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2.4 - Memórias


⚠️ Esse capítulo conterá descrições gráficas de assassinato. No final, uma cena de tentativa de estupro. Nada tão pesado, mas se for sensível ao assunto, pode pular o capítulo. ⚠️

3900 palavras

3 dias antes do casamento de Lucy e James

O cheiro de chá de lavanda pairava no quarto abafado. Felicia repousava na cama, visivelmente fraca, mas ainda com um olhar cheio de doçura ao observar a filha.

— Mamãe, eu queria ter certeza de que você ficará bem antes de eu ir. James volta amanhã e, depois...

— Três dias para o casamento. — Felicia sorriu, apertando levemente a mão de Lucy. — Você já repetiu isso tantas vezes hoje...

Do lado de fora, os trabalhadores carregavam as últimas caixas para a carruagem. Lucy ouvia o ranger da madeira e os murmúrios apressados. Antes que pudesse responder, sua mãe disse:

— Você tem sua vida para construir agora, querida. Eu ficarei bem. Margaret cuidará de mim.

Lucy hesitou, mas assentiu.

— Eu só quero que você esteja lá, mamãe. No casamento.

— Eu estarei.

Um dos trabalhadores entrou no quarto.

— Senhorita Linton, está pronta para partir?

Lucy assentiu, olhando ao carregador, e depois, se inclinou para beijar a testa da mãe.

— Eu volto todos os dias. Se precisar de algo, me avise.

Felicia sorriu, passando os dedos pelos cabelos da filha com carinho.

— Você já me dá tudo o que preciso. Agora vá.

Lucy a observou por um instante antes de se afastar. Mas, ao cruzar a porta, sentiu o peito apertar, como se algo dentro dela insistisse para que ficasse por mais um ou dois dias, antes que fosse embora.

Lucy desceu da carruagem do Sr. Stuart, ajeitando as luvas antes de olhar ao redor. O endereço que recebera da imobiliária a havia trazido para uma parte mais afastada da cidade, onde as casas eram mais reservadas, cercadas por jardins bem cuidados e ruas tranquilas.

Diante dela, ergueu-se a casa que seria seu novo lar com James. Grande, mas sem ostentação, sua arquitetura se destacava das construções vizinhas. Diferente das mansões vitorianas que pontilhavam Londres, essa residência tinha um charme peculiar.

Lucy caminhou até o portão, notando a delicadeza dos detalhes. Um pequeno jardim ornamental contornava a entrada, com arbustos bem podados e um caminho de pedras que levava até uma ponte arqueada sobre um lago sereno. Peixes alaranjados nadavam sob a superfície, enquanto uma árvore solitária oferecia sombra ao quintal.

Aproximando-se da porta escura de madeira, deslizou os dedos sobre a superfície polida da maçaneta, hesitando por um instante antes de empurrar a porta e entrar.

Ela encaminhou-se ao hall de entrada, onde móveis simples, porém refinados, permaneciam intocados desde a última família que morara ali. Na carta, o senhor da imobiliária mencionara sobre os antigos donos.

Lucy caminhou pelos cômodos, sentindo a atmosfera tranquila, quase melancólica. Era uma casa de despedidas, de histórias interrompidas. Mas agora, ela e James escreveriam um novo capítulo ali.

Apoiou-se no corrimão de madeira da escada que levava ao andar superior e suspirou. O lugar era belo, diferente de tudo que conhecia. E, por mais que seu coração estivesse inquieto, não podia negar que se sentia fascinada.

Este seria o lar deles.

Lucy olhou para fora da janela. A estação Rosebank estava a poucos quarteirões dali. Seria o local perfeito para criar seus filhos. Eles poderiam pegar a estação para ir ao colégio.

Seus filhos, com James.

James...

Ela tinha recebido uma carta dele na mesma manhã. Havia se desculpado por não poder comparecer na mudança, mas, tinha mandado dinheiro para que os carregadores lhe ajudassem a levar tudo. Prometeu à Lucy que faria sua própria mudança assim que se casassem.

Lucy nunca esteve tão ansiosa.

Ao ver várias caixas ainda semi-abertas, mas cheias de seus próprios utensílios, sabia que era a hora de desempacotar e guardar tudo em seu devido lugar.

A tarde estava fresca quando Selene saiu de sua mansão, o arrependimento pesando em seu peito. As palavras que dissera a Lucy ainda ecoavam em sua mente, e a necessidade de consertar aquilo crescia a cada passo que dava.

Precisava vê-la.

Antes de sair, pegou um simples cashmere e o envolveu no pescoço. Sua governanta, atenta como sempre, alertou para que não voltasse tarde. Aparentemente, Thomas andava preocupado com a situação da cidade.

Selene assentiu, embora não soubesse ao certo quanto tempo levaria. Tudo dependeria de como as coisas se resolveriam com Lucy. Elas não podiam deixar nada em aberto, não com o casamento a apenas três dias de distância.

Ao chegar ao centro, as luzes das lojas ainda brilhavam nas vitrines, e o movimento das carruagens tornava o ar mais vívido. Foi então que ela avistou o senhor Stuart, parado ao lado de sua carruagem, ajeitando as rédeas dos cavalos.

Ela se aproximou rapidamente.

— Senhor Stuart!

O homem virou-se, surpreso ao vê-la. Era um senhor respeitável, de feições firmes apesar da idade avançada, e há anos servia como motorista na cidade.

— Boa tarde, senhorita Selene. — Ele a cumprimentou com um leve aceno.

Selene hesitou apenas um segundo antes de perguntar:

— Boa tarde, senhor. Por acaso, sabe onde posso encontrar Lucy? Preciso falar com ela.

Stuart piscou, parecendo surpreso com a pergunta.

— A senhorita não sabe? Lucy se mudou hoje de manhã, está perto da estação de Rosebank.

Selene franziu o cenho.

— Ela se mudou hoje? — sua voz saiu incrédula.

— Sim. É um lugar tranquilo, discreto. Pequeno, mas bonito.

O coração de Selene apertou. Ela não se lembrava de nada do que Lucy havia lhe dito —e, obviamente, já deveria ter ouvido antes.

Respirou fundo e, antes que perdesse a coragem, perguntou:

— O senhor poderia me levar até lá?

Stuart a observou por um instante e, então, sorriu de leve.

— É claro, senhorita. Entre.

Ele abriu a porta da carruagem e Selene subiu, sentindo a tensão em seus ombros se intensificar enquanto Stuart guiava os cavalos rumo ao destino.

A viagem não foi longa, mas, conforme se afastavam do centro e as luzes da cidade ficavam para trás, Selene sentiu um nervosismo crescente.

Quando Stuart finalmente parou a carruagem, ela olhou pela janela e sentiu uma nostalgia, entre surpresa e melancolia. Era como se estivesse visitando Lucy no antigo bairro em que morava, quando seu pai ainda era vivo.

Selene ficou um instante parada, absorvendo a imagem. Lucy finalmente tinha um lar só para si.

Que progresso! — pensou.

Respirou fundo, desceu da carruagem e caminhou até a porta. Seu coração batia rápido.

Ela levantou a mão e bateu.

Quando a porta se abriu, Lucy apareceu diante dela, os olhos brilhando de surpresa e expectativa.

Selene sentiu um aperto no peito.

— Lucy! Oi... Ah... eu vim me desculpar. — Sua voz saiu sincera, carregada de arrependimento. — Fui terrível com o que falei. Consegue me perdoar?

Lucy a olhou com carinho e, sem hesitar, abriu os braços.

— Claro, Seli.

O abraço foi quente e confortável, dissipando parte da culpa que Selene carregava.

Quando se afastaram, Lucy sorriu, os olhos brilhando com umidade contida.

— Por que a gente não conversa aqui dentro? Venha conhecer minha nova casa.

— Eu adoraria! — Selene exclamou.

Lucy abriu espaço para que Selene passasse, e as duas entraram juntas, deixando a tensão da última discussão para trás.

Ela guiou Selene até os cômodos, até finalmente chegarem no quarto.

— Uau... Imagine como você e James terão espaço para as noites calorosas...

Lucy riu.

— Ah, meu Deus, nem me fale... — suspirou, tentando conter os pensamentos. — Como você me achou, Selene? — perguntou, quando se recompôs, ambas sentando na quina da cama.

— Eu estava andando pelo centro quando encontrei o senhor Stuart. Ele me falou que ajudou com a sua mudança e eu lhe pedi para que me trouxesse. Você não está brava com ele, está?

— Ah, não, claro que não. Não imaginava que você fosse me procurar... Mas eu teria te procurado, amiga. — Lucy pegou em sua mão, e as duas deram um meio sorriso.

— Você não precisaria. Você não teve culpa de nada. Eu fui arrogante, admito.

Lucy riu.

— Eu não ia dizer isso, mas... É. — soltou um riso contido.

Selene suspirou. — Sabe, vir aqui me lembrou dos velhos tempos, quando você morava com seus pais. Desculpe... tocar nesse assunto, sabe, é que foi impossível não pensar sobre...

— Ah, sem problemas. Eu também tive memórias para reviver enquanto chegava. — ela assentiu. — Eu fiquei muito surpresa quando soube que tinha conseguido essa propriedade.

— Hm... — Selene concordou, sem saber ao certo o que dizer. — Desculpe, você se incomodaria se eu fumasse?

— Ah, claro que não. Mas, não tenho um cinzeiro... Pode usar esse lixo, por favor?

Selene olhou para o lado da cama. O lixo ficava em uma boa posição, então murmurou que sim, buscando por seu cigarro nas laterais do casaco.

— Droga, meu último cigarro... — sussurrou para si mesma.

Lucy torceu o nariz. Apesar de não gostar de cigarros, ainda queria que sua amiga estivesse à vontade.

— Então, como você está, amiga? — Selene perguntou, dando seu primeiro trago.

Lucy deu de ombros.

— Você sabe, Selene... Casamento em três dias, sentimentos à flor da pele, nervosismo, pesadelos... com... Alaric.

Selene suspirou.

— Ele não sai da sua cabeça, não é?

Lucy olhou para o próprio colo e balançou a cabeça.

— Mas você não tem tido o mesmo? Digo, pesadelos? É... que temos a mesma marca no pescoço...

— Não, Lucy. — o tom de Selene era firme. — Acho que isso está acontecendo por causa da pressão que você está sentindo. Estar se casando com o queridinho da cidade, está lhe trazendo muito julgamento dos outros. Tenho certeza que até olho gordo de algumas solteiras. É algo que alguém tão sensitiva como você sentiria.

Lucy assentiu devagar.

— É verdade...

— E James? Ele sabe? Sobre... Alaric?

Lucy hesitou, depois admitiu.

— Não. Apenas sobre o baile de máscaras. Ele ficou meio enciumado. Não contei sobre a mordida, nem sobre o que aconteceu no clube de jazz. Vou tentar manter distância de Alaric. Mas eu não sei por quê, ele está em todo o lugar que eu vou... É como se ele soubesse. — disse, intrigada.

Selene concordou com um aceno.

— Entendido. Não vou mais ver o amigo de Alaric, também.

Lucy franziu a testa.

— Mas... você não o conheceu só no clube?

Selene desviou o olhar para o canto do quarto e tragou o cigarro antes de soltar um riso nervoso.

— Ah... Na verdade, nos conhecemos antes. Ele foi cavalheiro o suficiente para me pagar uma bebida... e me paquerou um pouco. Mas me contive. Amo o Thomas. Não o trairia.

Lucy sorriu, satisfeita.

— Thomas é um bom homem.

— Assim como James também é.

— Eu sei.

— Mas vocês estão bem, amiga?

— Sim. Quer dizer... ele sempre foi ocupado, e agora que está aprendendo os negócios do pai, mais ainda. Mas ele quer ter certeza de que poderá viver comigo tranquilamente assim que conseguir estender as linhas de trem. Ele disse que irá me levar para um hotel chique na lua de mel. Outro dia, quando ele ficou no meu antigo apartamento, tentei avançar um pouco... mas, ele é muito respeitoso comigo. Às vezes, me pergunto se é isso que eu realmente queria.

Selene arqueou uma sobrancelha.

— É que ele é da igreja, amiga. — soltou outra fumaça espessa da boca. — É a religião dele. É a nossa sociedade. Tudo.

Lucy suspirou.

— Eu sei. Mas, sinceramente? Não sei se acredito em Deus. A devoção extrema oprime os desejos humanos, principalmente o de nós, mulheres.

Selene assentiu, apagando o cigarro na borda da lixeira.

— Lucy, você se incomoda de ir comigo até o posto comprar mais cigarros?

Ela gesticulou a cabeça com um não. — Vamos. — respondeu, gentilmente.

Elas continuaram conversando por um bom tempo antes de finalmente saírem. Talvez tivesse sido melhor irem antes.

Selene e Lucy caminhavam lado a lado pelas ruas quase desertas. A lua, lenta e imponente, tomava o lugar do sol, tingindo o céu de tons de azul-anis e laranja queimado. Poucos ainda se aventuravam fora de casa — quase todos já haviam cedido ao toque de recolher.

Pequenas casas alinhavam-se dos dois lados da rua, suas janelas apagadas dando à noite um ar quase fantasmagórico. O único destino delas era o posto de gasolina algumas quadras à frente — onde Selene compraria cigarros.

Lucy olhou de relance para a amiga, os braços cruzados para se proteger do frio cortante.

— Achei que já tivesse largado o cigarro. — comentou, arqueando uma sobrancelha.

Selene soltou um riso leve.

— Desculpe, amiga. Mas Thomas sempre tem aquele cheiro de nicotina na barba, e isso me deixa louca.

Lucy riu também.

— Bem, não vou julgar. Você não é a única que gosta de... esquece. — balançou a cabeça, esperando que passasse despercebido.

Selene a observou com atenção, sua expressão descontraída se tornando ligeiramente séria.

— Lucy... — sua voz carregava um tom de preocupação. — Você ainda está tomando lítio?

Lucy parou de andar por um instante com o toque de Selene em seu braço. Inspirou fundo antes de responder.

— Não é nada, eu prometo, Selene.

— É claro que é. — Selene estreitou os olhos. — Você não pode mais usar o depósito do seu pai para pegar esses remédios sem indicação.

Lucy desviou o olhar para o chão, continuando a andar. O peso da conversa tornando cada passo mais difícil.

— Selene... não é só depressão após meu pai falecer. É algo mais.

— O que você quer dizer?

Lucy mordeu o lábio inferior antes de dizer, quase num sussurro:

— Eu sou bipolar. Só posso ser.

O silêncio entre elas se prolongou. O barulho de um cachorro latindo ao longe se misturava ao leve farfalhar das árvores com o vento.

Selene desceu sua mão para a mão de Lucy. Ela parou instintivamente, não podendo fugir do olhar preocupado da amiga.

— Amiga... me explica isso direito. — Selene murmurou.

Lucy hesitou, como se as palavras queimassem em sua garganta.

— Às vezes amo James... às vezes não sinto nada. — A confissão saiu tremida, e ela apertou os punhos. — E... desde que conheci Alaric, sinto que estou dividida. Eu sei que não deveria. Sei que ele é um homem ruim, mas...

Sua voz falhou. Uma onda de angústia subiu pelo peito, fazendo seus olhos arderem.

Selene apertou sua mão.

— Calma, Lucy, você está muito agitada.

Lucy respirou fundo, tentando recuperar o controle.

— Acho que é normal se sentir assim antes de se casar. — Selene disse suavemente. — Eu passei por algo parecido com Thomas. Mas, no final das contas, você sabe qual homem estará com você até o fim. — as duas balançam a cabeça em afirmação. — Só desejo sua felicidade. Se decidir que não é isso que quer... eu estarei aqui para te acolher, amiga.

Lucy sorriu tristemente e a puxou para um abraço. Mas, no instante em que se aproximaram, um ruído atrás delas a fez congelar. Passos.

Ela se afastou bruscamente e virou-se para trás. Seus olhos varreram a rua escura.

Nada.

Um arrepio percorreu sua espinha.

— Vamos tentar ser rápidas. — murmurou, sentindo um nó se formar no estômago. — Não acho que seja seguro estar fora de casa a essa hora da noite.

Selene assentiu, e as duas retomaram a caminhada, agora um pouco mais apressadas, com os sentidos alertas ao que quer que estivesse à espreita no silêncio da noite.

— Obrigada. — Selene pegou a caixa de cigarros das mãos do atendente e guardou-a no bolso do casaco.

Ao sair do posto, Lucy esperava do lado de fora, sentindo um arrepio estranho percorrer sua espinha. A sensação de estar sendo observada era comum em meses, mas dessa vez, era visível que algo estava fora do normal. Um pressentimento ruim cravou-se nela, incapaz de deixá-la ir.

As ruas estavam desertas, cobertas por uma névoa fina que se arrastava rente ao chão. Elas tomaram o mesmo caminho da ida, os passos ecoando no silêncio da madrugada. O vento fazia as folhas secas roçarem pelo asfalto, e, ao longe, morcegos se agitaram em um dos becos.

O cenho de Lucy franziu. Nunca vira morcegos em Londres antes — pelo menos, não ali.

Então, ouviu passos.

Não os delas.

Um arrepio subiu por sua nuca, e sua mão agarrou instintivamente o antebraço de Selene. Ela, por sua vez, acelerou o passo, como se também escutasse algo.

Mas, os passos atrás delas também aumentaram o ritmo.

O ataque veio sem aviso.

O brilho da lâmina cintilou na penumbra antes de perfurar sua pele.

O impacto a fez tropeçar para frente, a dor queimando como fogo em suas entranhas. Seu corpo dobrou ao meio enquanto um gemido engasgado escapava de seus lábios. Tentou reagir, mas antes que pudesse sequer gritar, o homem já avançava sobre Selene com a mesma faca.

Selene reagiu.

Um tiro ecoou na noite.

Lucy ouviu o som seco da arma caindo no chão, mas sua visão ficou embaçada pelo sangue quente que manchava suas roupas. Apertou a ferida, o peito arfando, e olhou para o lado. Selene estava no chão, o agressor sobre ela, a lâmina erguida para o golpe fatal.

— Selene... — tentou gritar, mas sua voz saiu fraca, quase um sussurro.

A arma.

Estava próxima.

Com esforço, Lucy se arrastou até ela. Seu corpo tremia, a dor latejando a cada movimento, mas ela engatilhou o revólver com mãos trêmulas e mirou no agressor.

Atirou.

O homem caiu com um baque surdo.

A respiração de Lucy estava acelerada, seus pulmões queimando, mas ela reuniu forças para se erguer e se aproximar do corpo caído. Seus olhos procuraram Selene, ainda imóvel no chão. Um alívio fugaz a preencheu, mas durou pouco.

O homem se moveu.

Num instante, agarrou o braço de Lucy e a puxou para baixo. Com agilidade, ele a prendeu debaixo de si.

Ela se debateu, tentando se libertar, mas a força dele era brutal. A faca brilhou novamente, ameaçadora, e ele se inclinou para perto, um sorriso cruel se formando sob o capuz.

— Você estragou a minha noite. Ainda vou me divertir antes de te matar. — murmurou, raivoso.

O homem pressionou a lâmina contra o pescoço de Lucy, enquanto sua outra mão, puxava para soltar o cinto. Ela sentiu o bafo quente do assassino, mas o medo deu lugar à adrenalina. Com o que restava de sua energia, ela ergueu o joelho e o atingiu com força entre as pernas.

O homem rosnou de dor, dobrando-se sobre si mesmo.

Lucy viu a faca dele cair no chão. Agarrou-a antes que ele pudesse reagir e, num movimento instintivo, cravou a lâmina em seu peito.

O grito dele morreu antes de se formar.

Ela puxou a faca de volta para si, ainda trêmula.

Como reflexo de sua insegurança, o estaqueou novamente.

E esfaqueou de novo.

E de novo.

E de novo.

A raiva tomou conta dela como uma febre. Suas lágrimas de ódio caíam sob as bochechas, o sangue respingava em sua pele, quente e pegajoso, e tudo o que sentia era fúria — fúria pelo medo, pela dor, pelo horror de ver Selene caída sem reação. Por saber que naquele momento, ela já estava morta.

Ela não contou quantas vezes o golpeou. Apenas parou quando seus braços fraquejaram, e uma dor intensa socou seu estômago.

Foi então que sentiu outro olhar sobre si.

Ele estava ali, observando-a da escuridão. Não parecia surpreso, nem horrorizado. Seu olhar era intenso, analítico, e um tanto... apreciativo.

O coração de Lucy martelava em seu peito, mas agora a dor era insuportável. Um novo choque percorreu seu corpo, e tudo escureceu.

Ela caiu, mas antes que seu corpo tocasse o chão, braços fortes a seguraram.

— Lucy... — A voz de Alaric era baixa e suave, mas carregada de urgência. — Acorde!

Ela tentou se mover, mas seu corpo estava pesado. Cada batida de seu coração fazia a ferida pulsar, espalhando a sensação quente e pegajosa do sangue empapando suas roupas.

Algo úmido tocou seus lábios.

O gosto era inesperado.

Não era ferroso, ou metálico. Não como o sangue que ela já sentira antes.

Era... suave.

Seus olhos se abriram devagar, e então ela viu.

O pulso de Alaric sobre sua boca.

Ela gemeu, tentando se afastar, mas ele segurou seu rosto com firmeza.

— Beba, Lucy. — Sua voz era quase um sussurro. — Você irá se curar.

Ela estremeceu, mas não se afastou. Não conseguia.

Algo dentro dela a impedia de recusar.

E então, contra tudo que fazia sentido, contra toda lógica, ela bebeu.

Quando sentiu os pulsos dele se afastarem, Lucy soltou um suspiro fraco e rendeu-se à inconsciência.

Alaric observou-a por um instante, seu olhar calculista avaliando cada mínima reação. O ferimento começaria a se fechar em breve, e ele sabia que ela ficaria bem. Com um movimento suave, ajustou o corpo inerte em seus braços, preparando-se para levá-la para um local seguro.

Antes de partir, desviou os olhos para o corpo de Selene. Nenhuma batida cardíaca, nenhuma vida. Ainda assim, sentiu um luto discreto por ela. Havia lutado bravamente, pensou.

Lucy não deveria vê-la assim.

Ele se virou, carregando-a com facilidade pelas ruas desertas até sua casa em Rosebank. No fim, ela descobriria da pior forma que seus planos de afastá-lo daquela propriedade haviam sido inúteis. Ele sempre soubera onde ela morava. Não apenas soubera — ele havia planejado isso. O homem da imobiliária não passava de um fantoche sob seu controle, e nunca houve uma única propriedade que ele não tivesse visto primeiro. O contrato daquela casa estava em suas mãos antes mesmo de Lucy cruzar a porta pela primeira vez, e seu nome, também estava no contrato original.

Ao entrar no quarto dela, notou as caixas empilhadas pelo caminho. Ainda não tivera tempo de desfazer tudo.

Colocou-a sobre a cama, observando o leve subir e descer de seu peito, seus batimentos cardíacos frágeis, mas constantes. O ferimento precisava ser limpo antes que o sangue seco manchasse sua pele.

Movendo-se com a precisão de alguém que já fizera aquilo inúmeras vezes, Alaric procurou entre as gavetas até encontrar roupas limpas. Voltou para junto dela e, com cuidado, começou a despi-la. Seus dedos deslizaram pelos botões da frente do vestido, desabotoando-os um por um.

Não havia espartilho rígido, nem múltiplas camadas de tecido que normalmente impediriam um homem de tocá-la. Ela usava roupas mais simples do que o esperado para alguém de sua classe. E isso fez algo dentro dele se retesar.

O vestido deslizou por seus ombros quando ele o puxou para baixo, revelando sua pele quente sob a luz fraca do quarto. Seus olhos captaram os detalhes das peças íntimas rendadas —simples, mas provocativas. O sutiã delineava os seios médios, firmes, e a visão fez algo nele pulsar.

Seu punho fechou.

Um reflexo involuntário para conter os próprios instintos. O cheiro do sangue dela ainda estava forte no ar, e o desejo que sentia não era apenas pela fome.

Manteve a respiração controlada, focado no que deveria fazer. Molhou uma toalha com a água quente do banheiro e limpou o ferimento com toques precisos, cuidadosos, enquanto Lucy permanecia imóvel, mergulhada no torpor da exaustão.

Quando terminou, pegou a camisola branca que sabia que ela usava todas as noites e a vestiu com a mesma delicadeza. Mas, conforme os minutos passavam, seu corpo começou a dar sinais de despertar.

Ela se mexeu levemente, franzindo a testa em desconforto.

Não era seguro deixá-la acordar assim.

Alaric sentou-se ao lado da cama, observando-a enquanto seus olhos tentavam se abrir. E então, antes que sua mente se recuperasse completamente, ele sabia o que deveria fazer.

Iria ter que hipnotizá-la, para moldar a situação de um jeito mais viável.



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