Capítulo 1
Eu adoraria dizer que trabalho resgatando livros, mas não fui eu quem os salvou, foram eles que me salvaram.
Desde o grande dia da minha maior decepção, estou em algum outro tipo de dimensão e se não fosse pelo fato de poder viajar para longe quando leio as palavras e as vejo flutuando no ar como milhões de bolhas de sabão, não sei o que seria de mim.
Tenho vivido outras vidas e esquecido a minha totalmente, não gosto de me lembrar da forma como fui traída por duas pessoas que amei cegamente. Pelo menos personagens não decepcionam, só alguns… Mas você deve estar se perguntando “como assim traída?”, e eu vou contar a minha história.
Aconteceu há mais ou menos dois anos, eu estava namorando e quase noiva. Então já se pressupõe que eu não estou mais namorando, certo? Minha própria prima, meu namorado…
Aguardem só um pouco porque agora minha melhor amiga acabou de chegar aqui na loja que eu trabalho. Se é que isso pode ser chamado de loja.
A L&L é um ambiente pequeno, abafado, feito de madeira e com baixa luminosidade, mas possui os melhores livros, geralmente aqueles que as pessoas abandonam e eu fico sem entender o porquê.
— Milly, você precisa arrumar um emprego de verdade! Não é só porque você está decepcionada que pode gastar sua juventude trabalhando em uma biblioteca com livros mofados. — Sally me chama e começa a me dar uma grande bronca. E seria bom se eu só ouvisse isso da boca dela.
— Eu estou feliz trabalhando aqui, Sally! Mesmo que ele não tivesse me traído, eu realmente iria estar aqui.
— Ah, conta outra. Se ele não tivesse te traído, você estaria era nos braços daquele traste!
Rio de Sally e dou um tapa fraco em seu braço, voltando a arrumar meus livros logo em seguida. Vejo o exemplar de "Pollyana" e o viro para que ninguém aviste o nome e queira pegar. Morro de ciúmes desse livro.
— Eu sou curiosa, se visse um livro virado pegaria facilmente. — Comenta Sally e eu balanço a cabeça. — Você deveria mesmo sair dessa biblioteca e se apaixonar por alguém novamente.
— Ninguém se apaixonaria por mim, mas não quero saber disso. Tenho outras coisas para fazer.
— É uma raridade que pessoas se apaixonem por algo que está escondido. Você é uma joia, um diamante bruto.
— Como acreditar nisso quando a pessoa que mais amei simplesmente preferiu minha prima? Tudo porque eu nunca quis… Eu nunca quis… — Entalo com as palavras e simplesmente não consigo terminar de dizer, pois o sentimento corrói meu coração de dentro para fora.
— Porque você nunca quis ir para a cama com ele. — Quase grita de tanta indignação e eu fecho meus olhos. — Ele não te amava de verdade, amiga. Não precisa sofrer por isso.
Ando até as outras prateleiras e continuo guardando os livros, ignorando o que minha amiga falava. Claro que eu não queria estar sofrendo por isso, porém, com as coisas do coração a gente não consegue mexer.
— Não fica me ignorando, Camilly! — Ela resmunga e me segue pela loja, ajudando-me a colocar os livros de romance na estante.
— Amiga, acho que psicologia não é seu ramo. Eu sei bem que não devo sofrer por uma pessoa daquelas, mas simplesmente não dá. Talvez eu melhore com o tempo, pedirei para Deus me dar forças enquanto isso.
Sally dá de ombros e a gente continua o que estamos fazendo em total silêncio. Ela não trabalha aqui comigo, mas hoje saiu cedo do seu trabalho e decidiu me ajudar. Em algumas semanas, quando sinto que não consigo mais respirar sem me sufocar, minha amiga sempre vem me lembrar do lado bonito da vida.
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