar mais ela teria de juntá-lo com o sangue e assim passaria do permitido.
Usaria até a última gota do que tinha, mas também não deixaria Jaha morrer em sua mesa. Não gostava de pensar que o que usaria a mais em Jaha poderia faltar na hora de tratar outro paciente, mas era seu chanceler e amigo, era o que tinha de fazer.
Pouparia o que desse do estoque, mas era inevitável, porém, usar um pouco a mais de sangue na situação que se encontrava. A bala estilhaçou no estômago do chanceler e não somente ela tinha de encontrar e tirar cada fragmento, como também devia cortar as partes do seu intestino delgado atingidas e depois remendá-las.
Se ao menos tivessem encontrado o chanceler mais cedo, ele não teria perdido tanto sangue e ela trabalharia tranquilamente com as três bolsas que tinha direito.
Com a tesoura cirúrgica ela cortou o primeiro pedaço atingindo do intestino com precisão. Jaha moveu-se na incubadora, grunhido de dor.
— Abby, ele está acordando. — Jackson, seu aprendiz, apontou em desespero. Alternando olhar entre a médica e o chanceler, que ameaçava abrir os olhos.
— Aumente a anestesia. — Abby tentou soar natural, como se o procedimento fosse comum, porém Jackson estava tão familiarizado com as normas e a situação que se encontravam quanto ela.
— Usamos sangue demais na anestesia, já estamos no limite. — Jackson tentou relembrá-la, talvez ela não tivesse percebido, mas Abby prestava mais atenção nos sinais vitais do homem em sua mesa cirúrgica do que nele.
— Seu chanceler está entrando em choque. — Avisou incisiva. Jackson percebeu que Abby sabia sim o que estava acontecendo, mas queria jogar para as suas costas.
— Está me pedindo para violar a lei. — Jackson explicou novamente, não queria acreditar que Abby tentava o fazer ser despedido ou pior, flutuado, mas ele também não ia ceder.
Se Jackson o fizesse seria mais fácil, ele era um aprendiz, poderia não saber o que estava acontecendo e ambos sairiam livres, se Abby o fizesse dependeria de Kane a salvar de ser executada. Se ninguém fizesse nada Jaha morreria ali e agora.
— Está bem, eu mesma faço. — Abby tomou as rédeas da situação, largando o trabalho que fazia no intestino do homem para aplicar a anestesia e somar o sangue.
Bellamy andava entre os outros adolescentes, certificando-se que estava tudo nos trilhos para começarem a busca pelo rio. Haviam encontrado três largos cilindros de metal soltos na nave, todos partidos em dois ou três pedaços, formando seis baldes de um metro perfeitos para transportar a água. Ele selecionou os mais fortes dos garotos para carregá-los e agora só precisavam ir.
Joan havia dito que o rio ficava ao sul, certo? Ou seria Norte?
Talvez Bellamy tivesse se precipitado ao enviá-la para caçar ao invés de guiá-los na busca do rio. Se acabasse indo para o lugar errado poderia ficar sem água por mais um dia, ou pior, perder-se na floresta com um grupo de 25 pessoas. 25 mortos de fome e sede porque ele e Joan disputavam a liderança.
Ele a deixaria no comando livremente se pudesse, mas precisava ser respeitado para que os outros acreditassem nele e tirassem as pulseiras que os ligavam a arca, foi assim que convenceu Murphy e seus companheiros, com poder.
Joan podia subestimar Bellamy, mas foi ela quem contou a ele que as pulseiras mandavam os sinais vitais dos 100 para a arca. Ele seria ridiculamente burro de não entender que caso as pulseiras parassem de funcionar, a arca pensaria que morreram com a radiação e ninguém mais desceria para a Terra por um bom tempo.
Se não há sinais vitais, não há arca.
Sendo assim, para ser livre tinha de ser líder e isso vinha com preços que ele estava com dificuldades de pagar. O rio era ao sul ou ao norte?
— Vamos — Ele ordenou ao grupo antes que mudasse de ideia novamente. — Murphy! — Bellamy aumentou seu tom de voz para que o rapaz que estava longe dali o ouvisse. Mesmo com mais de cinco metros de distância seus olhos se encontraram em uma conversa silenciosa pesada que durou alguns segundos. — Você cuida do acampamento.
John Murphy sorriu prazerosamente e assentiu com graça, se deliciando com a tarefa que foi designado a cumprir.
Os outros 25 rapazes o seguiram sem protestos adentro da floresta, carregando cada um dos seis pedaços de cilindro em grupos de quatro. Eles riam e brincando uns com os outros, confiantes e animados com a oportunidade de ver e entrar, pela primeira vez, um rio. Bellamy queria ter tanta confiança nele quanto os homens consigo mostravam ter. Ele não tinha ideia se o Norte era a escolha certa.
NOTAS.: Lembra que eu fiquei falando que os capitulos estavam muito grandes?
Descobri faz uns dois dias que o capitulo 05 que tinha originalmente escrito tinha 9mil palavras. 9 FUCKIN MIL!!!!!
Decidi cortá-los em 3 partes de mais ou menos 3mil palavras, o que significa que esse e os próximos 2 capítulos, na verdade, eram 1 só.
Onde quero chegar com isso: a narrativa não ficou como eu originalmente queria, então peço perdão por qualquer coisa e espero que vocês gostem de qualquer forma =P
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