Capítulo - 09
- Eu quase acreditei que você fosse mesmo matar o Yanik, Christian. - Direciono a minha atenção para Paolo, que tem um sorriso de lado em seus lábios, assim que entra na minha suíte do Bunker com o Vincenzo, mas apenas continuo me secando com a toalha que tenho em mãos.
- Por que você decidiu não prosseguir com o Yanik e o Owen sobre a Bratva diante dos Capos? - Vincenzo faz a pergunta, que eu estava esperando que viesse, mas logo faz uma careta quando retiro a toalha da cintura e jogo sobre a cama. - É sério que você vai se vestir na nossa frente, Christian?
- Vocês que invadiram a minha suíte, Vincenzo, então apreciem ao espetáculo. - Sorrio de lado, e eles apenas negam com a cabeça e se sentam, mas inicio o assunto que querem discutir, enquanto me visto. - Quando eu mencionei que Yanik estava vendendo informações da Dragão Negro para os russos, eu esperava uma reação imediata de Ludovico, porque a mãe do Owen era russa.
Eles assentem por conhecer a história, afinal, quando Owen mencionou a profissão da sua mãe, não era nenhuma mentira, porque ela realmente foi uma prostituta que Ludovico conheceu em um dos negócios da Famiglia, mas o envolvimento entre eles não acabou como deveria ter acontecido, assim que ele se casou, ocasionando em uma gravidez que nunca poderia ir a público.
Dessa forma Yekaterina Pavlova Sutton - sendo este último o sobrenome do homem que registrou o Owen -, assim que descobriu que estava grávida de um homem praticamente recém-casado, sabendo o que poderia acontecer àquele que amava, se alguém descobrisse a traição dele, e temendo pela vida do próprio filho decidiu retornar para a Rússia, o seu país de origem. Local que teria permanecido se após a morte do seu marido, não tivesse sido encontrada e obrigada a retornar para New York 10 anos depois.
- Mas você percebeu uma reação diferente da esperada. - Paolo afirma, e mesmo assim assinto, finalizando o laço no cadarço do meu sapato, sem me preocupar em colocar a camisa por enquanto.
- Ele não apenas ficou surpreso com a menção dos russos, mas direcionou o olhar para alguém que estava dentro do aquário, como se buscasse apoio ou uma explicação do porque eu tinha conhecimento daquela informação. - Eles ficam pensativos por um momento, e aproveito para pegar uma garrafa de uísque e os copos para nos servir.
- Mas essa informação sobre a Yekaterina nós obtivemos porque o próprio Owen nos contou, caso contrário não haveria como sabermos que ele fosse filho do Ludovico. - Vincenzo e eu assentimos, afinal, não há nada que os ligassem oficialmente, mas Paolo continua. - E só conseguimos saber sobre o envolvimento dele com a Bratva porque o Soldado que mandamos vigiá-lo presenciou os encontros que ele tinha com o Iakov Bazin, razão pela qual o Yanik foi encontrado e chantageado para ser o bode-expiatório do Ludovico. - Quem fica pensativo por um momento agora sou eu.
- Faz 10 anos que Yanik e a sua mãe saíram da Rússia. - Começo a tentar encaixar as peças desse quebra-cabeça que está me deixando incomodado. - Ele foi recrutado por Ludovico 6 anos atrás, sem saber que ele era um desertor russo, tendo a informação apenas quando eu disse no aquário. - Eles assentem, ainda sem me interromper. - E segundo o Owen, ele não sabia que era um filho bastardo do Ludovico até que ouviu a esposa do seu pai dizer sobre isso 3 anos atrás, mas apenas há 2 meses começou a chantagear o Yanik, onde passou todos os Empreendimentos para o nome dele, pois Owen tinha a intenção de entregar o pai, deixar o jovem Soldado ser executado como o cúmplice do roubo e tendo a certeza que fosse ser nomeado Capo dos Distritos de Brooklyn e Staten Island por sua "lealdade", acreditando que as leis da Dragão Negro fossem iguais as da Bratva, onde o sangue e a Famiglia para eles não têm importância, e sim uma fidelidade cega apenas com a Irmandade.
- Onde você pretende chegar com isso, Christian? - Vincenzo quem questiona, afinal, eu só mencionei fatos até agora.
- Que há mais um traidor na Famiglia. - Eles ficam em silêncio, mas não contestam o que eu disse. - O roubo por parte do Ludovico foi apenas um teste, para saber até que ponto eu tinha controle sobre o que se passava na Organização.
- E como você decidiu esperar para ver até aonde ele chegaria por saber que, além de recuperar o dinheiro roubado, ainda se beneficiaria com o que ele estava fazendo, fez com que quem estivesse por trás desse plano acreditasse que você não sabia realmente o que estava acontecendo na Organização. - Paolo afirma mais uma vez, chegando à mesma conclusão que eu.
- Mas ainda tem a questão de não sabermos qual é o envolvimento da Bratva em tudo isso. - Vincenzo quem se pronuncia agora. - Durante anos a rivalidade entre as duas Organizações tem sido pacífica, respeitando os territórios que pertence a cada uma. Por que só agora? E por que um Boyevik, que é primo do Yanik, tentou contatá-lo depois de 10 anos? O que o novo Pakhan pretende em afrontar um Don dessa forma?
Permaneço em silêncio por um momento, repassando essas perguntas em minha cabeça, mesmo sabendo que não obterei todas as respostas através do Yanik e muito menos com aquele figlio de puttana do Owen, que ficou muito claro que não passa de um fantoche nas mãos de quem realmente está por trás de tudo isso.
E o principal, não saber o que Mikhail Ivanovich pretende quebrando o tratado de trégua que foi feito entre os nossos pais, os antigos Chefes de nossas Organizações, é algo que realmente está me deixando irritado por ter certeza que estou deixando alguma coisa passar. O que não vou negar também que estou começando a acreditar na grande possibilidade de haver mais alguma coisa que o meu pai ainda não tenha me contado, assim como não fui informado antes sobre o acordo que nos obrigava a contrair o matrimônio quando completássemos 35 anos.
- Estou começando a acreditar que Mikhail Ivanovich não quer apenas o nosso território. - Levanto-me colocando o copo sobre a mesa e caminhando em direção à cama para pegar a minha camisa. - Mas para saber exatamente o que o Pahkan quer, preciso que Owen gentilmente colabore em repassar as informações que ele tem conhecimento. - Sorrio de lado e visto o meu paletó, ignorando o colete e a gravata.
- E a sua suspeita quanto haver mais um traidor na Famiglia?
- Quero que Aidan analise as câmeras do aquário e observe qualquer reação que pudessem ter demonstrado. Principalmente as expressões faciais e corporais de cada um dos Capos no momento em que eu mencionei os russos. - Paolo assente e se levanta também, mas Vincenzo está concentrado em algo em seu celular, quando profere as próximas palavras sem nos olhar.
- Disponibilizarei o Luke para fazer isso com o Aidan amanhã, que é sábado e não tenho nada agendado, pois por mais que estivéssemos todos no aquário, tenho certeza que não foi possível que ele analisasse o comportamento de todos no momento.
Assinto, mesmo sabendo que ele ficará sem o seu Guardião por um dia, mas Luke Sawyer é o nosso melhor Analista Comportamental, sendo graduado na área, porém franzo o cenho vendo um sorriso nascer em seus lábios.
- Vincenzo? - Ele me olha ainda sorrindo e aponta para o celular.
- Imagino que você ainda não tenha visto as mensagens no seu celular. - Nego com a cabeça a sua afirmação, afinal, ele sabe perfeitamente que eu estava ocupado mandando um stronzo para o inferno. - Então adianto que estamos sendo convidados para jantar na casa do meu pai amanhã e a sua presença é indispensável, Christian. - Franzo o cenho, assim que vejo Paolo retirar o celular do bolso também e me encarar com um sorriso de lado.
- Se ainda não havia pensado em um anel de noivado, sugiro que providencie o quanto antes, mio fratello.
- Vocês estão dizendo que...
- La mia Principessa chegou ontem de Berlim e já sabe sobre o casamento. - Vincenzo se levanta, aproximando-se para apertar o meu ombro, sorrindo ainda mais dos meus olhos arregalados. - Dê adeus aos seus dias de solteiro, mio fratello, pois a sua noiva retornou para casa.
Cazzo!
As últimas horas torturando um traidor e matá-lo não foi o suficiente para causar qualquer tipo de reação em mim, mas a simples menção que me encontrarei com a Anastásia depois de 5 anos fez o meu coração acelerar de um jeito que não sei explicar...
...Principalmente por não saber como ela reagiu ou se está me odiando porque deveremos nos casar.
[...]
Perder noites de sono passou a ser algo comum depois que fui iniciado, principalmente porque a primeira vida ceifada nunca é possível de esquecer, mas a partir do momento que eu aceitei o meu legado e que o meu destino era algo que não poderia ser evitado ficou muito mais fácil repousar a minha cabeça em um travesseiro e fechar os olhos sem que as mortes viessem para me assombrar em pesadelos. Afinal, quando se entrega a sua alma ao diabo, não há espaço para remorsos ou culpas em qualquer estágio.
Contudo a razão para que eu não tivesse uma boa noite de sono depois que cheguei do Bunker, em nada tem haver com a imagem dos olhos de Ludovico perdendo o brilho em seu último suspiro, ou o que pretendo fazer com o Owen assim que não me for mais útil e muito menos o que serei capaz de fazer se realmente tiver mais algum traidor na Famiglia, mas sim porque dentro de algumas horas eu irei encontrar a princesinha que sempre conseguiu fazer com que eu sorrisse, até mesmo quando eu queria apenas fugir desse mundo da Máfia.
- Oi!
Assustei-me com a sua voz doce e baixinha dentro do quarto, mas sorri ao me virar e vê-la de pijama, descalça, com as mãos para trás e o rostinho corado, como se tivesse feito algo errado.
- Oi, Princesa! Pensei que você já estivesse dormindo? - Ela negou com a cabeça, mas sem sair do lugar.
- O papai disse que você brigou com o tio Carrick de novo e que estava triste, por isso que vai dormir aqui hoje. - Desencostei do parapeito da sacada e voltei para o quarto, puxando a cadeira e me sentando de frente para ela.
- Eu sempre brigo com o seu tio Carrick, mas não estou triste, Princesa! Só irei dormir aqui para ficar mais fácil amanhã, quando Vincenzo, o Paolo e eu sairmos para o aeroporto. - Ela se aproximou e tirou uma das mãos que estava escondida, estendendo-me um potinho de gelato.
- No dia que eu estava sentindo muita saudade da mamãe, você me levou para tomar gelato e disse que tudo bem ficar triste, eu só não poderia deixar a tristeza ficar sempre dentro do meu coração. - Peguei o potinho da sua mão e sorri, acariciando seu rostinho delicado, antes de assentir.
- Você tem razão! Obrigado, Princesa! Gelato de melancia é o meu sabor favorito. - Ela deu uma risadinha, estendeu a outra mão e me entregou uma colher, assim que ouvimos a voz de Vincenzo chamá-la em algum lugar da casa.
- Eu sei, seu bobinho! Por isso que eu fui pegar no freezer para você. Então come tudinho que assim você não vai mais ficar triste.
Voltei a assentir e engoli em seco vendo a sua expectativa, enquanto eu abria o potinho, enchendo uma colher generosa e levando a boca, e logo ouvimos a voz de Vincenzo entrando no quarto, para o meu alívio.
- Eu sabia que você estaria aqui, sua Fujona! - Ela voltou a dar uma risadinha e correu para o irmão que a pegou no colo. - Despeça-se do Christian que a Ya Ya está esperando para colocá-la na cama... De novo. - Vincenzo a colocou novamente no chão, que correu e me deu um abraço apertado.
- Se o seu gelato acabar e ainda estiver triste, lá embaixo tem mais. - Ela sussurrou em meu ouvido como se fosse realmente um segredo, e assenti mais uma vez, sorrindo da sua carinha sapeca e seus olhos azuis brilhantes quando se afastou. - Buonanotte, Christian!
- Buonanotte, Principessa! - Ela beijou o meu rosto e saiu correndo do quarto, e Vincenzo soltou a gargalhada que segurava, vendo a careta que eu fiz por sentir o gosto do gelato na boca. - Não ria Vincenzo! Isso aqui é horrível!
- Então conta para ela que você detesta gelato de melancia. - Neguei com a cabeça e fechei o potinho entregando para ele.
- Ela só tem 10 anos, Vincenzo. Não quero deixá-la chateada quando tudo que ela queria, era não me deixar triste por brigar com o meu pai. - Quem negou com a cabeça agora foi ele enquanto se aproximava novamente da porta, pronto para sair do quarto de hóspedes e seguir para o seu.
- Acho que você está querendo roubar o meu posto de irmão mais velho, isso sim. - Quem gargalhou do seu falso tom irritado fui eu, esquecendo, inclusive, do motivo da minha briga com o meu pai, graças à inocência de uma criança e um gelato horrível de melancia.
E durante os próximos anos, sempre que voltávamos para casa, mesmo que fosse por poucos dias, eu tomei o bendito gelato de melancia, até que de repente todo aquele carinho que ela sentia por mim, acabou. Mas talvez pudesse ser algo relacionado com a idade, afinal, ela era um adolescente que tinha acabado de fazer 15 anos, ou simplesmente parou de me ver como mais um irmão mais velho como antes. Só não sei como isso funcionará a partir de agora, assim que passarmos a ser um casal dentro dos próximos 60 dias, quando há 5 anos temos sido dois completos estranhos.
[...]
Deveria ter imaginado que não seria um simples jantar que estivesse me aguardando quando o convite foi feito para que eu comparecesse à casa de Raymond, pela quantidade de lugares postos à mesa e a Equipe de Buffet que eu vi acompanhando a Ivanna, a Governanta da casa. Não que vir a casa dele fosse um problema de fato, e posso dizer que a relação que existe entre Vincenzo, Paolo e eu sempre foi muito além de uma simples amizade ou o vínculo pela Famiglia, mas, sim, uma conexão de irmãos.
Porém hoje a situação é completamente diferente, sendo que não estou na casa do pai do meu Consigliere apenas na função de amigo, ou como o Don da Organização, e sim no papel de futuro cunhado e genro. E é justamente essa sensação que estou tendo quando Raymond pediu que eu chegasse uma hora antes do combinado, convocando-me para uma reunião rápida em seu escritório.
- Não tivemos a oportunidade de conversar depois que a Assembleia do Conselho ocorreu, mas aqui eu gostaria que a nossa conversa fosse entre um pai e o futuro marido de sua filha, e não entre o Don e um Ancião do Conselho, está de acordo?
- Totalmente, Raymond.
- Eu sempre considerei você e o Paolo como os meus filhos também, não os tratando diferente de como eu fazia com o Vincenzo, da mesma forma que eu sei que o Carrick e o Giuseppe faziam o mesmo. - Assinto por ter ciência disso, afinal a amizade deles sempre foi o espelho que os meus amigos e eu seguimos. - Eu conheço a sua índole e sempre o admirei Christian, assim como passei a respeitá-lo como o Don da nossa Famiglia, mas preciso que seja sincero comigo agora, livre de títulos ou cargos na hierarquia.
- Sempre serei sincero, Raymond, independente de qual seja a situação. - Ele assente e me avalia por um momento.
- Como você deve saber a Anastásia já está ciente do acordo que envolve o casamento de vocês, mas independente das suas responsabilidades dentro da Famiglia ou as dela como uma Filha da Máfia, eu prezo pelo bem-estar e a felicidade da minha Bambina. - Apenas assinto para que ele continue. - Por que você insistiu em um novo acordo para que o Vincenzo e o Paolo tivessem mais 6 meses antes de se casarem com as escolhidas pelo Conselho, mas não fez o mesmo por você?
Confesso que eu não esperava que ele fosse tão direto, mas penso por um momento e analiso o cenário num todo e me refaço essa mesma pergunta. O porquê eu aceitei de imediato quando conversei com o meu pai em meu escritório na Imperium? Por que eu não tentei ganhar mais tempo? Eu poderia dizer que a minha motivação tenha sido pela simples possibilidade de ver a Anastásia se casar com outro homem, sem saber como ela seria tratada se fosse com alguém fora da Famiglia, mas será que é realmente isso?
- Sinceramente não tenho essa resposta ainda, Raymond. Eu apenas achei que essa decisão era a que eu deveria tomar. - Ele assente, mas não me interrompe. - Eu poderia lhe dizer que foi pelo carinho que sempre tive por ela ou por ela ser a irmã do meu melhor amigo, ou até mesmo porque eu senti que deveria protegê-la de alguma forma, não sei. Apenas concordei e ponto. - Mais uma vez ele assente e pensa por um momento.
- Se eu desse a você agora a opção de escolha, dizendo que o libertaria de assumir um compromisso que foi feito há 35 anos...
- Espere um momento! Como assim "um compromisso feito há 35 anos"? - Interrompo-o de cenho franzido, e ele dá um suspiro.
- Pelo visto o Carrick não contou a você sobre isso, mas farei um breve resumo para que entenda. - Contenho-me para não dizer que entre o meu pai e eu não há muito diálogo, mas ele sabe disso, sem que eu precise mencionar.
E assim ele começa a relatar que quando a minha mãe e a Carla engravidaram na mesma época, a primeira a ficar sabendo sobre o sexo do bebê foi a minha mãe. Então ele e meu pai começaram com uma brincadeira que se o bebê dele fosse menina, seria a minha prometida, mas não houve acordo porque quem nasceu foi o Vincenzo.
Só que insistiram na brincadeira quando o meu pai o fez prometer que se a Carla engravidasse de novo e fosse uma menina, seria a minha prometida no futuro, porém os pais deles ouviram o que conversavam e levaram a sério, originando em um novo acordo. E quando a segunda gravidez da Carla aconteceu, quase 15 anos depois, o meu avô e o pai do Raymond fizeram com que eles honrassem a promessa que fizeram, no dia que Anastásia nasceu.
No entanto havia o acordo original lavrado pelos Fundadores, onde permitia que se os herdeiros do sexo masculino viessem a se apaixonar e quisessem se casar antes da data limite dos 35 anos, não haveria nenhum tipo de interferência. E mesmo que o meu caso devesse ser uma exceção à regra, pois ainda havia o agravante que eu, sendo um Grey deveria me casar com uma Steele, eles decidiram seguir o acordo original me dando a opção de escolha também, e se tivesse acontecido de eu ter me apaixonado e casado, o segundo acordo seria anulado, onde nem mesmo o Conselho interferiria e muito menos teriam ciência sobre ele.
E depois que ele concluiu o breve relato, eu penso o quanto isso é confuso, pois teria sido muito mais fácil se desde o início isso tivesse sido revelado, eu até poderia ter evitado o desgaste que foi a minha relação com a Bárbara. O que não vou negar que não tenha sido totalmente ruim, só que por mais que seja cruel ou canalha da forma que irei dizer isso, da minha parte sempre foi apenas carnal e nunca houve sentimentos envolvidos. Porém nunca a enganei quanto a isso e reafirmei no momento que rompi o nosso relacionamento, depois de saber de fato os motivos dela.
- Por isso eu irei reformular a pergunta de forma mais direta, Christian. - Raymond me traz para o presente, fazendo-me encará-lo. - Se eu o libertasse de assumir esse compromisso com a minha filha, ou lhe desse a opção de escolher com quem gostaria de se casar, você escolheria a Bárbara?
- Não, Raymond. A Bárbara não seria a minha opção, e isso eu deixei claro, inclusive, diante ao Conselho durante a Assembleia. - Ele assente e por alguma razão vejo que ficou satisfeito, e percebo que foi a mesma reação do meu pai. No entanto antes que eu o questione sobre isso, ele sorri de lado e volta a falar.
- Você não vai questionar sobre o segundo acordo ou tentar contestá-lo?
- Não! - Vejo que o surpreendi com a minha resposta, mas continuo. - Não vou negar que casamento era algo que se eu pudesse evitar, eu o faria com toda certeza, porque você melhor do que ninguém sabe no que a Máfia nos transforma, mas por alguma razão acredito que a minha decisão quanto a Anastásia ser a minha esposa é a correta a se fazer. - Ele volta a sorrir e se levanta, incitando-me a fazer o mesmo.
- Eu sei que vocês terão um longo caminho pela frente, ainda mais por terem se distanciado nesses últimos 5 anos depois que ela foi para Berlim, mas tenho certeza que a minha filha estará em boas mãos, da mesma forma que eu sei que você sempre a manterá segura e jamais a machucará.
- Quanto a isso, você tem a minha palavra, Raymond. - Novamente ele assente e aceito o seu aperto de mão, saindo em seguida do seu Escritório.
[...]
No momento que retornamos à sala, os convidados haviam chegado, incluindo os meus pais e os de Paolo, assim como a família de Susana. E como não poderia ser diferente, a Bárbara insistia que precisava conversar comigo antes do jantar, não se importando pela forma que o Raymond e a Francesca a encaravam, mas agradeci mentalmente ao Harold que conseguiu controlar a insistência da sua filha, evitando que eu perdesse a paciência pela situação.
- Figlio mio! - Caminho na direção da minha mãe e beijo a sua testa, vendo o quanto ela está linda. - Eu sei que você é um homem ocupado, mas devo lembrá-lo o quanto está sendo um filho desnaturado?
- Farei o possível para ser mais presente, mas eu realmente estive ocupado nesses últimos dias, Mamma! - Ela sorri ternamente e acaricia o meu rosto.
- Eu sei, Ragazzo mio. - Nego com a cabeça, pois minha mãe nunca vai parar de me chamar de "meu menino". - Mas aparecer na casa dos seus pais pelo menos uma vez por semana, não vai fazer com que atrase o seu trabalho. - Sorrio e assinto, por não poder argumentar quanto a isso e a envolvo em meus braços.
Grace Grey é uma mulher muito linda, com os seus cabelos loiros, que decidiu por mantê-los curtos, e os seus olhos azuis, não aparentando ter os seus 55 anos. Tão graciosa quanto o seu nome sugere, sempre está com um sorriso em seus lábios, muito doce e extremante apaixonada por meu pai que está ao seu lado. E não vou negar que Carrick Grey também tenha o seu charme, apesar de ser um homem de postura austera e imponente, mas não posso negar que ele é igualmente apaixonado por minha mãe, e isso é algo que eu respeito muito.
- Como vai, Pai? - Aceito o seu cumprimento apertando a sua mão, e ele sorri de lado.
- Estou muito bem, Figlio mio!
Apenas assinto e aceito a bebida que o Garçom me oferece, assim como o meu pai, mas antes que alguém consiga falar alguma coisa para amenizar o clima que começou a ficar constrangedor, vejo a atenção dos demais sendo direcionada para algo atrás de mim, fazendo-me virar.
Paro com o copo a meio caminho da boca e paraliso por um momento, presenciando Vincenzo descendo as escadas, acompanhado de uma bela mulher que está usando um vestido vermelho longo, que envolve as suas curvas perfeitas e esculturais, com uma fenda lateral que a cada degrau deixa a sua perna direita à mostra.
Continuo subindo o meu olhar que passa por sua cintura fina e os seus seios redondos e empinados, muito bem marcados no seu vestido que está preso em seu belo pescoço desnudo, por ter os seus cabelos castanhos escuros presos elegantemente. Mas é no exato momento que os seus olhos azuis cristalinos, brilhantes e com uma ferocidade nunca antes vista por mim se fixam nos meus, que faz o ar escapar dos meus pulmões e o meu coração reagir e acelerar, ao me dar conta que essa bela mulher que agora caminha em minha direção como se flutuasse apesar dos seus passos serem firmes e decididos, está totalmente diferente da menininha que eu esperava. Linda! Extraordinariamente Linda!
- Boa noite, Don! - Sua voz ainda é doce, mas o seu tom duro ao pronunciar o meu título e não o meu nome como antes, faz com que eu franza o cenho.
- Anastásia? - Ela me dá um sorriso, mas não o que costumava ser direcionado a mim, e sim sarcástico.
- Parece surpreso, Don, esperava outra pessoa?
- Em absoluto! Mas devo dizer que você está... - Ainda mais linda! É o que eu diria se não tivesse sido interrompido bruscamente.
- Diferente da menininha que esperava? Digamos que aquela adolescente imatura ficou no passado, Don. - Franzo o cenho mais uma vez, confuso com a sua atitude. - Se me der licença, tenho outras pessoas para cumprimentar. - Ela solta o braço do irmão, que parece tão confuso quanto eu, e vai cumprimentar os meus pais, que só agora eu percebi terem se afastado, ou eu que me afastei, nem sei dizer.
- Cazzo!
Deixo o murmúrio escapar quando vejo as suas costas totalmente nuas, deixando as suas covinhas de Vênus visíveis, mas não permito o meu olhar ir além quando Paolo se aproxima, chamando a minha atenção e a de Vincenzo, que continua estarrecido ao meu lado.
- O que foi isso que acabou de acontecer?
- Sinceramente, não faço ideia, Paolo! Mas acho que o Christian perdeu o posto de ser o preferido di mia sorella!
Não respondo nada, quando eles dão uma risada abafada para não chamar a atenção dos demais na sala. Apenas viro o conteúdo do meu copo na boca, e acompanho com o olhar o momento que Anastásia se aproxima dando um sorriso verdadeiro e iluminado para Giovanni e Franco, os seus Guardiões, e uma mulher que ainda não conheço, mas que parece ser apenas um pouco mais velha que ela, que estavam na mesa com Anthony.
- Você sempre será o preferido da Anastásia como irmão mais velho, Vincenzo, a única coisa que vai mudar é que a preferência dela quanto ao Christian em algum momento será por ele ser o marido dela. - Paolo não evita a provocação, enquanto Vincenzo faz uma carranca e nega com a cabeça, mas eu continuo calado, assimilando tudo o que acabou de acontecer.
- Não quero saber sobre isso, Paolo! Não se esqueça de que estamos falando sobre a minha irmã. - Quem nega com a cabeça agora é o Paolo, mas mudo de assunto.
- Eu não imaginei que o jantar seria na verdade uma festa. - Resmungo e Vincenzo dá um suspiro, desviando o olhar da mesa onde está a sua irmã.
- Eu também acreditei que fosse, mas você sabe como a Susana gosta de festas, mesmo que eu não entenda a razão para que esta estivesse acontecendo.
Não posso discordar, mesmo que Vincenzo seja impassível quanto ao atual casamento do pai, a sua madrasta nunca escondeu que não gostava da Anastásia, o que imagino que tenha sido pela rejeição por parte dela, que era tão pequena na época em que perdeu a mãe. Por essa razão que ela não hesitou em ficar longe de sua família quando decidiu ir para a Cúpula em Berlim, justamente para não ter que conviver sob o mesmo teto que a esposa de seu pai.
- Vamos para a mesa, meus Queridos? O jantar será servido. - Susana se aproxima com um sorriso nos lábios, mas apenas assentimentos, acompanhando-a até a mesa.
Não vou negar que alguma coisa nessa mulher também me incomode, mas acredito que seja pelo fato da superproteção que sempre tive em relação à Anastásia porque eu não gostava de vê-la tão tristinha quando a mãe faleceu. O que pode ser também por eu ter convivido com a Carla durante 23 anos e não posso negar o quanto gostava dela, sendo que eu a tinha como uma segunda mãe, e acredito que Paolo também tivesse o mesmo sentimento sobre isso.
Durante toda a noite foi praticamente impossível tirar os meus olhos de Anastásia. Observei a sua postura elegante, o modo delicado como se move e quando sorri com seus lábios rosados em formato de coração, mas também o quanto teve sucesso em ignorar a minha presença, como se eu não estivesse sentado a sua frente na extensa mesa de jantar. Bem diferente do quanto ela parece à vontade com os seus Guardiões, principalmente com o Giovanni.
Eu imaginei que seria difícil quando ela soubesse que teria que se casar comigo, e alguma coisa me diz que a sua atitude e comportamento indiferente, vai muito além do que apenas a ligação que teremos através do matrimônio, pois nas raras vezes que ela permitiu que o seu olhar cruzasse com o meu, eu via não apenas raiva, mas também uma mágoa contida que estivesse tentando dominar.
Se eu disser que prestei atenção em qualquer assunto que estivesse sendo conversado à mesa, o que sempre acontece em jantares típicos italianos, estaria mentindo, mas no momento que o jantar foi finalizado, não hesitei em seguir o mesmo caminho que Anastásia fez para o jardim da casa.
- Podemos conversar, Anastásia? - Percebo o momento que o seu corpo retesa. E quando os seus olhos encontram os meus, estão tão frios que me preocupa.
- O que teríamos para conversar, Don?
- Primeiro eu quero que pare de me chamar de Don e sim de Christian, como você sempre fez. - Aproximo-me um pouco mais e vejo o seu olhar acompanhar cada movimento que eu faço. - E segundo, que me explique o porquê de estar agindo assim. - Ela dá uma risada incrédula e nega com a cabeça, voltando a me encarar ainda mais irritada.
- Primeiro eu não sou um dos seus Soldados para poder exigir alguma coisa de mim, então continuarei a chamá-lo como eu quiser, Don! - Ignoro o seu tom rude e o seu sarcasmo, e me aproximo um pouco mais. - E segundo, a única coisa que quero falar com você, neste momento, é como faremos para impedir que esse casamento aconteça. Caso não tenha a solução para este problema, não temos mais nada para conversar. E sinceramente, eu não tenho que lhe explicar nada.
Eu deveria lembrá-la que também sou o seu Don e que me deve respeito, mas por alguma razão que desconheço completamente, a sua forma insolente não me deixa irritado, e sim com vontade de rir da sua carinha brava.
- Por qual razão eu deveria impedir que o nosso casamento acontecesse? - Arqueio a sobrancelha e acaricio o seu rosto que está ficando ainda mais vermelho. Só não sei se é somente pela raiva.
- Porque você não quer se casar comigo e eu não quero me casar com você! Preciso dar razão mais plausível do que essa? - Ela não desvia o olhar dos meus e não me afasta.
E isso me causa sentimentos controversos, pois preciso me lembrar de que mesmo tendo esse corpo exuberante de uma linda mulher, esse temperamento ácido e personalidade forte, que são completamente novos para mim, ela ainda é a menininha doce e delicada que eu vi crescer e que gostava de me enfiar gelato de melancia. Além de ser a irmã do meu melhor amigo, mas o seu olhar desafiador me instiga a provocá-la de alguma forma.
- Você terá que se casar de qualquer forma, assim como eu. Ou devo presumir que você prefira se casar com um estranho qualquer, mas não comigo? - Ela empina o nariz e tira a minha mão do seu rosto bruscamente.
- Sim! Eu prefiro! - Não consigo evitar o sorriso, fazendo-a grunhir irritada e tentar passar por mim, mas seguro a sua mão, parando-a no lugar.
- Sinto-lhe informar, mas é comigo que você irá se casar, Principessa! - Ela solta a sua mão da minha e volta caminhar na direção da casa, mas para no lugar e me olha sobre o seu ombro.
- Veremos, Don! - E sem esperar uma resposta, simplesmente me deixa sozinho no jardim e entra na casa, mas eu apenas dou risada e nego com a cabeça.
Veremos, Anastásia!
Só espero que esteja preparada para enfrentar as consequências, porque você acabou de provocar a Besta que tem sede e nunca dispensa um bom desafio!
Hoje não é ontem, mas está valendo ainda, não é 🤭🤭🤭🤭?
Espero que gostem, que votem e comentem sobre o que estão achando do meu Mafioso Diavolo 😏😏😏!
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