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Capítulo - 01

Manhattan, New Yok, EUA - 2020.

Implacável, cruel, diabo sem alma e sem coração, são as formas que passei a ser conhecido desde que o meu pai me passou o seu legado oficialmente 5 anos atrás, para ocupar uma das cadeiras do Conselho. O que não é totalmente mentira sobre a minha fama, pois quando se nasce sendo herdeiro da Máfia, eu só tinha um entre dois caminhos do qual eu poderia seguir: renegar a minha família e me exilar ciente que haveria um preço por minha cabeça, tendo que viver sempre olhando por sobre os meus ombros, ou aceitar o meu destino mesmo que ser o Chefe da Famiglia nunca fosse da minha vontade.

E confesso que por muito tempo, 10 anos para ser mais exato, eu consegui me afastar do "mundo do meu pai", com a intervenção por parte da minha mãe, levando uma vida diferente da qual eu estava fadado a viver, sendo apenas um jovem comum, alimentando um sonho que jamais seria concretizado.

Consegui me formar em duas Universidades, Administração por exigência do meu pai e Música por realização pessoal. Viajei o mundo e fiz novas amizades. Conheci muitas mulheres - nunca me envolvendo mais do que uma noite para não correr o risco de me apegar -, e inclusive eu fiquei noivo, até descobrir que não foi um mero acaso me encontrar com Bárbara Lancelot Steele na mesma cidade que eu estava, pois ela havia sido enviada por meu pai, para sempre manter "os olhos sobre mim".

Mas isso serviu para que eu percebesse que estava me apegando apenas à ilusão de viver uma vida que não era para ser minha. Além de conseguir compreender a realidade do que o rompimento do noivado e o término do nosso relacionamento de um pouco mais de um ano significavam para mim, o que não me causou nenhuma "rachadura" interior, apesar de ter ficado decepcionado por estar sendo usado para benefício do homem que havia me dado uma falsa liberdade provisória, mostrando-me a verdade: a certeza que eu nunca seria capaz de amá-la de fato.

Talvez eu devesse agradecê-lo por ter feito isso, caso contrário eu poderia ser ainda mais infeliz, não apenas com a situação que eu viveria a frente de uma Organização Criminosa, mas também em um casamento que já estava fadado ao fracasso - do qual eu nunca poderia sair -, apenas por que a noiva em questão era filha do amigo e um dos Capos do meu pai, o que não será uma realidade diferente em um futuro próximo, se depender do Conselho e do homem que me criou.

Por outro lado, acabei antecipando alguns meses o meu retorno para casa, trocando os meus instrumentos musicais por armas e negociações, quando percebi que nada que eu fizesse mudaria o meu destino, ainda mais sendo filho único. Mas isso não quer dizer que eu faria ou seguiria todas as regras criadas por meu bisavô, e que foram seguidas depois por meu avô e o meu pai por todos os anos que estiveram à frente dos negócios da Famiglia.

Meu pai sempre seguiu a risca todas as Regras e Códigos de Conduta da Máfia, além de ser um Don rígido diante aos seus subordinados, inclusive comigo em determinadas situações. E isso me remete aos treinamentos que fui submetido na infância e adolescência, ao lado dos meus melhores amigos, Vincenzo Steele e Paolo Greco, que também tiveram os seus destinos traçados, como o meu, assim que nasceram sem a opção de escolha ou deserção.

- Por... por favor, Pai! Eu... eu não... não aguento mais.

Implorei com os meus dentes cerrados, evitando que se chocasse pelo tremor do meu queixo, por estar a tanto tempo dentro desse tanque de água gelada, mas meu pai se aproximou e pegou o meu cabelo, virando a minha cabeça para encarar o seu rosto, desprovido de qualquer emoção. E ali, naquele momento, eu percebi que quem estava a minha frente não era o meu pai, mas sim o Don Carrick Grey.

- Aqui eu não sou o seu pai, Christian, mas sim o seu Don. - Ele afundou a minha cabeça, fazendo-me relutar para que me soltasse, mas eu não conseguia mais sentir os meus movimentos com precisão, por estar com o corpo dormente devido à água gelada. - Você será o meu sucessor um dia e vai me agradecer por isso depois, e tenha em mente que um Don, jamais implora. - Ele voltou a falar depois de me puxar novamente para cima, e tentei recuperar o ar para os meus pulmões.

Não falei mais nada, apenas tentei me concentrar em não perder os sentidos, como aconteceu com Vincenzo, que precisou ser retirado do tanque antes que se afogasse, depois de ter ficado mais de 30 minutos na água. Fiz uma troca de olhar com Paolo que tinha os seus lábios roxos e a pele tão branca que começava a adquirir um tom acinzentado, que assustaria qualquer pessoa que o visse, o que imagino que eu não estivesse diferente, mas ali em seus olhos azuis turquesa, eu conseguia ver refletida a mesma determinação que a minha, enquanto tentávamos sobreviver ao que estava apenas começando.

Tínhamos 15 anos na época e já havíamos sido submetidos a vários tipos de lutas, com Soldados experientes e quase sempre de forma desleal, deixando-nos em menor número. Tivemos vários hematomas e até lesões um pouco mais graves, inclusive alguns ossos quebrados. Aprendemos a suportar todos os tipos de torturas, tendo que permanecer calados, e era nesse momento que eu queria odiar o meu pai, e eu percebia que os sentimentos dos meus amigos - que sempre os considerei como os irmãos que nunca tive -, não eram diferentes de tudo que eu sentia.

No entanto compreendíamos as atitudes de nossos pais em fazer com que não fossemos fracos, e percebemos isso hoje, assim que assumimos a responsabilidade da Famiglia, mas isso não quer dizer que o sentimento de revolta, de raiva por tudo que tivemos que passar e o desejo de ter nascido numa família comum, não fossem fortes o bastante a ponto de sentir vontade de ter coragem suficiente para enfrentarmos as consequências e darmos as costas a tudo o que sabíamos que iríamos viver.

E esse desejo era tão grande que cheguei a não conseguir mascarar os meus sentimentos e anseios em alguns momentos, como fui treinado para fazer, deixando evidente em minha face o que eu realmente desejava, sendo transparente o suficiente para que Carrick deixasse de ser o Don para assumir o seu papel de pai. E apenas por essa razão não consegui odiá-lo como desejei fazer muitas vezes.

- Grace, deixe-me conversar com o nosso filho por um momento.

Desviei o olhar dos seus assim que ele entrou no meu quarto sem bater, vendo minha mãe fazer um curativo nos pequenos cortes do meu braço, causados durante o treinamento com adagas de hoje.

- Não quero conversar agora, Don Grey.

Quem o respondeu fui eu, entredentes e sem conseguir evitar o sarcasmo, mesmo que a palavra não tivesse sido dirigida a mim, mas minha mãe fez com que eu voltasse a encará-la, dando-me um sorriso reconfortante.

- Converse com o seu pai, meu filho, per favore? - Respirei fundo e assenti, pois eu não gostava quando a minha mãe precisava implorar para que meu pai e eu conseguíssemos conversar de forma civilizada. - Voltarei depois com o seu jantar, hoje você está dispensado de fazer isso à mesa conosco.

- Grace!

- O nosso filho irá jantar no quarto, e está decidido, Carrick! - Ele assentiu dando um suspiro resignado, mas eu sorri de lado, pois o meu pai podia ser o Don diante aos seus subordinados, porém em nossa casa a palavra final sempre era da minha mãe.

- Pode tirar esse sorrisinho debochado dos lábios, Christian! - Meu pai ordenou assim que minha mãe deixou o quarto, ocupando o lugar que ela estava a pouco em minha cama, mas apenas sustentei o seu olhar ainda sorrindo, e sei que isso o irritava por ser afrontado dessa forma. - Os ferimentos não estão tão ruins quanto a sua mãe disse que estavam.

- E o temido Don Grey se importa com isso? - Percebi o momento que ele travou o seu maxilar, mas apenas respirou fundo e me encarou.

- Claro que me importo Christian, você é meu filho. - Dei uma risada amarga, não acreditando no que estava ouvindo, mas não falei nada. - Eu sei que você ainda não entende esse nosso mundo, mas não somos tão ruins quanto você pensa.

- Considerar outras pessoas como nossos rivais em negócios que não são nada ortodoxos e matar sem pestanejar, realmente é algo que nos fazem ser boas pessoas, Pai.

- Não é assim, Christian. Você faz parecer como se fossemos os vilões aqui, e você sabe que nunca, jamais matamos inocentes.

- Mas isso não quer dizer que somos os "mocinhos" dessa história, Pai. Não somos nós que devemos decidir quem deve ou não morrer. Não somos juízes para absolver ou carrascos responsáveis por acusar e executar alguém por seus crimes, sendo que nós também estamos cometendo os mesmos. - Ele ficou em silêncio por um momento, mas não rebateu a minha colocação, optando por mudar de assunto.

- Ontem à noite eu conversei com a sua mãe, e estive a pouco falando sobre essa conversa com o Raymond e o Giuseppe. - Fiquei encarando-o, ciente do assunto mencionado.

- E qual foi à conclusão que vocês chegaram? - Tentei não parecer tão desesperado, mas sei que não obtive sucesso pelo arquear de sobrancelhas que recebi dele.

- Vocês sabem todos os riscos que poderão correr estudando em outro país?

- Eu já discuti sobre isso com Vincenzo e o Paolo, Pai. Além de sermos treinados e sabermos nos defender se for necessário.

- Então vocês já estavam planejando isso, e não foi apenas uma conversa despretensiosa que teve com a sua mãe, Christian? - Engoli em seco, mas não desviei o olhar dos seus.

- Sim, Pai! Estávamos conversando sobre isso durante todo o ano, e antes mesmo que as aulas se encerrassem já havíamos enviado a solicitação de admissão para a Universidade. E a mamãe nos ajudou com isso junto com a tia Pilar.

- Maleditti manipolatori! (Malditas manipuladoras!) - Ele negou com a cabeça, mas o sorriso de lado deixou claro que não estava irritado com a minha mãe e a sua amiga, mas depois ele ficou em silêncio por um momento, ponderando a situação e talvez pensando no que estávamos conversando a pouco, até que deu um suspiro resignado e assentiu. - Tudo bem, Christian!

- O Senhor está falando sério, Pai?

- Espero não me arrepender depois, mas sim, Filho! Eu estou falando sério e permito que vocês estudem fora da Itália.

Por um momento me esqueci de que o meu Pai era um Don da Máfia, que não gosta de expor muito os seus sentimentos ou demonstrações explícitas de afeto, e que eu seria o seu sucessor, mas eu só queria me sentir como um jovem normal, por isso sem pensar no que estava fazendo, eu o abracei, surpreendendo não apenas a ele, mas a mim também, por fazer muito tempo que não fazia isso.

- Obrigado, Pai! - Ele retribuiu o meu abraço e mais uma vez suspirou.

- Mas teremos condições. - Gemi frustrado e desfiz o abraço voltando a encará-lo, ciente que estava tudo muito fácil. - Vocês serão acompanhados por Soldados e isso não entrará em discussão.

- Tudo bem, mas eu quero que os Soldados que irão nos acompanhar sejam Taylor, Luke e o Trevor.

- Impossível! Eles ainda são Rookies em treinamento, Christian. Não passam de moleques que acabaram de sair da adolescência.

- E esse é mais um pedido que faço ao Senhor, mas ao meu pai e não ao Don Grey, que se eles quiserem, deixará que estudem também. - Ele me avaliou, mas me mantive impassível, mesmo sabendo qual seria a próxima pergunta que ele iria fazer.

- Isso também já foi arquitetado com os jovens Soldados, não é mesmo?

- Um Don sempre tem que estar a cinco passos à frente em uma negociação, Pai. - Ele murmurou algo e sei que foi um xingamento, mas continuei resoluto em minha decisão.

- Farei essa concessão, até porque tenho planos para eles futuramente. - Neguei com a cabeça.

- Eles serão os meus Soldados, então eu decidirei o que fazer e onde serão alocados. - Ele arqueou uma sobrancelha, olhando-me de forma desafiadora.

- Não esqueça que estamos decidindo a sua ida para outro país com os seus amigos, Christian! Decisão esta que posso revogar.

- Mas sei que não fará isso, pois um Don não volta atrás em sua palavra, e o Senhor já havia concordado em permitir que fossemos.

- Monello insolente! (Moleque insolente!) - Quem arqueou a sobrancelha fui eu, incitando-o a dizer o contrário, mas ele apenas negou com a cabeça sem ter argumentos para me contradizer. - Certo! Mas enviarei Soldados experientes para fazerem a segurança de vocês. - Apenas assenti ciente que consegui mais do que eu esperava dessa negociação. - Continuando com as condições, eu quero que você faça Administração, o que será útil quando assumir os negócios.

- Pai, eu não quero fazer Administração, e sim Música.

- Besteira, Christian! Isso não terá nenhuma utilidade no seu futuro na Organização. - Tentei retrucar, mas ele não permitiu. - Minhas regras e condições, ou permanecerá na Sicília e continuará o seu treinamento para assumir o meu lugar quando for à hora.

- Tudo bem. - Concordei a contragosto por não ter opções. - Farei o que o Senhor está ordenando, mas quero viver antes de sucumbir ao submundo que serei obrigado a sobreviver.

- O que está querendo dizer com isso? - Seu tom rude não me passou despercebido, mas não hesitei em minhas condições também, mesmo que fosse um risco de colocar tudo a perder.

- Eu quero 15 anos livre dessa vida. Longe da Máfia e das minhas obrigações como futuro Don. E isso também inclui a liberdade do Paolo e do Vincenzo para fazerem o que quiserem nesse período.

- Não abuse da sorte, Monello!

Ele me encarou irritado, mas respirei fundo e falei com o coração de um adolescente que acabou de fazer 17 anos, que não pode viver como um exatamente por ter que seguir uma linhagem que jamais desejaria fazer parte.

- Pai, eu não escolhi nascer na Máfia, e diferente do Senhor que sempre amou esse mundo, não seria o que eu escolheria para mim, mas sei que não posso e nem irei negar as minhas responsabilidades de futuro Don. - Voltei a respirar fundo, e ele não me interrompeu, ficou apenas me ouvindo e aguardando que eu continuasse. - Porém não posso negar também a minha vontade de ser um adolescente comum, como alguns dos meus colegas do Colégio, que não faziam a mínima noção que tinham três filhos de Mafiosos no meio deles, então a única coisa que peço, antes de me entregar ao meu destino, é que me permita ser uma pessoa comum por um tempo, apenas isso.

- Atenda ao pedido do nosso filho, per favore, Amore mio?

Minha mãe entrou no meu quarto com os olhos marejados, enquanto segurava uma bandeja com o meu jantar, colocando-a em seguida em minha mesa de estudos, e eu sei que estava ouvindo a nossa conversa. No entanto meu pai permaneceu em silêncio por um tempo, talvez analisando o meu pedido e vi em seus olhos sentimentos que ele sempre fez questão de esconder: compreensão e amor.

- Esse tempo que está me pedindo é muito, mas concederei 5 anos a você e aos seus amigos.

- É pouco, Pai! Não quero apenas estudar. Eu também quero viajar, conhecer lugares e pessoas comuns. Então que sejam 10 anos! - Insisti tentando ainda a benevolência momentânea de seu coração duro, fazendo-o passar as mãos em seu rosto, completamente frustrado.

- Per Dio! (Por Deus!) Tudo bem, Christian! - Ele se levantou da minha cama, e eu não consegui conter o meu sorriso. - Mas as condições também serão ampliadas e os treinamentos não serão abandonados, estamos entendidos?

- Como o Senhor achar melhor, Papà! - Ele assentiu de forma dura, olhou para minha mãe, que sorriu para ele, e lhe beijou os lábios, antes de vê-lo saindo do meu quarto. - Obrigado, Mamma!

- Não me agradeça Piccolino mio (Meu pequeno)! - Fiz uma careta por ouvi-la me chamar assim, tendo em vista que sou muito mais alto do que ela, mas eu estava muito feliz para reclamar sobre algo. - Eu só espero que continue sendo responsável e me prometa que não fará nada que possa vir a se arrepender depois, ou dê motivos para o seu pai trazê-lo de volta antes da hora.

- Lo prometto Mamma! - Dei minha palavra sem hesitar, pois jamais passou por minha cabeça fazer algo que pudesse prejudicar a minha tão sonhada liberdade, mesmo que fosse momentânea.

- E mesmo que ainda não tenha aceitado o seu legado, ou queira insistir em negar isso a si mesmo, saiba que você nasceu para ser um Líder e agiu exatamente como um, enquanto negociava com o seu pai, Figlio mio! (Meu filho!) - Ela beijou a minha testa e se levantou para pegar a bandeja e colocá-la em meu colo, deixando-me sozinho no quarto pensando em suas palavras.

E depois de descobrir tudo o que envolvia o meu relacionamento com a Bárbara - e perceber como ela realmente era -, e à falta de confiança do meu pai, a ponto de colocar alguém para me vigiar - como se ter Soldados me acompanhando para onde quer que eu fosse, não tivesse sido o bastante -, a nossa relação acabou não sendo mais a mesma. Ainda mais depois que voltei para Sicília alguns meses antes do nosso combinado, tendo 10 anos de ausência pela concessão a minha falsa liberdade, sendo recuperados com treinamentos ainda mais pesados e muitas das vezes cruéis.

Porém a minha Iniciação ao mundo do qual fui treinado, enfim pôde ser realizada para total satisfação do meu pai, que logo após a morte do meu avô, assumiu o seu lugar no Conselho dos Anciões. E no momento que puxei o gatilho pela primeira vez, eu perdi não apenas os meus sonhos, mas entreguei a minha inocência junto com a minha alma ao diabo, passando a ser ainda mais frio e cruel do que o meu pai sequer conseguiu ser.

Então eu compreendi que ninguém é tão ruim como todos pensam, mas também não é tão bom quanto demonstra ser, pois todos, sem exceção, carregam uma parte sombria em seu interior, sendo esta parte que fez com que eu me entregasse completamente ao meu destino, mas dentro dos meus termos. Comecei a fazer algumas mudanças na Organização que passou a ser minha, alterando Regras, acrescentado Deveres e fiz valer as Restrições que foram deliberadamente ignoradas pelo antigo Don.

E na intenção de fazer o meu nome como o meu pai tanto desejou, ousei abandonar as raízes da Máfia na Sicília, migrando-a para os Estados Unidos, precisamente Manhattan em New York, e hoje sou o Don da Dragão Negro, a maior organização criminosa ítalo-americana que muitos temem, enquanto outros desejam ter.

[...]

- Vocês dois estão calmos demais. - Vincenzo faz com que eu pare de pensar no passado, para encará-lo. - E quando estão assim, não é nada bom.

Vincenzo Steele, assim como Paolo Greco e eu, tem 35 anos e aparentemente o mais tranquilo de nós três, sendo o mais sensato em determinados aspectos não se deixando influenciar pelo frenesi do momento. Desde que éramos adolescentes sempre foi o mediador e a razão que eu precisava para não cometer uma loucura e mandar tudo para o inferno, fazendo-me enxergar que depois que assumíssemos o lugar que nos era imposto, poderíamos fazer as mudanças que não concordávamos na Organização.

E hoje, além de ser o Advogado da nossa Organização é também o meu Consigliere, sendo uma das duas pessoas que permito questionar uma decisão que tomo quanto aos meus subordinados. No entanto consegue ser tão frio quanto Paolo e eu se for necessário, capaz de aniquilar nossos inimigos sem perder a sua fachada calma que o acompanha a todo o momento.

- Não adianta tentarmos adivinhar o que se passa naquela sala, Vincenzo, teremos que aguardar a reunião do Conselho ser encerrada de qualquer forma. - Paolo o responde com sua calma calculada, enquanto gira o uísque com gelo em seu copo, sem nem mesmo direcionar o olhar ao nosso amigo.

Paolo Greco é o mais velho, exatamente quatro meses, enquanto Vincenzo e eu nascemos no mesmo mês, fazendo de mim o mais novo apenas por 12 dias. Sempre estivemos juntos, inclusive passando por todos os treinamentos e torturas das quais fomos submetidos. Assim como todas as nossas primeiras experiências como jovens comuns em nossa "liberdade provisória", e também como herdeiros de uma Organização Criminosa.

Mesmo que também quisesse ter uma vida normal fora do mundo do qual nascemos, foi o primeiro a se resignar, aceitando o legado que deveria seguir dentro da Famiglia. E devido a sua postura amistosa, adepto a diplomacia e pragmático quando necessário, além de ser a segunda pessoa capaz de me questionar sem levar um tiro, ocupa hoje o seu lugar ao meu lado como o meu Sottocapo, vulgarmente chamado de Subchefe, sendo ele o responsável pelas Relações Internacionais da Dragão Negro.

- Alguma coisa está errada. - Vincenzo se levanta, colocando uma de suas mãos no bolso de sua calça, olhando a noite pelas vidraças da minha sala e bebendo um gole do seu uísque antes de voltar a falar. - O Conselho não exigiria uma reunião extraordinária assim do nada, ainda mais nos convocando sem a mínima possibilidade de negar o "convite" de última hora. - Ele se vira, focando a sua atenção em mim. - Você não abre a boca faz mais de 30 minutos, Christian, então qual é a sua posição quanto a isso?

- Sinceramente? - Ele assente e tenho também agora o olhar atento de Paolo sobre mim, enquanto me levanto e caminho até ao Bar, servindo-me de mais uma dose generosa de Macallan Reflexion Decanter. - Eu não me importo com o motivo de terem convocado esta reunião. - Levanto o meu copo em um brinde silencioso, fazendo-os sorrir de lado e retribuir o meu gesto. - Quero apenas que deixem logo a Imperium para que eu possa ir para casa.

- Você é impossível, Christian! Consegue ser frio até mesmo quando o Conselho está tomando alguma decisão, que envolverá a nós três, neste momento.

- Eles podem ser o Conselho, mas enquanto não houver qualquer tipo de quebra do Código de Conduta, ou o Omertà, eu sou o Don e a decisão final será minha, independente do que seja, Paolo.

- Você sabe que alguns dos Anciões não engoliram as alterações que você fez nas Regras e no Código de Conduta da Famiglia, Christian.

- A assembleia foi votada e a maioria apoiou as alterações, Vincenzo, então eles que se acostumem.

- Mas você também sabe que se for algo relacionado às Normas e Regras para manter as Tradições e a Ordem Superior da Organização, nem mesmo você poderá ir contra a uma decisão do Conselho.

- O Paolo tem razão, Christian.

- De qualquer forma não poderemos fazer nada até que sejamos convocados a participar da reunião.

Eles assentem e o silêncio predominou novamente na minha sala, mas eles têm razão, pois há decisões que os Anciões podem tomar sem que a palavra final seja minha. Afinal o intuito do qual o Conselho foi criado é justamente para manter a ordem da Organização e segundo eles, há situações que até mesmo o Don precisará de limites, caso seja ele o infrator da ordem.

O que claramente não é o caso, pois nenhuma regra foi quebrada, e desde que assumi a Dragão Negro tenho expandido os negócios e tendo êxito nas alianças que venho fazendo, além de agregar novas Casas a Organização e corrigir o que sempre achei falho na "gestão" do meu pai, pois não só de negócios escusos sobrevive uma Organização, o que tem dado ainda mais prestígio la nostra Famiglia.

Mas tenho que concordar com Vincenzo, pois os membros do Conselho - em sua maioria com idade acima dos 80 anos - não se deslocariam da Itália para vir a New York por simples decisões, além de não terem me comunicado o motivo para a realização de uma Assembleia Extraordinária e ainda exigindo que o Don, o Consigliere e o Sottocapo da Organização estivessem presentes.

- Com licença, Don Grey? - Viro-me em direção a voz e vejo Noelia, a minha Secretária, entrando na sala. - As deliberações iniciais da reunião foram encerradas e as presenças dos Senhores estão sendo solicitadas pelos Anciões. - Apenas assinto e logo ela se retira, fazendo-me respirar fundo e encarar Vincenzo e Paolo.

- Vamos acabar logo com isso!

- Só espero que não sejam mais problemas. - Paolo resmunga e vira todo o conteúdo do seu copo, antes de se levantar e abotoar o seu paletó, gesto repetido por Vincenzo.

- Não contem com isso, miei fratelli (meus irmãos), pois acredito que problemas é justamente o que iremos encontrar naquela sala.

Não falo nada, apesar de concordar mais uma vez com Vincenzo, mas apenas abotoo o meu paletó e visto a minha máscara fria, saindo da minha sala e caminhando na direção do que nos espera quando estivermos na presença dos Anciões.

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