2.2 - Desamparo
3500 palavras
Na mesma tarde, Lucy retornou à imobiliária. O mesmo senhor de antes estava lá, sentado atrás do balcão de madeira escura, reorganizando alguns papéis. Ao entrar, ela quase se esqueceu de cumprimentá-lo, a ansiedade deixando seus gestos apressados e sua respiração um pouco instável.
— Boa tarde — disse, finalmente, endireitando-se diante dele.
O homem levantou os olhos e a encarou com curiosidade.
— Boa tarde, senhorita Whitmore. — disse, surpreso em vê-la novamente. — Em que posso ajudá-la?
Lucy umedeceu os lábios e inclinou-se ligeiramente para a frente, abaixando um pouco o tom de voz.
— Senhor, perdoe minha impaciência, mas preciso de sua discrição — começou, sentindo a própria inquietação transparecer. — O senhor Alaric Dracul... ele voltou aqui? Procurou por outra propriedade? Já comprou algum terreno? Quais lugares ele não chegou a ver?
O homem franziu as sobrancelhas, surpreso com a enxurrada de perguntas.
— Bem, senhorita, não costumo revelar informações sobre meus clientes, mas... algo nesse cavalheiro a preocupa?
Lucy hesitou por um instante, depois respirou fundo.
— Para ser sincera, sim. Prefiro evitar qualquer propriedade que ele tenha visitado. Quero algo nos arredores de Londres que ele não tenha considerado. Isso é possível?
O senhor da imobiliária cruzou as mãos sobre o balcão, pensativo.
— Sinto dizer que ele viu todas as propriedades disponíveis... — começou ele, mas então fez uma pausa, como se algo lhe ocorresse. — Mas... talvez eu encontre algo.
Os olhos de Lucy brilharam com uma esperança repentina.
— Por favor. Meu casamento será em cinco dias, e preciso decidir um local. Meu noivo já está ficando impaciente.
O homem assentiu devagar, ainda observando-a com um olhar avaliador.
— Entendo. Dê-me até amanhã, senhorita. Se houver uma possibilidade, eu a informarei.
Lucy soltou um suspiro aliviado e lhe ofereceu um breve sorriso.
— Muito obrigada.
Ela virou-se e saiu apressada, sem notar que ao longe, um homem continuava a observá-la, um brilho enigmático nos olhos.
Lucy atravessou a rua e encontrou seu motorista preferido, o senhor Stuart. Um homem de idade avançada, oferecia serviços de carruagem àqueles que não podiam pagar muito.
Subindo à bordo, pediu para que Stuart fosse até a casa de Selene. O homem já conhecia a rota de sua mansão, e a via regularmente pelos bairros nobres.
Chegando na mansão, Lucy observou o local pelo vidro, sentindo um arrepio sutil ao encarar a grande construção de colunas brancas, o chafariz esculpido ao centro da entrada refletindo a luz suave do dia.
Stuart a observou descer, inclinando-se levemente em um cumprimento discreto.
— A senhorita tem certeza de que deseja ir sozinha? — perguntou ele em tom baixo, sempre atento.
Lucy assentiu, tentando não demonstrar sua inquietação.
— Sim, não demorarei. Apenas preciso falar com Selene.
O homem hesitou por um instante, depois comentou casualmente:
— É estranho sabe... não a vejo desde ontem. Sempre a vejo passar pela cidade, mas hoje, nada.
Lucy engoliu em seco, mas disfarçou sua preocupação.
— Talvez esteja apenas ocupada — murmurou antes de se virar e subir os degraus da entrada.
Com um último olhar ao redor, tocou a campainha. O som ecoou pela grande mansão, e por um breve momento, o silêncio se instalou.
Então, passos se aproximaram do outro lado da porta, seguidos pelo clique da fechadura. A porta se abriu, revelando Thomas, o marido de Selene. Ele parecia relaxado, vestido com um traje normal, como se tivesse acabado de se levantar.
— Lucy? Que surpresa.
Ela forçou um sorriso, tentando manter a voz neutra.
— Bom dia, Thomas. Vim ver Selene. Ela está em casa?
Thomas piscou, parecendo ligeiramente confuso com a pergunta.
— Selene? Ah... creio que ela tenha saído cedo. — Ele coçou a barba distraidamente. — Disse algo sobre visitar uma amiga... ou talvez tenha ido até a costureira, já que estava preocupada com um vestido novo.
Lucy sentiu o estômago revirar, mas manteve a expressão composta.
— Entendo... Eu apenas queria vê-la.
— Imagino que logo estará de volta. Quer entrar e esperar?
Ela hesitou.
— Não, não quero incomodar. Se puder avisá-la que estive aqui...
Thomas sorriu de forma despreocupada.
— Claro, direi a ela assim que voltar. Você sabe como Selene é... sempre cheia de planos e distraída com a cidade.
Lucy assentiu lentamente, sentindo uma leve inquietação tomar conta de si. Algo parecia errado.
— Certo. Obrigada, Thomas.
Ela deu um passo para trás, se preparando para ir embora, mas antes de se afastar completamente, observou por cima do ombro dele. A casa estava silenciosa, quase demais.
Thomas se despediu com um breve aceno antes de fechar a porta, e Lucy voltou para a carruagem, onde seu motorista ainda a esperava.
Assim que entrou, ele olhou pelo retrovisor e comentou:
— Ela está em casa?
Lucy sacudiu a cabeça, inspirou fundo, olhando para a grande mansão, como se esperando que Selene saísse a qualquer momento.
— Não... e ninguém sabe onde ela foi.
O motorista franziu a testa, ajustando as rédeas.
— Estranho. Ela nunca sai sem avisar.
Lucy cruzou os braços, sentindo um calafrio inesperado.
— Pois é... muito estranho.
A carruagem partiu lentamente, mas a inquietação permaneceu com ela.
O motorista, sempre atento, olhou-a pelo retrovisor, esperando suas instruções.
— Para onde agora, senhorita?
Lucy hesitou por um instante, então decidiu:
— Leve-me até a casa de Anabelle. Talvez ela tenha notícias de Selene.
O homem assentiu, ajustando as rédeas, e a carruagem partiu, o barulho das rodas ecoando pelas ruas de paralelepípedos. Lucy tamborilava os dedos no assento, perdida em pensamentos. Ainda sentia um aperto no peito, uma sensação incômoda de que algo não estava certo.
No entanto, quando a carruagem virou a esquina de uma das ruas mais sofisticadas da cidade, algo chamou sua atenção pela janela.
Ela arregalou os olhos.
Selene e Anabelle.
As duas saíam de um brunch requintado, rindo e conversando como se nada tivesse acontecido. Selene vestia um elegante traje de passeio e segurava uma luva delicada entre os dedos. Anabelle ajeitava o chapéu enquanto falava animadamente.
Lucy bateu na lateral da carruagem com urgência.
— Pare!
O motorista puxou as rédeas rapidamente, e os cavalos relincharam, obrigando os veículos atrás a frearem abruptamente. Antes mesmo que a carruagem parasse por completo, Lucy abriu a porta e saltou para a rua, disparando em direção às duas amigas.
Ela atravessou a estrada sem hesitar, desviando por pouco de uma carruagem que freou em cima dela, o cocheiro gritando indignado. Outros transeuntes pararam, surpresos com a cena incomum.
Quando finalmente chegou até elas, ofegante, Selene já estava parada, a expressão espantada.
— Lucy? Meu Deus, o que foi que aconteceu?
Lucy mal a deixou terminar antes de envolvê-la em um abraço apertado.
— Amiga! — exclamou, ignorando os olhares curiosos ao redor. — Como você chegou em casa ontem? Eu fiquei tão preocupada!
Selene piscou, confusa, mas então riu, ajeitando os cabelos após o abraço repentino.
— Oh, não se preocupe! Um amigo de Alaric me trouxe. Ele foi muito cavalheiro, mas tive que deixar claro que sou casada. — ela riu.
Lucy afastou-se ligeiramente, franzindo a testa.
— Um amigo de Alaric?
— Sim, um cavalheiro chamado Edgar White... Wright? — colocou o indicador no queixo. — Não me lembro. — deu de ombros. — Ele insistiu em garantir que eu chegasse bem em casa.
Anabelle, que observava a conversa, riu ao perceber o tom desconfiado de Lucy.
— Relaxe, Lucy. Ele foi extremamente respeitoso. Eu também teria feito o mesmo se estivesse no lugar dela.
Lucy soltou um suspiro, ainda sentindo uma inquietação persistente, mas decidiu não pressionar Selene ali, no meio da rua.
— Certo... bem, o importante é que está tudo bem.
Selene segurou suas mãos com carinho.
— Está tudo ótimo! Agora venha conosco, estamos indo até a costureira.
Lucy hesitou por um breve instante, então assentiu.
— Você verá seu vestido de madrinha? — Lucy perguntou, parcialmente encantada por ser convidada.
— Com certeza! — disse Anabelle, animada. — Vamos dar nossas opiniões sincera, certo?
As três riram, retomando o caminho, mas Lucy não conseguia afastar a sensação de que havia algo não resolvido naquela história.
Foi então que seus olhos captaram um detalhe inesperado.
O cachecol.
Selene usava um lenço de tecido fino e elegante ao redor do pescoço, um acessório incomum para aquela época do ano. O clima estava quente — afinal, era junho, e Londres não exigia esse tipo de peça no verão. Lucy, por outro lado, tinha uma justificativa — precisava esconder algo. Mas Selene?
Seu coração acelerou. Será possível?
Com um aceno discreto para o motorista, Stuart, ela agradeceu pelo trajeto. Ele sorriu e se despediu com um leve aceno antes de retornar ao seu posto na carruagem, pronto para sua próxima corrida.
Lucy respirou fundo e seguiu Selene e Anabelle pelas ruas da cidade.
Ela não podia perguntar ali, não com Anabelle por perto.
A conversa seguiu de forma casual, com Anabelle comentando sobre as últimas novidades, mas Lucy mal prestava atenção. Seu olhar voltava, vez ou outra, para o cachecol de Selene.
No calor de junho, usá-lo parecia deliberado.
Ao chegarem à costureira, um pequeno sino tilintou na porta quando entraram. O espaço era elegante e bem iluminado, com tecidos luxuosos expostos em prateleiras e manequins meticulosamente costurados.
Anabelle imediatamente se distraiu com uma nova coleção de rendas, afastando-se um pouco.
Era a oportunidade que Lucy precisava.
Ela se inclinou levemente para Selene e, em um tom baixo, perguntou:
— Você também está escondendo algo, não está? Desde aquela noite...
Selene piscou, surpresa.
— O que quer dizer?
Lucy manteve a voz calma, mas firme.
— Seu pescoço.
Os olhos da amiga se arregalaram levemente antes que Selene desviasse o olhar, ajustando o cachecol com os dedos.
— Não sei do que está falando — respondeu com um sorriso forçado.
Lucy franziu os lábios.
— Selene... estamos no verão.
A amiga engoliu seco, mas rapidamente tentou disfarçar.
— Ora, é só um acessório.
Lucy manteve o olhar fixo nela.
— Sei. E que coincidência, não? Eu também estou usando um.
Selene evitou seu olhar, fingindo interesse nos vestidos ao redor.
Antes que Lucy pudesse pressioná-la mais, Anabelle chamou animadamente:
— Meninas, venham ver esse tecido! É perfeito para o vestido de madrinha!
Selene aproveitou a distração e se afastou rapidamente, respondendo em tom casual:
— Ah, sim! O vestido tem que estar impecável para o casamento de Lucy.
Lucy cruzou os braços e suspirou.
— Essa conversa ainda não acabou.
Selene fingiu um sorriso e se juntou a Anabelle, mas Lucy sabia: algo estava acontecendo.
E ela descobriria o que era.
Enquanto Anabelle esperava na área principal da loja, Lucy manteve os olhos fixos na cortina da cabine de provas onde Selene experimentava o vestido de madrinha. O vestido escolhido era de um tom elegante e sofisticado, perfeitamente adequado para a ocasião, e ela estava linda, é claro, mas Lucy não estava nem um pouco interessada nisso no momento.
Aproveitando que ninguém prestava atenção, ela respirou fundo e se aproximou, puxando a cortina com cuidado e adentrou-as para que ninguém as visse.
— Selene, preciso falar com você.
A amiga, que ajustava o corpete do vestido diante do espelho, ergueu as sobrancelhas, surpresa.
— Aqui? Agora?
— Sim. Agora.
Selene suspirou, olhando por cima do ombro para se certificar de que Anabelle não estava prestando atenção. Ela fechou mais a cortina atrás de si, deixando-as a sós no pequeno espaço apertado.
Lucy não perdeu tempo.
— O que aconteceu na festa, Selene? — perguntou em um tom direto.
A amiga piscou algumas vezes, parecendo confusa.
— Eu... não me lembro bem. Foi tudo meio... confuso.
Lucy apertou os lábios e, sem dizer nada, levou as mãos até o próprio cachecol, desamarrando-o devagar. Quando finalmente o puxou para revelar a pele, o silêncio tomou conta da cabine.
As marcas estavam ali.
Selene arregalou os olhos, sua expressão mudando da surpresa para o choque.
— Foi Alaric — Lucy confessou em um sussurro.
A amiga ficou imóvel por alguns segundos antes de levar uma das mãos ao próprio pescoço, hesitante. Então, desviou o olhar e murmurou:
— O meu foi... o amigo dele.
Lucy ficou ainda mais surpresa.
— O quê?
Selene hesitou, mas então desamarrou lentamente seu próprio cachecol, revelando as mesmas marcas que Lucy possuía.
Lucy sentiu o estômago revirar.
— Selene... você precisa tomar cuidado. Nenhum dos dois é confiável.
A amiga soltou um riso baixo e irônico.
— Engraçado você dizer isso.
Lucy franziu a testa.
— Como assim?
Selene cruzou os braços, seus olhos analisando Lucy com uma expressão de ceticismo.
— Se ele é tão perigoso, por que foi ele quem te levou para casa?
O coração de Lucy disparou.
— O quê?
— Eu vi, Lucy. Eu vi ele te carregando no colo — disse Selene, a voz baixa e afiada. — Você estava desacordada, e ele parecia... cuidadoso, mas ainda assim... você confiou nele para te levar para casa.
Lucy ficou completamente imóvel, as palavras da amiga ecoando em sua mente. Ela pensou que ninguém tinha visto.
— Eu... eu estava bêbada. Bebi demais — tentou justificar, mas sua voz saiu hesitante.
Selene bufou e cruzou os braços.
— Ah, claro. Então quando é com você, é só um erro. Mas quando acontece comigo, eu devo "tomar cuidado"?
Lucy sentiu um aperto no peito.
— Não é isso...
— Ah, não? Então o que é? — Selene a encarou, os olhos estreitados. — Não se faça de santa, Lucy. Você vai esconder isso de James?
Lucy abriu a boca, mas nenhuma resposta veio.
Selene soltou um suspiro exasperado e voltou a amarrar o cachecol ao redor do pescoço.
— Pois é o que eu pensei.
O silêncio na cabine ficou pesado.
Do lado de fora, Anabelle chamou:
— Selene? Você já terminou de se trocar?
A amiga lançou um último olhar para Lucy antes de responder:
— Sim, já estou saindo.
Lucy deu um passo para trás, sentindo o peso daquela conversa enquanto Selene puxava a cortina e saía da cabine.
Ela estava acostumada a ser quem dava os conselhos, quem alertava sobre o perigo. Mas pela primeira vez, sentiu que talvez estivesse presa no mesmo jogo que Selene.
E a pior parte?
Ela não tinha certeza se queria sair dele.
Lucy sentiu o peito apertar, um nó se formando em sua garganta. Não esperava que Selene a atacasse daquela forma, e muito menos que tivesse visto o que aconteceu naquela noite. Sua intenção nunca foi parecer hipócrita, mas... será que era exatamente isso que estava sendo?
O olhar de Selene foi o suficiente para fazê-la entender que, naquele momento, qualquer tentativa de argumentar seria inútil.
Então, simplesmente desistiu.
Seu coração pesava como chumbo enquanto ela abaixava levemente a cabeça e, sem olhar para Selene ou Anabelle, deu meia-volta e saiu da costureira.
O ambiente ficou carregado, denso, como se o ar tivesse ficado pesado com sua partida. Anabelle olhou de um lado para o outro, confusa com a saída abrupta.
— Lucy? Onde você vai?
Lucy ignorou a pergunta e seguiu porta afora.
Pelo reflexo do espelho, Selene a observou de canto de olho. Por um breve instante, sua expressão vacilou, mas ela não disse nada.
O sino da loja tilintou atrás de Lucy, e então o silêncio se instalou.
O caminho de volta para casa duraria meia hora.
Meia hora de passos lentos, com a mente mergulhada em um turbilhão de pensamentos.
A cidade seguia seu ritmo normal — carruagens passando, pessoas conversando e vendedores oferecendo seus produtos. Mas Lucy não ouvia nada. Tudo parecia distante, abafado, como se estivesse separada do mundo por um vidro invisível.
Seus próprios pensamentos a esmagavam.
O que eu estou fazendo? Como as coisas chegaram a esse ponto?
Ela não queria pensar em Alaric.
Não queria.
Mas a lembrança dele parecia grudada em sua mente, como um perfume persistente que se recusa a desaparecer.
Seu toque frio.
A forma como ele olhou para ela naquela noite.
O modo como sua voz carregava uma promessa de algo que ela não compreendia completamente, mas que, de alguma forma, a assombrava.
E, de fato, ele não havia mentido sobre seu amigo levar Selene para casa. Mas isso não significava que ela podia confiar nele. Não poderia.
Um soluço engasgou em sua garganta.
Ela sentiu o peso das lágrimas antes mesmo de perceber que estava chorando.
As primeiras deslizaram silenciosas por suas bochechas, e ela rapidamente as limpou, sem sucesso. O vento quente de junho tocava sua pele, mas dentro dela, tudo parecia frio.
Ela queria voltar para casa. Queria estar sozinha.
Quando finalmente chegou, abriu a porta com um gesto automático e entrou no silêncio reconfortante do lar. Inspirou fundo, tentando se recompor, mas foi então que algo chamou sua atenção.
Sobre a mesa do hall de entrada, uma correspondência esperava por ela.
Lucy piscou, confusa, e se aproximou. Ao abrir, reconheceu a caligrafia meticulosa do homem da imobiliária.
"Encontrei uma propriedade que está livre do conhecimento do senhor Alaric Dracul. Caso ainda esteja interessada, posso lhe mostrar o local. Estarei em meu escritório até o final do expediente."
Ela prendeu a respiração.
Lucy segurou a carta com força, os olhos correndo pelas palavras como se pudessem mudar a realidade que agora se desenhava diante dela.
Estava tarde.
O ponteiro marcava 18h30 da tarde.
O coração de Lucy deu um salto. A maioria dos estabelecimentos fechava às 19h.
Ela só tinha meia hora.
Seu peito apertou com a urgência da situação. Se perdesse essa chance, não sabia quando teria outra.
Sem pensar duas vezes, pegou sua bolsa e saiu às pressas, quase derrubando o porta-guarda-chuva ao abrir a porta com pressa. A rua estava menos movimentada agora, mas ainda assim, atravessar a cidade naquele tempo seria um desafio.
Ela correu.
Seus pés batiam firmes no chão áspero enquanto ela desviava de pessoas, carruagens e vendedores que já começavam a recolher suas barracas. O vento quente de junho bagunçava seus cabelos, e o vestido que usava dificultava sua corrida.
Cada segundo contava.
As lojas começavam a fechar, os sinos tilintando enquanto comerciantes encerravam o expediente. O escritório da imobiliária não ficava muito longe, mas no ritmo frenético do fim do dia, o trânsito de carruagens e pedestres era um obstáculo constante.
Ela se obrigou a correr mais rápido.
Seu coração martelava dentro do peito, e a ansiedade crescia a cada passo.
Quando finalmente avistou a imobiliária à distância, sentiu uma onda de alívio. Mas então, percebeu que o atendente já estava trancando a porta, apagando as luzes do interior.
Lucy apertou o passo, usando suas últimas forças para alcançar o local a tempo.
— Espere! — gritou, sua voz cortando o burburinho ao redor.
O homem parou com a chave na fechadura e ergueu o olhar, surpreso.
Ofegante, Lucy chegou até ele e apoiou as mãos nos joelhos por um momento antes de se recompor.
— Senhor... eu... recebi sua carta. Estou aqui.
O homem avaliou-a por um instante antes de abrir um pequeno sorriso satisfeito.
— Justo a tempo, senhorita.
Ele girou a chave na fechadura e empurrou a porta novamente.
— Entre. Temos algo a discutir.
O homem fechou a porta atrás de Lucy, e o silêncio do escritório a envolveu. Um lustre baixo iluminava o ambiente com uma luz amarelada, criando um contraste com a pressa com que Lucy havia chegado ali.
O corretor caminhou até sua mesa e começou a organizar alguns papéis, folheando registros e verificando algumas anotações.
— Então... deixe-me ver... deseja ver a propriedade antes? — perguntou ele, lançando-lhe um olhar curioso.
Lucy balançou a cabeça, sua respiração ainda um pouco acelerada.
— Não. Quero assinar os papéis agora.
O homem ergueu as sobrancelhas, claramente surpreso.
— Agora?
— Sim. — Ela se endireitou, tentando parecer mais firme do que se sentia. — Se essa propriedade realmente está fora do conhecimento do senhor Alaric Dracul, eu a quero imediatamente.
O corretor hesitou por um instante, analisando-a, como se tentasse entender sua pressa. Mas então, sem mais perguntas, ele puxou uma pasta de couro, retirando alguns documentos já preparados.
— Muito bem... Se está decidida.
Ele abriu a pasta sobre a mesa, espalhando os papéis cuidadosamente antes de pegar um pequeno tinteiro e uma pena, mergulhando a ponta na tinta.
— Aqui está o contrato. Basta assinar nesta linha — disse, girando o documento para ela.
Lucy pegou a pena com dedos trêmulos.
Assinar significava mais do que apenas ter um novo lugar.
Significava tomar uma decisão definitiva.
Significava escapar.
Respirou fundo e traçou sua assinatura no papel, o som suave da pena riscando a folha preenchendo o escritório.
Quando terminou, o corretor pegou o documento, soprou levemente a tinta para secá-la e analisou a assinatura antes de assentir satisfeito.
— Muito bem, senhorita. A propriedade agora é sua.
Lucy soltou um suspiro, alívio e apreensão tomando conta de si.
— Ótimo. Quando posso me mudar?
O homem empilhou os papéis, guardando-os com cuidado.
— A casa já está vazia e pode ser ocupada imediatamente. Amanhã de manhã, posso providenciar as chaves.
Ela assentiu, sentindo um peso sair de seus ombros.
— Perfeito.
O corretor a observou por um instante, como se estivesse prestes a dizer algo, mas então apenas lhe entregou uma cópia do contrato.
— Espero que encontre paz neste novo lar, senhorita.
Lucy pegou o papel e assentiu, saindo da imobiliária, sem perceber a maneira como o homem a observava.
Mas parte dela sabia... não seria tão simples assim.
Estão gostando da história? As coisas podem ficar feias à partir daqui...
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