Capítulo 34
Dom havia cuidado de preparar uma bela estadia para o casal. Uma das casas que Marcus tinha e que passava os dias quando fazia buscas pelas novas dançarinas. Apesar de tudo, Dominic era um garoto esperto. Talvez uma mistura de criação e genética e até mesmo por uma questão de sobrevivência.
Aurora banhou-se deixando que a água quente pudesse adentrar em todos os seus poros. Pediu aos céus para que uma luz viesse e ela pudesse encontrar sua filha. Ela esperava que isso lhe dessem forças suficiente para enfrentar Marcus com a certeza de que se algo lhe acontecesse as pessoas que mais ama estariam protegidas.
Ela sentou-se não divã que ficava escorado na janela e pode ver a vista do lindo jardim que aquela casa possuía. Acendeu seu cigarro e desligou-se do mundo. Na verdade ela queria algo mais intenso, mas isso não seria possível naquela ocasião, sem falar que teria vergonha na frente de Will.
— Vou prepara algo para comermos. O que deseja? — Will perguntou logo que saiu do banho, porém, não obteve resposta. — Aurie! — chamou mais uma vez.
Ela o escutou dessa vez, porém de forma um pouco distante o que a fez demorar a voltar a realidade. Virou-se para ele um pouco perdida.
— Falou comigo?
— Perguntei o que quer comer.
— Estou sem fome.
Ele se aproximou de Aurora. Sabia que por trás de toda aquela fortaleza, Aurora era extremamente frágil e em alguns momentos isso transparecia sem que ela percebesse. Ou talvez percebesse e usasse do álcool e do cigarro para se convencer do contrário. Talvez as pessoas precisem amenizar seus estresses como uma autodefesa e acabam utilizando-se das coisas mais terríveis como forma de se punir por agir fracamente.
Aurora não precisava daquilo. Tinha Will para ajuda-la no que precisasse. Mas no mundo onde o inimigo mora ao lado, se abrir é meio limitado e acaba virando um hábito.
— Você precisa se alimentar Aurora. E se quiser chorar também pode.
Ela sorriu. Um sorriso desanimado, mas cheio de significados.
— Chorar. Dizem que alivia a alma. Dizem que faz bem para saúde. Mas sabe do que eu tenho saudades? — Will fez sinal com a cabeça — De gargalhar. A última vez que dei uma gargalhada foi antes da minha mãe morrer. E isso faz doze anos. Daí ela morreu e eu senti a maior dor da minha vida. Melany era o que me alegrava e confortava. Seus olhinhos claros e seu sorriso quando eu conversava com ela, me arrancavam alguns sorrisos. Eu achei que com o tempo, eu aprenderia a conviver com a dor e saudade. Mas papai se tornou um home frio e viver com ele foi insuportável. Eu estava entrando na adolescência, tive que estudar e cuidar da minha irmã porque durante muito tempo meu pai a renegou. Culpava-a pela morte de mamãe. Ele passava horas no escritório quando estava em casa, o que era somente a noite. Tentar conversar com ele era impossível. Um pouco porque eu tinha medo e outra porque ele nunca tinha tempo para me ouvir. A noite eu chorava calada. Sentia falta do colo de minha mãe e do carinho de meu pai que a cada dia piorava. Depois ele me obrigou a vir pra cá. Queria que eu fosse uma juíza, quando eu queria apenas dançar, veja só. Me empolguei logo quando soube que o Red Blush estava na cidade e me empolguei com a ideia. Marcus até conversou com meu pai, mas ele me proibiu de fazer o teste. — deu uma tragada em seu cigarro — Se eu tivesse o escutado, talvez eu estaria em casa cuidando de Meg e Melany, numa casa confortável, com um emprego estável, e com o pouco de dignidade que me restava. Depois veio o estupro, a morte de Melina, depois a morte de papai, e eis o pesadelo o qual eu me encontro. E como se não bastasse, a morte de Meg. — sentiu os olhos arderem e deu mais uma tragada no cigarro — Chorar é o que mais tenho feito. As noites de pesadelos. Acordar e ver que ainda estou presa a este inferno.
Will permaneceu em silêncio. Ver o interior de Aurora só fazia com que ele tivesse ainda mais certeza de seus sentimentos. Queria arrancar-lhe toda a dor e sofrimento. Queria acarinhá-la em seu peito e dizer que ela não está sozinha. E mais ainda, o quanto ele a ama.
Mas a fez e deu a coisa mais simples que ele poderia dar a Aurora. Ele a olhou fixamente. Aurora parecia estar acostumada com toda aquela situação, ou parecia esconder muito bem. A moça corou com o olhar fixo de Will e se virou para ele notando o leve sorriso em seus lábios. Era contagiante de fato, e Aurora sorriu também, sem nem ao menos saber o motivo.
O rapaz sentou-se ao lado dela com o rosto ainda mais ameaçador.
— Will, está me constrangendo. — ela corou e abaixou a cabeça, porém voltou a olhar no fundo de seus olhos e gostou do que sentiu.
— Eu sei um método infalível para lhe arrancar gargalhadas.
— Sabe? —Aurora amaçou o cigarro e cruzou o braços intrigada — O que?
— Cócegas — Aurora mal teve tempo de reagir e Will começou a dançar seus dedos pelo corpo de Aurora.
— Will pelo amor de Deus, pare! — Aurora gargalhava e o canto dos seus olhos denunciavam algumas lágrimas. Porém, Will pareceu ignorá-la. Queria arrancar dela o seu maior desejo, e aproveitaria o momento em que estava no céu para que tirar ao máximo a menina que Aurora fora um dia, até que voltassem de novo ao inferno.
William notou que Aurora estava perdendo o fôlego e viu que era hora de parar. Ela tentava controlar a respiração ainda rindo. Então encarou o rosto do amigo. Tinha certeza de que poderia confiar nele. Por um impulso, fez um carinho em seu rosto e agradeceu. Por pouco Will perdeu não perdeu o juízo e a agarrou. Ele era covarde e era nítida toda essa covardia. O próprio se repreendi por se tão fraco.
— Está com fome, agora?
— Quero uma pizza. Há tempo não sei o sabor disso.
— Certo — Will levantou-se e foi em busca do telefone — Do que vai querer senhorita Aurora?
— Chedar e bacon, frango e catupiry.
— As duas?
— Aham.
— Isso é uma espécie de larica?
Aurora fechou a cara por um instante.
— Digamos que com essa mudança de acordo entre mim e o seu irmão, minha comida foi limitada. — disfarçou.
— Tudo bem. Uma pizza caprichada para a nossa estrela.
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" O barulho estava imenso e a sensação era diferente
Ela se lembra daqueles olhos, tão azuis e tão intensos.
Lembra-se do quanto ficou encantada por eles e podia dizer estar hipnotizada.
Também pudera, ele era lindo.
Seu corpo lhe serviu de apoio quando seu corpo deu os primeiros sinais de que algo estava errado.
Franziu o cenho.
Aquilo não era novidade.
E então, surgiu o cordão.
O famoso cordão que ela não sabia do significado.
Então tudo escureceu.
Sentiu dor em todas as partes do seu corpo.
Gritou, mas ninguém ouviu.
Estava fraca, debilitada e tentou reagir.
Apenas tentou.
Então a claridade surgiu.
A luz forte por pouco a cegou, mas o choro do ambiente logo lhe animou.
Ela sorriu, e uma lágrima surgiu.
E o pesadelo então voltou.
Ela está morta!
Ela está morta! — repetia-se a voz sete vezes".
— Aurora, por Deus. O que houve. — William sai de seu quarto e vai até o quarto de em que Aurora estava dormindo.
A jovem estava sentada, com os olhos arregalados e o corpo inteiro suando. Ela olhou para Will completamente assustada e com as mãos trêmulas e sem conseguir se controlar, chorou.
— Ele... ele vai aparecer... Ele está próximo de mim, eu sinto isso.
— Ele quem? — Will senta-se na cama e envolve Aurora nos braços.
— O pai de Melina. A cada dia eu lembro de um detalhe. E é horrível. É como se a mesma sensação voltasse. O mesmo sentimento. Eu não quero vê-lo. Não estou preparada para isso.
— Você não vai vê-lo Aurora. Nunca mais. A essa hora ele deve estar preso.
— E se ele for solto. Ninguém soube mais nada a respeito. Papai pelo menos não me deixou ler os jornais. Ele está perto Will. Está perto e eu estou sentindo. — a jovem desespera-se abraçando William ainda mais forte.
— Shhh! Não se preocupa Aurie. Vai ficar tudo bem. Foi só um sonho, eu estou aqui. Tente dormir novamente.
— Dorme aqui.
Não foi uma pergunta. Depois daquele pesadelo, Aurora não conseguiria dormir sozinha.
— Aurie...
— Por favor — implorou.
— Está bem.
O rapaz se acomodou na cama e Aurora deitou-se em seu peito. Sentir Will tão perto lhe dava a sensação de proteção, mas a sua cabeça estava longe de pensar qualquer coisa que não fosse o aconchego do colo de seu melhor amigo.
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A claridade invadiu o quarto e Aurora estranhou o fato de ter conseguido dormir. Coçou os olhos e se espreguiçou. Vagamente se lembrou da noite anterior, e franziu o cenho, pois achou que William a esperaria acordar.
Foi até o banheiro para fazer sua higienes, e foi até a cozinha onde encontrou seu amigo sem camisa fazendo ovos mexidos. Aurora não tinha costume de vê-lo sem camisa e demorou o olhar prestando atenção em cada uma deu suas tatuagens. Os desenhos evidenciavam ainda mais a curva de seu corpo e deu um leve sorriso por lembrar que dormiu abraçada a ele.
— Achei que me esperaria acordar. – diz Aurora sentando-se a mesa.
William assustado, bate a cabeça no armário e deixa cair algumas tigelas.
— Will, você está bem? — Aurora pergunta preocupada.
— Está querendo me matar?
Ela riu e William fez o mesmo em seguida.
— Desculpa, não foi minha intenção.
— Então você se lembra de ontem?
— E por que não me lembraria?
— Sei lá, muitas pessoas não se lembram de seus pesadelos ou o que acontece em seguida.
— Infelizmente eu não tenho essa sorte. Ei! Achei que me serviria os café da manhã na cama. — Aurora fez bico.
— Eu levaria. Mas... — ele coloca os ovos nos pratos e se dirige a mesa — Você acordou cedo demais e eu achei que ficaria irritada por eu ter dormido com você. Quero dizer por a gente ter dormido juntos. Só dormir... Talvez você pensasse que... Enfim, você me pediu...
— William, eu te pedi para dormir comigo ontem. E posso te pedir para dormir comigo hoje, amanhã. Gosto da sua companhia — Aurora o interrompe notando o nervosismo do cunhado e o encara levando um pouco de ovos a boca.
— O pretende fazer hoje? — Will pergunta e Aurora solta um suspiro frustrado.
— Não faço ideia. Estou desanimada. Perdida. Sem saber como agir. E penso do que adiantaria encontrar minha filha agora. Vivendo nas condições em que vivo. Ela deve estar muito melhor.
— Mas você quer muito vê-la não quer.
— Muito. Saber como ela é. Tocar o seu rostinho e dizer que eu amo, mesmo que eu seja um completa desconhecida a ela, mesmo que eu seja insignificante na vida dela. Mas o fato é que talvez fosse melhor assim. Eu não ia aguentar vê-la e olhá-la de longe. Eu ter que me despedir logo em seguida.
— Aurie, se você encontrar Melina, você tem direitos sobre ela, independente de quem quer que for a nova mãe dela.
— Mas do que adianta. Quais os direitos que uma prostituta tem?
— A prostituição não é crime, mas manter uma casa de prostituição é. Você é inocente Aurora.
— E a minha vida atual? Como fica?
— Pensa, o que te fez ter coragem de enfrentar Marcus e fugir desse jeito?
Aurora olhou para o nada e sorriu. William tinha razão. Melina seria seu impulso para enfrentar Marcus de vez a viver a vida de forma feliz. Aquela era vida que ela queria para ela e sua irmã e agora a sua filha, uma vida tranquila e recheada de amores. Por um instante pensou em Chris, no quanto achou que ele seria uma pessoa que estaria com ela. No quanto sentiu que podia confiar nele e nos sentimentos do rapaz. Acho que ele seria o homem com quem finalmente pudesse contar. Então olhou para Will e sorriu novamente.
Segurou em suas mãos e a as apertou.
— Obrigada. Por tudo. Mas, o que te fez enfrentar Marcus e vir pra Monterrey comigo?
Will engoliu seco e limpo a boca tentando se controlar e pensar em alguma resposta.
— Você é minha melhor amiga, Aurie, não poderia deixa-la sozinha.
— Não poderia mesmo. Não aguentaria isso sozinha se não fosse você.
— O que me diz de aproveitarmos essas "férias" — ele faz aspas no ar — E darmos uma volta pela cidade? Enquanto isso podemos pensar no que fazer para encontrar Melina.
— Perfeito. Estou precisando destas férias.
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Huuum... Aurora e William sozinhos dividindo o mesmo ambiente? Acho que o coraçãozinho do nosso anjo vai dar uma balançada. E Will, irá resistir ao seu raio de sol? Como será que Aurora vai descobrir pistas sobre quem adotou Melina e quem é a mulher misteriosa do hospital?
Algum palpite?
É isso minha gente.
Forte abraço em vocês.
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