Capítulo 36
Aurora sentiu um arrepio tomar conta de todo o seu corpo e antes que pudesse esboçar qualquer reação, Will segurou suas mãos e os dois saíram correndo em disparada. A pessoa, achando estranho tudo aquilo, resolveu ir atrás. Aliás, talvez a jovem moça poderia estar em apuros.
Quanto mais o casal corria, mais o desconhecido chegava perto.
— Ei! Aurora! Espere!
Ela queria chorar. Sentiu que seu fim estava próximo e fez uma pequena oração enquanto corria pedindo pela vida de sua filha, irmã e sobrinha. Os dois corriam o máximo que podiam, e ao virarem a esquina, uma mulher passava com um carrinho de bebê, o que fez com que Aurora e William parassem e a pessoa os alcançassem.
— Aurora! Ei! Por que esta fugindo de mim? — a pessoa tocou o ombro de Aurora que apertou os olhos receosa em se virar.
Então seus olhos se cruzaram com aquele ser estranho, mas que na verdade era muito conhecido. A loira demorou um pouco para se acalmar e raciocinar quem era a pessoa a sua frente. Até soltar um largo sorriso e correr para um abraço.
— Martin! Há quanto tempo.
— Meu Deus Aurora. Achei que nunca mais a veria. Você está morena?
— Por favor, me chame de Sofia. Esse aqui é Will, mas chame ele de Daniel. — Aurora apresentou os rapazes e Will disfarçou um ciúmes.
— Podemos confiar nele — cochichou.
— Sim, podemos. Relaxa.
— Agora me conta. Por que estava correndo? Do que está fugindo?
A jovem mordeu o lábio inferior, receosa em dizer a verdade. Por mais que Martin fosse um grande amigo, colocar mais uma pessoa nessa história, poderia fazer mais uma vítima.
— Eu adoraria te dizer, mas eu não posso.
— E por que não? Aurora tem alguém te ameaçando? Te perseguindo? Me tornei um dos delegados da cidade, posso te ajudar. É só me dizer.
Aurora ficou um tempo em silêncio. Parecia raciocinar e enxergar ali a solução de muito dos seus problemas. Sorriu e novamente abraçou o amigo, que se animou por ver Aurora tão calorosa com ele. Apesar dos anos, Aurora continuava linda e doce, e seu coração naquele momento, pareceu fraquejar.
— São tantas coisas. Que eu tenho até vergonha em te dizer.
— Aurora, não faça o que eu estou pensando.
— Will ele pode nos ajudar.
— Quem nos garante?
— Eu conheço Martin há muito tempo. Conheço o pai dele. Um homem incrível que me ajudou muito. '
— Seu Carlisto vai adorar saber que Aurora está na cidade. Aliás, o anjo mais cobiçado está na cidade.
Aurora deu um sorriso amarelo fingindo animação.
—Está decidido, iremos almoçar no restaurante.
— Na verdade a gente vai almoçar em casa. Mas agradecemos o convite rapaz.
— William! Quero dizer, Daniel. Deixa disso. Confie em mim.
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— Oh meu Deus, mas é muitas honra receber o anjo do Red Blush. Aurora minha niña, quase uma hija para mi, há quanto tempo. — seu Calisto veio abraça-la e Aurora segurou-se para não chorar. O tempo que havia passado trabalhando no restaurante, o quanto era divertido atender aos clientes e o quanto ele se envolviam quando Aurora começava a cantar, em nada se comparava com o pesadelo de Red Blush.
Aurora olhou para trás certificando-se que ninguém desconfiara que ela era.
— Mas está morena? Por quê? Parecia um anjo com os cabelinhos dourados.
— Seu Calisto, muita coisa aconteceu. E peço que o senhor não me chame mais de Aurora e sim de Sofia. — Aurora cochichou e seu Calisto percebeu que algo estava errado.
— Algo me diz que precisamos conversar.
— Sim, mas tem que ser em particular e em total sigilo.
— Certo. Nós iremos até minha casa. Mandarei preparar um guacamole que você tanto adora.
— Obrigada.
A casa de seu Calisto era simples e confortável, o que o tornava ainda mais especial. Os anos lhe deram alguns cabelos brancos e alguns quilinhos a mais, porém o seu carisma ainda eram o mesmo. Seu Calisto havia sido um pai, e naquela hora era o que Aurora mais precisava.
Depois que comeram Martin e Calisto sentaram-se à mesa com Aurora e William a sua frente. Will aproveitou para tirar o bigode e Aurora a peruca, pois o calor era intenso. Os dois mexicanos levaram um susto com tudo aquilo e além da preocupação a curiosidade também aumentou.
— Diga logo minha filha. O que esses olhinhos azuis tanto escondem? Lembro quando foi embora com os olhinhos brilhando indo atrás do seu sonho.
— Um sonho que se tornou um pesadelo.
— O que quer dizer? — Martin perguntou.
Aurora contou a eles tudo o que havia acontecido e por vezes olharam torto pra William. O fato dele ter algum grau de parentesco com Marcus, não passava, em hipótese alguma, confiança na família Calisto. Os dois estavam horrorizados e foi preciso um enorme esforço para Aurora não chorar.
— Eu estou chocado. Nunca pudera imaginar que aquele cabaré era tão terrível.
— Aurora, precisamos avisar a polícia de lá. Informar as autoridades e até o prefeito se for o caso. Se o cabaré resolve expandir seus negócio para outro país a situação se complica ainda mais.
— Eu sei. Mas parece que tanto delegado e prefeito não sabem o que de fato acontecem com Red Blush. Inclusive o prefeito faz confraternizações beneficentes e tem a família Connor como a estrela principal.
Os Calistos novamente olharam torto para Will que também não deixava barato toda essa troca "calorosa" de olhares.
— Talvez eles saibam o que acontece com o cabaré. — Will decidiu se manifestar.
— O que quer dizer, William.
— Eu não tenho certeza. Eu não faço parte dos negócios administrativos da família – deu ênfase para deixar bem claro que não era uma ameaça — mas...
— Mas o que William?
Ele não disse nada. Não sabia se podia compartilhar aquela informação com Aurora. Tinha medo de sua reação e mais ainda, do que lhe poderia acontecer se ela ficasse sabendo;
— Mas nada.
— Não confio em você. Pra mim está escondendo alguma coisa. — Martin o encarou com sangue nos olhos.
— Isso é problema seu.
— Pois se diz ser tão confiável, uma informação importante pode salvar a vida de Aurora. — Will pensou por um instante. Olhou para ela que esperava ansiosa por uma resposta.
— O delegado é meu sogro.
— O que? — Aurora espantou-se.
— O delegado é pai de Mia.
— Mia? — Martin questionou.
— Minha falecida esposa.
Aurora sentiu a pressão falhar, mas manteve-se firme. Algo a diz que aquilo não era bom.
— Sua esposa sabia sobre o que acontecia com o Red Blush.
— Não! Em hipótese alguma.
— E porque cogita a ideia de o pai dela saber? E como o senhor foi parar como barman do cabaré do seu irmão sem que sua esposa soubesse?
Will fuzilou Martin. Ele era delegado e com certeza aquele seria um interrogatório, fora dos padrões comuns e legais, mas ainda assim, um interrogatório.
— Depois que meu pai morreu, meu irmão e minha mãe resolveram entrar nessa ideia de transformar uma simples casa de uma dança em um cabaré com práticas de prostituição. Eles sabiam que eu ia ser contra e mantiveram silêncio até os negócios começassem a crescer. Quando eu fiquei sabendo sobre a verdade eles ameaçaram minha esposa. Meu irmão é assim, eles não acabam com você, mas com o que você tem de mais importante porque a dor é ainda maior. Eu achei que era balela até minha esposa sofrer um acidente logo em seguida, quando então descobrimos que ela tinha câncer. Eu decidi que ficaria quieto. Minha família estava mexendo com gente da pesada. Eles precisavam de gente para trabalhar e achar alguém sem bandeira ou que não fizesse alarde a família. Como tradicionalmente éramos conhecidos como os empreendedores em família, quando minha esposa veio a falecer, ela me deixou com a nossa filha, e Marcus viu aí a oportunidade de novamente ameaçar a coisa mais importante pra mim. E eu aceitei.
— Simples assim — Martin debochou.
— Você acha que é fácil? Por acaso tem filhos? O que você faria no meu lugar se lhe dissessem que venderiam sua filha? Ou pior, que a matariam?
— Eu morreria naquele inferno ou dedicaria a minha vida a algo contra os meus padrões — Aurora soluçou sem nem ao menos se dar conta.
— Aurie? Está tudo bem querida? — Calisto se preocupa.
— Não se pode escolher quando o assunto é Red Blush. Eles escolhem por você. E você não sabe em quem confiar, se pode confiar. — Aurora sentiu-se magoada com a confissão de William e esperaria voltarem para casa para poderem conversar.
— Aurie, eu estou disposto a te ajudar. Farei o que for possível para conseguirmos tirar você daquele lugar, mas eu preciso de maiores informações, e mesmo que você confie nesse cara eu vou ficar de olho. E se você tiver mais coisa a nos dizer é bom nos manter informados.
— Eu não tenho. Eu sou um simples barman.
— Depois a gente pensa no que fazer com o Red Blush, agora eu preciso de sua ajuda Martin. Eu nunca contei isso pra ninguém porque não me sentia preparada e tinha medo do que as pessoas pensariam de mim. Mas depois de contar tudo o que aconteceu a vocês sobre a minha vida, eu acho que não terá problema em eu contar. — respirou fundo — Há sete anos eu fui estuprada em uma festa o que me gerou uma gravidez, a princípio indesejada. Mas conforme o tempo foi passando, eu senti um amor incondicional por aquele ser que ainda era apenas um sementinha. Quando ela nasceu algumas horas depois meu pai disse que ela... ela havia falecido. A dor foi imensa. Senti meu coração sendo torturado incansáveis vezes até que me fosse arrancado de vez. Quando meu pai morreu se não fosse por Meg e por Melany eu não sei o que seria de mim. Infelizmente Meg faleceu faz dois dias, mas enquanto ela ainda estava internada me contou sobre uma carta onde meu pai me disse que minha filha tinha sido vendida. Ela está viva. Por isso com ajuda de William e do meu cunhado que tinha alguns contatos, nós conseguimos forjar um sequestro e viemos para cá. Fui até o hospital com a esperança de obter alguma informação, mas infelizmente eles não podem nos fornecer imagens sem uma autorização judicial. Martin, eu lhe peço, me ajuda. Me ajuda para que eu consiga saber quem é a mulher que meu pai disse que pegou minha filha no hospital.
Martin e Calisto a olhavam estupefatos. Jamais imaginariam que Aurora havia passado e ainda passa por tanto sofrimento. A jovem garçonete que vivia com um sorriso no rosto, ainda tão jovem já tinha uma longa bagagem de sofrimento. Calisto adotou Aurora como filha, e Martin havia se apaixonado. Nenhum deles ousaria recusar um pedido de socorro de quem tanto tinha apreço.
— Pode deixar. Agora mesmo eu providenciarei tudo para você ir atrás de sua filha o mais rápido possível. — Martin se levantou e pegou o telefone para algumas ligações.
Enquanto isso, Calisto a abraçou e a aninhou como um pai. Will por sua vez, temia a conversa que teriam mais tarde.
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— Precisa de ajuda?
Carmela se virou para ver quem era o dono daquela voz. Seus olhos se cruzaram e ela sentiu o mesmo arrepio de sete anos atrás. Demorou um pouco, perdida em meio aquele ser por quem tanto tinha apreço e ódio.
— A gente já se conhece? — pergunta desconfiado.
— Infelizmente não — mentiu fingindo estar decepcionada.
O farmacêutico sorri. Percebe logo de cara que a garota havia ficado impressionada.
— Jurai que te conhecia.
— Isso é algum tipo de cantada?
— Não que eu não tenha costume de usar essa frase em minhas cantadas, mas é porque realmente achei que te conhecia.
— Pode ter certeza que se isso fosse verdade eu lembraria.
— Vai levar o creme? – desconversa.
— Oh sim! E vou querer uns analgésicos para dor de cabeça também.
Carmela dirigiu-se ao caixa pagando pelos seus produtos, em seguida pegou a sacola das mãos do homem que mudou a sua vida. Agradeceu e lançou o seu melhor sorriso.
Chegou em casa sentindo-se péssima. Ela precisava de mais do que uma simples conversa casual na farmácia, porém agradeceu não ter sido reconhecida. Começou a se xingar e a tacar as coisas. Quanto mais demorava mais tarde concluiria a sua vingança e restituiria a sua mãe.
Quando então tudo parecia perdido, a sua cabeça latejou e o remédio lhe pareceu servir naquela hora. Abriu a sacola e lá no fundo encontrou um cartão.
Travis, telefone:......
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Eitaaaa que tivemos revelações neste capítulo hein. Finalmente eu soltei quem é a famosa Mia, citada algumas vezes, e um dos rapazes que Carmela quer se vingar.
Agora quero saber de vocês. O que vocês estão achando.
Queria muito ter postado ontem para vocês, mas foi meu niver e acabei chegando tarde e cansada em casa.
Estou aqui vendo a minha agenda (não que seja muito cheia, mas fim de ano, sabe como é) tentarei postar mais capítulos até o natal e se todo esse espírito natalino me trouxer inspiração, quem sabe eu não solto um bônus no Natal.
Enfim, enfim chega de falatório.
Um grande beijo, amorzinhos.
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