Capítulo - 07
O silêncio é muito bem-vindo a maior parte do tempo e aprecio cada segundo que posso aproveitá-lo, mas sendo totalmente controverso quanto a minha preferência de apreciação, há situações em que esse mesmo silêncio não apenas me incomoda como também me deixa muito irritado, principalmente quando quero ouvir respostas das quais não são necessárias perguntas para obtê-las pela obviedade dos fatos.
E é justamente isso que acontece quando a surpresa do momento em que o nosso convidado foi revelado, passa não apenas para curiosidade de alguns, mas também para o desconforto do único responsável que causou essa situação, dando-lhe a certeza que o homem amarrado a nossa frente, responde muito mais do que acreditava que eu poderia saber sobre o que se passa na minha Organização.
- Algum problema, Senhores? - Questiono cinicamente e ainda observando as reações dos Capos, que negam com a cabeça, levanto-me e começo a andar calmamente pela sala, até que eu pare as costas de Ludovico. - Ótimo! Espero que não tenham nenhum outro compromisso depois que saírem daqui, porque hoje acordei inspirado e eu vou deixá-los da mesma forma. - Aperto o ombro dele com um pouco mais de força do que o necessário e o sinto ficar tenso, mas volto a caminhar pela sala. - Porém antes disso, compartilhe com os nossos Capos a novidade da nossa nova aquisição, Paolo. - Ele sorri de lado, tão frio quanto eu, entendendo o que estou fazendo.
- Com todo prazer, mesmo que não tenha necessidade, no entanto. - Ele faz uma pausa calculada e olha atentamente para cada um dos Capos. - Afinal, todos os que aqui estão presentes tinham ciência da construção de um novo empreendimento para entretenimento adulto em Staten Island, mas que agora podemos dizer que depois de longos dois anos, a Casa Noturna Full House enfim foi inaugurada.
Vejo a troca de olhar que os Capos fazem possivelmente confusos com a informação, afinal, eles tinham, sim, conhecimento sobre a construção de uma nova Casa Noturna em nosso território, mas também sabiam que esse estabelecimento não fazia parte dos empreendimentos da Famiglia, porém Ludovico se agita em seu lugar.
- Desculpe-me, Don, mas acredito que está havendo algum mal-entendido.
- Mal-entendido? - Finjo pensar e volto a me sentar calmamente, vendo-o engolir em seco, mas admiro a sua coragem em assentir. - E qual seria esse mal-entendido, Ludovico? - Mais uma vez ele engole em seco e retira o lenço do bolso do paletó, passando-o em sua testa suada.
- Essa casa noturna que foi mencionada pelo Sottocapo não pertence à Famiglia. - Arqueio a sobrancelha em sua direção sem falar nada e isso parece incentivá-lo a continuar. - A Full House pertence a um Empresário que também é proprietário de outros empreendimentos semelhantes e de um Restaurante no Brooklyn, mas pelo que eu pude averiguar, ele não gosta muito de aparecer na mídia e prefere passar seus dias viajando, deixando os seus negócios nas mãos de seus funcionários.
- Você está se referindo a Owen Sutton? - Ele arregala os olhos e fica pálido, e eu sorrio friamente. - Vincenzo, como foi a sua reunião no início dessa tarde?
Questiono ao meu Consigliere sem tirar os olhos do homem que está a ponto de ter um colapso, enquanto Taylor e Trevor se aproximam um pouco mais por saberem o que está prestes a acontecer. E isso chama a atenção dos demais Capos, que se mantiveram em silêncio desde o momento que o nosso convidado pôde ser visto do outro lado do vidro.
- Digamos que Owen foi um bom anfitrião a princípio. - Vincenzo entrega uma pasta para Luke, o seu Guardião, que não demora em colocar na mesa a frente de Ludovico, que depois de olhar por alguns segundos o objeto, abre e começa a folhear o seu conteúdo. - Inclusive, não posso deixar de mencionar a sua imensa colaboração, depois de alguns dedos quebrados, é claro, em me informar o verdadeiro proprietário que seria o responsável para nos devolver tão gentilmente, a Full House, a Lascívia e o Baco Restaurante. - Assim que Vincenzo termina de falar, Paolo encara Ludovico impassível, mas os seus olhos estão gélidos, afinal, os Capos são subordinados diretos a ele.
- A princípio duvidamos que um dos Capos mais antigos de Manhattan fosse estúpido o suficiente para se apropriar do que não é seu, quebrando o 9º Mandamento da Dragão Negro, mas então a ganância, a ambição e a confiança que a nova geração que está a frente da nossa Organização não fosse preparada para ocupar os cargos que ocupam hoje, fez com que desejasse sempre mais a ponto de não perceber que estava fazendo apenas o que nós queríamos que fizesse. - Ele permanece estático no lugar ouvindo as palavras frias de Paolo, assimilando o que está acontecendo, mesmo que soubesse que não teria para onde correr no momento se tentasse. - E agora, devo dizer que você está tentando fazer um bom trabalho, que não conseguiu fazer antes, enquanto assiste o seu testa de ferro amarrado do outro lado do vidro e mesmo que não conseguindo totalmente, ainda está fazendo um grande esforço em permanecer impassível como se ele não passasse de apenas mais um Soldado a ser punido por violar uma regra, Ludovico. - Taylor e Trevor o impedem de se levantar quando tem a confirmação que realmente foi descoberto, mas agora vejo o medo em seu olhar quando me encara suplicante.
- Eu posso explicar Don.
- Você irá, Ludovico, mas não aqui! - Ignoro qualquer palavra pedindo por clemência que saia de sua boca e foco a minha atenção no meu Guardião. - Taylor, leve-o para o aquário e ordene que ele receba "uma excelente acomodação" ao lado do nosso convidado, que logo a diversão realmente irá começar. - Ele assente e sai com Trevor, levando Ludovico que muda as súplicas e começa a disparar impropérios contra mim.
- Don, o que está acontecendo? O que significa tudo isso? - Santiago, o Capo representante do Clã Camorra em Nápoles, questiona tão confuso quanto os demais.
Santiago Mazza Falcone é neto de Anthony Mazza, mas atualmente é herdeiro de um dos Clãs da Camorra, pois sua mãe, a segunda herdeira a cadeira do Conselho, abriu mão do seu direito quando se apaixonou por um dos filhos do Chefe da Máfia rival a Dragão Negro na época. E por ser de interesse da Organização que uma rixa antiga fosse encerrada, a aliança entre as duas Máfias se deu com a união entre Antonieta Mazza e Silvio Falcone.
Diferente de como funciona a Dragão Negro, sendo uma única Famiglia, a Camorra é dividida em grupos denominados Clãs, onde cada um tem o seu Capo como Chefe daquela célula, e como agem de forma independente estão quase sempre entrando em guerras entre si tentando provar que uma tem mais poder que as outras.
Porém hoje, as células ligadas à família Falcone são regidas pelas leis e regras da Dragão Negro, onde Santiago aos 40 anos tem demonstrado não apenas ser alguém em quem eu possa confiar, mas também estando a um passo de se tornar o Chefe do seu próprio Clã, assim como aconteceu com a célula da Espanha que está sob o comando de Javier Gonzáles, o marido de Alba, irmã mais velha de Santiago.
- Está acontecendo exatamente isso que vocês estão vendo, Santiago! - Levanto-me e espalmo as minhas mãos sobre a mesa, mudando minha face impassível para uma que demonstra toda a minha insatisfação com essa situação. - Um dos Capos que parecia ser alguém de confiança do antigo Don, achou que poderia me subestimar por achar que eu não fosse capaz de ser o chefe desta Famiglia, sendo assim se achou no direito de me roubar a ponto de acreditar que eu não fosse perceber ou que eu não tivesse o controle de tudo que se passa nessa Organização. - Silêncio. Todos permanecem em silêncio diante ao meu tom gélido e cortante, mas continuo. - Há quanto tempo eu sou o Don da Dragão Negro, Matteo?
Matteo Caputo é o Capo de Livorno, neto mais velho de Gennaro Caputo e o próximo a assumir a Cadeira do Conselho. Aprendeu ainda mais cedo do que eu - sendo iniciado aos 18 anos -, a responsabilidade de fazer parte de uma Organização como a nossa, pois desde que o seu pai perdeu a vida em uma emboscada, que passou a compreender que no nosso mundo a lei é ser forte e matar quando necessário ou continuar sendo fraco e negar a si mesmo o seu legado, tentando fugir daquilo que a Máfia nos transforma. E hoje, aos 38 anos é um dos Capos mais fiel e dedicado a Famiglia que eu poderia contar desde que assumi como Don.
- Cinco anos, Don!
- E nesses cinco anos que estou à frente da nossa Organização, eu ainda preciso provar o meu valor por estar ocupando essa posição na hierarquia?
- Em absoluto, Don! - Dou um aceno seco com a cabeça, e mantenho o contato visual com cada um dos Capos.
- Como eu passei a ser conhecido na Dragão Negro, Harold?
- Il Diavolo (O Diabo), Don!
- E esse título eu passei a recebê-lo por permanecer sentado atrás de uma mesa, como um Rei que apenas espera que os seus súditos executem o seu trabalho e me tragam resultados?
- De forma alguma. O título foi recebido por ser um Don justo com os merecedores, mas também que pune os transgressores e executa os traidores sempre que julgar necessário.
- Então vocês sabem exatamente o que isso significa e o que vai acontecer no aquário quando eu disse que a diversão estava prestes a começar.
Não falo mais nada, apenas saio da sala de reuniões e caminho para o aquário onde os meus convidados de honra para esta noite me aguardam. Não preciso olhar para trás, pois sei que Vincenzo, Paolo e os Capos irão me acompanhar sem mais questionamentos ou interrupções para as minhas próximas ações.
[...]
- Confortável, Ludovico?
Sorrio cinicamente, enquanto retiro o meu paletó, colete, a gravata e a camisa, entregando-as para Taylor, que permanece ao meu lado, afinal gosto muito desse terno e a camisa foi um presente da minha mãe, por isso não irei sujá-los a ponto de ter que jogar fora depois.
- Está havendo um equívoco aqui, Don! - Ele tenta mais uma vez me convencer de sua inocência, que não existe, é claro. - Eu sempre fui fiel a Dragão Negro! Você não pode acreditar na palavra de um simples Soldado, enquanto estou há anos servindo a esta Famiglia.
- Não me baseio em palavras de quem não tem honra, Ludovico! - Direciono um olhar indiferente ao Soldado que está amordaçado, enquanto lágrimas deslizam por seu rosto. - Sou um homem de fatos e provas, e isso eu tenho mais do que o suficiente para cobrar o que me é devido. - Caminho calmamente em direção à mesa com alguns dos meus brinquedinhos favoritos e pego um canivete stiletto italiano, verificando o corte no fio da lâmina.
- Eu não tenho nada haver com o que estou sendo acusado! - Ele começa a se alterar e volto a caminhar em sua direção, sem pressa e com passos calculados. - Armaram para mim, e como o próprio Consigliere disse vocês estão em posse dos imóveis, dos quais foram passados pelo verdadeiro proprietário e este não sou eu! Não sou eu, Don! - Ele se agita na cadeira quando paro a sua frente.
- Eu acredito em você. - Ele para de se debater e dá um suspiro aliviado, que dura pouco quando profiro as próximas palavras. - Pelo menos no que diz respeito a não ser o proprietário oficial dos imóveis, mas vamos ouvir o que o seu Soldado tem a nos dizer sobre isso, afinal, era o nome dele que constava nos documentos. - Aproximo-me e sem muita delicadeza corto a mordaça que o impedia de falar e um grunhido de dor é ouvido quando a lâmina faz um corte fino em seu rosto, fazendo o sangue correr livremente.
- Eu não sabia o que eram aqueles documentos, Don! - Yanik fala em desespero, e quanto a isso, eu sei que é verdade. - Apenas exigiam para que eu assinasse, dizendo que era uma ordem do Capo e que não deveria questioná-lo se eu quisesse permanecer vivo dentro da Organização, por essa razão apenas fazia.
- Cale essa boca, seu merda! Você sempre soube o que estava assinando e foi muito bem recompensado por isso! - Ludovico se exalta, e sei exatamente a razão, mas continuo em silêncio apenas ouvindo o que eles têm a falar.
- Eu não sabia! - Yanik vocifera. - E nunca recebi nada, mas eu não sou tão idiota quanto você pensava, Capo, pois por diversas vezes eu ouvia quando se gabava ao dizer que o Don não passava de um moleque inexperiente, que enquanto brincava de ser o Chefe no lugar do pai, não conseguia enxergar o que se passava no próprio quintal. Além de dizer ao seu...
- CALE-SE! - Ludovico grita a ponto de ficar vermelho e espumar pelo canto da boca como um cão raivoso, mas isso me irrita o bastante para que eu comece com a diversão. - AH! SEU DESGRAÇADO! - Ele volta a gritar, mas dessa vez quando enfio a lâmina de 13 cm em seu ombro, apenas para causar dor, perfurando o músculo deltoide sem romper nenhum tendão.
- Sem gritos, Ludovico! Aqui todos nós somos capazes de ouvi-lo perfeitamente. E se voltar a falar uma única palavra sem que eu pergunte algo, eu posso não ser capaz de controlar a sede que a minha lâmina está para sentir o sangue de um ladrão. - Ele me olha com ódio quando limpo o seu sangue em suas próprias roupas, e se cala. Agora sim a brincadeira está ficando divertida, mas direciono a minha atenção ao Soldado que está de olhos arregalados. - Eu sei tudo que envolvia a forma que você era obrigado a assinar os documentos, Yanik, e a razão para que esteja aqui, não é essa.
- Don, tudo o que eu fiz foi porque estava sendo obrigado. - Assinto e puxo a cadeira que foi colocada para mim, sentando-me diante dos dois e o espaço vazio que há ao lado de Ludovico, mas que não chegará a ser ocupado.
- Eu sei! - Abro e fecho a lâmina do canivete, sem desviar a atenção dos dois que observam cada movimento que faço. - Da mesma forma que eu sei que você estava vendendo informações sobre a Dragão Negro para os Russos, Yanik.
Ludovico arregala os olhos, e não me passa despercebido quando direciona rapidamente o olhar para alguém atrás de mim, buscando apoio, antes de encarar o seu Soldado que fica pálido, prestes a desfalecer na minha frente. Todas essas atitudes foram tão rápidas que eu poderia acreditar que fosse apenas uma reação involuntária por minhas palavras, mas eu sei exatamente que esse não é o caso.
- Não... Eu não... Don, eu não fiz isso. Eu dou a minha palavra que... - Levanto a mão, fazendo-o calar e engolir em seco.
- Não quero ouvir uma única palavra sobre isso agora, Yanik! Você consegue ficar caladinho por alguns minutos, enquanto resolvo alguns assuntos com o seu Capo? Ou terei que cortar a sua língua para não ter que ouvi-lo? - Novamente ele engole em seco, mas nega com a cabeça. - E quanto a você, Ludovico, achou mesmo que desde o início eu não sabia que você estava me roubando? Acreditou mesmo que eu fosse estúpido a esse ponto? Ou como o seu Soldado acabou de dizer, que eu fosse inexperiente e inapto a ser o Don? E você sabe que quero saber muito mais do que apenas o roubo do dinheiro que pertencia a Famiglia, Stronzo!
- Foda-se, seu moleque insolente! Você vai me matar de qualquer forma.
- Ah, com certeza eu irei matá-lo, pois não tolero traidores e ladrões, mas se vai ser de forma lenta e dolorosa ou rápida e indolor será você quem irá escolher. - Sento-me o mais confortável possível na cadeira sem perder o contato visual. - Talvez você precise de um pouco mais de motivação para termos essa conversa. - Apenas direciono o olhar para Taylor, que entende que chegou o momento de trazer o pacote surpresa para se juntar a nós.
- O que você...
Ele se cala quando a porta é aberta e um homem que parece ser jovem, na faixa entre 25 e 30 anos entra com um sorriso debochado sendo direcionado para Ludovico, e como o Taylor havia dito, com algumas avarias, incluindo os dedos quebrados que Vincenzo mencionou na sala de reuniões, mas logo acabarei com esse sorrisinho que ele ostenta.
- Parece surpreso, Ludovico?
Sorrio de lado, mas ele tenta manter a impassibilidade, mesmo que eu consiga ver o quanto está apavorado com o que desenrola a sua frente. E sem conseguir manter a fachada anterior por mais tempo diante ao silêncio na sala, indagações começam a serem disparadas.
- O que significa isso? O que você está fazendo aqui, Owen? Você disse que estava embarcando para Monte Carlo.
Ele questiona tentando manter o tom de voz firme e vejo apenas um homem de 65 anos, que deixou a ambição e a arrogância o dominarem, sem perceber que estava usando a corda que eu mesmo o dei para se enforcar.
- Não se preocupe com a minha presença, pois serei breve, afinal tenho um voo me aguardando, Ludovico, ou será que eu devo chamá-lo de papai?
Ele fica estático por um momento, ouvindo as palavras debochadas de Owen, mas a decepção se transforma em fúria ao encarar o filho bastardo, o único que lhe sobrou depois de ter perdido a esposa e a filha num acidente de carro que acarretou na explosão do veículo antes que o socorro chegasse, percebendo quem o entregou.
- Por que você está fazendo isso? Eu nunca deixei que nada o faltasse, sempre proporcionando todo o luxo que você queria, bancando as suas viagens e lhe dando todas as mulheres que quisesse. - Owen sorri e nega com a cabeça.
- Eu acreditei por muitos anos que fosse apenas uma criança sortuda por ter um padrinho que sempre tentou fazer tudo por mim, mas então eu ouvi a sua esposa exigindo que se livrasse de mim, que era o seu filho bastardo, e da minha mãe, uma prostituta que servia para satisfazer os seus fetiches doentios.
- Eu nunca faria isso com você, Owen. - Ele dá uma risada de escárnio e encara o pai com ódio.
- Claro que não, Ludovico! Porque antes que a sua esposa insistisse no assunto, eu mesmo mandei acabar com ela e a sua garotinha quando explodiram naquele carro. E não tive o menor problema em apagar aquela prostituta que só me envergonhava. - Ele continua falando, sem se dar conta do que está revelando, sendo motivado apenas pelo ódio de confrontar o pai. - Passei a analisá-lo por um tempo e depois eu fiz um acordo com o Yanik, que tinha muito a perder, tão logo eu descobri ser um Soldado e que você era um Capo da Máfia, por isso tudo que o Don Grey já sabia, eu apenas confirmei e entreguei todas as provas que ele precisava para acabar de vez com você.
- Como você pôde fazer isso, Owen? Eu sou o seu pai! A Danika era a sua irmã!
Ludovico parece perplexo com a maldade do filho, o que me deixa enojado por ouvir as suas palavras ao dizer tão friamente que matou a própria mãe, a irmã inocente e a esposa do seu pai, por isso decido acabar com esse circo e o momento em "família". Aceno para os dois Soldados que o acompanharam até ao aquário, que não hesitam em se aproximar e o segurarem pelos braços.
- O que... O que significa isso, Don? Esse não foi o nosso combinado!
Levanto-me e pego dois socos-ingleses sobre a mesa, encaixando-o entre os meus dedos e desfiro o primeiro soco nesse imbecil de merda, que pelo estalo, o seu nariz foi quebrado no processo. Ignoro os protestos de Ludovico, porque agora a minha conversa será con questo disonesto profittatore (com esse aproveitador sem honra).
- Não faço acordos com alguém que não tem honra Owen. - Os Soldados o prendem com correntes pelos pulsos, elevando-os sobre a sua cabeça, deixando-o praticamente suspenso, e mais socos são desferidos por meus punhos, sujando-me com o seu sangue imundo. - Eu jamais confiaria em alguém que vendeu o próprio pai por dinheiro! - Mais alguns socos, só que agora em suas costelas, fazendo-o urrar de dor. - Eu nunca confiaria em alguém que não é capaz de honrar o próprio sangue, mesmo que seja tão desgraçado quanto você. - Seguro firme em seus cabelos e faço com que me encare. - Eu nunca confiaria la mia Famiglia a alguém que mandou matar a própria mãe, a irmã inocente, que ainda era uma adolescente, e a esposa do próprio pai.
- Pare... Por favor, pare! - Ele cospe o sangue que o sufoca, por estar respirando apenas pela boca. - Eu... Eu disse tudo que precisava. Eu... Eu... O ajudei!
Suas palavras me irritam ainda mais e isso apenas me motiva a socá-lo repetidas vezes, respingando-me cada vez mais com o seu sangue, assim como os meus punhos que brilham carmesins, mas o infeliz apaga, obrigando-me a parar por enquanto.
- Pezzo di merda! (Pedaço de merda!). - Jogo sua cabeça para trás e retiro os socos-ingleses, jogando-os sobre a mesa. - Acordem-no e o amordace que não estou com disposição para ouvir choro de marmanjo covarde! E quero que ele veja o que irá acontecer a partir de agora! - Ordeno para ninguém em específico, enquanto volto para onde os outros dois estão.
- Seu desgraçado! - Ludovico vocifera, lutando para se soltar da cadeira, mas isso apenas faz com que as braçadeiras entrem em sua carne, ferindo-o ainda mais. - Você já conseguiu tudo o que queria, recuperou o seu dinheiro de volta e está tendo o prazer em me humilhar dessa forma diante aos demais Capos, seu Italiano de merda!
- Stupido! Você acha mesmo que eu estava preocupado com o dinheiro que estava me roubando? - Dou uma gargalhada estrondosa, mas fria o suficiente para fazê-lo se calar. - Você acha mesmo que esse espetáculo que estou fazendo aqui é apenas por causa de alguns milhões que foram subtraídos ao longo desses 3 anos e meio, porque eu permiti que assim fosse, mas que me renderam duas Casas Noturnas e um Restaurante sem que eu precisasse fazer qualquer esforço e que ainda me darão um retorno financeiro muito maior hoje?
Nego com a cabeça e estendo a mão para o lado, sem desviar o olhar deles, recebendo de Taylor o meu revolver Taurus RT692 9mm e uma única bala, quando eles começam a implorar por suas vidas, por verem o que pretendo fazer ao colocar o projetil em um das câmaras e girar o tambor.
- Vamos fazer uma brincadeira onde apenas o vencedor encontrará o caminho do inferno de forma rápida e indolor. - Alterno o olhar entre os dois. - Vamos começar com você, Yanik, que receberá o primeiro disparo se a sua resposta não me agradar. O quê os Russos queriam no meu território?
- Eu não sei, Don! Eu não sei o que eles querem! Eu não falei nada! - Disparo, mas em direção a Ludovico que salta na cadeira e pragueja quando nada o atinge.
- Porra! Seu sádico de merda! Você disse que...
- Meu jogo e minhas regras. - Interrompo-o calmamente e mais uma vez giro o tambor. - Eu proibi o tráfico de mulheres, mas mesmo assim você recebeu "um carregamento" com 20 imigrantes na semana passada, sem se importar que houvesse menores de idade entre elas.
Travo o maxilar ao me lembrar das fotografias de duas garotas de 17 anos que Owen mandou me entregar, que eu analisava antes de descer para a reunião, e sem que ele pudesse esperar, não hesito em puxar o gatilho.
- Santo Deus! - Mais uma vez ele se assusta, ignorando os gemidos e engasgos do seu filho por estar mais preocupado com a própria vida, mesmo sabendo estar com os minutos contados. - Você não fez nenhuma pergunta, seu...
- Não tenho perguntas para você, pois eu sei que não tem envolvimento com os Russos, pelo menos não diretamente. No entanto temos contas a acertar por seus delitos ao quebrar as leis da Dragão Negro, por isso torça que essa arma não dispare em Yanik, Ludovico! Porque se isso acontecer, o que o espera será lento e doloroso, e quando não estiver aguentando mais, pedirá para a morte vir e abraçá-lo, tendo a certeza que eu apenas estarei começando. - O tom profundo e frio que há em minha voz faz com que ele estremeça e urine em suas roupas, mostrando o quanto é um vigliacco (covarde).
Nego com a cabeça e sorrio diabolicamente, afinal, não há tortura melhor que a psicológica aliada à incerteza se o próximo disparo será o premiado ou não. Enquanto a sua mente continua trabalhando impiedosamente, levando-o a expectativa do que farei com ele em seguida, mas volto a girar o tambor e direciono a arma para Yanik, que me olha resignado.
- Eu falo! Eu falo! Mas tenha misericórdia, por favor, Don? - Com a arma ainda apontada para ele, apenas continuo o encarando impassível, aguardando que comece a falar. - Eu realmente me encontrei com alguém, mas não é nada do que possa estar pensando ou que eu tenho dito algo relacionado a Dragão Negro. O nome dele é Iakov Vasilyevich Bazin...
- Ele é Boyevik (Soldado) de Mikhail Ivanovich Petrov, o novo Pakhan (Chefe) da Bratva, e também o seu primo. - Ele arregala os olhos quando o interrompo, e quase "engole" a língua por eu saber disso, mas abaixo a arma, pois eu queria apenas que a verdade viesse dele.
- Don, eu nunca o traí ou a Famiglia! Eu posso explicar, mas... - Levanto a mão mais uma vez, para que se cale.
- O seu nome é Rurik Sergeevich Bazin e tem 26 anos, mas desde que chegou a New York, passou a se chamar Yanik Marshall, e eu sempre soube que você era um desertor Russo, que procurou asilo neste país, com a sua mãe, desde que tinha 16 anos.
Faço uma pausa, e ele baixa a cabeça para esconder as lágrimas que deslizam por sua face, mas vejo Ludovico ainda mais inquieto, assim como uma movimentação pode ser ouvida dos demais Capos, porém ninguém me interrompe.
- Aos 20 anos, quando precisou de dinheiro para ajudar a pagar as despesas hospitalares da sua irmã, que tinha apenas 2 anos na época, e que foi internada com um caso grave de problemas respiratórios, recorreu a um empréstimo com um Agiota, sendo este o Capo Ludovico Bowman, que o recrutou por ter visto potencial em você. E desde então tem seguido o lema da Famiglia Dragão Negro: Fidelidade, Honra e Vingança! Mas sabe o que eu não consigo entender? - Ele levanta a cabeça, negando. - A razão para você ter jurado no sangue e pelo sangue a uma Organização que é rival da Bratva, se o motivo para que você e a sua mãe tivessem saído da Rússia era justamente para fugir da Irmandade?
- Eu não sabia que esse moleque era um infiltrado da Bratva, Don. Se eu soubesse, nunca...
O estampido da minha arma e o impacto do projétil entrando em seu peito interrompe as suas palavras. E com os olhos arregalados, Ludovico baixa a cabeça vendo a mancha vermelhar fluir em abundância em sua camisa, enquanto me levanto e me aproximo tendo os seus olhos fixos em mim, o que não demora a começar perder o foco enquanto engasga em seu próprio sangue.
- Hoje foi o seu dia de sorte, Ludovico. - Ignoro o barulho das correntes provocadas por Owen, não por ligar para o seu pai, mas por saber que em breve será o próximo. - Você foi premiado com o modo rápido dessa vez, mas saiba que o infiltrado da Bratva nunca foi o Yanik, e sim aquele que você chamava de filho e que não hesitou em entregar a sua cabeça em uma bandeja de prata em minhas mãos.
- Seu... - Ele engasga mais uma vez e tenta formular suas palavras. - Des... Desgraçado!
- Poupe as suas forças, Capo, aproveite os seus últimos segundos de vida e deixe para bater um papo interessante com o diabo quando chegar ao inferno. Mande lembranças a ele por mim, a propósito! - Dou um tapinha em seu rosto e me afasto para presenciar a vida abandonar os seus olhos, o que não demora muito para acontecer, e foco minha atenção no próximo que receberá o que merece. - Espero que às acomodações que tenho preparada para você, seja do mesmo nível que está acostumado, Owen! Afinal, passaremos alguns dias juntos.
Ele grunhe por estar amordaçado, debatendo-se por ainda estar pendurado pelas correntes, e mesmo com os seus olhos quase fechados, alterna o olhar entre mim e o corpo de seu pai, que está sendo retirado da cadeira e arrastado pelos Soldados.
- Perdoe-me, por favor? Eu sou um Homem de Honra e jurei lealdade a Dragão Negro e nunca traí a sua confiança, Don. - Yanik não esconde o seu desespero, mas respiro fundo e volto a me aproximar dele, que deve estar com os braços dormentes por ter permanecido amarrado há tanto tempo.
- Voltaremos a conversar sobre isso depois, Yanik, mas você também será punido por não ter recorrido a Famiglia quando passou a ser chantageado. Além de não ter tentado procurar o Consigliere, o Sottocapo ou até mesmo a mim para falar sobre tudo que envolvia o seu passado. - Ele assente, e vejo o alívio tomar seus olhos verdes, mas também resiliência em aceitar a sua punição e com o stiletto, que ainda permanecia em meu bolso, eu corto as braçadeiras que o prendem.
- Obrigado, Don!
- Essa será a sua única e última chance, Yanik. Se ousar me decepcionar eu mesmo meto uma bala em sua testa e mando apenas as cinzas para a sua mãe, estamos entendidos?
- Sim, Don! Com a palavra de um Homem de Honra, eu jamais voltarei a decepcioná-lo. - Apenas dou um aceno de cabeça por acreditar nele, afinal, Yanik é um bom garoto.
- Ordene a punição cabível para esta situação, Taylor, e nos encontraremos no estacionamento em 30 minutos.
- Afirmativo, Don!
Sabendo que não direi mais nada, ele faz um gesto com a cabeça para Yanik, que o acompanha, mas respiro fundo antes de me virar e caminhar na direção de Vincenzo, Paolo e os demais Capos, sem me importar que haja sangue manchando a minha pele.
- Os Senhores teriam algum assunto que precisa ser tratado comigo no momento?
- Não, Don! - A negativa foi unânime, mas consigo sentir o desconforto deles.
- Ótimo! Então por ora, o show está encerrado, e se alguém aqui ainda pensa que pode agir por minhas costas, acreditando que eu não tenho conhecimento sobre tudo que se passa nesta Famiglia, aconselho a repensar muito bem antes de persistir no erro. - Faço uma pausa calculada e mantenho contato visual com cada um dos homens a minha frente. - Tenham uma boa noite, Senhores!
Saio do aquário despreocupadamente e caminho na direção do elevador, e por mais que eu saiba que ainda haja situações nas quais preciso resolver quanto a tudo o que aconteceu com o Ludovico, com o Owen e a Bratva rondando o meu território, por hoje basta!
Só espero que os Capos tenham entendido o meu recado, caso contrário não hesitarei em protagonizar um novo espetáculo se for necessário, afinal, eu sou Don e a Lei dessa Famiglia!
[...]
O capítulo que vocês tanto querem (o encontro do Christian e da Ana) será o próximo, que é sequência deste aqui, mas por ter ficado muito longo, pois até aqui tem 5.090 palavras 😱😱, decidi que seria melhor dividi-lo.
Então votem, comentem muito e amanhã postarei o restante, combinado 😉😉?
Espero que tenham gostado de conhecer a faceta del Diavolo do nosso Don Grey, pois ainda o veremos muito no decorrer da história 😉😉.
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