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Abro meus olhos de vagar, tentando me acostumar com a claridade. Após alguns minutos depois que minha alma voltou para meu corpo, e conseguir colocar todos meus pensamentos em ordem.

Olho ao meu redor e vejo uma pilha de coisas encima da mesinha ao lado da cama, um tanto de tipos de absorventes, e um pote de creme de avelã. Havia tantos tipos de absorvente ali, que alguns nem eu sabia que existia. Pego aquele que se adapta melhor para mim, com abas.

Vou para o banheiro e tomo um banho, me sinto refrescada após tomar um banho quente. Me troco, penteei meu cabelo e saio do banheiro.

Após mais de um dia de uma dor insuportável, que me fez pensar se teria como arrancar o meu útero fora sem morrer. Além de uma crise de choro gigantesca, com mil motivos em minha cabeça, acabando totalmente comigo. Consegui ter uma noite de sono sem dor, após Riki aparecer com uma sopa, remédios e chá.

Graças a essas coisas agora estou bem melhor, ainda estou com um pouco de cólica, mas comparada com ontem é irrelevante.

Estava andando até a cozinha, mas paro assim que vejo o garoto em um sono profundo no sofá. Dava para perceber que estava em um ótimo sono, o que provava isso era sua boca aberta, seu corpo completamente esticado por todo o sofá e em uma posição bem estranha. Mas uma coisa que noto de diferente, foi que uma de suas mãos estava segurando o colar que está em seu pescoço.

Deixo ele ali dormindo, vou até a cozinha, encontro lá os remédios para cólica, tomo um junto de água. Procuro algo para comer, acabo pegando um pacote de bolachinhas. Volto para a sala, levanto a perna do garoto, me sento no sofá deixando suas pernas por cima de mim.

Vejo ele então se mexer, quando olho para ele, ele me encarava com os olhos quase fechados, e o rosto um pouco inchado.

-Ta tudo bem? Melhorou? - Ele pergunta enquanto coçava seus olhos

-Sim, tô melhor agora - Faço cosquinha em um de seus pés, ele tira seus pés de cima de mim e se senta cruzando suas pernas - Você saiu para aonde?

-Fui atrás de remédios para você, mas foi um pouco complicado de conseguir, por isso demorei. Sentiu muita dor enquanto estive fora?

-Pensei que havia ido embora - Digo olhando para o outro lado da sala, evitando olhar para o garoto

-O que? Por que?

-Eu mandei você sumir, desaparecer, quando vi que você não estava em casa, pensei que realmente tinha ido embora

-Acha que vou te abandonar? - Não o respondo - Jiwoo... Por que você acha isso? - Ele pergunta e não queria responder, mas sua mão toca a minha o que faz eu olhar para ele

-Pessoas como eu não duram muito, pois as pessoas não suportam...

-O que? - Ele me olhava surpreso - Jiwoo, você realmente escutou o que aquela homem falou? Cadê a garota que não está nem ai para o que as pessoas falam? Cadê a Jiwoo de sempre?

-Eu não tô falando apenas do que ele disse, mas aquilo apenas me fez lembrar das coisas, e eu percebi que é verdade. Acho que em algum momento eu me perdi, e esqueci quem eu sou  e acabei pensando que realmente as coisas dariam certo nesses sentido. Mas não importa o que aconteça eu sempre vou ficar sozinha, os únicos que nunca me deixaram não estão mais aqui comigo. Pensei que aquele foi o momento que você foi embora, e que eu ficaria sozinha de novo. Não deve ser nada fácil ter que conviver comigo, eu sei disso... - Abaixo minha cabeça para que ele não pudesse ver as lágrimas que se acumulavam em meus olhos

-Hey, não pensa isso, e isso não é verdade!  - Sinto ele segurar mais a minha mão - Você pode ter ficado sozinha por um tempo, pessoas podem ter ido embora. Mas isso não quer dizer que se repetirá, e que você seja o grande problema disso. Algumas pessoas são sim mais difíceis de se conviver, por conta das personalidades diferentes, mas de qualquer forma não a ache que ficará sempre sozinha, e não pense mais que irei embora, eu não vou! Eu sei que te deixei naquele dia, mas eu não vou fazer mais isso, eu não vou te deixar, e seus caso algo acontecer eu sempre vou voltar!

Eu nunca tive alguém que teve questão de ficar, eu nunca tive alguém que me disse essas palavras, ou algo parecido. O que eu cheguei mais perto de ter um amigo foi Hee-soo, ainda sinto muita falta dele. Mas ele parecia mais um irmão mais velho para mim, e cuidava muito de mim, mas até aquele momento foi o mais próximo que eu tive de um amigo.

Mas agora eu consigo dizer que eu tenho um amigo, o garoto que mesmo me irritando muito, e sempre arrumando alguma maneira de me pertubar se tornou alguém importante para mim. Pude perceber isso ontem, após sair do quarto e ver que a casa estava vazia, sua mochila não estava mais aqui, nem o mapa. Cheguei a conclusão que havia enfim se cansado de mim, e me deixado aqui, afinal não estaria disposta para poder ir atrás dele ou poderia ter pensando que eu morreria logo por isso me deixou aqui. Entrei em pânico sentindo que estava sozinha novamente, e sentindo que esse era o meu destino de nunca ter alguém ao meu lado, ainda mais após ter muitas perdas de amizades.

A dor de me sentir novamente sozinha foi algo que conseguiu doer ainda mais que a cólica, e que foi o motivo do meu choro descontrolado durante horas. Até que pude ver ele aparecendo novamente no quarto junto de coisas para me ajudar. E perceber que ele estava me ajudando, que ele foi atrás de coisas para tirar a minha dor, mas apartir do momento em que o vi em minha frente uma ferida que estava dentro de mim estava melhorando, e uma dor que não era visível mas que apenas eu sentia sumiu. Nishimura Riki estava do meu lado naquele momento, se fosse outra pessoas teria me deixado sozinha morrendo de dor, ou gritaria comigo por conta de meu mau-humor.

Mas ele não fez isso. Agora consigo admitir algo que meu orgulho não me permitia a um tempo. Eu considero Niki um amigo, com todo esse tempo ao seu lado ele conseguiu tirar uma risada e um sorriso do meu rosto, até mesmo nos piores momentos, e fez coisas que ninguém nunca fez por mim, e acho que estou pronta para deixar alguém entrar no meu coração novamente.

Nishimura Riki é meu amigo, eu o considero um super amigo e espero poder retribuir tudo isso para ele um dia, pois ele tem me mostrado como é ter um amigo, alguém ao meu lado.

-Obrigado, Niki - Digo olhando para ele. Vejo um sorriso se abrir em seus lábios, um sorriso lindo e sincero

Estarmos em uma fazenda é incrível, além de que tem bastante comida aqui, tem algumas frutas. Plantações já não estão mais totalmente boas, por falta de cuidados, mas tem algumas árvores com frutas muito boas.

-Hey, fecha os olhos e abre a boca - Digo escondendo um limão atrás de minhas costas

-Vai me envenenar não né? - Ele pergunta desconfiado

-Para de graça, faz logo o que eu disse - Ele fecha os olhos e abre a boca, levo o limão até a sua boca e o aberto, fazendo o líquido azedo ir até sua boca. Ele abre os olhos fazendo uma careta, me fazendo rir

Pego outros limões na árvore, para poder fazer suco, depois de pagar estou levando para dentro de casa quando vejo Niki parado em frente ao túmulo da família que morava aqui.

Deixo os limões na cozinha e volto para fora, paro ao lado do garoto e vejo que ele segurava um ursinho.

-Eu encontrei o Chae

-O que? O homem que ele falou no vídeo?

-Sim, ele estava na loja dele, mas não era mais uma pessoa. Esse ursinho estava ao lado dele - Ele diz mostrando o ursinho com uma cartinha, desejando feliz aniversário. Ele coloca o ursinho sobre o túmulo da garotinha - Você acha que é culpa dele?

-De quem?

-Do homem do vídeo, você acha que é culpa dele que a família dele morreu? Você acha que seria possível perdoar uma pessoa por isso? Você acha que uma pessoa que fez isso deve morrer, assim como ele morreu?

-Por que está perguntando isso? - Pergunto e sua expressão era triste - Niki? - Ele sai andando para dentro de casa, vou logo atrás dele tentando entender o que estava acontecendo - É sobre sua família? - Pergunto e ele para no meio da sala. Fico de frente para ele, mas ele evita olhar para mim - Se não quiser falar tudo bem!

-Não... - Ele diz e se senta no sofá, eu me sento ao seu lado - É que... Todos que estão vivos hoje perderam alguém, amigos, família... Todos temos uma história trágica para contar, mas e se a minha história trágica aconteceu por culpa minha, eu devia morrer por isso? - Ele não deixa eu falar, pois continua falando antes que eu pudesse - Eu tive a oportunidade de participar de um grande estúdio de dança lá em Seul, e eu sempre amei dançar, eu cresci dançando e era uma grande oportunidade para mim. Depois de implorar muito para meus pais eles me deixaram vir, mas apenas se eu não deixasse os estudos, eu concordei e me mudei para cá, morava em um colégio interno e todos os dias ia para o estúdio. Fazia mais de um ano que eu estava aqui, mais de um ano que eu não ia para o Japão, e mais de um ano que eu não via minha família - Meus pais decidiram vir meus visitar e eu tava muito feliz com isso, eu contava cada dia desde que eles marcaram a viagem

Ele olhava para seus olhos que evitava os meus, conseguia ver que ele pensava muito antes de falar, talvez lembrando dos momentos que está contando.

-Eles chegaram aqui em uma sexta feira, iriam ficar uma semana aqui para podermos matar a saudade. No dia que eles chegaram eu nunca estive tão feliz, eu sentia muita saudade da dos meus pais, da minha irmã mais velha e da minha irmã mais nova. Nós saímos fomos a um parque de diversão, fiz minhas irmãs experimentar comidas diferentes, a minha irmãzinha tava crescendo muito... - Ele dava um sorrisinho enquanto fala sobre elas - Konon era um ano mais velha que eu, sempre cuidou muito de mim, no meu último aniversário em casa ela e Sola me deram esse colar, disse que mesmo que eu estivesse longe da família eles estariam comigo aqui - Ele olhava para o colar - Sola era dois anos mais nova que eu, e mesmo assim pensava em mim, não sei se era algo de irmã mais nova, mas todos os lugares que ela ia ela sempre queria trazer algo para mim, em festas, se tomasse um sorvete ela comprava para mim. Agora me culpo um pouco por as vezes não ter sido sempre assim com ela, não me dei muito bem com ela assim que ela nasceu, afinal me sentia um pouco de lado pois ela precisava de bastante atenção também. Mas quando percebi que ela me admirava, fiz tudo que pude por ela, ela era a minha bebezinha

-Você devia ser um ótimo irmão para elas - Ele dá um sorrisinho de canto

-Eu fazia o que conseguia, mas agora penso que não foi o suficiente - Seu sorriso havia sumido - Saímos no sábado e no domingo, na segunda foi quando a quarentena obrigatória foi decretada. Estava trancado no colégio, não podia sair e não pude ver meus país, estava preocupado, mas não havia o que fazer. Até que as coidas começaram a mudar na internet, no noticiário dizia que éramos para permanecer em casa, que tudo estava entrando em controle, mas na internet dizia o oposto. Vídeos horríveis, as pessoas falando que alguém próximo pegou a doença entre outras coisas. Eu fiquei com medo, aonde mais estava tendo relatos da doença era no centro da cidade, e minha família estava em um hotel no centro... Eu estava muito preocupado, e eu precisava ouvir a voz da minha mãe, mas hoje em dia eu me arrependo de ter ligado para ela, foi culpa minha...

-Niki, o que seria sua culpa? Você estava preocupado, ta tudo bem! Era sua família

-Não, não esta tudo bem! Eu ouço eles, eu consigo ouvir os gritos, eu sonho com eles, estão me perseguindo sempre, os meus pais, minhas irmãs morreram por minha causa! - Seus olhos me olhava completamente cheios de lágrimas, prestes a escorrer por todo seu rosto - Eu consigo ouvir as últimas palavras da minha mãe, da Sola... - Seguro suas mãos que estavam tremendo enquanto dizia isso - Eu liguei para a minha mãe... Para saber se estavam bem...

-Não precisa dizer se não estiver pronto

-Não, eu preciso! A minha mãe disse pra mim não sair da escola, e que a cidade estava um caos, as pessoas doentes estavam invadindo os prédios, e haviam invadido o hotel. Meu pai havia saído do quarto para ver como estava a situação da segurança, e não havia voltado, estava fora por mais de meia hora. Konon estava passando mau no banheiro, por conta de preocupação. Sola estava preocupada com meu pai, e falou comigo enquanto minha mãe ia ver se Konon estava bem. Mas ai um barulho alto, vinha do Fundo da ligação, gritos e barulho de portas sendo batidas. Minha mãe entrou em desespero, Sola disse que o papai poderia estar voltando, minha mãe disse que podia não ser ele, e que não era para abrir a porta. Mas ai eu chamei a minha mãe, eu ia dizer como estava a segurança da escola como ela tinha perguntado, mas eu não devia ter feito isso... Começaram a bater na porta do quarto, a Sola achou que era o papai...

Nenhuma lágrima do garoto se segurava mais, elas recorriam por seu rosto, e conseguia sentir a dor que o garoto transmitia em seu olhar.

Puxo ele, rodeando meus braços em seu corpo, o dando um abraço. Gostaria de poder pegar todas suas dores se fosse possível para não ver ele assim, mas o mínimo que poderia fazer nesse momento é estar ao seu lado, por mesmo que meu abraço possa ser pouco.

-Eu ouvi... Os gritos desesperados delas, eu ouvi tudo... Os seus pedidos de socorro, é eu não pude fazer nada! Eu não servi para nada! - Sua cabeça estava deitada sobre a curva de meu pescoço, puxo sentir as lágrimas do garoto em contato com minha pele - Era tudo por minha causa! E eu não pude fazer nada! E eu ouvi... Minha mãe... Minha mãe disse pra mim conseguir, pra mim ficar seguro. Ela pensou em mim mesmo que estivesse morrendo por minha causa! Se eles não estivesse vindo me ver! Se eles não estivessem aqui na Coreia, se eu não tivesse fazendo intercâmbio. Isso não teria acontecido! É TUDO CULPA MINHA! - Sinto uma tremenda dor vindo de duas palavras, conseguindo sentir o impacto de como aquilo o afetava, e o machucava, como ele se culpava - Minha família morreu, tudo por culpa minha... Eu deveria morrer também?

O afasto de meu corpo, o deixando de frente para mim, conseguindo ver seu rosto, sua expressão de socorro. Seus olhos pediam socorro, segurava duas mãos que ainda tremiam um pouco.

-Eu devia a Jiwoo? Eu devia morrer? O meu pecado tem perdão?

-Você não tem culpa...

-COMO NÃO? ELES ESTAVAM AQUI POR MINHA CAUSA! SE NÃO ESTIVESSEM AQUI PARA ME VER ESTARIAM NO JAPÃO, VIVOS! LONGE DE TUDO ISSO!!

-NÃO TINHA COMO VOCÊ SABER! ELES ESTAVAM AQUI PORQUE TE AMAVAM! TE AMARAM ATÉ SEU ÚLTIMO SUSPIRO, E EU TENHO CERTEZA QUE NUNCA IRIAM QUERER TE VER ASSIM! Riki, não tinha como você saber, eles te amavam e tiveram os últimos momentos junto de você, eu não conhecia seus pais, nem duas irmãs, mas eu sei que o que eles menos iriam querer é ver você assim, se culpando, e pensando em desistir!

-Isso me persegue, os gritos, o choro, a voz da minha mãe... Eu não sei mais o que fazer! Eu não dei se vou aguentar!

-Você precisa! Por eles! Honre a vida deles! Viva a sua vida, faça aquilo que eles gostariam que você fizesse. Por mesmo que eles não estejam aqui, eles ainda estão aqui! - Digo apontando para seu coração - Eu não sei se meus pais estão vivos, eu penso que sim, mas muitas vezes também pensei em desistir, pensei em me entregar para os mortos, mas a uma esperança de que eles estejam vivos tem dentro de mim, ah uma esperança de que eu possa ter uma vida, e eu possa encontrar um lugar que me dê segurança! E eu não sei aonde está os meus pais, mas eu sei que eles não gostariam de saber que eu desisti, que eu me entreguei a esse mundo. Vença, vença esses mortos, vença você mesmo! Apenas vença! "Tudo pode estar escuro, como uma noite escura e Fria, mas o nascer do sol claro e quente, vem logo em seguida"

-Eu sinto tanta falta deles... - Volto a o abraçar, deixo ele se expressar, ele extravasar tudo aquilo que está dentro dele, tudo aquilo que está guardado dentro de si, um dia explode, e eu não gostaria de ver ele explodir.

Eu nunca fui de me identificar com nenhuma pessoa, nem mesmo de achar uma pessoa com muitas coisas em comum comigo. Mas há uma coisa em mim que eu vejo nele, olhos solitários, ele tem esses olhos solitários, e eu só sei porque eu tenho também...

Olhos solitários, e ele não precisa esconder, coisas que ele dente por dentro, eu sinto também...

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Pá!

Falei que não iria demorar, e para falar a verdade eu postei muito mais rápido do que eu pensei que seria!

O passado do nosso Niki é muito cruel, é cara me sinto destruída, foi cada lágrima que escorreu aqui cara... Mas esperamos que ele possa melhorar, é que esses dois possam se usar como apoio para momentos difíceis.

Inclusive espero que estavam feliz pelo capítulo um atrás do outro, dois dias de capítulo não é fácil! Mas né eu fiz o possível para trazer um capítulo bom. Inclusive vou usar como aviso aqui que estou atira estudando integral, então talvez eu fique um pouco off pela tarde, e no tempo que eu estiver me acostumando com o novo horário.

Outra coisa, eu não sabia realmente a idade da irmã mais nova do Niki, a Sola, então inventei que ela é dois anos mais nova que ele. Já a Konon vi em algum lugar que ela é um ano mais velha que ele.

É isso! Um grande beijo para vocês! Até a próxima