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Capítulo 4


  — Acorda, Milly. Já está na hora de irmos embora. — Sally estala os dedos na minha frente e me tira do transe. Um barulho é ouvido e a porta se abre e fecha no mesmo momento, só dando tempo de Sally dizer: — Já estamos fechados!

  Arregalo meus olhos e sinto minha amiga fazer o mesmo. Ha-jun, o asiático que dominou meu coração durante o fundamental I e II. Ele era lindo, engraçado e o melhor de tudo… Evangélico também.

  Seus olhos eram pequenos, sua pele branca como a neve e seus cabelos castanhos e lisos estavam jogados em seu rosto de uma maneira imperfeitamente perfeita. Ao contrário de tudo que vi em todos os nossos anos, o garotinho que sempre se vestia de uma forma alinhada, estava com os cabelos desgrenhados e roupas pretas como um roqueiro.

  — Eu sei que estão fechando, por isso mesmo entrei aqui. — Ele segura a porta com força e vejo seu rosto suar intensamente. Não sei o que ele está fazendo, mas decido ajudar e pego a chave, trancando a grade e a porta da loja. — Obrigado.

  Sally me puxa pelos braços de maneira nada discreta e sussurra no meu ouvido enquanto olha para ele:

  — Não é Ha-jun? Seu amorzinho do fundamental. — Coro completamente e afirmo com a cabeça, vendo sua boca se abrir em pleno assombro. — Nossa, ele ficou ainda mais lindo com o tempo!

  — Sei que estão falando de mim e eu ainda estou aqui. — Ele começa a andar pela loja e suas incríveis botas pretas fazem um som que ecoa em todo o ambiente.

  — E mais rebelde também! — Retruco e sinto meu coração se acelerar ao ver ele indo na direção do livro que estava virado.

  — Eu disse que existem pessoas que se interessam em conhecer o que está escondido! — Ri e eu olho emburrada para ela, realmente Sally tinha me avisado que ia ser o único diferente ali e que iriam querer ele.

  — Esse não pode! — Grito e ele leva um susto, quase deixando o livro cair no chão.

  — Por que não? — Olhou para o livro e deu de ombros. — É só Pollyana.

  — Não é só “Pollyana”. Você pelo menos conhece a história? — Fico indignada e me aproximo dele que se afasta gradualmente.

  — Tristeza, positivismo e final feliz… Coisas que só acontecem nos livros e filmes, não é?

  Ouço alguém esmurrando a porta e arregalo os olhos. Por que estão atrás dele? A porta range na mesma hora de tão velha que é.

  — Por que estão atrás de você?

  — Vamos dizer que eu seja um cantor bem famoso que só quer um pouco de paz, mas mal consigo sair na rua sem ser rodeado de fãs e repórteres.

  — Cantor famoso? — Não consigo nem esconder a surpresa. Onde eu estive nesses últimos tempos que não sabia disso? Ah sim, estava com aquele ser que mal me deixava ler as notícias na internet.

  — Te conheço de algum lugar? — Questiona-me e seus olhos me encaram como duas joias brilhantes. Eles descem pelos meus cabelos negros indomados e pela minha pele parda e param no meu crachá. — Camilly... Preciso que me deixe ficar aqui pelo menos até eles desistirem de mim.

  — Não posso chegar tarde em casa. — Dou de ombros já me dispensando do trabalho de ter que ficar ali até tarde lidando com paparazzis e um rebelde.

  — Eu tenho compromisso agora. — Sally diz e por algum motivo, sinto que isso é intencional, que é apenas uma desculpa para me deixar ali com ele. — Ajude o pobre homem, Milly.

  — Não sou pobre. — O ar de arrogância dele me deixa irritada. Era mesmo o garoto por quem me apaixonei há alguns anos? — Isso! Se vocês me ajudarem, eu posso pagar.

  — E quem disse que preciso do seu dinheiro? — O desafio e me aproximo, o encarando com os braços cruzados e a sobrancelha arqueada.

  — Claro que precisa, por que mais trabalharia nesse lugar destruído? — Dá um sorriso cínico e, Deus que me perdoe, mas a vontade que sinto é de deixar ele sem nenhum daqueles lindos dentes brilhantes na boca.

  Respiro fundo várias vezes para tentar me recompor antes de responder. Não posso perder o fruto do Espírito que é a mansidão e muito menos o domínio próprio.

   Quando já me sinto melhor, respondo:

  — Trabalho aqui porque amo o que eu faço! Então pare de tirar conclusões sobre mim sem antes me conhecer. Se é assim que pretende me convencer, sem chances, eu realmente preciso ir para casa! — Meu telefone toca e peço licença para ir atender.

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