Capítulo 16
Marcus foi até o quarto onde se encontrava as futuras dançarinas. Queria fazer questão de chamar Aurora, talvez para que ela o visse como um salvador. Não precisou bater na porta e a cena que ele viu não lhe espantou ou foi de alguma novidade. Exceto por Aurora que se encolhia com desespero e com os olhos inchados.
Ele adentrou parado, observando todas as garotas, procurando pela única que lhe interessava. As moças não ousaram discutir, gritar ou dizer qualquer coisa. O medo era maior que suas forças.
– Aurora! – gritou e a moça se estremeceu no mesmo instante. – Aurora!
Aurora escondeu o rosto por entre as pernas. Queria que Marcus não a visse, ou desistisse, não gostaria sequer de imaginar o que ele tinha para lhe falar.
– Não me faça ter que repetir seu nome novamente. – ele socou a porta.
Levantou o rosto e visualizou a figura de Marcus. Um homem bonito, atraente, charmoso, mas um cretino completo. Um mafioso da pior espécie que fazia de tudo para conseguir o que quisesse.
– Aí está você. Levante. Precisamos conversar – sorriu.
Ela o encarou com os olhos mais perdidos que alguém pudesse ter. Morrer lhe pareceu conveniente outra vez, já que nesse momento não poderia fazer nada nem por Meg e nem por sua irmã. Não tinha forças para se mexer, nem sequer levantar. Sua vida estava a cada dia pior e já não aguentava mais tanto sofrimento.
Talvez algumas pessoas tenha mesmo nascido para sofrer. Para carregar um fardo extremamente pesado até o último dia. Mas talvez o seu sofrimento, seja a salvação de outra pessoa. Talvez seja o destino lhe dando uma missão de extrema importância, e quem sabe ele fosse generoso o suficiente para lhe recompensar depois.
Marcus estava sem paciência. Queria logo resolver esse assunto e gostaria de fazer isso o mais rápido possível. Sem pensar muito, foi até a moça e num impulso a pegou no colo, colocando-a em seus ombros.
– Ponha-me no chão. Me solta! – Aurora se debatia e distribuía socos em suas costas. Mas Marcus era forte, extremamente forte a ponto de sentir cócegas com toda a fúria de Aurora.
Foram até o escritório. Foi a única vez que Aurora teve contato com aquele lugar. Marcus a sentou em uma cadeira e fez sinal para que kerchak saísse. Aurora estava assustada e era nítido. Por mais que quisesse por um fim nisso tudo, no fundo sua consciência lhe perturbava. O homem a sua frente começou a andar de um lado para o outro. Apertou a mão várias vezes sem tirar a atenção de Aurora em nenhum momento.
– O que vai fazer comigo? – Aurora perguntou, mas Connor manteve silêncio. – E minha família? Como vou avisá-los que elas não virão. Eles vão atrás de mim se eu não mandar notícias.
Marcus ignorou todas as perguntas de Aurora, estava enfeitiçado, apaixonado, encantado. Era uma mistura de sentimentos que nem ele conseguia decifrar.
– Não sabe como corta o meu coração esse seu olhar diante de mim. Não sou esse monstro.
Aurora ergueu uma sobrancelha.
– Está bem. Isso é porque você não conhece meu amigo ali. Ele cruel. Mata suas vítimas a sangue frio por uma simples olhada que não lhe agrade.
Aurora se encolheu como uma gata arisca. Connor se aproximou dela sem se conter em tocá-la. Deslizou seus dedos sobre seu rosto, mas Aurora recuou o que enfureceu Marcus. Seus dedos grandes apertaram fortemente o maxilar da garota.
– Jamais recuse meu toque. Está entendendo. Jamais! – sua voz era grave, tenebrosa. Aurora começou a chorar compulsivamente lembrando-se do ano passado. Estava vivendo o mesmo pesadelo.
– Não! Não! De novo não!
Marcus a soltou. Ver Aurora chorando daquela maneira torturou seu coração.
– O que está dizendo?
– Você vai abusar de mim? – sua respiração estava ofegante. – Vai me dopar ou vai ser cruel o suficiente para me ver gritar e me fazer sentir cada toque, cada grosseria? – lhe faltava o ar e o desespero era terrível. – Me responde! – gritou. – Você vai agir igual aquele idiota? Vai tirar o resto de dignidade que eu tentei construir?
Marcus tentava assimilar as palavras. Tentava encaixá-las e percebeu que Aurora não era tão pura quanto ele havia pensando. Por um instante decidiu rejeitá-la, mas não conseguiu. Já havia se deitado com tantas mulheres de tudo quanto é jeito e estilo, sendo assim, Aurora continuaria a mesma, ainda que em tais condições.
Abaixou-se para ficar na altura de Aurora. Olhou no fundo dos seus olhos, perdidos no azul intenso que possuíam. Segurou seu rosto dessa vez com as duas mãos e fez um carinho, como se fosse alguém a quem ela pudesse confiar, como se Marcus acabasse de construir um coração.
– Tenho uma proposta pra você e garanto que você irá gostar. -- ele deu uma pausa e continuou - Casa-se comigo. – não foi uma pergunta. Era uma ordem.
– O que?
– Isso. Estou encantado por você desde que a vi pela primeira vez. Quero tocá-la, abraça-la.
– Não vou me casar com você – Aurora cuspiu em seu rosto e levou um tapa na cara.
– Não seja petulante, Aurora. Estou querendo facilitar as coisas pra você. – tentou conter fúria.
– Eu prefiro morrer ao me casar com um monstro. A ter que me deitar com você.
– Não diga bobagens. – foi até a cristaleira pegar um pouco de whisky. – Se não aceitar minha proposta não vou ser bonzinho a ponto de lhe ceder a morte, pelo contrário. Sua tortura e castigo será a prostituição. Você se recusa a dormir comigo, um homem bonito, rico, charmoso, que praticou lutas dos mais diversos estilos e que tem um corpo em forma, para se deitar com homens de tudo quanto é jeito. Gordos, velhos, nerds, porcos imundos já frequentaram esse lugar e minha querida Aurora, es tão linda que parece um anjo, seria uma disputa imensa ter você aqui, ainda mais como estrela principal.
Aurora não tinha pensado nisso. Toda aquela situação era assustadora e nojenta. O estupro estava pequeno diante do que ela teria que enfrentar. Mas se casar com Connor, por mais libertador que pudesse parecer, era ir contra os seus princípios e fazer parte desse universo asqueroso onde a luxúria dominava. Ela seria praticamente a dona de todo o cabaré e sabia que o casamento de seus sonhos não se parecia em nada com o que Marcus a estava propondo.
– Prefiro continuar assim. Pelo menos meus princípios estarão intactos. É a única coisa que me resta. Qualquer coisa a não ter que participar desse crime. De me envolver com toda essa sujeira. Meu Deus! E eu que achei que Dom era uma boa pessoa.
– Aquela bicha? É um otário. As únicas pessoas que se envolvem totalmente com o Red Blush é eu e minha mãe. Eu tenho mais um irmão, William, pobre coitado, perdeu a esposa há alguns meses de câncer. Perdeu o emprego como fotógrafo e agora tem que cuidar da pequena Clair, a filhinha dele. Um bebe adorável. – ironizou. – Todos eles se submetem as minhas ordens. De fato eles são boas pessoas, mas a situação os obrigou a viver nessa sujeira como você mesma disse. Mas sabe – deu um único gole em seu Whisky e encheu mais um pouco o seu copo – Seus princípios não é a única coisa que lhe resta. – Marcus andou e deu a volta parando atrás de Aurora. Abaixou e tirou seu cabelo do pescoço sentindo o cheiro doce e suave. – Sua irmã é uma garotinha muito linda – sussurrou – Posso fazer várias coisas com ela, boas e ruins, isso depende de você. – deu um chupão em seu pescoço o que fez Aurora estremecer.
– Deixa Melany fora disso! Ela é uma criança.
– Exatamente. Uma criança sem pai, sem mãe, e agora sem irmã. Mas antes de mais nada, vou te dizer as maravilhas que irei fazer com a pirralha. Eu poderia matá-la – Aurora desesperou-se – Mas isso seria fácil demais. Você provavelmente tentaria se matar também já que não tem sua irmãzinha. Se ela fosse mais velha tipo uns doze anos, poderia trazê-la para trabalhar conosco, o que me diz?
– Não! Eu lhe imploro não faça isso! – Aurora chorava sentindo seu coração ser pisoteado.
– Acalme-se querida. Não sou adepto a pedofilia. Isso é terrível – fingiu estar horrorizado, mas de fato não era algo que lhe agradava. – Mas... sua irmã mesmo tão pequena possui uma beleza incrível assim como a sua. Quaisquer pais desesperados para ter uma filha pagariam uma fortuna por ela. Eu prometo que escolheria a dedo os futuros papais de sua irmã. – deu mais um gole em sua bebida.
– Não, por favor. Melany é muito apegada a mim. Preciso vê-la ou ela adoece. Por favor tenha um pouco de compaixão.
– Compaixão! - sorriu debochado - Sabe que eu nunca recebi isso de ninguém? Já implorei por ela uma vez, mas não obtive nenhum retorno e olha só, estou sendo bonzinho a você. Quer mais? Se você aceitar se casar comigo, você será minha propriedade. Não se deitará jamais com nenhum outro rapaz a não ser seu marido, no caso, eu. Terá o privilégio de andar pela cidade, mas com o bico fechado, sem alarmar nada, ou não sabe do que serei capaz de fazer. Você e sua irmã, bem como a velha que cuida dela, terão todos os luxos possíveis, uma casa, escola, comida. Tudo! E você só terá que dançar e fazer o que uma boa esposa deve fazer. Vamos lá, meu anjo, eu só lhe darei prazer, luxos e uma vida consideravelmente boa.
Aurora o fitava pensando em considerar a opção. O bem estar de Melany valia mais do que qualquer coisa, e Meg também era importante, aliás, ela quem cuidou das duas irmãs quando Charles havia falecido. No fundo, ela estava tentando aceitar a condição que a vida lhe impôs, criando coragem para ser forte o bastante para aguentar tudo por ela e por Melany.
Connor queria pressioná-la mais. Ligou as televisões mostrando a antiga garçonete o quão terrível era o lugar. Em um dos quartos encontrava-se as garotas, sendo submetidas as ordens de Alejandra. Elas estavam limpando todo o estabelecimento sem muitos equipamentos. O chão estava sendo encerado com as mãos, enquanto Alejandra fazia questão de pisar em cima para aumentar o trabalho das garotas.
As que cansavam, levavam surras e chorar ou lamentar era proibido. Um verdadeiro inferno com uma decoração propícia. O pior Marcus não havia mostrado porque não era dia de espetáculo na casa, mas limpar o estabelecimento de joelhos era insignificante perto do que estava por vir.
– E então, o que me diz? Ah! Antes de responder, deixa eu ser um cavalheiro. – ajoelhou-se diante de Aurora e segurou em suas mãos. – Aurora Hough, aceitar se casar comigo?
Aurora analisou as circunstâncias. Apesar de não concordar com nada daquilo era o seu único meio de sobrevivência, apesar de fazer isso mais pela irmã do que por ela mesma. Precisava deixar a ingenuidade de lado e ser firme e forte para aguentar o que estava por vir. Deveria buscar força dentro de si. Coragem! Derrubar os obstáculos da vida. Já havia sofrido demais e nessa batalha somente os fortes sobreviveriam. E quando outras pessoas dependiam disso, o impulso era maior. Conteve as lágrimas. Pensou nas únicas pessoas que lhe restavam na vida e no quanto eram importantes.
– Aceito!
Marcus sorriu satisfeito. Aproximou-se dela querendo beijá-la, mas Aurora se esquivou ainda tentando assimilar o que acabou de fazer. Olhou para Marcus sedento por um beijo, e permitiu que ele a beijasse em seguida.
Ele estava desesperado. Sua pressão sanguínea aumentou, seu coração acelerou e todos os seus instintos pediram cada vez mais do néctar de Aurora.
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O filho mais velho de Cassandra precisava agir rápido. Teria que comunicar sua mãe e preparar as coisas para trazer a irmã de Aurora, assim como a antiga enfermeira. Não só isso, mas aguentar o escândalo de Alejandra. A essa altura sabia que Cassandra estava em casa e era pra lá que iria naquele exato momento.
– Fique aqui doçura. Prometo não demorar, mas só poderei levá-la para casa quando estiver tudo planejado.
Aurora deu de ombros. Não poderia contestar nada, apenas concordar.
Suspirou e olhou para os lados pensando no que fazer para aliviar o tédio. Não sabia qual seria o próximo passo e nem o que fazer. Notou que o escritório era composto por uma mesa de madeira finíssima, uma cadeira preta atrás da mesma. Algumas paredes em vermelho. Um sofá da mesma cor encontrava-se ao lado. A frente, estava as televisões, uma cristaleira que acompanhava um bar.
Levantou-se e foi até o sofá. Por mais que quisesse chorar, foi forte o suficiente para não fazê-lo. Contemplar o tédio naquele momento lhe pareceu mais atraente. Estava nervosa, ansiosa, desesperada. Pensava a todo momento na irmã e no quanto seu pai poderia estar certo. Mas ainda assim, o ódio por ele era maior.
A porta se rangeu e o ambiente se tornou pesado. Kerchak apareceu com a expressão intimidadora de sempre. Aurora arregalou os olhos. O que Alejandra e Marcus falaram dele fizeram sentido naquele instante.
– Então você é a famosa Aurora? Prazer, Kerchak – estendeu a mão a ela. Ela olhou receosa e sentiu o corpo inteiro tremer. Esticou as mãos e Kershak rapidamente a apertou. – Não se preocupe, eu não mordo. A menos que eu tenha uma boa razão para isso. – riu. – Enfim, garota não ousarei tocar em você. Mas seu noivo, meu chefe, pediu para cuidar da senhorita, enfim, tirá-la do tédio enquanto ele resolve alguns assuntos.
– Que tipo de assuntos? – perguntou com dificuldade.
– Convencer a mãe dele sobre o casamento de vocês.
– A mãe dele? E se ela não aprovar.
– Não se preocupe garota, Marcus é o filho preferido. Certamente conseguirá convencer a coroa.
– Escuta, as outras garotas já terminaram de limpar o palco. Se quiser pode dar uma volta por lá.
– Eu prefiro ficar por aqui. Aquela Alejandra não gostará nada de me ver aqui.
– Ela não manda em nada. Ela se acha poderosa porque dormiu algumas vezes com o chefe e demos a ela alguns papéis importantes para o cabaré.
Aurora não pode evitar uma cara de nojo.
– Como alguém pode aceitar essas condições? Como alguém pode se virar para um lado como esse? – disse mais para si.
– Você fará parte disso. Não julgue as outras. Mas se engana se você pensa que Alejandra alguma vez fora doce. Aquela ali é perversa. Uma cobra venenosa. Mas o que ela tem de perversidade tem de burrice. – gargalhou.
– Por que está conversando comigo?
– Porque recebo ordens. E outra, você agora fará parte dos Connors.
– Foi ameaçado por eles também?
– O que te faz pensar a respeito?
– Todos aqui parecem serem obrigados a concordar com tudo isso.
– Não. Faço isso pelo dinheiro. Connor me paga bem e até me deixa dormir com algumas garotas. Inclusive, já vi meu próximo peixe entre as dançarinas.
Aurora sentiu pena diante das demais garotas. Não lhe parecia justo que tivesse conseguido se livrar de tal situação enquanto as outras sofriam. Mas era o único jeito de salvar sua família.
– Escuta, eu preciso resolver uns assuntos. Os únicos lugares que você poderá circular são o palco, o bar e o escritório, não se atreva a andar por nenhum lugar, estamos entendidos?
Ela balançou a cabeça e se encolheu no sofá. Talvez se pegasse no sono poderia acordar e perceber que tudo não passava de um terrível pesadelo. Porém ela estava prestes a lidar um dos piores que já pudesse ter enfrentado – Cassandra Connor Velasques.
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Oii amores!! Em breve voltaremos ao presente novamente, só quero fechar esse ciclo e veremos o que acontecerá no tempo atual.
Para quem gosta destes capítulos voltando ao passado, não se preocupe, teremos muito espalhados por aí.
Ah! Vários destes capítulos do passado vou deixando algumas pistas. Quem aí já pegou algumas? Deixem suas teorias.
Beijinhos vermelhos pra vocês. (esse é com carinho e é sincero, eu juro)
PS: a mídia é do Marcus Connor. Se ele não fosse o vilão, seria um bom partido, não acham?
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