Capítulo 11
Ela encarava as outras presidiárias que agora dormiam ao seu lado. Enquanto parte delas dormia em camas, ela dormia no chão frio. Às vezes, lembravam-se de lhe dar uma coberta ou algo que forrasse o chão.
Estava encostada na parede com os joelhos levantados pensando qual seria o primeiro passo assim que saísse dali. Na verdade ela já sabia, só precisava arquitetar seus planos e não falhar. Ela queria vingança e ninguém a faria mudar de ideia. Aliás, somente ela sabia o que era passar sete anos em uma prisão sendo inocente.
Foram sete anos e por sorte foram apenas sete, já que se não tivesse confessado pegaria mais cinco anos. O problema era ter que mentir. Mentir para salvar sua família, mesmo que naquele momento eles estivessem morrendo de vergonha de sua filha.
Não deixaria por menos. Iria se vingar e fazer jus a sua prisão. Engraçado que um lugar como aquele pode mudar a personalidade de alguém que durante muito tempo era feliz, animada e alegre e que agora se tornou uma mulher fria, amarga e com sede por justiça.
Tentou dormir, mas era impossível. Ela poderia sair a qualquer momento da prisão e a sua liberdade estava próxima, sendo assim a ansiedade lhe tomava conta.
Sem que se desse conta, adormeceu. Deu graças porque estava calor e não teria que sentir arrepios desnecessários quando o frio lhe tocasse a pele. Acordou sem contemplar a luz do sol, mas o mau humor diário das pessoas a sua volta.
Escutou as grades se abrirem e sentiu o coração bater em velocidade descompassada. A sensação seria indescritível.
- Senhorita Carmela, você está solta. Espero que tenha aprendido a lição e não volte mais.
- Nem que eu desse motivo para isso. – piscou e saiu.
Assim que pegou suas coisas e tocou o asfalto das ruas de Monterrey, respirou aliviada e fechou os olhos de forma que sentisse o sol tocar sua pele. Porém, por mais que seu corpo estivesse livre, sua dignidade estava perdida e sua alma estava presa. Era como se estivesse nascido novamente. Teria que aprender com a vida e então caminhou. Caminhou recebendo os olhares de repúdio das pessoas já que sua roupa não era a das melhores. Porém não se importou. Continuou caminhando quase sem rumo até o primeiro telefone público, e então discou o número que por muito tempo fora o seu. Arrepiou-se. Sentiu o gosto desagradável do medo e da insegurança, mas era preciso.
- Mãe!
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Aurora levantou-se e foi pegando suas roupas. Não poderia fraquejar, nem fazer o papel de romântica, ou de mocinha ingênua. Deveria ser agridoce, não poderia expor sua vida a ele ou Chris se afastaria e isso era o que ela menos desejava. Sem saber por qual motivo, sentiu tamanha angustia. Seu peito ardeu, como se estivesse tendo um pressentimento. Preferiu ignorar e continuou a se vestir, ou saberia que Marcus não a perdoaria se soubesse que ela havia estendido a noite em outro lugar.
- Aurora, está fria. Aconteceu alguma coisa? – abotoando a camisa ele diz.
- Estou com pressa. Alguma coisa me diz que algo de errado está para acontecer.
- Relaxe, isso é coisa da sua cabeça.
- Que seja, preciso dormir porque hoje eu ainda trabalho.
- Certo, já estamos indo.
Quando estavam para sair a porta, Chris parou em frente a mesma e encarou com ternura Aurora.
- Você é incrível. Queria eu ser o cara ideal.
Então o coração da moça voltou a derreter-se.
- Você pode ser Chris. Eu deixo que seja.
- Estamos em condições diferentes, meu anjo.
- Vamos fugir. Sair daqui.Somente você e eu, e minha irmã.
Chris engole seco. As coisas não eram tão fáceis quanto parecia. Ele sabia exatamente que dia era hoje e sabia que mais cedo ou mais tarde ele teria que fugir, mas não gostaria de levar Aurora consigo.
- Eu preciso pensar, amada. Preciso arrumar as minhas coisas para que dê certo nossa fuga. Eu juro que tentarei. – ele desliza sua mão no rosto da jovem que sorri decepcionada.
Aurora chegou ao cabaré entrando pela mesma porta que saíra e foi até o hall esperar por Marcus, entretanto ele já estava a esperando e com o rosto nenhum pouco amigável. Connor bebericava seu whisky com o olhar compenetrado e o punho cerrado.
– Estou pronta Marcus, se quiser podemos ir para casa.
– Onde está Chris?
– Chris? Ele saiu pelas portas do fundo. – Aurora diz com medo em sua voz.
– E por quê?
– Ele preferiu assim. Disse que da última vez havia muita gente, e que nãos seria legal para a sua reputação ser visto saindo de uma boate. Mesmo o Red Blush aparentando ser uma boate qualquer.
– Aurora! – ele grita tacando o copo no chão que se quebrou em vários caquinhos. – Não subestime minha inteligência.
Ela sentiu o corpo estremecer. Seu coração palpitou e o medo logo lhe fez uma visita.
– O que houve? Por que está alterado?
Marcus descruza as pernas e se levanta ficando bem próximo de sua esposa. Olhava no fundo dos seus olhos como se quisesse descobrir alguma coisa, como se fosse possível arrancar-lhe alguma culpa.
– Alejandra me disse que viu você saindo pelos fundos com meu irmão.
Aurora sentiu o sangue ferver, como seria possível que sua rival poderia ter a visto. Ela precisava pensar em uma desculpa rápida, mas só conseguia pensar nos bons tapas que daria nela quando a encontrasse.
– Para que ela tenha me visto, ela deve ter ido lá fora. E se ela estava lá fora ocupada em me observar, provavelmente ela tenha deixado algum cliente esperando. – Aurora parou por um instante analisando a reação de seu marido – Oh não! – ela finge preocupação. – Nas condições que estamos não podemos deixar clientes esperando. Ela faltou com uma das regras principais. – o sarcasmo de Aurora transcendia para quem quisesse reparar.
– Alejandra! – Marcus grita com raiva cerrando os punhos, ainda mais forte. – Preciso cuidar dela, mas antes, você estava ou não fora do cabaré?
– Estava – ela confirma por fim. – Mas estava com Chris, por coincidência Will estava saindo no mesmo instante, então acabamos nos encontrando. Nosso cliente queria experimentar alguma coisa diferente. Ele tem fetiche por sexo no carro, apenas isso.
– Não fale que você esteve transando com outro homem dessa forma, tão direta, porque isso me machuca.
– Meu amor, não se preocupe – ela segura seu rosto com as duas mãos a fim de fazer um carinho nele – Você é único em minha vida. – ela lhe dá um selinho, mas Marcus a puxa para um beijo intenso que ela com muito custo, corresponde.
– Vamos embora, baby. Quero contemplá-la em seu sono. Estou com saudades.
O ponto fraco de Marcus para sempre seria Aurora. Ela, com poucas palavras, conseguia amansá-lo. Uma técnica de sobrevivência que ela acabou adquirindo já que conviver com monstros dentro da própria casa era o mínimo que ela poderia fazer.
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Will estava em casa colocando Clair para dormir. A pequena estava agitada, mas já era tarde, precisava descansar. Como um bom pai que era, Will contou uma estória para que ela dormisse e, portanto, pudesse colocar seus pensamentos em relação a Aurora em ordem.
– Papai?
– Sim pequena.
– Por que tia Aurie é casada com tio Marcus?
– Ora, porque eles se conheceram, se apaixonaram e agora vivem juntos. – tentou explicar.
– Queria que tia Aurie ficasse com a gente mais vezes, eu gosto tanto dela.
– E ela também gosta muito de você. Mas ela é muito ocupada, meu amor. Infelizmente não consegue vir com muita frequência.
Clair apenas suspira decepcionada. Vira-se para o lado e fecha os olhos ganhando um beijo na testa de seu pai.
Ele vai para a sala e se deita no sofá. Não estava afim de dormir, pois a imagem do que Aurora estaria fazendo naquele momento lhe incomodava. Preocupava-se com o bem estar dela e não confiava em Chris. Não era algo apenas relacionado a ciúmes, mas ele não lha passava credibilidade, embora no fundo, implorasse para que estivesse enganado.
Dom chegou reclamando. Resmungava sempre que seus planos dessem errados e procurava uma pessoa a todo o momento para desabafar. Will respirou fundo, pois sabia que seu irmão não lhe pouparia e por isso fingiu que estava dormindo.
– William Connor, eu sei que está acordado, pare de fingir, você vai me ouvi – Will não se mexeu. Dom se aproxima e balança o corpo do irmão. – Will? Willzinho? Tenho informações de Aurora.
O filho do meio de Cassandra se levanta num impulso e com os olhos arregalados enquanto Dom apenas ria.
– O que nossa estrela não faz com os irmãos Connor? Ai! – ele grita rindo e então Will percebe sua intenção.
– Seu veado! – William joga com força almofada em Dom.
– Ai! Seu grosso – finge de ofendido. – Agora você vai me ouvir. – senta-se ao lado do irmão.
– Diga! – o irmão suspira derrotado.
Dom morde o mindinho e cruza as pernas balançando-as.
– Sabe o que é? Roberto. Ele não fala comigo. Quero dizer, ele fala, mas não jeito como eu gostaria. Só faltei me jogar nos braços dele, mas ele não faz nada. Não se mexe. Como aquele pedaço de mau caminho pode recusar uma pessoa maravilhosa como eu? – ele joga o cabeça como se tivesse cabelo suficiente para se movimentar.
– Já falou para ele de seus sentimentos?
– O que? Assim você me ofende William. – colocando a mão no peito e se indigna. – Está achando o que? É o homem que tem chegar tá!
Will o olha com uma sobrancelha levantada como se a situação fosse óbvia.
– Não me olha come essa cara tá. – seu irmão levanta as mãos em sinal de redenção. – E você irmãozinho querido? Já falou de seus sentimentos para ela?
– Ela quem? – Will se arruma no sofá e pigarreia fingindo não entender.
– Você não me engana rapaz, todo mundo sabe dos seus sentimentos por Aurora.
O rapaz suspira e olha para baixo.
– Não posso Dom. Aurora me vê somente como amigo, e se eu me declarasse poderia colocar a vida dela em risco, aliás, a vida de todos em risco.
– Falando em risco, mamãe estava com um chupão no pescoço hoje.
– Como assim?
– Eu não sei, mas acho que mamãe está tendo um caso. Até me expulsou de casa.
– Dom, ela falou isso?
– Não, mas ela desconversou e parecia nervosa. Disse que era para resolver assuntos do cabaré.
– Ela que falou que jamais colocaria outro homem no lugar de papai. Isso não é bom.
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O senhor Juan Carlos estava na delegacia analisando o porta-retrato de sua filha. Sentia falta dela e de todo o seu carisma. Sua filha era sua maior alegria, mas o câncer tirou-a dele. Havia feito de tudo para que sua filhinha ficasse feliz. Cometeu os erros mais grave que um pai poderia cometer para ver o sorriso no rosto de Mia, mas infelizmente a terrível doença destruiu tudo o que ele e ela haviam conseguido. Nada lhe fazia mais feliz, desde a morte de sua esposa, do que sua linda e carinhosa filha.
Mas tinha uma única pessoa que lhe desviava a atenção e o fazia descarregar o estresse. Aliás, ela sempre havia sido seu refúgio, inclusive na época do casamento. Ela era a única que lhe dava o prazer que ele tanto almejava, a única capaz de deixá-lo completamente vulnerável e com isso se submetia a todos os luxos e desejos daquela estimável mulher.
Uma paixão avassaladora, mas ele mal sabia que a tal mulher não era de fato quem ele pensava. E o que ele não sabia, é que ele não era o único, mas um dos procurados. Entretanto, enquanto ele acreditasse ser especial, estava tudo em mais perfeito estado. Para ambos era melhor que as coisas continuassem assim, porém, nem tudo são rosas.
Na manhã seguinte ele se encontraria com o prefeito e para acertar as coisas em relação à praça principal, pois o mesmo haveria de dar um belo discurso. Eles tinham certo acordo em relação ao cabaré, e ao saber de seu estado, tentariam os dois reerguê-lo.
Suspirou fundo e novamente olhou para o rosto de sua filha.
– Eu juro meu amor, eu ajudarei a sua família.
Porém, mal sabia que era ele quem precisava de ajuda.
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Algum palpite? hum? Hum?
Antecipei o capítulo de Sábado porque hoje é aniversário da minha linda Diane_Bergher
Flor, tudo de bom na sua vida. Parabéns pelo seu dia que ele seja de extrema felicidade assim como os demais, e que você continue nos encantando com suas história maravilhosas.
Beijiiinhoooosss.....
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