Capítulo 3
Entrei no elevador e me permiti fechar os olhos e deixar as lágrimas salgadas descerem por meu rosto e tocarem meus lábios. Eu não precisava fingir ser forte, acho que nessas horas ninguém é.
Saí disparada em direção à casa de Sally, não iria conseguir ir ao culto hoje. Precisaria inventar uma bela de uma desculpa para meus pais, esse era o grande privilégio de ser filha do pastor da igreja.
Eu esbarrei em alguma coisa e caí, apesar da dor que sentia ser mais emocional que física, só me fez chorar mais. Após alguns segundos, sequei meus olhos e percebi que tinha caído devido a um livro que estava no chão.
Curiosa e acreditando sempre que Deus tem um propósito maior, peguei aquele livro e levei em minha jornada, seu nome era “A cabana”. Eu já tinha ouvido falar do livro, parecia bom mesmo, mas o livro estava quase destruído, apesar de não aparentar estar na rua por tanto tempo.
Abri ele enquanto andava e por alguns momentos eu me esqueci totalmente do porquê eu estava tão aflita. Parecia que existia gente pior que eu nesse mundo e minha dor imediatamente se tornou tão minúscula perto do que a pessoa que deixou aquele livro ali sentia.
O livro estava todo rabiscado e cheio de frases soltas na contracapa e nas páginas, como se fosse tudo um grande questionamento. De alguma forma essa pessoa buscou nesse livro respostas e não as encontrou.
“Deus não existe, porque se existisse, eu não estaria assim.”
“Papai e mamãe brigaram outra vez, acho que agora ela vai embora.”
“Por que o Senhor não me responde? Onde minha mãe está?”
Eu gostaria de entender o que se passa na cabeça dessa pessoa, gostaria verdadeiramente de poder ajudar e mostrar que nem tudo que acontece nesse mundo é culpa de Deus e dizer que mesmo que tudo esteja dando errado, Deus o ama imensamente.
Fechei o livro quando cheguei à casa de Sally e o guardei na minha mochila rosa com desenhos de unicórnio. No fundo, eu ainda era realmente uma criança e Peter não iria ter o que queria comigo, pelo menos não até nos casarmos e isso é algo que agora não tem mais chance.
Resumindo a história, eu simplesmente contei tudo para Sally que ameaçou sair de sua casa e dar um soco em Peter, mas eu a impedi de fazer qualquer maluquice, lembrando-a que não se paga mal com mal.
Quando retornei à minha casa, meus pais me deram uma bela bronca por não ter ido à igreja. Infelizmente tive que mentir e dizer que estava passando mal, apesar de tudo, esperava que ele mesmo confessasse o que fez para meu pai, não iria me meter em um assunto que não era totalmente meu.
Mas ele nunca fez isso e continuou agindo como se não tivesse feito nada.
Durante dias li aquele livro para me distrair e funcionou totalmente. As palavras do autor me hipnotizaram, porém, sempre que eu lia os comentários sofridos do ex dono do livro, eu ficava abalada e sabia que precisava encontrá-lo.
“Por que Deus não se importa comigo?”
“Ela foi embora… e meu pai também. Ele se suicidou.”
“Quem sabe talvez eu não seja o próximo.”
Céus, ele não podia fazer isso. Eu tinha que encontrar ele. Como eu soube que era ele e não ela? Eu simplesmente soube, senti no fundo da minha alma.
Após 15 dias do ocorrido, encontrei uma placa oferecendo um emprego em período integral e como meus pais ainda acreditavam que eu ia fazer a faculdade, aceitei esse emprego prometendo que me inscreveria na faculdade no próximo semestre.
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