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Capítulo - 02

A sensação de ser observado e analisado é algo que não me agrada nem um pouco, mas é justamente isso que está acontecendo nesse momento, como se estivéssemos prestes a receber a nossa sentença depois de sermos julgados, enquanto Paolo, Vincenzo e eu ocupamos os nossos lugares à extensa mesa de reuniões.

Observo a disposição dos membros do Conselho, onde o meu pai ocupa uma das cabeceiras, Raymond Steele ao seu lado direito e Giuseppe Greco ao seu lado esquerdo - sendo eles a terceira geração da primeira linhagem da Organização -, posição esta tomada por mim, o Don, a cabeceira oposta a de meu pai, Vincenzo sentado ao meu lado direito, como o meu Consigliere e Paolo ao meu lado esquerdo, como o meu Sottocapo e o segundo na hierarquia da Dragão Negro.

Logo em seguida está Francesca Fiore Riva, 82 anos e a primeira mulher a herdar por direito a cadeira de seu pai no Conselho, sendo a segunda geração da segunda linhagem agregada a Famiglia. Ela era filha única e também teve uma única filha, Carla Fiore Steele - a primeira esposa de Raymond -, que faleceu há 12 anos, e sempre defendeu que a mulher deve ter tantos direitos como o homem na Máfia e não ser apenas mais uma das sorelle d'ormetà (irmãs do silêncio), que sempre foram excluídas de participar ativamente da vida da Organização.

A sua frente está Lucrezia Riva Lancelot, 82 anos, cunhada de Francesca e atualmente está ocupando o lugar que pertencia ao seu marido, desde que ele faleceu há 8 anos. Apesar de Alfredo Lancelot - segunda geração da segunda linhagem agregada a Famiglia - ter deixado duas herdeiras, o Conselho atendeu o seu último pedido sobre as suas filhas, Martina e Susana, não serem aptas para ocuparem o seu lugar e que deveria ser nomeado um representante para assumir a cadeira da Casa Lancelot, mas acabou ficando a cargo de sua esposa.

Foi necessário realizar uma Assembleia para debater o assunto antes de concedê-lo a Lucrezia, mesmo que tivesse sido o último pedido de Alfredo em não deixar as filhas assumirem, pois de acordo com os Deveres e Direitos estabelecidos pelos Fundadores da Organização, Leonel Grey, Tommaso Steele e Domenico Greco, em 1946, a Cadeira só poderia ser assumida pelo herdeiro primogênito legítimo do Ancião, salvo se houvesse alguma infração leve que o desabonasse e/ou se abrisse mão de seu direito, passando assim para o segundo na linha de sucessão.

Ao lado de Francesca está Anthony Mazza, 84 anos, e a sua frente, ao lado de Lucrezia está Gennaro Caputo, 86 anos, membros pertencentes à segunda geração da terceira linhagem agregada. Com exceção dos Fundadores da Dragão Negro, os demais membros foram agregados por meio de laços através do matrimônio e/ou aceitos por merecimento, devido ao seu comprometimento com a Famiglia, sendo este último, o caso de Gennaro, representante da Casa Caputo.

E à medida que a Organização foi crescendo, Leonel Grey, o meu bisavô, e os seus melhores amigos sentiram a necessidade de criar um Conselho, tendo como função regulamentar e fazer valer os Direitos e Deveres, o Código de Conduta e o Omertà, assim como garantir que nenhuma infração ficasse impune, seguindo também a ferro e fogo o lema da família: Fidelidade, Honra e Vingança.

- Esta assembleia foi marcada em caráter de urgência, sem o seu conhecimento, Don Grey, devido ao grau de importância dos assuntos que precisavam ser discutidos. - Meu pai, que hoje ocupa a cadeira do Primo Anziano (Primeiro Ancião) interrompe o silêncio que estava na sala, porém permaneço em silêncio. - Há dois dias Yuta Nagayama, o Wakagashira (Segundo em Comando) do clã Kurosawa me ligou a pedido do seu Oyabun (Líder), cobrando uma promessa que fiz a ele, 22 anos atrás.

- Vá direto ao ponto, Anziano!

Interrompo-o por todos conhecerem a história sobre a visita que ele fez a Osaka, uma cidade portuária do Japão, na intenção de sondar as operações da Yakuza naquela região e tentar fazer uma aliança, expandindo os negócios da Dragão Negro. Porém a sua "visita comercial" acabou no momento que um clã inimigo invadiu o território em que estavam, começando um banho de sangue, e Toshiro Kurosawa acabou salvando a vida do meu pai, gerando uma dívida de honra ao líder do Clã, não concretizando a aliança nos negócios naquele momento, mas, sim, uma de amizade que foi iniciada.

- Takeshi e Aika Kurosawa precisam de asilo, junto com alguns poucos homens, depois que foram traídos pelo próprio tio. Tendo o seu clã massacrado, ocasionando na morte do meu amigo Toshiro e fazendo com que fugissem do próprio país para não terem o mesmo fim do pai, antes que conseguissem vingá-lo.

Pondero essa informação e mesmo que eu não queira problemas com nenhum clã da Yakuza, não há nada que eu possa fazer a não ser aceitar, tendo em vista que se o assunto está sendo colocado em pauta, já foi votado e aprovado pelo Conselho, mas precisam do meu aval para que sejam aceitos na Famiglia, mesmo que seja provisório.

- A palavra de um Don jamais volta atrás, cabendo ao seu sucessor honrá-la, então asilo concedido. - Ele assente, mas continuo antes que retome a palavra. - Porém se tentarem causar problemas para a Dragão Negro, eu mesmo terminarei o que o traidor do tio deles não conseguiu fazer. - Minha voz baixa e fria como aço fez o silêncio predominar no ambiente novamente, pois o meu pai sabe que o monstro que ele criou não hesita em cumprir o que promete.

- Não precisa ser hostil e recebê-los armados como se esperasse uma guerra. - Lucrezia quebra o silêncio torcendo os lábios com toda a sua soberba, fazendo-me encará-la friamente. - Não vejo a necessidade de ser tão impulsivo assim, pois tratamos bem os convidados que recebemos la nostra casa.

- Convidados que eu avaliarei se serão bem-vindos ou não la nostra casa, ou será que devo lembrá-la quem é o Don dessa Família, Anciã Interina da Casa Lancelot? - Mesmo querendo retrucar, ela apenas nega com a cabeça. - Mais alguém gostaria de me ensinar a fazer o meu trabalho, ou poderemos prosseguir com a reunião que foi convocada pelo Conselho? - Meu pai pigarreia, mas direciona o olhar para Raymond, que inicia o próximo assunto.

- Quando nos foi informado sobre a transgressão de um dos Capos e sobre o valor investido na construção do Full House em Staten Island, nenhuma punição foi aplicada até o presente momento. Por essa razão precisamos saber sobre as suas razões para que a sentença não tivesse sido aplicada conforme o rigor da lei da Dragão Negro?

Sorrio friamente, entendendo que estão dando voltas para chegar ao real assunto dessa assembleia, pois os Anciões sabem a minha decisão em relação à construção da casa noturna Full House, e o porquê ainda não ter havido nenhuma punição ao responsável. Afinal, ninguém rouba a família e fica por isso mesmo. E constato isso pela forma que o meu pai desvia o olhar dos meus assim que passei a encará-lo.

- O motivo para a urgência dessa assembleia em nada tem a ver com a Full House, uma vez que vocês estão cientes da minha decisão em esperar que a construção do prédio fosse concluída. - Levanto-me calmamente e apoio as mãos sobre a mesa, encarando os sete membros do Conselho. - A menos que me digam de forma direta à razão que fez com que a maioria de vocês se deslocasse da Itália para a realização desta reunião, estou dando-a por encerrada.

- Estamos preocupados com o futuro da primeira linhagem da Dragão Negro, Don. - Gennaro Caputo, o mais velho dos Anciões, que me responde, fazendo-me travar o maxilar por entender onde pretendem chegar.

- Esse assunto não entrará em discussão.

- Precisamos de herdeiros para que o legado dos Fundadores não se perca. - Francesca quem toma a palavra agora. - Vocês completaram 35 anos, por essa razão reunimos o Conselho e decidimos que chegou a hora do Don, do Consigliere e do Sottocapo formarem as suas famílias.

- Além de termos que fazer valer acordos do passado. - Anthony Mazza complementa a colocação anterior, e eu franzo o cenho, mas Vincenzo se antecipa a perguntar, ficando de pé ao meu lado.

- Acordos? Sobre o quê vocês estão falando?

- Aliança por meio do matrimônio é de conhecimento de todos, sendo uma prática adotada por muito tempo nas Máfias, mas o meu avô, que se casou por amor, decidiu que não haveria isso na Dragão Negro. - Meu pai volta a falar depois de ter ficado em silêncio por todo esse tempo. - Entretanto, Leonel Grey, Tommaso Steele e Domenico Greco percebendo que alguns de seus Capos não tinham pressa em se casar, decidiram atualizar as Regras e Deveres da Organização, preocupados com a linhagem e descendência de seus nomes, caso acontecesse isso nas próximas gerações. Então fizeram um acordo que não interferiria no relacionamento de seus filhos, desde que se casassem antes dos 35 anos.

- Não precisa continuar, porque isso não irá acontecer. - Falo entredentes, contendo a fúria por não ter sido informado sobre esse acordo antes, mas meu pai respira fundo e sei que também está controlando o seu temperamento.

- O prazo para vocês formarem uma família com quem escolhessem se esgotou, então... - Giuseppe Greco continua, sabendo que o seu amigo está irritado, mas Paolo se levanta, interrompendo o pai.

- Prazo que em momento algum nos foi informado, Anziano!

- Todas as informações relacionadas a Dragão Negro deveriam ter sido passadas para nós, principalmente para o Don e para mim, que sou o Advogado desta família.

Vincenzo também se manifesta, mas vejo o momento que meu pai, Raymond e Giuseppe fazem uma troca de olhar e sei que há algo a mais por trás dessa história e o motivo de estarem expondo sobre esse acordo somente agora, que pelo visto nem mesmo os demais membros do Conselho têm ciência das verdadeiras razões. Por isso volto a me sentar, mantendo os olhos fixos nos do meu pai.

- Vincenzo! Paolo! Sentem-se! - Sei que tenho o olhar dos dois em mim, que permaneço encarando o meu pai, mas eles se sentam. - Continue a relatar os termos desse "acordo", Anziano! - Ele me analisa por um momento, mas retoma a palavra.

- Uma das cláusulas desse acordo é que se os herdeiros não se casassem até os 35 anos, o Conselho interferiria e o matrimônio se daria entre os herdeiros das linhagens da Organização, desde que não houvesse ligação sanguínea entre eles. E em último caso, haveria uma aliança fora da família podendo agregar uma nova Casa a Dragão Negro.

- Porém há um adendo a esta cláusula. - Raymond continua de onde o meu pai parou. - Era da vontade deles que um Grey se casasse com uma Steele, mas isso nunca foi possível acontecer antes, devido ao fato de que ambos os herdeiros terem nascido do sexo masculino. - Agora entendo o porquê de o meu pai ter enviado a Bárbara para me vigiar, contudo isso não deu certo no passado e não será agora que irá acontecer.

- E continuará não sendo possível, pois não irei me casar com a Bárbara. - Falo de forma cortante, sem deixar brechas para argumentação e novamente vejo a troca de olhar entre os três, o que está começando a me irritar.

- A sua prometida nunca foi a Bárbara, Don. - Franzo o cenho, ponderando as palavras de Giuseppe, mas antes que eu fale algo, a voz indignada de Lucrezia chama a nossa atenção.

- Como assim a prometida dele não é a Bárbara? Ela que é a filha do primogênito da casa Steele!

- Sim, Lucrezia! Não é a Bárbara! - Meu pai quem a responde com um olhar tão frio quanto o meu, por ouvir o tom arrogante em suas palavras. - A prometida do Christian, o atual Don da Dragão Negro, sempre foi a Anastásia Steele, la futura Donna della nostra Famiglia.

Mesmo que eu esteja irritado com essa conversa, com esse acordo que nunca foi mencionado antes, e agora descobrir que tenho uma prometida, que é nada mais, nada menos que a irmã de um dos meus melhores amigos, a menininha tímida, que vivia com as bochechinhas coradas sempre que estava ao meu lado, mas que sorria não apenas com os lábios rosados, mas também com os seus lindos olhos azuis, quando eu a levava para tomar gelato me deixa sem reação por um momento.

Desvio o meu olhar da discussão entre os Anciões para encarar Paolo e Vincenzo, que parecem tão perdidos quanto eu com toda essa maluquice de que devemos nos casar, apenas porque fizemos 35 anos. E por um momento não acredito que isso realmente esteja acontecendo, principalmente por ouvir o meu pai falar com tanta naturalidade que tenho que me casar com Anastásia, que praticamente acabou de sair da adolescência, e que por alguma razão mudou comigo sem que eu soubesse o motivo para que essa mudança tivesse acontecido, e isso faz exatamente 5 anos.

[...]

Desde que eu era criança fui treinado para ser frio e dominar as minhas emoções, e dessa forma o meu inimigo não saberia o que eu estava sentindo e muito menos se anteciparia aos meus próximos movimentos. Mas é difícil me manter impassível quando a minha vida está sendo decidida pelos Anciões, mesmo que não estivessem apontando uma arma para a minha cabeça. E essa seria uma comparação lógica ao fato de que quanto a isso nem mesmo eu, que sou o Don, posso contestar, pois seria uma afronta ao propósito do Conselho.

Alterno o olhar entre Vincenzo e Paolo e percebo que assim como eu, também permitiram que as suas emoções ficassem na borda com essa decisão, antes mesmo de saberem quem são as suas prometidas. Fecho os meus olhos por um momento e respiro fundo, retomando o controle e adotando a minha postura fria e imponente que estão habituados a ver, incitando-os a fazerem o mesmo, e volto a minha atenção para os Anciões que ainda estão debatendo o assunto, alheios ao que esse suposto acordo nos causou.

- Basta! - Elevo o tom de voz em meio à balbúrdia que não faço questão de saber sobre o que tanto falavam e me levanto, olhando para cada um deles. - Vocês são membros de um Conselho e se não conseguem chegar a um consenso, como querem que acatemos uma decisão tão descabida como essa? - Eles se calam e encaro o meu pai. - Anziano Grey, acompanhe-me por um minuto!

Não espero a sua resposta e saio da sala de reuniões, mas sei que ele se levantará e me acompanhará até a minha sala, e aproveito os poucos segundos que tenho sozinho para respirar fundo e manter o controle, pois não basta que eu não tivesse opção a permanecer à frente da Dragão Negro, agora serei obrigado a me casar?

- Sério, Pai?! Acordo de casamento? - Inquiro quando ele entra na sala, fechando a porta às suas costas.

- Você sabe como as regras funcionam, Christian. Como o Don, sabe disso melhor do que ninguém e temos que manter o legado da nossa linhagem e honrar o acordo.

- Che cazzo! Fanculo quel dannato accordo! (Que porra! Foda-se esse maldito acordo!) - Ele respira fundo e se senta, enquanto continuo o encarando e buscando por paciência para tentar reverter à merda dessa situação. - Se esse acordo realmente existe, por que nunca foi mencionado antes?

- Nunca foi necessário recorrer a ele antes, e casamentos arranjados não é nenhuma novidade entre as Máfias, Christian.

- No caso de uma aliança para expandir os negócios ou evitar uma guerra, o que não é o caso aqui. - Respondo friamente e entredentes, fazendo-o arquear uma sobrancelha e sorri de forma cínica, que se não fosse o meu pai, não teria a oportunidade de fazê-lo novamente.

- O acordo existe! O seu prazo assim como o do seu Consigliere e do seu Sottocapo expirou e haverá casamento, quer vocês queiram, quer não. Agora se você prefere escolher outra noiva, fazendo uma aliança entre Máfias e ter uma pessoa desconhecida para ser a Donna da nossa Famiglia, nem eu ou os Anciões impedirão. - Não respondo nada, apenas me sento em minha cadeira, pois ele está deixando claro que quanto a estas normas do Conselho nem eu posso ir contra. - Mas saiba que a Anastásia também deverá se casar em breve, pois ela já fez 20 anos. E sendo a única herdeira, tendo a opção de ser a sucessora de duas Casas da nossa Organização, você não irá demorar a receber um pedido de aliança querendo a mão dela em matrimônio, pois não é segredo que ela é conhecida como a Principessa da Dragão Negro.

Travo o meu maxilar sabendo que ele está usando o carinho que tenho pela Anastásia para me manipular - como fez a minha vida inteira -, mesmo que seja verdade o fato dela ser herdeira de duas Casas na Famiglia, assim como o Vincenzo. Por outro lado, apenas em imaginar aquela menininha tímida e delicada nas mãos de um homem qualquer, faz com que a ira tente se apoderar de mim. E claro que eu jamais permitiria que a irmã do meu Consigliere fosse submetida a isso. Porém algo não se encaixa nos termos desse acordo e preciso de respostas, mesmo que eu não tenha poder para contestar essa maldita decisão do Conselho.

- Se a Anastásia sempre foi a minha "prometida", por que você mandou a Bárbara me vigiar quando eu estava em Londres, a ponto de conseguir me fazer ceder aceitando-a na minha casa?

Não serei hipócrita em dizer que quando ela esteve na minha casa, sempre tão disposta a me provocar, evitando que eu saísse para me divertir não tenha me agradado, pois Bárbara realmente é uma mulher bonita, atraente e sabia como me convencer que eu não precisava procurar prazer em Casas Noturnas, quando ela estava ali por mim, além de ser prima do Vincenzo.

Não vou negar também que tentei recuar as suas investidas, pois eu tinha os meus princípios e sabendo sobre as regras do Conselho quanto à "pureza" da mulher para ter um bom matrimônio, não queria que ela pudesse vir a ser recusada quando se apaixonasse por alguém, pois a única coisa que eu poderia oferecer naquele momento era sexo sem compromisso, quando eu não tinha intenção de perder o tempo de liberdade que eu ainda tinha antes de voltar para casa.

Mas para minha surpresa, Bárbara afirmou que não seria a sua primeira vez e que fazia isso há muito tempo, querendo apenas se divertir assim como eu, sugerindo que aproveitássemos juntos enquanto ela estivesse em Londres. Só que o que era para ser apenas uma curta estadia foi se prolongando por semanas, meses e quando eu percebi estava tão envolvido naquela relação quanto ela - o que tenho que assumir que seja mais por eu ter me acomodado com a situação do que de fato ter sentimentos por ela -, a ponto de decidirmos oficializar o namoro.

Logo depois veio o noivado, que me deixei levar pela empolgação da sua mãe, tanto que não vi razões para negar. Até ouvir uma conversa dela ao telefone, falando sobre o nosso relacionamento e alegando que estava tudo saindo conforme o planejado e assim que eu assumisse como Don, ela seria a Donna da Dragão Negro, o que não aconteceria de forma alguma, pois eu pude conhecer a tempo a sua verdadeira face.

A decepção que eu senti naquele momento não foi por ela, mas por saber com quem conversava, e depois da confirmação das minhas suspeitas e ter a certeza de que o meu pai não confiava em mim, precisando colocar a filha do seu Capo e amigo para me vigiar, fez com que eu entendesse que mais uma vez estava sendo manipulado pelo poder do Don Carrick Grey. Que mesmo em sua concessão a minha liberdade, deixou claro o seu recado que eu sempre faria o que ele quisesse.

Porém respiro fundo e não quero pensar mais sobre isso, e passo a observar o meu pai, que permaneceu em silêncio por um momento, também me analisando. E pela primeira vez vejo um brilho diferente passar por seus olhos, tão iguais aos meus tanto em suas íris cinza quanto a frieza que passei a dominar tão bem. Mas me surpreendi por ver algo que nunca vi antes, como se estivesse prestes a revelar uma verdade que não estava disposto a fazer, mas que depois de respirar fundo, decide por fazê-la.

- Eu nunca mandei a Bárbara para vigiá-lo e muito menos tentar forçar um relacionamento entre vocês, Christian.

Quem dá um sorriso cínico agora sou eu, mas ele não desvia o olhar do meu, tentando impor o seu poder sobre mim, exatamente igual fazia quando ele era o Don, com a diferença que hoje não me intimida mais.

- Claro que não, Carrick! A Bárbara aparecer na mesma cidade que eu morava e depois de um tempo insistir para se hospedar na casa que eu dividia com o Paolo e o Vincenzo, realmente foi um mero acaso. - Não consigo conter o sarcasmo, fazendo-o baixar um pouco a guarda e dar um longo suspiro.

- Não, Figlio mio! Realmente não foi um mero acaso, mas quem informou a localização de vocês para a Martina foi a Susana, e dessa forma a Bárbara chegou até você. - Analiso as suas palavras e realmente percebo que ele está falando a verdade, o que não entendo.

- Por que nunca me disse isso antes? Por que deixou que eu o odiasse por acreditar que não confiava em minha palavra de voltar para Sicília quando os 10 anos da minha suposta liberdade acabasse?

Ele pondera por um momento, e mesmo que as perguntas estivessem sendo feitas de um filho para um pai, e não de um Don para um Ancião, ele sabe que não deve mentir para mim, pois isso vai contra os princípios de um Homem de Honra.

- O ódio que você sentia por mim, quando retornou de Londres para Sicília, não iria fazer com que ouvisse a verdade em minhas afirmações. - Não contraponho, pois realmente eu não iria acreditar quando tudo que ele fazia era incitar ainda mais o meu ódio. - E foi justamente todo aquele ódio que fez com que você fosse o Don que deveria ser: Forte, temido, destemido e implacável. - Não sei o que sentir depois de ouvir isso, mas ainda quero respostas.

- E por que não impediu o meu relacionamento com a Bárbara, sendo que ela não era a minha prometida?

- Quando você oficializou o seu relacionamento com a Bárbara, anunciando o noivado poucos meses depois, ficou decidido que o acordo permaneceria guardado, até que fosse necessário fazê-lo valer. E como a sua noiva era uma Steele, mesmo que não fosse a sua prometida e de longe apta para ser uma Donna, então ninguém iria interferir na sua decisão, pois além de estar fazendo a sua escolha, ainda estaria honrando os termos do acordo sem que precisasse ter conhecimento dele. - Apenas assinto compreendendo o que ele está dizendo, mas ele interpreta o meu silêncio de forma errônea. - Mesmo não sendo a esposa ideal para um Don, se você decidir que a Bárbara...

- Cometi o erro de ficar noivo dela uma vez, mas a Bárbara seria a última mulher que eu escolheria para ser a minha esposa, então nem pense nisso. - Ele assente, e posso ver que ficou satisfeito com o que eu disse. - E quanto às prometidas do Paolo e do Vincenzo?

- Danielle Farina e Giulia Caputo.

Franzo o cenho pelas "escolhas", e até consigo compreender sobre a Giulia, pois Gennaro Caputo tem 86 anos, e desde que Dario, o seu único filho, foi assassinado em uma emboscada - a mesma que tirou a vida de Mário, o filho mais velho de Anthony Mazza -, deixando os dois netos menores - Matteo com 16 anos e Giulia com 4 -, para que ele ficasse responsável, ele teme em deixar a sua neta desamparada, o que não aconteceria, pois a Famiglia sempre cuidaria dela e do irmão. O que não seria mais necessário fazer isso hoje em dia, pois Matteo Caputo é um ótimo Capo e está mais do que pronto, quando for o momento, para assumir a Cadeira de seu avô e cuidar de sua irmã.

Agora quanto a Danielle Farina, não consigo imaginar uma mulher como ela sendo a esposa do meu Sottocapo - que não a suporta, devo ressaltar -, mesmo que ela seja afilhada da Susana, esposa de Raymond. Aprendi a julgar o caráter das pessoas, mais ainda daquelas que estão a minha volta, e posso garantir que Danielle não me inspira confiança, além de ser tão fútil quanto a Bárbara.

- Compreendo a escolha do Conselho quanto a Giulia Caputo, mas por que a Danielle Farina? Ela já tem 30 anos e não se encaixa mais ao perfil para ser esposa de um herdeiro da primeira linhagem.

Não que eu concorde com a opinião retrógrada que ainda está incrustrada na mentalidade da geração anterior - e em alguns da minha geração também pensam assim -, pois uma mulher não vale menos se ela não for mais pura, mas infelizmente os padrões exigidos pelo Conselho, para um bom matrimônio, é que a noiva seja virgem, fértil e com idade entre 20 e 26 anos. Sendo considerado este o período mais propício para que os herdeiros possam ser gerados. Principalmente se for para ser a esposa de um herdeiro da primeira linhagem, no caso os sucessores dos Fundadores da Dragão Negro, e abrirem uma exceção para uma escolhida, é algo que deve ser questionado.

- Joseph Farina têm feito um bom trabalho como Capo, os negócios de Roma estão indo muito bem. E o fato dela ser afilhada da Susana, teve melhor aceitação quando Lucrezia apontou o nome dela para ser uma das escolhidas. - Assinto por concordar com parte do que ele diz, pelo menos quanto ao trabalho desempenhado pelo pai dela.

- Detesto a forma que isso está sendo discutido. Decidir com quem deverão ficar o resto da vida, principalmente se tratando do Vincenzo e do Paolo, que são mais que os meus amigos, pois você sabe que sempre os considerei como os meus irmãos. Eu não acho isso correto! - Permito deixar as minhas frustrações aparente por um momento, e meu pai sorri em compreensão enquanto assente. - Sem falar nessas prometidas, que não têm nenhum poder de decisão quando se trata de matrimônio, não podendo nem mesmo escolher com quem deverão se casar.

- Sabe o que faz com que você seja um Don melhor do que um dia eu seria capaz de ser, Figlio mio? - Nego com a cabeça, e ele continua. - Você é sim cruel quando precisa aplicar alguma punição, principalmente quando alguém fere as regras do Código de Conduta, além de ser letal com os traidores, mas você também nunca abandonou os seus princípios morais, o altruísmo e a empatia com quem é importante na sua vida. E dessa forma você conseguiu o equilíbrio para poder entender o que ser o Chefe de uma Máfia significa.

Permaneço em silêncio por ter compreendido isso a partir do momento que assumi a Dragão Negro e comecei a comparar a nossa Organização com o método que a maioria dos Políticos e grandes Empresários "comuns" usam para alcançar o que almejam. Com a diferença que não prejudicamos inocentes e somos nós os juízes, os jurados e os executores quando há uma infração das nossas leis, entendendo o que o meu pai quis dizer com "Não somos tão ruins quanto você pensa", quando eu tinha 17 anos.

Passei a compreender que não é porque eu não queria fazer parte dessa vida antes, que tenho que ser um figlio di puttana com todos que estivessem a minha volta. Para que eu fosse um Don capaz de desempenhar o meu papel e honrar a posição que ocupo dentro dessa Famiglia, não preciso descontar as minhas frustrações ou até mesmo o meu ódio em quem não deve ser alvo dele.

Apesar de ser frio e parecer que o ódio é quem me domina a maior parte do tempo, eu posso ser um Don e saber diferenciar o momento de ser a besta que não hesita em matar, e ser também como o homem que sabe ser gentil a minha maneira com quem mereça receber a minha gentileza, além de ser justo sem parecer um fraco.

Entretanto não sou hipócrita a ponto de achar que um Diabo sem alma como o que me tornei, seja alguém digno de perdão ou de receber amor de alguém com a alma pura e inocente, quando tudo que faço é alimentar o ódio, a raiva, a fúria e a escuridão que passei a carregar dentro de mim, a cada vida que não hesito em ceifar. Porém não dou continuidade ao assunto, voltando ao que de fato importa para o momento.

- Esse acordo é inalterável ou podemos fazer algumas concessões nas cláusulas?

- Se há algumas regras que possam ser quebradas, os acordos também podem ser alterados, mas seja mais específico.

- Não fugirei das minhas responsabilidades como Don e se há um acordo, contrato, ou seja, o que foi assinado antes, eu o honrarei e farei com que seja cumprido. - Ele assente, mas não me interrompe. - Entretanto eu quero mais tempo para o Paolo e o Vincenzo, que terão conhecimento sobre as suas prometidas, mas nada será oficializado entre eles. - Faço uma pausa e analiso a situação num todo, pois tenho que ser justo para ambos os lados. - Quanto a Giulia e a Danielle, não quero que as prenda a este compromisso pelo tempo que estipularmos nesta sala. Então é melhor que não saibam sobre isso, mas farei com que os dois se comprometam em conviver um tempo com elas a fim de que pelo menos uma afinidade possa ser construída. No entanto se eles se apaixonarem por outras pessoas, ninguém interferirá, pois o prazo ainda será cumprido.

- Quanto tempo?

Penso por um momento, e mesmo que eu ainda ache tudo isso uma loucura, não posso voltar atrás na minha palavra e mais uma vez aceitarei um destino imposto a mim, mas pelo menos ganharei tempo para os meus melhores amigos e não permitirei que Anastásia se case com alguém que não faz parte da Famiglia apenas para que uma nova aliança possa ser feita.

- Seis meses! Exatamente um mês antes que Paolo complete 36 anos. - Ele pensa por um momento, mas assente, levantando-se e me estendendo a mão.

- Un nuovo accordo è stato appena siglato tra il Don e il Primo Anziano e non può essere rotto. (Um novo acordo acabou de ser selado entre o Don e o Primeiro Ancião e não poderá ser quebrado). - Aperto a sua mão e respondo sem hesitar.

- Se l'accordo viene infranto, il mio sangue deve essere pagato. (Se o acordo for quebrado, com o meu sangue deverá ser pago). - Ele assente e saímos do meu escritório, caminhando novamente para a sala de reuniões.

Está feito!

A palavra de um Homem de Honra, jamais é retratada, e eu sendo um Don tenho o dever de fazê-la valer custe o que custar, sem saber se esse casamento com a Anastásia será o início do meu fim ou a Redenção do Caos que eu me transformei.

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