Capítulo - 04
Retornar para casa depois de 5 anos, mesmo que não seja para a que eu tenho lembranças com a minha mãe, causa-me sentimentos agridoces que eu não gostaria de estar sentindo agora. Ao mesmo tempo em que a euforia para ver o meu pai e o meu irmão seja a motivação que preciso para enfrentar o que eu queria evitar o máximo de tempo possível.
Desde que minha mãe morreu em um acidente de carro, quando eu tinha apenas 8 anos, eu sabia que nada seria como antes. Primeiro por causa do vazio que ela deixou não apenas em mim, mas também em meu pai e em Vincenzo, que apesar de já ter 23 anos na época e ter sido treinado para não demonstrar os seus sentimentos, sofreu tanto quanto qualquer um de nós. Segundo porque um ano depois da morte da minha mãe, mio Nonno paterno e o Conselho obrigaram o meu pai a se casar novamente. E não com qualquer mulher, mas com a prima da minha mãe que também tinha ficado viúva há pouco tempo.
Regras idiotas!
Era assim que a minha cabeça infantil pensava, e não vou negar que algumas delas eu continuo pensando até hoje, mesmo depois de conhecer o mundo no qual nasci. A princípio eu não compreendia o que minha mãe tentava me ensinar, mostrando-me aos poucos o que precisava saber e o que eu poderia esperar do futuro sendo a filha de um Consigliere da Máfia, mesmo que para o restante das pessoas - pelo menos a parte "normal" -, a nossa família, assim como outras, não passassem de Bilionários bem-sucedidos no mercado tradicional.
Precisei aprender como funcionava a Famiglia muito antes do que eu poderia imaginar, afinal, depois que o meu pai se casou com Susana Lancelot, eu não conseguia aceitar que outra mulher ocupasse o lugar que pertencia a minha mãe, ainda mais sendo uma prima dela. Vincenzo, apesar de também não ter gostado do que estava acontecendo, sabia como eram as Regras do Conselho, e o que diziam era Lei, não podendo jamais ser contestado quando a ordem precisasse ser mantida e tradições conservadas.
E para falar a verdade, hoje eu tenho certeza que nem mesmo o meu pai queria aquele casamento, até porque ele e minha mãe se amavam muito, diferente da relação estranha que ele tem com a Susana, mas que agora eu sei haver certo afeto da parte dele para com a sua atual esposa depois de tanto tempo de casados. E pelo visto será até que a morte os separe, pois na Máfia não há divórcios.
Apesar de não concordar com o que havia acontecido, eu só deveria aceitar e me acostumar com a nova realidade da nossa casa, afinal, eu era apenas uma criança de 9 anos. E no início, ela começou a agir como se quisesse mesmo ser uma segunda mãe para mim, insistindo, inclusive, que eu a chamasse dessa forma, o que obviamente nunca iria acontecer, porque diferente da minha mãe que demonstrava a cada palavra e a cada gesto o quanto me amava, Susana parecia não suportar a minha presença, justamente porque o meu pai me dava tanta atenção.
Com o passar dos anos, a nossa relação foi ficando ainda mais intragável, mas eu nunca reclamei para o meu pai, pois além de aprender desde criança o peso do Omertà, eu queria evitar causar preocupações desnecessárias a ele. E eu tinha que entender que Susana era a nova esposa dele e a nossa convivência deveria ser no mínimo respeitável. Talvez essa seja a razão para que eu não tivesse contestado, quando Vincenzo mais uma vez saiu de casa, e Susana sugeriu ao meu pai que me enviasse para a Cúpula della Máfia, situada em Berlim na Alemanha, onde eu poderia concluir o ensino médio, iniciar um curso superior e aprender a ser uma verdadeira filha da Máfia.
A princípio o meu pai não queria que eu me afastasse dele, pois já tinha perdido a minha mãe, e o meu irmão sempre esteve ausente, pois desde os 17 anos que saiu de casa para estudar fora da Itália, retornado apenas alguns dias nas férias ou nos feriados prolongados, e assim foi durante quase 10 anos, e mesmo depois que voltou foi por pouco tempo, antes que se mudasse de vez para New York com o Paolo e com... Ele.
Mas consegui convencê-lo, alegando que seria o melhor para mim e o meu futuro, até porque eu sabia qual seria o meu destino quando me tornasse adulta, pois diferente dos homens da Famiglia, que são iniciados ainda na infância com treinamentos pesados, cruéis e sangrentos, as mulheres tinham apenas que saber se comportar para serem boas esposas. Aprendendo bons modos com aulas de etiquetas, estudar para não parecerem vazias e envergonhar os seus maridos em eventos sociais, e saber as responsabilidades de se manter em silêncio, levando a ferro e fogo o Omertà, e como eu havia dito: algumas regras ainda são estúpidas.
Claro que estou exagerando um pouco quanto "a submissão" da mulher na nossa Famiglia, pois a minha Nonna materna, que é a única herdeira que teve direito a ocupar uma das cadeiras do Conselho, sempre defendeu os direitos da mulher na Máfia, e diferente de outras Organizações, os homens não são abusivos e cruéis com as suas esposas e filhas. Sem sombra de dúvidas que são rígidos, exalam perigo e são brutais quando necessário, mas eles foram educados a respeitarem as mulheres passando esses valores para as próximas gerações.
E tive o conhecimento desse fato, vendo a diferença entre os homens da Dragão Negro, ouvindo histórias de algumas das minhas colegas que sofriam muito nas mãos de seus pais e até mesmo dos seus irmãos, sem mencionar que algumas estavam apenas aguardando completar a maioridade para oficializarem o matrimônio que já haviam sido prometidas desde antes mesmo de nascerem.
Claro que isso não era contado diretamente umas para as outras, pois éramos proibidas de falar qualquer coisa que pudesse ser considerado uma fraqueza das Organizações, fazendo com que se tornassem armas nas mãos de possíveis rivais. Só que fica difícil não ouvir algumas lamentações e choros de desabafo que as paredes daquele lugar escondem, quando se mora com várias meninas de diversos lugares do mundo.
- Ana, tem mesmo certeza que a sua família não vai se importar por eu estar indo com você para a casa deles? - Sorrio e foco a minha atenção em Emma, percebendo o quanto ela está nervosa, mas nego com a cabeça e dou um aperto em sua mão.
Emma Coleman é uma canadense que se mudou para Berlim desde que ficou órfã, 13 anos atrás, passando a ser criada por Graziela Coleman, a Diretora da Cúpula, por ser sua tia paterna e que acatou a decisão da justiça em ser a responsável legal da sobrinha apenas como obrigação é não por amor. O que eu vim a descobrir depois que esse fato ocorreu apenas por que Graziela passou a ser administradora da herança que o pai da minha amiga havia deixado, mas isso é história para outro momento.
Ela tem 25 anos e não posso deixar de mencionar também o quanto é bonita, com os seus cabelos castanhos avermelhados, os olhos verdes e a pele tão clara quanto a minha. Além de ser uma baixinha - tendo no mínimo uns 12 centímetros a menos que eu -, que vive com um sorriso nos lábios.
Apesar de não fazer parte de nenhuma Famiglia diretamente, sempre teve conhecimento sobre esse mundo, afinal a Cúpula, que mesmo pertencendo a família Fiore, especificamente a minha Nonna Francesca, é uma zona neutra entre as Organizações, sendo exclusiva para receber e "educar" le Figlie della Mafia (as Filhas da Máfia).
Por essa razão Emma foi criada nos mesmos moldes, seguindo as mesmas regras e aprendendo os mesmos costumes e valores, inclusive, sobre a importância do silêncio. E desde que me mudei para Berlim, o nosso laço de cumplicidade e irmandade foi se fortalecendo com o tempo que passamos a conviver juntas.
- Não se preocupe, Emma, a sua tia disse que havia conversado com o meu pai, então está tudo bem. - E talvez eu possa ter dado a nossa "amada Diretora" um pequeno "aviso" se não deixasse a minha amiga vir comigo, mas ela não precisa saber disso... Pelo menos não ainda.
Ela assente, mesmo que as minhas palavras não fossem o suficiente para amenizar o seu receio e ainda esteja nervosa, mas foco a minha atenção nos dois postes a minha frente, que estão estranhamente calados, mas Giovanni sentindo o meu olhar sobre ele e o irmão, revira os olhos em antecipação e nega com a cabeça.
- Não adianta me olhar com essa cara ou me perguntar nada, Principessa, pois sei tanto quanto você do porquê de estarmos indo para a casa do seu pai.
Giovanni Mazza tem 28 anos e apesar de ser muito sério quando está a trabalho, comigo ele não precisa usar nenhuma máscara, mostrando-me realmente quem é. Um homem lindo com os seus olhos azuis, que demonstram tanto carinho ao me olhar, como se não fosse capaz de matar sem pestanejar para me proteger. Os oito anos que temos de diferença de idade, nunca foi empecilho para que nos tornássemos amigos, mesmo o seu irmão mais velho o repreendendo sobre isso, alegando que quando eu me casar, o meu futuro marido poderá não gostar dessa nossa aproximação.
O que nunca dei importância, já que me aproximar de outros rapazes era algo que estava longe dos meus limites estando fora das paredes da Cúpula, e os meus Guardiões levavam essa regra a risca sem abertura para exceções, ou pelo menos o Franco ainda acredita fielmente nisso. Não que eu tivesse feito algo que pudesse me envergonhar, ou ao meu pai, o meu irmão e o meu futuro marido, que espero conhecer apenas em um futuro bem distante.
E sendo bem sincera, por mais que eu passasse todo o tempo do mundo com o Giovanni, eu não estaria correndo nenhum perigo de me apaixonar por ele ou vice-versa, sendo que a sua preferência também são os rapazes. E infelizmente o meu coração foi estúpido o suficiente para ter escolhido por quem disparar como um louco desgovernado, mesmo que isso nunca venha a ser correspondido ou que ele merecesse esse meu sentimento, desde que me tornei consciente da sua presença que fosse diferente de ser um dos melhores amigos do meu irmão. Argh! Stronzo! É isso que ele é.
Mas enfim, um detalhe importante sobre a sexualidade do meu amigo e que lhe causa muita apreensão é que no mundo em que nascemos a sua orientação sexual é ainda mais recriminada do que no mundo "normal", fato que darei um jeito de mudar a sua realidade. Só não sei ainda como conseguirei fazer isso, mas não desisti de pensar nessa possibilidade, nem que eu precise solicitar uma "audiência" com... Ele, o novo Don della nostra Famiglia. Afinal, amor é amor, não importa o gênero, raça ou classe social.
- E você, Franco? - Ele foca os seus olhos azuis em mim, mas permanece com a sua postura séria de sempre. - Não venha me dizer que o meu pai também não lhe disse nada? - Ele dá um sorriso quase imperceptível, que geralmente são reservados apenas para mim e a Emma, que também conquistou o meu Guardião, mas ele nega com a cabeça.
- Mesmo se eu soubesse você sabe que eu não poderia falar sobre o assunto, Bambina. - Indo contra todas as regras de etiqueta, eu reviro os olhos com a resposta dos dois.
Franco Mazza é o irmão mais velho de Giovanni e o primeiro herdeiro de uma das cadeiras do Conselho, mas desde que me entendo por gente, eles trabalham com o meu pai. Tanto que não pensaram duas vezes em me acompanhar quando fui enviada para Berlim, ficando na casa deles aos fins de semana, pois era impossível retornar para a Sicília ou ficar trancada no lugar que eu passava durante todos os dias e as noites.
Franco tem 38 anos, e se Giovanni parece sério, ele não sei nem mesmo nomear. Diferente do irmão, ele não faz a mínima questão de esconder o quanto pode ser perigoso e letal, além de ser um dos responsáveis por treinar com o meu irmão e os seus amigos na infância e na adolescência, antes deles irem para a Universidade. E não vou mentir que isso me favoreceu muito, pois de tanto que eu insistisse, consegui convencê-lo a me treinar, e sobre essa minha "rebeldia", apenas o Vincenzo sabe, por ter chegado sem avisar na casa do Franco, onde eu passava os fins de semana e feriados.
E falando in mio fratello, eu estou morrendo de saudades dele, sendo que já faz mais de três meses que não o vejo, assim como de Paolo e infelizmente dele também, porém este último, eu não faço a mínima questão de encontrá-lo tão cedo, o que será inevitável, é claro, afinal, ele é o Don da nossa Famiglia, mas se eu puder evitar - e farei o possível para isso acontecer -, logo estarei retornando para Berlim e tudo permanecerá em seu devido lugar.
- Vocês dois podem negar, mas eu tenho certeza que sabem a razão para estarmos indo sem mais nem menos para New York. - Eles continuam calados, como os verdadeiros postes que foram treinados para ser. - E quando retornaremos para Berlim? Pelo menos isso vocês podem me falar?
Eu preciso preparar o meu coração para não me trair se eu encontrar quem não pretendo nesse meio tempo, completo em pensamento. Mesmo que eu ache praticamente impossível esse milagre me acontecer, pois o "trio testosterona" praticamente vive grudado a maior parte do tempo.
- Principessa, é melhor esperar para que o seu pai converse com você. Então não faça perguntas das quais não poderemos responder.
Franco fala com toda calma do mundo, como se estivesse falando com uma criança, mas não irei negar que as suas palavras me causaram uma sensação não muito boa. E tenho certeza que não irei gostar nada do que me espera em casa. Só espero que não seja algum problema, e muito menos que ele tenha descoberto que andei dando umas "escapadinhas" da Segurança da Cúpula.
[...]
Desembarcar depois de passar quase 10 horas dentro do avião, com 6 horas de "atraso" no fuso horário, em um país até então desconhecido por mim, não me causou tanta aflição como quanto chegar à casa do meu pai. E por um momento, mesmo que se tenham passado tantos anos, a certeza que não serei recebida pelo abraço acolhedor da minha mãe e que ela não é a dona da casa me desperta uma vontade sufocante de voltar para Berlim o quanto antes.
A certeza de saber que assim que sair desse carro e abrir aquelas portas, serei apenas uma convidada, uma intrusa no território da mulher que hoje é esposa do meu pai. E talvez seja por essa razão que Vincenzo não hesitou em permanecer em seu próprio apartamento, mesmo que o nosso pai tivesse insistido tanto para que ele se mudasse para a sua casa quando veio da Sicília, pois por mais que ele seja extremamente educado e um verdadeiro cavalheiro, a sua tolerância para suportar a nossa "madrasta" é tão abundante quanto a minha.
Talvez eu possa não ter dado a chance para que Susana se aproximasse e no mínimo a aceitasse como membro da nossa família, mas alguma coisa me impede de fazer isso. Alguma coisa não permite que eu aceite que ela agora ocupe o lugar da mulher que tanto nos amava, e que é ela quem o meu pai chama de esposa. Mas infelizmente não sou tão boa em fingir a esse ponto, e pensando bem, há outro problema que poderei ter nos dias que eu estiver aqui, e o que me deixa igualmente preocupada é o fato se eu precisar ficar no mesmo lugar que o... O amigo do meu irmão.
- Será apenas por alguns dias, Anastásia! Você consegue lidar com isso. - Murmuro comigo mesma e saio do carro, onde Franco, Giovanni e Emma me esperam, por estarem cientes que eu precisava de um minuto antes de entrar naquela casa.
- Es ist in ordnung, Prinzessin? (Está tudo bem, Princesa?).
Sorrio agradecida para Franco por perguntar em alemão, ainda mais tendo Soldados nos observando, como se eu fosse uma nova atração de circo, o que não deixa de ser verdade, afinal, ninguém me conhece, assim como eu não reconheci nenhum dos rostos que já vi até agora.
- Nicht wirklich, aber ich konnte dieses wiedersehen nicht länger vermeiden, also mach dir keine sorgen, es wird alles gut. (Na verdade não, mas eu não poderia evitar esse reencontro por mais tempo, então não se preocupe que vai ficar tudo bem.). - Respondo da mesma forma, e ele assente ainda me avaliando.
- As malas de vocês já foram levadas, mas agora entre com a Emma e qualquer coisa nos ligue. - Franzo o cenho e alterno o olhar entre ele e Giovanni.
- Vocês não irão ficar?
- Amanhã voltaremos para falar com o seu pai, mas agora Giovanni e eu iremos para casa. O nosso avô quer conversar conosco também. - Fico ainda mais confusa, pois Anthony não deveria estar na Itália? - Sem perguntas, Bambina! - Ele se antecipa ao meu questionamento mudo e beija a minha testa, afastando-se, dando lugar para o seu irmão se aproximar e me abraçar.
- Fique bem, Principessa, e não se assuste, mas todos os membros do Conselho estão em Manhattan.
Arregalo os olhos ouvindo as suas palavras sussurradas, mas ele nega com a cabeça para que eu não faça nenhuma pergunta e vai embora com o seu irmão. Porém sorrio para Emma, que retribui, mesmo estando nervosa e envergonhada, e seguimos na direção da entrada principal da imensa casa que hoje é o lar do meu pai. Respiro fundo no momento que a porta é aberta, mas um imenso sorriso nasce em meus lábios assim que reconheço a pessoa que nos recebe.
- Ya Ya!
- Mia Bambina! - Recebo o seu abraço apertado e por alguns segundos me sinto como no passado, quando ela me acolhia em seus braços e enxugava as minhas lágrimas de saudade. - Como você cresceu mia Piccolina (minha Menina)! Está uma mulher tão linda! - Afastamo-nos do abraço e seus olhos azuis marejados e acolhedores me avaliam minuciosamente, sem deixar de sorrir.
Ivanna Ricci, ou apenas Ya Ya como Vincenzo e eu a chamamos, sempre foi uma pessoa presente em nossas vidas e que agora me remete as lembranças da minha mãe, pois além de ter sido amiga dela, era a Governanta da nossa casa e também a nossa Babá. Hoje ela deve ter seus 50 anos, mas está exatamente como eu me lembrava 5 anos atrás, antes de eu ter deixado a Sicília. Confesso que fiquei muito feliz que o meu pai não tenha atendido o capricho da Susana e a demitido, mesmo que ela tivesse tentado muito.
- E você não mudou nada, Ya Ya. - Ela acaricia o meu rosto e nega com a cabeça como se não fosse verdade, mas olha para além dos meus ombros e quem sorri sou eu, assim que sigo o seu olhar. - Ya Ya, está e a minha amiga, Emma Coleman.
- Buona sera, Signora! (Boa noite, Senhora)! - Pego na mão dela para aproximá-la de onde estamos e sorrio do seu acanhamento em falar a minha língua materna, mas Ya Ya a surpreende com um abraço.
- Buonasera, Emma! Mas não precisa me chamar de Senhora, apenas Ivanna ou Ya Ya, come questa Ragazza qui. (Como esta Menina aqui). - Ela assente ainda envergonhada, mas nego com a cabeça, abraçando-a pelos ombros, quando Ya Ya se afasta.
- E não precisa se preocupar, Emma. Poderemos conversar apenas no idioma oficial do país, que é o seu também, mas não estranhe o fato de ouvir muito uma mistura com o italiano, porque isso é praticamente tradição e quase um segundo idioma criado e adotado por nós.
Dou uma risadinha, por ser a mais pura verdade, principalmente os homens quando estão irritados, mas o meu sorriso se fecha assim que ouço o barulho de saltos se aproximando e Susana aparece no meu campo de visão para completar a minha excelente recepção.
- Finalmente sei arrivato! Benvenuta a casa tua, mia cara figliastra! (Enfim você chegou! Seja bem-vinda a sua casa, minha querida enteada!).
- Boa noite, Susana. - Tento ser cordial, mas meu tom monótono, não compartilhando do seu entusiasmo, não lhe passou despercebido, deixando o seu sorriso congelado vacilar por um milésimo de segundo.
- O seu pai estava muito ansioso com a sua chegada, Anastásia! E eu também. - Antes que ela tente me abraçar, estendo a minha mão para cumprimentá-la. - Fez uma boa viagem? - Ela faz o questionamento e direciona seus olhos castanhos indagadores para a presença da minha amiga. - Eu não sabia que teríamos uma convidada. Você é...?
- Emma Coleman. Eu sou amiga da Ana. É um prazer conhecê-la, Senhora Lancelot.
Ela também estende a mão para Susana, e seguro a vontade de sorrir da cara que ela faz ao não ser chamada de "Senhora Steele", mas interrompo qualquer possibilidade dela corrigir a minha amiga, por mais que Emma não tenha feito de propósito, e sim apenas por hábito em me ouvir falar dessa forma quando me refiro a minha madrasta.
- O meu pai está ciente que Emma viria comigo. E quanto a sua pergunta, fizemos, sim, uma ótima viagem, obrigada por perguntar. - Ela assente e adentramos na casa.
- Fico feliz que tudo tenha ocorrido bem e seja bem-vinda, Emma!
Minha amiga sorri e agradece, e mais uma vez respiro fundo quando chegamos à sala de estar e encontro uma verdadeira recepção, só que nada como eu gostaria que fosse ainda mais sendo avaliada como estou neste momento, mas Bárbara parece acordar de algum estupor que se encontrava.
- Priminha! Que saudades eu estava de você! - Bárbara se levanta e me envolve em um abraço sem que eu conseguisse impedi-la. - Eu estou tão feliz que você esteja aqui, pois assim poderá participar dos preparativos do meu casamento, não é ótimo? - Afasto-me do seu abraço por me sentir sufocada, mas fico totalmente confusa.
- Casamento? - Seu sorriso se expande, enquanto assente e direciona o seu olhar para Danielle e sua mãe, que também estão sorrindo, e lembro-me que não as cumprimentei. - Como vai, tia Martina? Olá, Danielle!
- Estou ótima e seja bem-vinda de volta, querida sobrinha! - Tia Martina, esposa do meu tio Harold, irmão mais velho do meu pai, também vem me cumprimentar, e Danielle apenas acena com seu sorriso falso e sua "simpatia" de sempre. - Depois de tanto tempo, enfim podemos dizer que o casamento da sua prima irá sair, espero poder contar com a sua participação nos preparativos? - Sinto a irritação querer irradiar por meu corpo, ainda mais por saber quem será o possível futuro marido da minha prima a julgar pela empolgação em demasia delas.
- Estão querendo dizer que o meu pai ordenou que eu viesse de Berlim apenas porque a Bárbara irá se casar? - Por mais que eu tentasse não demonstrar, a frieza mesclada à incredulidade em meu tom de voz não foi evitada.
- Claro que sim, Querida! Esse é um momento muito aguardado por todos, então é pressuposto que toda a família estivesse presente, além do alto escalão da Famiglia. - Susana fala com sua falsa complacência, mas nego com a cabeça ainda não querendo acreditar que o meu pai fez isso.
- E onde está o meu pai agora?
- Na sede da Imperium. Neste momento está sendo realizada uma Assembleia com os membros do Conselho, o Don, o Sottocapo e o Consigliere da Dragão Negro. - Assinto, imaginando sobre o assunto que estão discutindo agora.
- Poderia dizer em qual quarto iremos ficar, Susana? A viagem foi longa, precisamos tomar um banho e descansar um pouco.
- Claro! Pedirei a Ivanna que a leve ao seu quarto, mas como eu não sabia que a sua amiga viria, ainda não arrumamos o...
- A Emma ficará comigo no meu quarto, afinal, serão por poucos dias, então não há necessidade de arrumar o quarto de hóspedes. - A interrompo, querendo sair da presença sufocante dessas quatro logo, pois o tema casamento da minha prima não é um tópico que pretendo discutir depois de 10 horas de voo.
- Se preferem assim, por mim tudo bem. - Ela sai da sala, mas logo volta com a Ya Ya, porém não consigo segurar a palavras de saírem.
- E parabéns pelo casamento, Bárbara! Você está a mais de 8 anos noiva esperando por esse momento. Uma pena o noivo ter demorado tanto a tomar coragem para dar o próximo passo, afinal, você já está com 35 anos, não é verdade? - O seu sorriso se fecha, entendendo o que o estou dizendo.
- É verdade. Esperei por muito tempo, mas agora definitivamente eu serei la Donna della nostra Famiglia.
- Buona fortuna, mia cara cugina! (Boa sorte, minha querida prima!). - Dou uma piscadela em sua direção, e consigo perceber o olhar raivoso dela. - Bom, se vocês nos dão licença, Emma e eu precisamos de um bom banho, pois estamos realmente cansadas. - Não espero a resposta delas, apenas pego na mão da minha amiga e caminhamos ao lado de Ya Ya, subindo as escadas em seguida.
E não vou negar que no momento que Giovanni e Franco se negaram em responder as minhas perguntas sobre a razão para estarmos vindo para Manhattan não tenha me deixado incomodada, mas saber que o motivo possivelmente é o matrimônio da Bárbara está realmente me deixando muito irritada.
Irritada e com vontade de bater na cara de alguém, pena que o alvo da minha ira não esteja presente no momento. Então terei que me contentar apenas em ouvir as razões do meu pai, o que espero que sejam mais importantes do que a suposição da Susana e seu séquito de serpentes.
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