Verão de 88
"Inventamos horrores fictícios para nos ajudarem a suportar os reais"
Stephen King
EUA, SÃO FRANCISCO, 1988
Durante o intervalo escolar, Jung Hoseok folheava um tétrico livro do seu autor favorito, Stephen Edwin King. Solitário, os olhos do garoto penetraram as páginas, tão absortos que ele sequer ouvia a barulheira. O Iluminado, a obra da qual Hoseok tinha em mãos, narrava sobre um ex-alcoólatra, chamado Jack, que por um erro, tentava uma nova vida com a família. Entretanto, ao trabalhar no Overlook, Jack foi dominado pelos espíritos deste hotel, cometendo hediondos atos num inverno rigoroso. Danny, o garotinho de Jack, era um dos iluminados. A criança via, sonhava e presenciava cada momento do hotel, seja este vindo do passado, presente ou futuro.
Hoseok tinha pavor daquelas descrições horrendas, que de tão medonhas pareciam atraentes, numa espécie de ameaça cativante e envolvente, da qual vítima é presa por escolha própria. Os parágrafos, eles teciam uma realidade impossível, distante da verdade, cada vez mais degustáveis, saborosos. Jung sentiu-se cabisbaixo, tristonho, queria, ao menos, experimentar a hipótese de que aquela escola, antiga e monótona, fosse composta por fantasmas, dos quais, possivelmente, seriam os criminosos, os responsáveis por tudo: pelos roubos, pelas traquinagens, pelas zoações...
Tendo em vista pela perspectiva positiva, a resolução das barbaridades seria muito mais simples, explodir a locação, quando vazia de pessoas, espantar as influências negativas, as almas sem rumo. Como colocar essa teoria em prática? Ah, ela não seria viável.
Mariana Scott, uma conhecida e vizinha de Hoseok, no ombro do colega, repousou os dedos, acordando-o para a conjunção atual. O cabelo encaracolado da garota, extenso e volumoso, inabilitava Jung de qualquer movimento, era um feitiço, alguma magia, um encanto, pois entorpecia-o cada vez mais, feito a medusa com os mortais. O rapaz, admirador de King, obrigou-se a não vislumbrá-la, estorvando todo contato com a moça, sequer os olhos da jovem fitando por temor, medo, pavor e acovardamento. Mariana Scott tinha um namorado, o polêmico e belo Thomas Smith, o agente do caos, o propagador de mentiras, o pai do bullying colegial. Conviver com ele não era fácil.
O verão de 88 tornou-se mais inescrutável com as tardes ensolaradas, Hoseok naturalmente não detia os respingos de suor no inverno, não conseguiria evitá-lo durante o calor nem se quisesse. Um rubor tocou as bochechas do mancebo, a cidadã à sua frente notara o esquivamento, a postergação masculina.
— Sou uma aberração para você? — Mariana Scott indagou, estendendo um sorriso na face branquela.
Hoseok era apaixonado por ela, e, ternamente grato pelas atitudes da garota, desejava dia após dia reencontrá-la sozinha, sem companhia, a fim de saciar o agradável caráter dela. Scott não era crível, era uma lenda, um mito. Por segundos, admirou-a, trocando contato visual, nisso, cedendo espaço para ela.
— Pa-para com isso — Hoseok rebateu, referindo-se ao comentário anterior.
Mariana sentou-se ao lado dele, verificando o livro o qual Jung apreciava.
— A Wendy é uma mãe espetacular — Mariana Scott abordou sobre o livro.
— Ela defende o filho com garras e dentes... — Hoseok sussurrou, abaixando o olhar para a mesa.
— Você, sendo fã do King, deveria ir ao nosso encontro.
Nosso encontro? Hoseok refletiu, um tanto inquieto, aquela ideia parecia reverberante, imprudente.
— Nosso encontro? — Jung interrogou.
— Você não foi convidado?! — Mariana exclamou, desacreditada. — Deus do céu, onde estão com a cabeça? — A garota retirou do bolso um dos convites, entregando-o para o amigo. — A nossa turma planejou um trote, durante o passeio escolar, nessas férias.
— Nessas férias? — Hoseok coçou a garganta. — Daqui há 5 dias?
— Correto, nas férias de julho — Mariana Scott alegou, prosseguindo. — Será no parque de diversões da cidade. Você topa ir?
O mancebo mordeu os lábios, odiaria negar a proposta, entretanto, sua consciência gritava sobre as inferências.
— Mariana... Eu sinceramente não sei se e-... — ele foi interrompido.
— A sua presença é importante para mim... — Scott tentou bajulá-lo.
— Mas eu não fui convidado! — Hoseok contrariou-a.
— Pois não? Eu acabei de te chamar!
O rapaz teve as palavras censuradas pela própria tolice, não esperava tamanha velocidade provinda dela. Propôs então, para si mesmo, não negar o pedido, porquanto, decretaria ás suas regras ao jogo.
— Os seus amigos vão? — Jung perguntou, indiscreto.
— Claro, todos vão...
Hoseok suspirou.
— Ficarei o mais distante possível, não almejo qualquer confusão — o garoto concluiu, fidando a sua condição.
— Mas...
— Eu não quero ser provocado, Mariana, não tolero o que seu grupo faz há anos — Jung abriu uma queixa contra o grupo da moça.
— E qual será o entretenimento disso? Ficar isolado?
"Ter a paz que eu tinha antes de te conhecer, Mariana". Hoseok guardou para si aquele retorno, adoraria revelar o seu amor numa frase dramática, teatral, contudo, preferiria não lidar com encrencas.
— O que você faz ao lado dele, Mari? — Thomas, o problemático e querido namorado dela, perguntou, num tom atrevido, cortando os meus laços físicos estabelecidos com a garota.
Thomas. por ser uma celebridade estudantil, era cercado de colegas, fãs e admiradores secretos. Alguns eram conhecidos, porquanto, incomparáveis ao quarteto fantástico, composto somente por irmãos ademais ao biológico. John, Andrea, Rick e Thomas, os inseparáveis. Mariana, ao bom Deus, sequer aceitou participar da gangue.
Coberto pela atenção corriqueira, Thomas, o louro alto de Ray Ban nos olhos, parceiro fiel de Mariana Scott, sacou o livro a frente, lendo o sombrio título da obra: O Iluminado.
— Ah, esse cara é esquisitão — levantou os óculos e levou aos céus a peça em mãos, com um sorriso irônico, exibindo aos amigos. — Essa capa está tão... sem graça...
Àquela provocação, Hoseok conhecia o fim dela, não era a toa que detestava-a pelo desperdício.
— Rick, você trouxe algo? — Thomas voltou-se ao conhecido, recebendo assim uma caneta
Uma exasperação tomou Hoseok, congelando-o até que pensamentos o invadissem. Desesperado, Jung se rebelou, por segundos, enfrentando a violência.
— Eu não acho que seja uma boa ideia... — o dono daquele livro, ciente dos danos de um protesto, tentou retê-los sem a retórica.
De nada funcionou, sequer haveria jeito, a crueldade estava intrínseca, era provinda duma macabra diversão: o complexo de superioridade.
Página por página fora destroçada pelos dedos de Thomas Smith, o companheiro de Mariana, folha por folha fora riscada com a fina caneta, pertencente a Rick. Destroçar o bem alheio, sentir-se satisfeito com isto, na perspectiva de Hoseok, era tudo claramente doentio. Não seria divergente com John e Andrea, o casal de idiotas, também membros da "gangue", os quais riam feito gazelas, desamparados quanto ao refreamento.
Sob aquele espetáculo infernal, Jung determinou a sua presença no evento entretido, postergando as gargalhadas e prendendo-se tal determinação, ignorando os comentários desnecessários, e, por fim, silenciando o ato para a diretoria, num acovardamento genuíno. A verdadeira luta não partiria da hierarquia, pelo contrário, era dada contra essas classes.
Pouco a pouco, a brincadeira tornava-se humilhante, num tremendo escárnio de golpes, chutes, socos e depreciações. Jung era um saco de pancadas para àquele grupo, de fato, um alvo frágil para os populares. E Mariana Scott pouco reagia, apenas observava ato por ato, um tanto assustada.
Eles iriam se arrepender, disto Hoseok estava certo, atazanaria a vida daqueles intrometidos, fazeria-o até que ficasse quieto. A vingança nunca será doce, ainda mais quando se sofre, amarga desceria pela garganta, ele engolira-a até que deixasse de ser a vítima.
"Monstros são reais e fantasmas são reais também. Vivem dentro de nós e, às vezes, vencem"
Stephen King
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