Capítulo 48
MELISSA
Eu sei que é errado, mas de alguma forma não consigo conter meus passos à medida que caminho pelo campo vibrante de Floriana. Observo todo o campo à procura de uma figura conhecida. O sol está desaparecendo entre as nuvens.
Está vazio, a não ser pelas pessoas que voltam para casa depois de um longo dia de trabalho, e pelos pássaros que voam para seus ninhos com cânticos em seus bicos.
Eu não deveria ter vindo... É tudo o que consigo pensar.
Não quando há muito em jogo. Mas, ainda assim, não consigo controlar a decepção que cresce em meu peito e me atinge como punhados. Por algum motivo, eu esperava encontrá-lo novamente nesse mesmo lugar. Mas estava enganada.
Me viro e continuo caminhando para fora do campo. Até que uma voz conhecida me impede.
— Sabia que você voltaria.
Já sabendo quem pode ser, viro a cabeça para encara-lo. Encontro olhos de safiras me observando com curiosidade e sinto um frio na barriga. De repente, meu coração acelerar e sinto minha garganta ficar seca.
— Quem disse que estou aqui por você? — Murmuro ao cruzar meus braços.
— Não está?
— E se eu estivesse? Algum problema?
Matheus se aproxima mais, e tento não ficar desconfortável pelo modo como meu corpo reage a isso.
— Você não disse seu nome. — Ele observa, bem próximo agora.
— Melissa. — Respiro fundo, querendo que seu cheiro permaneça por mais tempo em meus pulmões. — Meu nome é Melissa.
— Eu sou Matheus.
— Eu sei quem você é.
Além de ter escutado um menino ter o chamado pelo nome Matheus no campo de futebol, também fussei as redes sociais dele. Não foi fácil encontrar, mas consegui. Percebi que ele gosta de futebol, e tem bastante fotos com um menino de cabelos platinados, provavelmente algum conhecido próximo.
Eu só... por algum motivo, não consegui parar de pensar nele.
Matheus levanta as sombrancelhas e lança um sorriso de lado que teria feito qualquer outra garota cair de joelhos.
— Melissa... — Ele diz como se saboreando cada sílaba do meu nome — Quer sair comigo qualquer dia desses?
— Um encontro? — Pergunto enquanto deixo um riso irônico escapar de mim
— Um pedido de desculpas... Por ter te acertado com a bola. — Ele se aproxima mais de onde estou e toca a lateral de minha cabeça, no local atingido.
Sinto um estremecimento descer por minha coluna, mas, não demonstro, e por algum motivo, não afasto seu toque, nem digo nada conforme ele acaricia minhas madeixas ruivas. Meu peito está retumbando no peito, como se uma cavalgada estivesse acontecendo em meu coração.
— Somos parecidos. — Matheus diz por fim — Eu vejo isso em seus olhos. Eles estão cansados e tristes. Mas, no fundo, se encarar com atenção, há um pingo de esperança.
— Acredite. — Afasto bruscamente o seu toque — Não somos.
Se Matheus soubesse metade do que eu fiz, tenho certeza que ele não iria propor um "encontro", ou sequer ficar de papo furado comigo. Ele só deve estar interessado no meu corpo, como todos os meninos que conheci até agora.
Sem dizer nada me viro e começo a caminhar pelo campo. Um nó já começa a se formar por minha garganta, mas ignoro.
— Vai fugir de novo? — Ele questiona, com a voz grave.
Paro subitamente devido a afirmação. Me viro lentamente para encará-lo conforme controlo a raiva.
— Apenas covardes fogem. — Digo entre dentes, fechando o punho que está inerte ao lado do corpo.
Matheus dá um sorriso vitorioso o que faz meus neurônios se derreterem, literalmente.
— Tudo bem — Cedo por fim — Eu aceito.
Até porque só vai ser um encontro e nada mais que isso. Já saí com muitos caras e ele será apenas mais um na minha lista. Não há o que temer, vou dar o que ele quer e ter o que quero. Depois, ele vai sumir da minha vida, e assim vou parar de pensar nele e tudo vai voltar a ser como antes.
São oito horas da noite quando me aproximo do campo onde me encontrarei com Matheus. Rapidamente, encontro o garoto de cabelos ruivos.
— Pontual. — Digo como forma de comprimento.
— Diferente de você. — Matheus observa seu relógio de pulso — Está vinte minutos atrasada.
— Coisas de mulheres. — Estalo a língua. Mesmo sabendo que no fundo me atrasei apenas por prazer de fazê-lo esperar — Onde vamos?
Ele apenas sorri e me guia para fora do campo.
Nos aproximamos do estabelecimento iluminado, e quase dou um suspiro de alívio quando entro no lugar aquecido.
Matheus me trouxe para uma lanchonete, sentamos na última mesa do lugar. Inevitavelmente me lembro do restaurante Briar. Me pergunto como estão as coisas em Porto Real. Já faz mais que duas semanas, desde que conversei com Laura. Sinto falta dela.
A lanchonete, que o nome não sei, está movimentada. O barulho de som e de passos é quase ensurdecedor, mas suportável aos ouvidos.
— Está com fome?
— Eu sempre estou com fome.
Levanto meu olhar apenas para encará-lo e observo que ele também está me encarando. Ele está sorrindo, provavelmente devido ao meu comentário, e por algum motivo também sinto vontade de sorrir.
Constrangida, viro a cabeça para o lado, com o coração acelerado no peito. Coisa errada a se fazer, pois acabo encarando dois casais se beijando não muito longe de onde estávamos. Matheus parece encarar também, o que me faz mexer desconfortávelmente no assento.
Ficamos assim por longos minutos, que mais parecem horas. Matheus abre a boca para dizer algo, mas é impedido por uma presença.
— Oque vão pedir? — O garçom pergunta.
— Um hambúrguer e uma coca. — Matheus responde.
— Dois hambúrgueres, batata fritas e um refresco. — Digo com um sorriso largo, sabendo que Matheus se ofereceria para pagar. — E a melhor sobremesa que tiverem.
O garçom acena em concordância já se afastando da mesa. O lindo menino de olhos safira me encara como se quisesse dizer algo.
— O quê? — Pergunto ao fazer uma cara de inocente — Esse corpinho precisa de carboidratos.
Ele ri de novo, o som vibra por todo o meu corpo, coração e alma. Parece ser um riso sincero. Faz muito tempo que não faço ninguém sorrir. Pelo contrário, ultimamente só tenho causado dor para aqueles que amo. Mas agora, enquanto estou nessa mesa, com esse menino que nem conheço, dessa vez, eu não me contenho e também sorrio.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro