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Reconciliar ou Perdoar?

Normalmente o ser humano não gosta de perdoar quando lhe fazem uma partidas das boas, de facto. E, no caso latino, às vezes o ódio vai passando de gerações, como bem retratado por Shakespeare em Romeu e Julieta.

Vi recentemente uma reportagem sobre três situações trágicas, numa realidade marcante, tantas como neste mundo humano , mas que, de facto, nenhuma delas parece não ter merecido a «Misericódia do Senhor» tal foi a violência psicológica a que forma sijeitos.

Um jovem, com 16 anos assassinado a tiro na sequência de uma discussão, filho unico, pedidindo sua mãe prisão perpetua para o assassino, Porém o tribunal ficou-se por 25 anos deixando-a revoltada para um resto de vida.

O segundo caso é passado na Austrália, na Provincia da Tasmânia, onde uma familia é desmembrada no contexto politico de que os descendentes de arborígenes deveriam ser socialmente integrados em familias brancas. Neste caso a vítima foi entregue a uma família de acolhimento tendo sido abusada desde os cinco anos até aos dezasseis, pelo pai e irmãos adoptivos. Pelos 16 anos conseguiu fugir e lutou por um emprego tornando-se anos mais tarde gerente de um banco e posteriormente doutorou-se em medicina dando aulas na universidade a cadeira de doenças tropicais. Teve convites para dar palestras em diversos países do ocidente, nomeadamente Canadá, Reino Unido e também na India.

O ultimo relato foi de um cambodjano que trabalhou como escravo na sua juventude a construir uma barragem, durante o periodo do domínio dos Kemers Vermelhos, com um horário diário de quinze horas, durante todo o ano, e com direito a duas caldas de arroz por dia. Aproveitando a invasão dos Vietnamitas consegue fugir para a Tailandia e depois para os Estados Unidos, tendo estudado e tirado o mestrado em gestão. Constitui familia mas vívia um trauma permanente com as imagens do passado e o sofrimento dos irmãos e pais, afectando-lhe o sono.

Qualquer uma destas tragédias reclamavam justiça mas por outro lado, traziam insegurança e depressão às vitimas, pese embora esses tempos já tenham passado.

A reportagem foca a dor e os traumas que estas pessoa viveram, em tres zonas bem distintas do mundo, e a forma que cada um adoptou para ultrapassar em definitivo o passado sombrio que persistia em querer ficar. .

No caso da mãe, que já sofria há doze anos a perda do único filho, começou a sentir necessidade de se aproximar do assassino e perdoar-lhe. Começa a ir visita-lo à prisão e com o tempo acaba por entender que aquele homem a aproximava do filho, perdoando-lhe. De facto o assassino parece ser na realidade um rapaz sensato e entendeu a procura daquela mãe, porque ele igualmente também sentia remorsos pelo que fez. Desenvolveram uma amizade e deram passos mais à frente criando um movimento envolvendo cidadãos que sofriam da mesma dor. O assassino acabou por considerá-la a sua segunda mãe e ela, mostrou que foi uma decisão corajosa mas trouxe-lhe a paz interior que necessitava. Inclusivamente casou-se novamente também com um homem que tinha perdido um filho assassinado.

Estas «dores» sociais em que as familias sofrem exigindo uma vingança por vezes até ultrapassam gerações e criam ainda mais violência. Com estes actos de perdão, ou no mínimo de reconciliação, as angústias acabam por se irem dirimindo com o tempo dissolvendo o sentimento de revolta.

O caso da mulher australiana lutou desesperadamente por descobrir onde estaria a mãe biológica. Foi uma formiga que esbarrou nas autoridades, ficando horas por dia sentada na Segurança Social, até que um dia um funcionário a chamou e deu-lhe a tão desejada morada. Conseguiu reve-la bem como os seus irmãos, falecendo a progenitora meses depois.

Lutou politicamente para por cobro a esta situação vergonhosa, liderando um movimento de arborigenes, e conseguiu que o Governo da Australia reconhecesse a atrocidade e pedisse desculpa publicamente, em nome de todas as instituições (Parlamento, Governo e Primeiro Ministro) por esta politica racista tendo sido instituído o dia da desculpa. De facto, a senhora perdoou quem a molestou mas entendeu que foi vítima de um processo político instituido.

O caso do cambojano foi o mais emotivo. Trabalhar e viver em condições sub-humanas na adolescência, sem poder cumprimentar a familia ou amigos, no campo de concentração onde estavam, vivendo como autómato julgo que durante a adolescência sofreu bastantes comportamentos pós- traumáticos. Mas deu a volta, constituiu família e regressou ao actual Cambodja. Perdou todos os actos infames que lhe fizeram e envolveu-se em causas sociais para ajudar pessoas que sofrem do que sofreram, e também foi com est atitude positiva de perdoar o passado que conseguiu voltar a ser a mesma pessoa, tendo inclusivamente, na entrevista, distinguido a expressão de reconcilar ou perdoar. E de facto reconciliar seria um reconhecimento da outra parte em reconhecer o erro cometido.

Julgo que praticamente todas e todos os leitores já sofreram, mais ou menos, coações psicologicas e até fisicas, que hoje ainda guardam rancor e ódio, tivesse sido na familia, na escola e até no trabalho. E muita gente tem consequências pós-traumáticas devido a situações moralmente condenaveis e injustas.

O Cristianismo, mesmo para os não crentes, aborda esta temática de uma forma muito clara: o saber perdoar e o pedir perdão.

Nestas coisas só posso falar por mim. E na verdade o saber perdoar, mesmo na injustiça, não é um acto de cobardia. É um acto de cidadania que nos ajuda a ser humanos com uma mente sã e a sentir uma realização pessoal que nos dá uma força interior que acaba por «mover montanhas».

Fiquei muito contente por conhecer estes três casos. E espero que muitos mais hajam para contar e descobrir!

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