Carmela tinha o tédio da rotina e o olhar de decepção de sua mãe como companhia durante o dia. Arranjar um emprego era praticamente impossível devido a sua condição e isso aumentava ainda mais sua vontade de vingança.

Mas ela precisava de dinheiro. O bastante pelo menos para mudar de vida, ou pelo menos tirar o peso que invadia o seu corpo. Nunca se imaginou em uma situação como aquela e apesar de ter uma mente imatura, não era uma criminosa. Pelo menos não até o momento.

Estava a lavar a louça para sua mãe. Ela fazia as tarefas de casa enquanto a mãe trabalhava fora e naquela manhã, aproveitou a folga para dar início ao próximo passo. As redes sociais seria a partir daquele momento uma aliada. Sentou-se a mesa e abriu o notebook criando um perfil fake. O fato de ninguém mais chamá-la pelo primeiro nome ajudaria mais do que ela pudesse imaginar, era somente colocar outra foto e mudar o sobrenome que tudo caminharia para o sucesso.

Carmela Torres seria agora sua nova identidade, uma mulher ruiva de cabelos verdes era a sua nova face. Rezou internamente para encontrar as duas pessoas que mudaram completamente sua vida e, para facilitar o processo, jurou que mataria o primeiro que econtrasse a sangue frio. Naquele momento não existia mais consciência ou dignidade, tudo o que ela tinha havia se perdido, tudo em nome de sua família.

E então a primeira imagem apareceu a sua frente. Os cabelos negros e um tanto enrolados. O olhar marcante e compenetrado. Ele ainda tinha o mesmo corpo de sete anos atrás. O mesmo sorriso encantador que lhe travava as pernas e acelerava o seu coração. Sentiu-se uma estúpida por deixar se iludir. Sua autoestima lhe foi corrompida assim como seu coração e naquele momento desejou não ter um.

Uma solicitação de amizade fora enviada e então foi em direção ao próximo. Os olhos claros e a pele rosada. Era lindo, sem dúvidas. Jovem de tudo e com certeza com um futuro brilhante, mas que se dependesse dela, estava prestes a ser interrompido. Por fora ele poderia ser um anjo, mas por dentro, o inferno lhe preenchia. Outra solicitação de amizade enviada e agora era só aguardar.

O convívio com as outras presidiárias muito ensinaram Carmela. Crimes dos mais inescrupulosos passaram por aquela cela e mesmo que achasse aquilo absurdo num primeiro momento, precisou se interar da situação para que pudesse ganhar a confiança das presas. Foi o suficiente para que Carmela mudasse sua personalidade definitivamente. Aliás, estar presa durante sete anos por um crime que não cometeu, era pior do que morrer sem ser a hora.

Sua mãe havia acabado de chegar a casa. Como sempre sem dizer uma palavra sequer. Sua filha tinha comportamentos estranhos e confiar em sua incência, era uma das últimas coisas que se passava em sua cabeça. Foi até a geladeira e pegou um copo d'água. Carmela precisava de mais um passo para aquele dia, mas tinha que ser na ausência da mãe.

– Dona Maria está precisando de uma doméstica para o bar, ela disse que contrataria você. Se eu fosse você não rejeitaria, eu duvido que alguém a contrataria depois... Enfim, seu pai concordou.

– E onde ele está?

– Viajou a trabalho. – disse e foi em direção ao quarto.

A rejeição de seus pais lhe doía. A condição que estava sendo submetida ainda mais. Pertencer a uma família de classe média e trabalhar de doméstica era humilhante demais. No fundo ela sabia que sua mãe a amava, mas estava magoada. Segurou as lágrimas que jurou não derramar enquanto não cumprisse seu plano e fez a última pesquisa.

Klaus e Josh.

"Dois rapazes foram assassinados no sábado a noite. Informações do crime revelam que esses rapazes estavam presentes na mansão dos Castilhos em uma festa universitária. O autor, uma jovem de 18 anos,confessou o crime dizendo ter queimado os corpos para não deixar suspeitas, e que ainda, foi partícipe no crime de estupro contra Aurora Hough".

Ela olhou para as imagens dos dois rapazes e seus respectivos nomes e sobrenomes. Fez uma pesquisa básica e descobriu que era de Morélia. Demoraria um pouco para colocar o plano em prática, visto que precisaria juntar dinheiro suficiente para algumas viagens. Sem pensar muito, não hesitou eu aceitar o convite para trabalhar no bar.

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O prefeito Hernandes orgulhava-se de ver a praça cheia. Fazer festinhas beneficentes para agradar o público era o seu papel principal, porém, beneficente era apenas teoria. O dinheiro arrecadado ia ser investido na delegacia e no cabaré. Aliás, algumas noites de prazer lhe serviam para alguma coisa e ele tinha que compensar de algum jeito, desde claro, isso não manchasse a sua imagem de exímio pai de família.

O fato era que prefeito e delegado andavam no mesmo barco, eles sabiam os motivos, mas jamais imaginavam o meio. Até sabiam, mas não que compartilhavam do mesmo prêmio ao final do dia. E se soubessem, certamente seria um problema. Mas para o bem do Red Blush, continuar do jeito que estava, parecia uma boa opção.

Marcus e Cassandra fazia questão da presença dos Connor na praça. Eram reconhecidos no México todo por ser um grande empreendedor no mundo das artes, mas a verdade é que apesar de requisitado e muito bem renomado, algumas pessoas sentiam-se intrigadas. Durante a semana era tudo mil maravilhas, mas no momento em que a sexta feira anunciava a sua chegada, a coisa mudava e as pessoas a adentrarem , dizia as más línguas, eram apenas a alta sociedade e a maioria eram rapazes. Mas se estava funcionando durante todo esse tempo e tinha o total apoio do grande prefeito e delegado, não havia porque se preocupar.

O sol estava bem quente. Aurora recebia olhares do mais diversos tipos e por um instante receou a possibilidade de esbarrar com a recepcionista do motel em que ela e Chris foram. Aurora era conhecida apenas pelos que frequentavam o cabaré. Suas saídas eram limitadas, e quase sempre ao sair, procurava horários de pouco movimento.

Diante do público, Marcus e Cassandra eram pessoas adoráveis. Um tio e uma avó exemplar e até um cunhado simpático Mel poderia dizer se já não conhecesse seu verdadeiro caráter. Sentaram-se a mesa fazendo o papel de família feliz. Cassandra tentava desviar os olhares compenetrantes do prefeito e do delegado, e respondia apenas com um sorriso.

Dom, por sua vez, assim como sua mãe, não largava o leque de forma alguma e pedia internamente para que Roberto estivesse presente. Will procurou se divertir, mas fingir que tinha uma família perfeita era um papel que ele fora obrigado a fazer.

– Boa tarde a todos! É com grande prazer que eu os recebo em mais um almoço beneficente aqui na praça central. Todos vocês sabem que o dinheiro aqui arrecadado vai para instituições de caridade e para a melhora da cidade. Quero agradecer aqui hoje, a presença dessa linda família Connor. Eu tive o grande prazer de conhecer o Senhor Velasques um homem totalmente íntegro que soube muito bem cuidar de sua família enquanto ainda estava vivo. E quero agradecer o senhor delegado, Juan Carlos que com toda a sua equipe, exerce um papel fundamental na segurança da nossa cidade. Sem mais delongas, um bom evento a vocês.

A imprensa adorava essas comemorações. O ego do delegado subia ao extremo e a bela reputação de Red Blush aumentava ainda mais. Aurora aproveitou o momento e decidiu passar o dia com as crianças. Mel estava um pouco menos abatida, mas vez ou outra, ainda sentia falta de Meg que permanecia inconsciente. Foi uma semana turbulenta que Aurora preferiu com todas as suas forças esquecer.

Chris não havia aparecido na sexta feira. Aurora ficou nervosa com a ausência do rapaz e sentiu o sangue subir. Cigarros e tequilas aumentaram as proporções para que a dançarina aguentasse se submeter as carícias de outro rapaz. Ela poderia por seu plano com Will em prática, mas infelizmente o velho preferiu não beber. Por mais que tivesse embriagada, Aurora se lembrava detalhadamente daquela noite. Não era um velho asqueroso ou babão, mas estava longe de ser um galã e ao final do expediente, tentou ser forte o bastante para não desabar e lá estava Aurora, experimentando o gosto que jurou jamais provar apenas para poder lidar com aquela situação.

– Tia? – Clair tirou Aurora de seus pensamentos.

– Oi querida? Me desculpa! Disse alguma coisa?

– Eu quero ir no pula pula, posso?

– É claro que sim. Você também quer Mel?

Melany deu de ombros e soltou um "pode ser". Aurora sorriu com a figura das duas se divertindo e novamente se pegou retornando ao passado. Lembrou das palavras de sua irmã quando mais nova se referindo a Melina. Clair e Melina tinham a mesma idade apesar de Melina ser mais velha. Em todo caso, Aurora não poderia deixar de sentir seu coração se encher todas as vezes que a via. Uma criança doce e carinhosa.

– Tia, olha o tamanho do meu pulo!

– Ual, você deu um pulo super alto – Aurora soltou a admiração e sorriu como se não tivesse nenhum problema a sua volta. Como se sua vida fosse aquela, repleta de inocência e de sorrisos.

Uma pena que fosse só o dia terminar para que Aurora tivesse que enfrentar novamente seu pior pesadelo. Queria do fundo do coração que Chris não tivesse desistido dela ou todas as suas chances de sair daquele lugar estavam prestes a se acabar.

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 As pistas estão mais fáceis, quem se arrisca? 

Estou postando hoje, porque pretendo começar as postagens as segundas e quintas, sendo assim nos vemos agora segunda feira.

Espero que estejam gostando porque os segredos não param por aí.

Beijinhoooos