O meu quarto estava uma bagunça.

Definitivamente, precisava de uma organização.

Nem parecia que eu dormia ali todas as noites. Bom, tudo bem que muitas vezes a noite é curta para mim e nem percebo nada a minha volta.

Mas, céus, isso estava muito bagunçado.

Sem pensar muito vou em busca do cesto de roupa suja que estava por ali em algum lugar. Ah, estava no banheiro. Comecei juntando todas aquelas roupas espalhadas pelo quarto.

Como é que ainda tínhamos roupas para vestir?

Depois de colocar tudo na máquina de lavar, eu fui organizar a penteadeira, que mais parecia que passou um furacão por ali.

Enquanto colocava tudo em seu devido lugar, um papel caiu quando eu quase derrubei um frasco de desodorante.

Franzi as sombrancelhas. O que era isso?

Quando peguei vi que era uma fotografia. Nela, Nick sorria abertamente daquele jeito dele de sorrir com os olhos enquanto eu estava um pouco tímido.

Os fios loiros dele estavam desgrenhados e eu temo que seja culpa minha.

Eu me lembro bem disso.

Nick estava animado com sua Polaroid nova. Ele tinha juntado um bom dinheiro para conseguir comprá-la. Ele dizia querer montar um álbum nosso algum dia com ela.

Um sorriso se formou em meus lábios me recordando de quando ele tirou essa foto a dez anos atrás, enquanto estávamos deitados no sofá de sua casa.

ㅡ O que foi? ㅡ Lembro de lhe perguntar, pois ele estava olhando demais para a foto em sua mão e eu não sabia decifrar a expressão em seu rosto.

ㅡ Nada. ㅡ Ele respondeu em meio a um sorriso sem desviar os olhos da foto. ㅡ Veja.

Eu me lembro de admirá-lo quando ele me entregou a foto. Ele estava mais lindo do que nunca. Eu amava de como seus cabelos estavam bagunçados e mais ainda o motivo.

ㅡ Ficou ótima. Eu adorei. ㅡ Disse em um tom meigo lhe entregando a foto ㅡ mas agora me conta o que estava pensando enquanto olhava?

Lembro de vê-lo hesitar por alguns segundos e encarar a foto novamente. Eu podia escutar seu coração batendo enquanto estava deitado em seu peito.

ㅡ Em como o mundo está em preto e branco e somente nós estamos em cores vivas. Você faz eu me sentir assim, meu coração.

Lembro de sorrir pelo apelido carinhoso, e sentir meu peito transbordando de felicidade quando ele disse aquelas três palavras logo em seguida.

Eu me lembro da nossa luta com nossos pais que não aceitavam nosso relacionamento. Eu me lembro dos pais deles ameaçarem o levar para longe de mim e colocá-lo em um colégio interno.

ㅡ Já estamos fora de perigo? ㅡ Eu me lembro de perguntar.

Lembro de como olhos cinzas de Nick se iluminaram e seus lábios se curvaram em um sorriso.

ㅡ Eu já resolvi esse assunto com meus pais, não se preocupe. Eles tem que aceitar quem eu sou.

Lembro de levantar a cabeça de seu peito de súbito e encará-lo com um sorriso de orelha a orelha.

ㅡ Está falando sério? Está tudo resolvido? ㅡ Ele assentiu sorrindo junto comigo. ㅡ Ah, ainda bem!

E eu abracei seu peito nu, me sentindo o cara mais feliz do mundo.

Eu me lembro daquele natal juntos, estávamos despedaçados. Nossas famílias juntas nunca dariam certo e isso nos destruía.

Eu me lembro... Nós nunca pensamos em desistir. Nós nos unimos ainda mais.

Um suspiro apaixonado escapou de meus lábios pelas lembranças.

Ah... Eu me lembro bem...

Ele me deu seu colar com o pingente de avião de papel. Ele disse que compraria outro igual para ele, mas queria que eu ficasse com o dele.

Passei a mão no peito sentindo-o ali.

Nessa mesma noite, eu me lembro de vê-lo arrastando os móveis para abrir caminho e dançando como se não houvesse nenhum problema capaz de impedir sua felicidade. E eu o acompanhei nessa dança e esquecemos do mundo naquele momento.

Eu me lembro, de quando ele pisou no freio antes da hora quando tinha dezoito anos. Graças a Deus não deu em nada além de vinte pontos na cabeça.

E quando ele chorou aquela noite, eu chorei junto. Tive medo de perdê-lo e ele teve medo de nunca mais me ver.

Eu me lembro dos comentários nos corredores do colégio, sobre ele estar me traindo, e me lembro de pedir para conversar com ele sobre. E ele negou tudo.

ㅡ Eu estou te libertando. ㅡ E saí andando o deixando ali parado naquela esquina.

Mas no outro dia, quando eu acordei...

ㅡ James? ㅡ Me assustei com sua voz rouca e preocupada enquanto tinha uma mão sob meu ombro. Eu o olhei soltando a fotografia sob a penteadeira, e...

Ele estava olhando para mim.

Assim como no dia seguinte daquele dia na esquina de sua casa.

Ele estava olhando para mim.

ㅡ Está tudo bem? ㅡ Ele franziu suas sombrancelhas loiras com uma expressão preocupada.

ㅡ Claro, amor. Eu só estava organizando o quarto.

ㅡ Entendi. ㅡ E ele notou a foto em cima da penteadeira e sorriu. ㅡ O que é isso?

Nick se inclinou para pegá-la fazendo eu sentir o cheiro de seu perfume amadeirado.

ㅡ Ah... Eu me lembro disso... ㅡ Ele sussurrou para si, mas pude ouvir.

ㅡ Papa?

Nos viramos no mesmo instante ao ouvir a voz fina de Noah.

ㅡ Ele está andando! Amor, ele está andando! ㅡ Não consegui conter o riso e os gritos ao ver nosso pequeno parado em pé, nos olhando com aqueles olhos tão cinzas quanto os do pai.

ㅡ Eu estou vendo. ㅡ Não precisava olhá-lo para saber que estava sorrindo tão bobo quanto eu.

ㅡ Sua câmera, Nick! Onde está sua câmera?!

Ele pareceu perdido, talvez fosse o desespero do momento. Eu precisava registrar os primeiros passinhos do nosso filho, mas não conseguia tirar os olhos totalmente encantado por esse serzinho tão maravilhoso. Ele tem os olhos do Nick, como isso é possível, mesmo não sendo filho biológico? Apesar de sua pele cor-de-chocolate e seus cachinhos negros, ele tem os olhos do Nick.

Meu pequeno estava parado nos olhando com aquela expressão inocente que me encanta todos os dias, enquanto nós estávamos igual duas estátuas plantadas no meio do quarto.

Desvei os olhos do meu filho rapidamente pois Nick, ainda estava parado sem saber o que fazer.

ㅡ Por Deus, Dominick! De que adianta um fotógrafo que nem sabe onde estão suas câmeras!?

Ele ainda estava perdido, então ele desviou para a penteadeira e viu aquela polaroid que ele usou para tirar nossa foto.

ㅡ Rápido, amor!

Click.

E assim mais um momento foi eternizado em um papel fotográfico.

E eu vou sempre me lembrar de todos os sentimentos que sinto nesses momentos.

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