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02 • Nashira

🥀 Harry 🥀

A base secreta de Nedlog na ilha, na verdade, não foi construída por nós, é uma casa abandonada que encontramos nos arredores de Acinonyx e é aqui que estamos. O lugar é bastante grande e apesar da poeira e de uma estrutura duvidosa, é um bom lugar para se esconder. Ao menos por hora.

Além disso, carregar uma mulher ferida e desmaiada em uma moto não é fácil,ainda mais quando meu braço está ferido. Por isso que eu tive que esperar a carona de Fay enquanto eu tive que rasgar minha blusa para pressionar onde eu atirei nela e diminuir o sangramento. Ela também atirou em mim, então tive que fazer o mesmo por mim, no meu braço. Agora, no entanto, estamos todos nessa casa abandonada recebendo cuidados.

A garota recebeu primeiro que eu por motivos óbvios, ela estava — ainda está — desacordada e, após ter sido cuidada por Nikki, agora a minha colega cuida de mim.

A minha amiga do cabelo cacheado tirou a bala na perna da garota, costurou-a, mas a menina nem se mexeu. O teste toxicológico que Nikki fez indicou que a menina tinha altas concentrações de drogas entorpecentes no corpo, Nikki disse que é surpreendente ela ter ficado acordada tanto tempo, mas talvez tenha sido a adrenalina. Além disso, a mulher do cabelo cacheado limpou vários cortes e arranhões pelo corpo da menina, feridas que não foram feitas na floresta.

— Ela vai sobreviver? — Eugene pergunta olhando para a garota deitada na cama. Ela estava usando uma camiseta laranja e uma saia bege, quase do mesmo tom da sua cor marrom pó de cacau. Eu faço careta quando Nikki passa álcool no meu braço.

— Hey — resmungo olhando para Nikkie, que me ignora e coloca uma gaze em cima do meu braço machucado. Depois começa a enfaixá-lo.

— Ela vai sobreviver, Nolan. — Nikki fala e olha para a garota. — Ela disse algo?

— Ela parecia confusa — murmuro e olho para Fay, que estava digitando no computador. — Achou algo sobre ela?

— Nada, ela não tem dados no reconhecimento facial. — Fay fala. — Preciso saber o nome dela.

— Quando ela acordar, vamos saber — falo, respiro fundo, sinto-me cansado. Deixo minhas costas apoiadas na cadeira e fico olhando para a garota. Ela é jovem, deve ter quase a mesma idade que Eugene.

Tiro o maço de cigarro do meu bolso e levo um à boca. Eu pego o isqueiro e o acendo.

— O que vamos fazer agora? — Eugene pergunta, o garoto continua parecendo animado. Céus, odeio calouros.

— Esperar ela acordar. — Nikki se levanta. — Já que ela matou quem iria nos colocar dentro de RED.

— E se demorar? — Eugene pergunta olhando para menina

— Apenas esperamos, Eugene — falo e me levanto indo até a janela. Trago o cigarro novamente e torço para que essa garota não demore a acordar.

{•••}

Duas horas se passaram e estávamos comendo na cozinha. Fay deixou uma câmera no quarto onde a garota estava, eu coloquei uma algema nela e outra na cabeceira da cama. A cada meia hora, alguém ia ver se ela tinha acordado pelo computador.

— Se ela acordar quem vai lá? — Eugene pergunta. Ele é simplesmente tagarela. Eu levanto meu olhar, observando Nikki e Felicity que comiam, elas se olham e depois me olham. Isso faz com que Fay e Eugene também me encarem.

— Ela já viu você. — Felicity começa a falar. — Poderíamos fazer o bom policial e o mau policial com ela.

— E você é quem vai fazer o papel de bom policial? — questiono e a mulher dos olhos puxados dá de ombros.

— Decidam logo, porque ela já acordou e está agitada. — Fay informa.

Eu já tinha terminado de comer, então me levanto.

— O policial mau vai primeiro — digo e subo as escadas.

Assim que abro a porta do quarto, a mulher se assusta. Ela se encolhe, mas os seus olhos castanhos selvagens me encaram. Não é um tipo comum de medo, é um medo selvagem, o tipo de medo de um ser que vai lutar. Um animal que se encolhe, mas que quando a ameaça se aproxima, ela dá golpes fortes, bem... ela me chutou e foi um chute forte, mesmo tendo levado um tiro.

— Hey, você dá trabalho mocinha — falo e ela continua me encarando. A perna dela está enfaixada onde eu atirei e tinha arranhões enormes na coxa. — Por que você matou a Senhora Abeille? — pergunto, ela desvia seu olhar do meu e fica olhando para a janela. Respiro fundo.

Por mais que eu tenha mencionado sobre o tal do policial mau, eu não estou afim de perder a paciência com essa garota, ela parece assustada demais, ela não queria que eu a matasse e ela estava fugindo. Seja lá pelo o que ela tenha passado, foi feio, e eu não quero piorar as coisas, se ela ficar mais assustada, aí que ela não irá dizer nada.

Me aproximo dela e vejo seu corpo tremer, passo a língua nos lábios.

— Você está bem machucada — comento e olho para a coxa dela que estava com os ferimentos, depois para os cortes nos braços, ela também olha para a coxa e mexe um pouco a perna. Ela sente dor, pois faz careta e umedeço novamente meus lábios. — Quem fez isso?

Silêncio.

Conversar com ela é diferente do que foi interrogar Vittorio, digo, eu queria matar Vittorio e não podia até Nikki me dar o sinal verde. O homem é culpado e com provas de que matou milhares de pessoas. Essa garota não é nada disso, digo, eu não sei. Mas ela não soa ser alguém assim.

Sim, ela tem uma selvageria no olhar, mas também existe uma ingenuidade, uma bondade.

Entretanto, o silêncio dela está me deixando impaciente.

— Não quer me falar nada? — questiono. Ela não me olha e eu suspiro. Talvez com Felicity ela fale. Viro de costas e começo a andar em direção à porta.

— Nedlog — Ela sussurra e eu paro de andar. — Você é de Nedlog — fala mais alto, mas sua voz ainda é frágil. Eu me viro voltando a olhá-la. Os olhos castanhos da garota me encaram com curiosidade, mesmo parecendo haver medo, ela parece mais calma.

— Sim, sou. E você? — pergunto, ela respira fundo e volta a olhar para a janela.

— Não consigo me lembrar.

— Seu nome?

— Não me lembro. — Ela fala, eu concordo balançando a cabeça, mas ela não viu e volto a me aproximar dela.

— Você matou a Senhora Abeille, porque foi ela quem te machucou?

— Eu não me lembro... — Ela fala confusa e respira fundo. — Num minuto eu estava em RED, no outro eu tinha matado Abeille, ela... Eu não me lembro. — Ela começa a chorar, suspiro frustrado, me aproximo mais dela, mas quando fico ao lado da garota, ela se afasta e vira o rosto.

A garota continua chorando, acabo notando uma pulseira no seu pulso, é de palha com três pedras vermelhas, nunca vi essas pedras na vida. É um vermelho sangue brilhante.

— Eu não vou te machucar, se você se lembra de algo pode me falar — tento ir com calma e ela se vira me olhando com fúria.

— Você atirou em mim!

— Você atirou em mim primeiro — argumento e ela fica calada me olhando.

— Quero que me diga sobre RED.

Ela permanece calada. Eu continuo.

— Conhece Le Bourreau? — pergunto, o corpo dela treme e para mim, é um sim. Eu continuo a questioná-la. — Sabe o nome dele? — pergunto, ela fica calada e olha para a perna ferida. — Foi ele? Ele quem te machucou?

— Eu estou com sede. — Ela fala baixinho e eu bufo.

— Eu quero ajudar — insisto e ela me olha.

— Não quer não, você é de Nedlog. — diz com certeza e isso me surpreende. Ela volta a me encarar com selvageria, me encarar furiosamente.

Ela sabe de onde eu sou? Como ela sabe de onde eu sou? Certo, não é difícil saber quem é nativo e quem não é, mas da mesma forma. Já é segunda vez que ela afirma a minha origem, mas eu também poderia ser de Sunland, de La Platta ou de Vulcan. Talvez ela tenha chutado e acertado.

— Você não quer me ver sem paciência — ameaço mas ela não se assusta.

— Você disse que quer me ajudar. Então, me solte e me deixe ir.

— Para onde você iria? — pergunto a olhando sério. — Você acabou de me dizer que não se lembra de nada.

Ela fica calada, mas o silêncio não é porque ela mentiu, eu sei quando as pessoas mentem, mas a menina parece apenas confusa.

— Sairia da ilha. — Ela sussurra baixinho.

A garota volta a ficar em silêncio. Já está anoitecendo, ela fica olhando para a paleta de cores do pôr do sol: uma cor púrpura misturada com as nuvens cinzas carregadas de chuva e outra parte alaranjada, onde o sol insiste em ficar, mas não por muito tempo. Eu volto a olhar para a garota, mas ela não está me olhando. Volto a olhar para a pulseira em seu pulso.

— É uma pulseira bonita — comento e ela olha para a pulseira. — Mas também não se lembra quem foi que te deu — falo e me levanto. — Vou pegar comida e água para você e conversamos mais, certo?!

Ela não me responde e eu saio do quarto não esperando pela sua resposta. Isso vai ser mais difícil do que imaginei, mas eu não posso julgá-la pelo seu silêncio, infelizmente a garota está certa. Eu atirei nela e ela tem todo o direito de não confiar em mim. A garota cor de cacau está machucada e eu sei que ela se lembra de quem a machucou, só que não quer falar. Talvez tenha sido Le Bourreau, talvez tenha sido Abeille, talvez tenha sido outra pessoa, mas não faria o menor sentido ela ter matado Abeille.

Ela sequer se lembra do próprio nome e isso dificulta saber de onde ela é. Por mais que ambas as tribos sofram pela guerra, saber quem é ela pode ajudar a tirar informações dela, poderíamos achar a família dela e devolvê-la, poderíamos prometer refugiar seus parentes ou poderíamos encontrar alguém que ela gostasse, oferecer dinheiro, talvez devesse oferecer isso. Dinheiro, não que tenhamos muito e por mais que ela não tenha uma perspectiva boa do meu país. Talvez fosse melhor oferecer refúgio para ela e talvez ela aceite e comece a falar.

— O que ela disse? — Eugene pergunta assim que chego na cozinha. Eu a olho, mas não digo nada e sigo até a pia da cozinha pegando um prato de metal. — Ela sabe o nome do Le Bourreau?

— Não, ela não disse nada porque ela não se lembra de nada — informo superficialmente, apesar de não ter muitos detalhes, e coloco comida no prato.

— Como assim? — Nikki pergunta ao tempo em que fecho a panela e me viro para todos.

— Eles entupiram aquela menina de droga e agora ela não se lembra de nada, a cabeça dela está confusa e ela está com medo — falo bravo e suspiro. — Ela ficava no RED, ela sabe quem é Le Bourreau, mas não quer falar. Talvez ainda esteja confusa, talvez ainda esteja com medo. Vamos ter que ir com cautela.

— Não temos tempo, Harry. — Nikki fala e eu passo a mão na minha testa, estressado.

— Eu sei. Fay descubra quem é o novo gerente de RED. Eugene hackeie o sistema e coloque os nomes falsos para Nikki e Felicity e um para mim — instruo e o garoto concorda, Fay também concorda. Olho para Nikki e Felicity.

— E a gente? — Felicity pergunta.

— Notaram que não tiveram mais ataques? Vão para o vilarejo e descubram o que aconteceu. Eu vou tentar conversar com ela de novo — respondo e as mulheres concordam.

— Vai ser os dois. — Felicity diz e eu franzo minha testa. — O policial bonzinho e o policial mau. — Ela desenvolve e apenas a ignoro, o que faz a mulher sorrir.

— Vai descobrir sobre o ataque, aqui era para ser uma zona de trégua — falo ríspido mas o sorriso de Felicity não some de seu rosto. A mulher se aproxima de mim.

— O velho Styles ainda está aqui. — Felicity fala e dá uns tapinhas em meu ombro. Eu suspiro e ela se afasta, indo atrás de Nikki.

Eu coloco água em um copo de madeira e subo de volta para o quarto. A garota estava com o corpo na cama, passando o dedo pela parede de madeira, ela não se vira para me olhar e eu deixo o prato de comida e o copo de água ao lado dela.

Ela me encara e depois volta seu olhar para o prato e para a água. Sem esperar que eu fale algo, ela começa a comer. Puxo uma cadeira, sento-me ao lado dela e fico olhando ela comer, mas a garota ignora totalmente minha existência.

— Você sabe quem é Le Bourreau? — pergunto, mas ela continua a me ignorar. — Posso te ajudar a sair da ilha — falo. Desta vez ela me olha, mas não diz nada e volta a colocar a comida na boca. Ela prestou atenção nisso, então eu continuo. — O lugar que quiser ir, você me fala quem é Le Bourreau e eu te ajudo a fugir da ilha — permaneço atento a qualquer reação dela, mas ela continua comendo.

Eu odeio que me ignorem e eu estou me segurando para não gritar com ela. Só que agora eu realmente estou cogitando a ideia de começar a gritar com ela. Porque eu sinceramente estou cansado de bancar o paciente e tratar ela como a vítima inocente. Merda ela matou a Senhora Abeille no meio de uma praia com pessoas. Ela não pode ser tão tola assim.

— Eu estou sendo bem paciente com você —levanto-me, a garota continua não me olhando, mordo meus lábios e me aproximo dela, coloco minhas mãos na cama, inclino-me perto do seu rosto e ela finalmente me olha. Os seus olhos castanhos me encaravam, o brilho estava lá e a selvageria também. Aquela mulher tem algo intrigante, uma força que eu nunca vi. Mas eu volto a me concentrar em intimidá-la. — Mas se continuar a me ignorar, eu vou continuar o que estavam fazendo com você — ameaço e ela simplesmente sorri para mim.

— Não vai. — Ela fala sussurrando e continua a me encarar. A mulher sequer pisca. — Já teria feito. — Ela conclui e dessa vez eu sorrio.

— Não me teste — aviso e ela dá de ombros, terminando de comer.

— Nashira. — Ela fala e eu me afasto um pouco a observando com atenção. Ela bebe toda a água do copo e me olha. — Queria saber meu nome, é Nashira.

Continua...

Notas: Oi oi xuxus como vocês estão?

Gostaram do capítulo? Comentem o que estão achando e o que acham que pode acontecer.

Vejo vocês logo logo. Xx

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