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˖࣪ ❛ FIM DA CABEÇA IMENSA
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EVIE JUNTO COM MAL saíam da casa de Lady Tremaine, seu grande salão de beleza administrado por sua neta, quando entraram novamente nas ruas escuras e sombrias da ilha para retornar ao seu esconderijo.
Era estranho que ambas se olhassem confusas, era como se o ar da ilha tivesse ficado mais frio que o normal e ambas sentissem isso. Elas agarraram as bombas coloridas que haviam feito com mais força e deram as mãos para acelerar o passo.
Algo ruim havia acontecido, pior do que tudo que poderia acontecer ali rotineiramente, e sempre havia algo na ilha que atormentava os habitantes de lá, era como um vento gelado que penetrava em seus ossos como um aviso, como uma mensagem que lhes dizia que algo aconteceu. Muitos diziam que ele era Hades, que apesar de ter perdido muitos de seus grandes atributos ainda sabia quando alguém morria e se divertia assim.
— Eu não gosto nada diss. — Mal murmurou, olhando para os lados, a maioria deles estavam escondidos.
— Você acha que nossos pais nos encontraram? — Evie sussurrou para ela com medo.
— Não, eles não se escondem de nós. — ela apontou para alguns pequeninos que estavam parados atrás de um pano, observando e sussurrando na direção de onde deveriam ir.
Elas pularam tentando entrar no corredor para retornar o mais rápido possível para onde Heart as esperava. Evie virou o rosto para ver aquelas crianças, três pequeninos, que negavam tê-la visto. Como se lhe dissessem que o lugar para onde iam era feio. Ela olhou para frente franzindo a testa.
Mal parou, levantando a mão para Evie parar de andar também. A garota de cabelos azuis olhou para sua melhor amiga alarmada enquanto uma confusão assustada tomava conta de seu corpo, mas Mal sentia, cheirava a luta.
Foi quando ambas baixaram a cabeça, tão lentamente que a última coisa que seus olhos focaram foi no que estava no chão. Evie deu um passo para trás, ficando atrás de Mal que entrelaçou sua mão com a dela, engolindo em seco ao ver o que seus olhos admiravam logo na entrada das escadas abertas para seu covil.
No chão havia uma lagoa, uma grande poça de sangue que tinha diferentes donos, consistências e cheiros. Havia quatro corpos nesta grande poça avermelhada, virados para cima ou para baixo, em posições diferentes mas com algo em comum. Suas cabeças estavam a poucos centímetros de distância de seus corpos. O sangue fluiu de seus pescoços decapitados até que colidiram um com o outro.
Mal fingiu vomitar, mas percebeu que apenas duas pessoas eram capazes de algo assim. Evie torceu o nariz de desgosto e elas se entreolharam até ouvirem um grito.
— Você vai perder a cabeça!
Elas ergueram o rosto, vendo sombras acima delas através dos espaços das escadas. Acima delas, subindo os longos degraus, que ambas logo correram, estava Heart.
A ruiva estava manchada de sangue, seu cabelo que secava lentamente era de um laranja avermelhado devido ao fluxo estranho, seu rosto pálido quase não era mais perceptível devido às gotas vermelhas que desciam dele. Escorria de suas mãos e até de sua boca quando ela falava o mesmo líquido caía. Elas já a tinham visto assim, mas desta vez foi diferente.
Era como se estivessem voltando há meses para onde nunca haviam posto os pés antes em Auradon.
Heart, sob aquelas camadas de sangue fresco e/ou seco, apresentava uma expressão abatida, seu peito subia e descia expelindo fortemente seu hálito aflito, suas mãos apertavam severamente o cabo do cajado de sua mãe, seu coração afiado pingava. Na frente dela estava Iracebeth que soltou aquele grito sombrio.
Mas seu rosto vermelho de raiva não se comparava ao rosto inexpressivo de Heart, que sorriu um pouco, quase imperceptivelmente. E quase zombeteiramente, de maneira irônica e estridente, ela pronunciou algo assustadoramente chocante justamente quando os dois vilões estavam um andar abaixo deles, mas ainda capazes de ver a cena.
— Fim à imensa cabeça.
Os braços de Heart foram levantados com o cetro nas mãos manchadas, ela fez um movimento para trás, começando a sorrir cada vez mais, piorando a imagem aterrorizante. O rosto de sua mãe se encolheu, seus olhos se arregalaram.
Heart, com a parte afiada do bastão, as bordas douradas do coração na ponta, matou sua mãe. Enterrando-o de lado e cortando o pescoço de sua mãe com tanta excelência e perfeição como a lâmina de uma espada quente, um corte limpo que conseguiu espirrar todo seu sangue até manchar ainda mais a ruiva e as duas vilãs que viram a cena.
A cabeça se separou do corpo dela, deixando a expressão confusa e surpresa de Iracebeth. O membro do corpo da rainha vermelha caiu e quicou escada abaixo até parar bem na frente dos pés de Evie e Mal.
O som estridente da vara batendo no metal das escolas chamou a atenção delas, as duas olharam para Heart que parecia subjugada. Elas passaram por cima da cabeça de Iracebeth para correr até ela e pegá-la antes que ela caísse.
— Heart... — Mal enxugou a bochecha ensanguentada olhando para a ruiva. Mas Heart só conseguiu, com seu rosto sorridente, começar a rir em lágrimas.
Elas pensaram que ela finalmente enlouqueceu, mas seu sorriso ficou desfigurado pela dor e pela tristeza.
As três sentaram no chão, e as duas vilãs abraçaram a ruiva que chorava de dor e ruidosamente ao ver o corpo sem vida da mãe. Elas acariciaram a rainha de copas por longos minutos, quase meia hora depois, o choro dela diminuiu até ela ficar completamente silenciosa.
— Ela chegou... — ela sussurrou fracamente, as duas vilãs não moveram a cabeça apoiada nos ombros de Heart, ouvindo-a. — Ela me ameaçou, eu devolvi, queria fugir antes que uma das duas morresse, mas seus capangas estavam esperando por mim abaixo. Eu havia esbarrado em um deles quando chegamos e o avisei que estava na ilha. Eu os decapitei, mas não adiantava se eu tivesse que matar todos antes de lutar com ela... Então voltei e terminei o que ela começou. — Evie acariciou o braço de Heart enquanto Mal se levantava.
— Vamos limpar essa bagunça, Red. — Mal se agachou na frente dela, conectando seus olhos. — Você estava bem e vai continuar bem, isso não é nada. É um peso a menos para você — ela pegou as mãos dela, querendo que ela não fosse a mesma de antes. — Não se preocupe, você nos tem. — Heart sorriu um pouco, Evie a ajudou a ir ao banheiro se arrumar enquanto ela limpava a confusão com o Mal.
Ah, mas como é fácil dizer, MaliMalita. Heart acabou ficando com a pior vilã que existe, que também era sua mãe, o que traria algumas consequências que alguém teria que ajudá-la a superar. Outra vez.
★
Teo se espetou pela terceira vez consecutiva e suspirou, contraindo os traços do rosto de estresse. Ele parecia ter se acalmado, mas de repente pegou um pedaço grosso de pano e mordeu-o para abafar o grito que escapou de sua garganta. O chapeleiro júnior ficaria com cabelos grisalhos se continuasse assim com os nervos em alta!
Ele olhou para o dedo com uma gota de sangue e tirou o pano fazendo cara de nojo, abriu uma gaveta da escrivaninha e colocou um curativo que estava ali. Ele passou as mãos pelos cabelos bagunçados e ficou assim, com os cotovelos apoiados na madeira enquanto tentava regularizar a respiração.
Em sua cabeça havia apenas mil e quinhentos cenários em que algo ruim aconteceria com Heart. Ele não queria que a garota por quem ele respirava tivesse encontros ruins ou pensamentos como os de Mal entrassem em sua cabeça e permanecessem na ilha. Talvez ela tenha encontrado algo melhor na ilha e mudado, deixando em Auradon... Não, não, não, a Heart dele não faria isso, certo?
Um som parecido com um soluço assustado escapou de sua garganta, ele reclamou e se levantou pegando seu chapéu, talvez fosse para o quarto de Damian ou aquele que Isla e Gabriella dividiam mas ele arriscou sabendo que estava nervoso ou que algo estava errado com ele. O que ele diria se perguntassem sobre os vilões e Ben? Foi muita pressão em seus nervos.
— Mentindo, não gosto de ser mentiroso que mente sem saber mentir. — Teo sussurrou, saindo do mesmo jeito, fechando a sala atrás de si.
Ele estava indo em direção ao quarto de Damian, tentando pensar no lindo rosto de Heart para não começar a gritar de estresse. Ele estava impaciente, ela já deveria saber disso. Como ela ousava deixá-lo ali sabendo como ele era? E mais ainda sem ela, ele não se sentia mais sem Heart. Tornou-se algo vital nele. Ele nem lembrava como era seu dia a dia sem a princesa.
— Por que vocês estão fazendo uma varinha de fada madrinha? — o chapeleiro ouviu. Ele olhou para frente e viu a porta do quarto de Jay e Carlos aberta.
Ele pensou que eles estavam de volta, ergueu as sobrancelhas entusiasmado e se aproximou rapidamente, mas quando olhou para fora só viu o filho da Cinderela e os donos do quarto. Não havia sinal de Heart.
— Por que estamos fazendo uma varinha da fada madrinha? — Carlos perguntou a Jay nervoso. O homem de cabelos brancos havia utilizado a máquina de impressão 3D que já começava a fazer uma cópia do objeto.
— Porque... Ahm... — Jay tentou se justificar, engolindo em seco, eles não achavam que Chad estaria na sala e muito menos que ele iria perguntar os motivos do uso da máquina de impressão.
— Ben foi capturado! — Chico, o cachorro, sentado no travesseiro, na cama de Carlos, falou.
Teo abriu os olhos impressionado e soltou uma risada que chamou a atenção dos presentes. Ele riu por não ter imaginado que Chico estava falando, embora logo tenha encolhedo os ombros por inércia. Ele veio de um lugar onde as próprias flores julgavam. Mesmo assim, mais uma vez, ele olhou assustado para os dois vilões.
— Ben foi capturado? — ele questionou entrando na sala. Jay revirou os olhos.
— O que? — Chad questionou, olhando impressionado para o cachorro. — Chico consegue falar?
— Eu estava atrasando! — Carlos o repreendeu. O homem de cabelos brancos não aguentava o próprio nervosismo, agora Teo o olhava com impaciência.
— Achei que você tivesse esquecido... — o cachorro se defendeu com tristeza.
— Não conte para ninguém. — Jay bateu em Chad. — A vida de Ben depende disso.
— Aha, mas... — Chad sorriu com algo nas mãos, era óbvio pelo seu sorriso, antes mesmo de ele dizer qualquer coisa. Teo, que o conhecia desde criança, apontou para a porta da sala. Jogando-o fora. — Ótimo! — reclamou saindo de lá, vendo Teo irritado ao fechar a porta.
— O que aconteceu com Ben? Vocês não iam trazer Mal? Por que não estão todos lá? Por que vocês imprimem uma varinha? O museu será roubado novamente? Diga-me que vocês não se tornaram vilões. Onde está Heart? Por que ela não veio com vocês? Ela está bem? Ela está segura? Ela ainda me ama? — ele começou a perguntar rapidamente até agarrar Carlos pelos ombros com um desespero que piscava repetidamente.
— Ben foi sequestrado pela filha de Ursula, ela pediu a varinha em troca de sua vida e nós daremos a ela uma falsa para trazer Ben antes que ele perceba. — Jay separou Teo que suspirou de alívio.
— Heart está bem, é que Harry a nocauteou e...
— Harry nocauteou Heart? — ele gritou preocupado, Jay quis gritar com ele mas ele gritou de novo. — Não sei quem é Harry! Heart está bem? Por que vocês dizem isso agora...? — Jay colocou a mão na boca de Teo, que mostrou os olhos fora de órbita, parecia rir para não chorar.
— Calma, está tudo bem... — mas ele continuou gritando.
Como eles acalmariam o chapeleiro?
— Não temos tempo para isso. — Jay disse a Carlos que viu Teo ainda sendo silenciado pela mão de Jay.
— Teo, vamos te contar tudo, mas você tem que prometer que depois vai calar a boca e esperar que a gente faça o plano e volte para o Ben. Okay? — ele implorou, fazendo olhares de cachorrinho.
O moreno assentiu, lambendo a mão de Jay, que a retirou enojado.
— Você tem gosto de Jay. — Teo mostrou a língua em desgosto.
— Eu sou Jay. — ele estreitou os olhos na direção dela.
— Então...
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