Capítulo 6
Tempo atual
– Aurie! Você veio. – Melany corre para abraçar sua irmã. – Por que demorou tanto? Achei que tinha se esquecido de mim. – a garota olha para baixo com profunda chateação.
Aurora se abaixa para ficar da altura de Mel e olha profundamente em seus olhos.
– Me desculpa, Mel. As coisas estão cada vez mais complicadas. Consegui um tempinho depois do ensaio e aproveitei para ver você. Nunca diga que eu me esqueci de você, certo? Não há um dia, não há nada do que eu faço, que eu não pense em você. Agora me dê um abraço bem apertado, que eu estou com saudades.
Melany abraça Aurora fortemente e permanecem alguns segundos assim. Aurora buscava consolo em sua irmã para se manter firme e dizia a si mesma " Tudo pela Melany".
Aurora segura as mãos de suas irmã e as duas se sentam ao sofá.
– Me conta, onde está Meg?
– Ela estava costurando, até onde eu sei.
– E a escola? Como vai?
– Mais ou menos. – Melany dá um sorriso forçado.
– Mais ou menos? – Aurie se preocupa. – O que houve?
– Não é nada. – Melany diz sem olhar para Aurora.
– Ei! Sabe que pode confiar em mim, não sabe? – Aurora segura delicadamente o queixo da irmã pedindo para que a mesma a olhe nos olhos.
– É que... Vai ter uma apresentação na escola. Todas as alunas levarão seu pai e sua mãe. Algumas garotas zombam de mim, porque não tenho família. – Melany diz com os olhinhos cheios de água e Aurora faz um esforço imenso para não chorar.
Aurora a abraça e a acalenta em seus braços fazendo um leve cafuné em seus cabelos.
– Mel, escuta. Não é porque nossos pais morreram que nós não somos uma família. Você tem a mim. E a Meg também. Nós te amamos muito e iremos cuidar de você. Eu prometo... – Aurora dá uma pausa por duvidar das próprias palavras. – Eu prometo que ainda vamos morar todas juntas. Tenha só um pouquinho de paciência. Tudo bem? – Melany consente com a cabeça. – E essa apresentação, é sobre o que?
– É um teatro, sobre a chapéuzinho vermelho. Eu consegui o papel principal. – responde se afastando do colo de Aurora. Melany sorria satisfeita. Seu sorriso brilhava ao mesmo tempo em que acalmava o coração de Aurora.
– Ual! Que grande responsabilidade. Quando vai ser?
– Sábado à noite.
Aurora sente um peso em suas costas. Sábado a noite era o dia em que o cabaré estava ainda mais lotado, poderia sair depois de uma apresentação, mas depois dessa mudança de acordo, ela não saberia que horas terminaria a sua noite.
– Você vai me assistir, Aurie? – Melany pergunta tirando Aurora de seus devaneios. Ela não tinha uma resposta pronta. Dizer não seria o mesmo que magoar Melany, mas criar expectativas seria ainda pior.
– Eu darei um jeito, Mel. Eu prometo. Vou tentar colocar outra pessoa no meu lugar. – Melany a olha decepcionada. Não era essa a resposta que gostaria de ouvir.
– Espera! Clair vai se apresentar também?
– Sim, ela vai. A turma dela vai contar uma história sobre flores. Eu não sei ao certo como é.
– Tudo bem! – Aurora sorri radiante.
– Oh, minha querida, estava aí? Por que não gritaste? – Meg surge na sala secando as mãos em um avental e vem em direção a Aurora para cumprimentá-la.
– Desculpa, fiquei entretida com Melany. Ela me disse que estava costurando. – Aurora a abraça.
– Sim, mas passei na cozinha para lavar algumas verduras para o jantar, quando eu escutei a sua voz.
– Bem, eu só passei para ver como vocês estavam, tenho que voltar para o trabalho. – Aurora diz pegando a sua bolsa.
– Já vai? Fiz mais um pouco de chá e preparei um bolo de chocolate hoje de manhã, coma um pedaço. – Meg insistiu para que ficasse.
– Eu sinto muito Meg, estou de dieta. – mesmo o estômago de Aurora implorando por um pedaço, ela sabia que se engordasse um grama sequer as consequências seriam graves diante dessa nova situação.
– O que houve? Nunca teve problemas em engordar? Por que começou com isso agora?
– Exigências do trabalho. – Aurora dá um sorriso forçado.
– Está acontecendo alguma coisa. Sei que está. – não foi de longe uma pergunta.
– Meg, eu adoraria conversar com você, mas eu não posso. Pelo menos não agora.
Meg não insiste. Aurora lhe dá um último abraço e se despede de sua irmã sentindo um enorme pesar por ter que deixá-la.
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– Você falou com ela, chefe? – Kerchak pergunta vendo Connor com as mãos na cabeça, talvez estivesse um pouco tenso.
– Falei! Eu falei! – ele soca a mesa de seu escritório. O lugar era de pouca iluminação. Uma mesa de madeira, com televisões à frente, mostrava o que acontecia no interior do salão do cabaré. Algumas paredes eram pintadas de vermelho e a entrada era restrita.
– Esse estresse todo é por que teve que abrir mão de sua esposa? – Kerchak pergunta com ironia na voz.
– O que você acha? – Connor se levanta completamente exasperado. – Aurora é minha esposa. Meu orgulho está ferido. O fato de ter que imaginar ela sendo tocada por outros rapazes... – ele grunhi por não conseguir dizer e esfrega com força seus cabelos.
– Sei o quanto o senhor é possessivo em relação a sua esposa, mas pense que é para o bem do Cabaré. Você sabe que desde que Aurora chegara aqui, a busca por ela sempre foi grande. Já nos ofereceram apostas grandes, mas recusamos todas por ela ser tua mulher. – Kerchak tentava acalmar a situação de seu patrão.
– Eu sei. Tinha que ter outro jeito.
– Tem, não pagar as dançarinas.
– Podemos trancafia-las como as outras também. – Connor diz como se dissesse algo extraordinário e tinha uma expressão esperançosa.
– Chefe, sabe que isso é impossível. A família vai começar a desconfiar. Você sabe, muitas são mães solteiras, vivem com as mães e com alguns familiares. Se de uma hora para outra elas sumirem, seus familiares vão chamar a polícia.
– Kerchak, podemos fazer como as outras. Uma ligação por dia. – Marcus queria a todo custo reverter a situação.
– Sério? Teremos que bancar os custos de telefone, também? Marcus, o que você não entende amigo, é que devemos fazer o dinheiro entrar e não sair.
– Droga! – Connor grita socando a parede.
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O cabaré estava lotado como de costume. As cortinas fechadas, as luzes mais baixas. O coração acelerado e as cadeiras dispostas. Enquanto o palco estava escuro, Aurora fechava os olhos de maneira intensa não só tentando se concentrar, mas procurando acalentar seu coração. Ela sabia que o show não se limitaria ali.
As cortinas se abrem. Todas as dançarinas estão com uma das pernas em cima da cadeira, e então Aurora solta a voz dando início ao espetáculo e ao show de luzes.
─ I made it through the wilderness - começa um estalo de dedos e o movimentos dos quadris.
Somehow I made it through
Didn't know how lost I was
Until I found you
"Agachadas
Gravatas afrouxadas
Sensualidade
Massageando a vaidade
Pernas trançadas
Almas excitadas
Abre e fecha
Cada expressão é uma flecha!
Desce e sobe
Uma virada esnobe"
– Like a virgin
Touched for the very first time
Like a virgin
When your heart beats (after first time, "With your heartbeat")
Next to mine
"Jogada no cabelo
O arrepio do pelo
Os quadris em movimento
Descansam depois no assento
Ele agora é o palco
A dança é o alvo.
A rebolada é a proposta
E as palmas, a tão esperada resposta".
As garotas estavam animadas. Os movimentos que faziam deixava cada expectador interessado e ainda mais compenetrado. A ironia da música era o ponto mais instigante. Nenhuma mulher ali era pura. Pelo contrário, eram todas dotadas de luxúria, e por mais que muitas delas desejassem uma mudança radical, elas sabiam que era isso que lhe garantia a sobrevivência. A emoção que o ambiente transmitia fazia jus ao título de renome. Mas a ambição de Marcus Connor, acabava por mudar a situação.
As dançarinas descem do palco sentando no colo dos rapazes e conversando com eles durantes alguns minutos. Depois iam até seus respectivos quartos esperar por seus clientes, os quais faziam negócio com Marcus Connor e este lhe apresentava o seu destino. Eram homens casados, solteiros, divorciados, velhos e novos, desde que maiores de idade.
Como eu disse, aqui não há amor.
Aurora foi até Will, precisava conversar com ele, pois não tivera tempo o dia todo. Ela se sentou a mesa do bar arrancando vários olhares curiosos. Seu coração estava a mil. Suas pernas tremiam assim como suas mãos. Ela tinha que ser forte ou choraria feito uma criança.
– Um Martine, por favor! – pediu aflita.
– Ei! O que aconteceu com a Aurora que não dispensa uma bebida extremamente forte? – Will olha para ela surpreso. Aurora não era nem um pouco modesta quando o assunto era bebida.
– Se eu estiver bêbada e aprontar alguma coisa, você sabe que Marcus me mata, e isso não é uma hipérbole, infelizmente. Mas eu preciso beber alguma coisa ou vou acabar enlouquecendo com todo esse nervosismo.
Aurora estava impaciente. Daqui a algumas horas ela teria que dividir o quarto com algum senhor ou rapaz que estava presente no show. Suas mãos suavam e seu coração batia em velocidade absurda.
– Certo, aqui está senhorita! – Will lhe entrega a taça e Aurora a bebe, totalmente sedenta.
– Precisamos conversar.
– Sobre o que?
– Você vai à apresentação de Claire?
– Claro.
– E como você vai fazer, Will? Será no sábado e você sabe o quanto esse lugar lota no final de semana.
– Eu conversei com Connor, ele disse que tudo bem, desde que eu colocasse outra pessoa no meu lugar.
– E você conseguiu? – Aurora leva mais um pouco de Martine a boca.
– Conversei com Dom e ele conseguiu que um amigo viesse.
– Amigo? Vindo de Dom é meio suspeito. Você o conhece. – Aurora ri, aliviando o estresse.
– Não, Dom só me disse que o nome dele é Roberto. Mas me diz, por que quer saber? – William pergunta e Aurora suspira ao se lembrar das palavras de Melany.
– Minha irmã. Ela sentiu tanto por ir se apresentar e não ter um pai e nem uma mãe para acompanhá-la. Por mais que Meg vá, não é a mesma coisa. E eu prometi que iria vê-la. Eu só não sei como.
– No seu caso é mais difícil. – ele pega um copo e vai até a geladeira pegar mais vodka.
– Você disse que tinha uma ideia quanto a minha situação, se ela funcionar, talvez eu consiga dar uma escapada. Marcus fica confinado em seu escritório depois que o show acaba. Eu só preciso passar despercebida pelas câmeras.
– Não seria mais fácil perguntar a ele? – Will prepara outro copo.
– Willian, até parece que não conhece o irmão que tem. – Aurora o repreende.
– Certo. – Will se aproxima de Aurora e olha fixamente para os seus lindos olhos azuis. Sua boca fica seca no mesmo instante e então desce o olhar para os lábios de Aurora. Aurora se sente incomodada com a pressão que os olhos de Will fazem sobre ela. Ele tinha que se controlar ou não resistiria. – Toma! – ele tira do bolso de sua camisa no lado esquerdo do peito um pequeno frasco de vidro em um tom amarronzado. – Isso é um sonífero. Nada melhor do que uma boa bebida antes de uma noite de prazer. Aproveite o momento. Você vai pedir do seu quarto e eu mesmo farei questão de preparar as bebidas e colocarei um pouco. Ele vai acordar e não vai se lembrar de nada.
Aurora encara aquele frasco em suas mãos com uma enorme dúvida se aquilo funcionaria ou não. A pessoa tinha que sentir que toda a sua intimidade havia sido usada para poder dizer se gostou ou não e depois voltar. Entretanto, se a pessoa voltasse ou não, o dinheiro já estava entregue. E se ele não se lembrasse, não seria culpa de Aurora. A jovem mordeu o lábio inferior e sentiu seu coração acelerar de forma apertada, estava com medo. Se algo desse errado, temia o que Marcus poderia fazer.
– Ótimo. Ótima ideia. – a moça diz ainda aflita e um pouco descrente.
Will desvia sua atenção de Aurora e muda totalmente sua expressão se afastando completamente da moça. Aurora se vira em direção ao olhar do amigo e vê seu marido se aproximando.
– Will, por favor, é um desrespeito você envenenar a bebida das pessoas com sua saliva. – Marcus é irônico.
– Do que está falando? – Will pergunta sem entender.
– Dessa sua baba escorrendo por estar perto de minha mulher. Eu sei, ela é encantadora, mas você não serve para ela. – o marido de Aurora dá um sorriso cínico e segurando no pescoço de sua esposa a puxa severamente a um selinho faminto.
Will sente seu sangue ferver. Mesmo tendo que conviver com essa cena por tanto tempo, ainda era difícil ver Aurora sendo tocada pelo seu irmão.
– Marcus, o que foi isso? – Aurora se afasta de Marcus sem ar.
– Só uma provocaçãozinha. – ele passa seu braço pela cintura de sua mulher para que a mesma mantenha a sua atenção a todos os clientes presentes no estabelecimento. – Eu disse que seria generoso com você e vou cumprir meu papel. Tá vendo aquele rapaz ali, de camisa azul marinho, um pouco loiro, com os olhos incrivelmente azuis?
Aurora arregalou os olhos, espantada. Não podia imaginar o tamanho de sua sorte. Pelo menos era o que pensava. O rapaz deveria ter não mais que trinta anos, 1,80m de altura, barba por fazer e um olhar incrivelmente sexy, assim como um sorriso que era capaz de fazer qualquer mulher cair de quatro em todos os sentidos possíveis. Aurora permaneceu um tempo admirando aqueles olhos. Alguma coisa a chamou a atenção. Alguma coisa nele fez seu coração pulsar de forma diferente. Talvez seria ele, a solução de seus problemas. Seus olhos se encontraram com o dela fazendo com que todo seu corpo tremesse. Era uma sensação jamais sentida e Aurora jamais conseguiria decifrar o que sentiu naquele momento.
Ele sorriu para ela e foi o suficiente para que Aurora sorrisse também. A jovem estava hipnotizada por tamanha beleza e sedução em uma única pessoa. Saberia muito bem tirar proveito disso.
– Aurora, sei que não és mais o anjo proibido, mas ainda assim você é minha. Única e exclusivamente minha. Depois que nos reerguermos novamente, eu serei o único que irá tocá-la, está me ouvindo? – Connor pergunta, mas Aurora não responde. Sua atenção estava voltada ao belo rapaz. – Aurora! – Connor gritou e lhe deu um belo de um tapa em seu traseiro fazendo Aurora despertar. – Você me ouviu?
– Ouvi Marcus. Eu tenho que aparentar estar confortável, certo? Deixe que ele pense que eu estou totalmente entregue a ele. Faz parte do plano. – Aurora pisca para Marcus vibrando internamente.
– Estarei de olho em você e qualquer gracinha você já sabe. Espero que dê a ele uma boa noite, pois ele me ofereceu uma grana imensa por você, é bom que ele volte mais vezes. – Marcus se afasta e Aurora vai em direção ao belo rapaz.
Will a acompanha com os olhos. Aurora não parecia mais a menininha aflita de alguns minutos atrás. Seu coração estava pequeno, sabia que teria mais um concorrente. Por mais que se conformasse com a ideia que sua cunhada era inalcançável, seu peito ardia sempre que Aurora ficava mais distante. Porém, ele não podia se preocupar. Aurora ligaria para ele para que colocassem o plano em prática. Aurora jamais se submeteria a tal condição.
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A jovem loira de cabelos ondulados um pouco a cima dos ombros caminhou até o belo rapaz. Correu os dedos em seu peito indo até seu ombro e em seguida em seu pescoço, dando a volta no rapaz de modo que pudesse abraçá-lo por trás. Ela segurou sua cintura com as duas mãos e mordiscou sua orelha, fazendo com que ele se arrepiasse de forma intensa.
– Então o senhor me achou interessante? – Aurora pergunta num sussurro enquanto ele sente que todos os seus instintos se acordam. Sendo assim, ele fecha os olhos para sentir com mais veemência.
– Senhor não. Não sou tão velho. – ele se vira para poder analisar melhor o rosto angelical de Aurora.
– E como eu devo chamá-lo? – Aurora quase não consegue dizer, pois no mesmo instante sente um calafrio percorrer as suas costas. Seu coração estava impaciente.
– Chris. Chris Traynor. Muito prazer! – ele diz colocando um mexa do cabelo de Aurora atrás da orelha.
– O prazer é todo meu. – Aurora ergue uma sobrancelha tentando fazer a expressão mais sexy que poderia. Ela queria mostrar delicadeza e luxúria ao mesmo tempo, ela queria conquistá-lo, fazê-lo se apaixonar por ela. Queria que ele voltasse mais vezes, pois sentia várias emoções quando estava perto dele.
As dançarinas da boate a olhavam, curiosas. Era a primeira vez que viam Aurora circular pelo Red Blush e conversar com qualquer rapaz que fosse. Aliás, ela era esposa do dono, e com certeza ele reprovaria essa atitude. Willian por sua vez a observava também. Ele prestava atenção em duas coisas, em seus drinks e em Aurora.
Alejandra levantou-se do colo de um senhor e encarou a amiga que estava sentada na mesa de dois rapazes. Ela fez sinal a Maitê para que ela chegasse mais perto e assim ela fez. Sem se importar com os caras que lhe depositavam alguns tapas em suas nádegas e faziam comentários completamente machistas, as duas começaram a conversar sobre por qual motivo Aurora estaria conversando com aquele rapaz tão incrível. As duas a invejavam mais do que qualquer outra dançarina e prestavam atenção em cada passo dado por Aurora para que pudessem captar alguma coisa a fim de prejudicá-la.
– Você viu? A esposa do chefe, a nossa grande estrela está circulando pelo pátio do cabaré. O que você acha? Chefinho não vai gostar nada disso! – Alejandra tinha um sorriso malicioso e raiva nos olhos.
– Eu não sei o que se passa, mas que essa vadia tem sorte ela tem. – Maite encarava Chris com desejo.
– Quero ver por quanto tempo. – Alejandra não deixaria esse detalhe passar em branco. Não mesmo.
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